quinta-feira, 4 de junho de 2009

101 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

.Foto "Orquideas" LuisD





CASTRO MENEZES
Álvaro de Sá Castro Menezes
Nasceu a 03 de junho de 1883, signo de gêmeos,
Niterói, Estado do Rio, Brasil.
Fez parte da revista "Rosa Cruz", e foi professor. . .
*
CANTOePALAVRAS
Mitos, 1898; Estrada de Damasco, 1926. . .
*
Pela doce paciência de enfermeira
com que procuras encantar-me a vida,
renovando em minh'alma a fé perdida
depois de morta a crença derradeira;
-
Pelo sorriso bom de companheira
que a novas esperanças me convida,
quando vejo, na estrada percorrida
dos meus sonhos a extinta sementeira;
-
Pela graça de irmã de Caridade
com que teu meigo afeto me persuade
de que lutar confiante é o meu dever;
-
Bendita sejas Flor de mansuetude,
em cujo seio, finalmente, pude
descansar a cabeça e adormecer. . .
*
CASTRO MENEZES
"Calipso"
 
JOÃO PASSOS CABRAL
Nasceu em 21 de fevereiro de 1900, signo de peixes.
Aracaju, Estado de Sergipe, Brasil.
Poeta, políglota, político, jornalista. . .
Viveu entre o Rio de Janeiro e Aracaju . . .
*
CANTOePALAVRAS
Poesias Completas, , 1990 . . .
*
I
A Saudade desperta
Sem que se saiba como . . . Um simples som
acha-nos a alma trêmula, entreaberta:
entranos n'alma um sentimento bom,
É a Saudade desperta . . .
-
A música possui o excelso dom
de revelar, mais do que a forma, a cor,
a harmonia das coisas, na grandeza
de um longo êxtase interior.
-
Dá-nos não sei que insólita tristeza,
um sereno prazer na própria Dor . . .
*
JOÃO PASSOS CABRAL
"Saudade"
Poesias Completas
*
II
A Saudade, dizeis, é um sentimento inútil,
retrógrado, nocivo, impossível até!
O século que passa é forte como as hastes
de ferro, com que estão os monstruosos guindastes
lançando, nos porões, arrobas de café.
O mais é devaneio palpável e fútil,
e a Saudade, bem vês, é sentimento inútil,
que já caiu da moda e não resiste em pé.
-
E esses homens são tais, que nem lhes anteponho
o menor argumento; a discussão é inútil.
Pois deixai-me, em silêncio, a bordar o meu Sonho
e a tecer a Saudade, essa trama inconsútil.
*
JOÃO PASSOS CABRAL
"Saudade"
Poesias Completas
*
"Jardim Botânico" São Paulo, Brasil. Foto LuisD.
III
. . . Num silêncio de tarde,
quando a noite vem perto e a sombra desce,
e o poente, ao longe, em oiros fulvos arde,
vê; quem porventura não sente,
dentro do coração que a sombra triste invade,
vir subindo, suavemente,
como áureo incenso transvazado em prece,
- uma lágrima, um verso, uma saudade?
-
E ao renascer da luz renovadora,
quando a terra desperta,
e o claro Sol entreabre e sobredoura
um riso casto em cada flor aberta,
- quem, porventura, fica
indeferente à glória matinal,
que as sombras e os silêncios vivifica
nem resplendor de gênese floral?
-
Cada ilusão que nasce
é uma alvorada esplêndida e sonora,
como se o coração se renovasse
no brilho excelso de uma nova flora!
E, há palpitação de asas inquietas,
clarões de Sol, hastes de luz triunfal,
como áureas e finas setas
que os germens trazem deste doce mal . . .
-
Mas pouco a pouco se dissipa o encanto
e uma tristeza imensa e singular,
corporifica-se, no entanto,
nesta amarga volúpia de chorar . . .
-
Na solidão augusta em que me esquivo,
arde continuamente o incenso vivo
deste meu coração feito um altar.
-
E dentro desta névoa de incertezas,
sinto a vontade e a minha vida presas
de um simples olhar . . .
*
JOÃO PASSOS CABRAL
"Esplendor e Solidão"
Poesias Completas
*
IV
Era já dia, quando os olhos quedos
abriram-se-me; e foram-se os segredos
que a noite encerra, no país dos sonhos,
com espectros alegres ou tristonhos.
Não era mais a lua, a errar no céu,
em névoas, como a noiva sob o véu,
a olhar de longe algum meditativo,
que acha em todas as cousas um motivo.
Não era mais o espaço a arder de estrelas,
e o sonhador fremindo, só de vê-las.
E já não eram trêmulos suspiros,
as queixas de uma doença, cujo virus
a medicina humana não descobre
e fere o rico, como fere o pobre.
-
Mas era o dia; a luz batendo em cheio
nas casas da cidade, em cujo seio
a multidão ofega, pelas ruas,
trocando cousas que jamais são suas;
disputa-se o domínio, entre os irmãos,
firmando os pés e maculando as mãos.
-
era o dia, E o ar tão brando, o céu tranquilo
tudo o que olhei me aconselhou sigilo;
que guardasse no espírito sedento
toda esta angústia do meu pensamento;
que apagasse dos olhos a lembrança]da noturna visão que não se alcança;
e que escondesse o coração comigo,
para não transformá-lo em meu castigo,
para que ninguém veja como são
estas comédias do meu coração.
-
E quando andei incerto pelas ruas,
olhando só realidades cruas,
senti meus olhos se tornarem quedos,
recolhendo-se a todos os segredos
do invisível, do eterno, do alto sonho,
que, uma vez lacerado recomponho . . .
-
Ah! sonho apenas, ilusão apenas!
todas as almas plãcidas, serenas,
não entenderam, nem siquer sentiram
todas as ânsias que em meus olhos viram.
Para que ninguém veja como são
as vãs comédias do meu coração,
não terei a ventura que os outros têm
de, no maior tumulto, achar alguém . . .
*
JOÃO PASSOS CABRAL
"Ninguém"
Poesias Completas
*
V
Se raia o Sol refulgente,
as aves cantam na luz,
e que alegria fremente
seu canto alegre traduz.
-
São árvores, bondosas,
que um doce abrigo lhes dão,
abrindo em ramos, frondosas,
as flores do coração.
-
Vem a tarde, o Sol declina;
e as aves ficam tão sós.
que, ma angústia vespertina,
já não cantam, não têm voz.
-
Mas as árvores frondosas
um doce abrigo lhes dão,
abrindo em ramos, bondosas,
as flores do coração.
*
JOÃO PASSOS CABRAL
"As Árvores e as Aves"
Poesias Completas
Foto "Flores" LuisD 
PAULO HENRIQUE BRITTO
Nasceu 12 de dezembro de 1951, signo de sagitário.
Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, tradutor, professor.
Morou nos E.U.A., onde cursou cinema "San Francisco Art
Institut", Califórnia. Letras na P.U.C., Rio de Janeiro, 1978.
Homenagens: Prémio "Alphonsus de Guimarães", Biblioteca
Nacional; Prémio Portugal Telecom de Literatura
Brasileira; Prémio "Alceu Amoroso Lima", 2004 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Sabina(prosa), 1977; Liturgia da Matéria, 1982;
Mínima Lírica, 1989; Trovar Claro, 1997;
Macau, 2003; Paraísos Artificiais(conto), 2004;
Tarde, 2007 . . .
*
I
o mundo começa nos olhos,
se alastra pelo rosto, desce o peito
e o dorso, ocupa o ventre, invade
as pernas e os braços, e
termina na ponta dos dedos.
-
o mundo começa nos olhos
d'água, se espalha entre as pedras,
é disperso pelo vento, sobe aos ares,
penetra as profundezas da terra, e se
consome no fogo.
-
o mundo começa como um olho
aberto, sem pálpebras nem cílios,
só piris e pupila, imerso
numa órbita profunda, onde resvala
e some num piscar de olhos.
*
PAULO HENRIQUE BRITTO
"Gênese"
Mínima Lírica
*
II
O que conheço de mim
é quase só o que sei,
e o que sei é quase só
o que não quero saber.
Resta saber se isso tudo
é só o começo ou se é o fim
ou - o que é pior que tudo -
se é tudo.
-
Então viver é isso,
é essa obrigação de ser feliz
a todo custo, mesmo que doa,
de amar alguma coisa, qualquer coisa,
uma causa, um corpo, o papel
em que se escreve,
a mão, a caneta até,
amar até a negação de amar,
mesmo que doa,
então viver é só
esse compromisso com a coisa,
esse contrato, esse cálculo
exato e preciso, esse vício,
só isso.
*
PAULO HENRIQUE BRITTO
"Duas Bagatelas"
Mínima Lírica
Foto "Natureza" LuisD

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