terça-feira, 16 de junho de 2009

087 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

ÁLVARES DE AZEVEDO
Manuel António Álvares de Azevedo
Nasceu a 12 de setembro de 1831, signo de virgem,
São Paulo, Brasil. . .
Estilo Romantismo.
Patrono da "Academia Brasileira de Letras".
Faleceu em 1852, São Paulo, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias Diversas; Lira dos Vinte Anos; Pedro Ivo;
Poema do Frade; O Conde Lopo, 1886;
Macário (teatro); Noite na Taberna (conto);
Livro de Fra Condicário (romance) . . .

"Orquideas" Foto LuisD.



*
Pálida à luz da lampada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
-
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
-
Era mais bela! o seio palpitando . . .
Negros olhos as pálpebras abrindo . . .
Formas nuas no leito resvalando . . .
-
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo
*
ÁLVARES DE AZEVEDO
"Soneto"
Poesias Diversas

"Represa de Guarapiranga", São Paulo, Brasil.
Foto LuisD.
▬▬
SILVA BARRETO
Sebastião da Silva Barreto
Nasceu em 1918.
Visconde do Rio Branco, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Descendência de português.
Poeta, advogado, jornalista . . .
Homenagens: Premio "Lúcio Bittencourt", Sociedade de
Cultura Latina, Brasil.
Premio "Cultura Nacional da Confraria dos Poetas",
Porto Alegre, Brasil.
Club des Intellectuels, França; Academia Internacionale
de Lutéce, França; Societé des Poetes et Escrivains
Régionalistes, Mimes, França;
Centro Cultural Literário e Artístico de
"Jornal de Felgueiras", Portugal;
União Brasileira de Escritores;
Casa do Poeta "Lampião de Gás", São Paulo, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Tragédia da Fonte; Reticências Luminosas;
Figuras Anônimas; 20 Poemas . . . e uma Lágrima;
Flores do Sangue; As Serpentes do Paraíso;
Símbolos da Hora Amarga; A Viagem de uma
Lágrima . . . e outros Poemas . . .
*
I
Faz hoje muitos anos que eu, descrente,
sem ao menos saber por quê vivia,
os caminhos da vida percorria,
desventurado, só quase demente . . .
-
Quando, sem rumo, á toa e descontente,
pela roça vagava certo dia,
dois beija-flores vi (quem o diria?)
unidos pelo amor num beijo ardente . . .
-
Anoitecera . . . e eu, pálido de dor,
quis esquecer o mundo do meu leito . . .
▬ E o fantasma, talvez do beija-flor,
-
fez-me pensar com mágoa e com despeito:
"Como pode caber tão grande amor
na caixinha de tão pequeno peito?".
*
SILVA BARRETO
"Inveja e Mágoa"
A Viagem de Uma Lágrima . . .
*
II
Vou plantar minha alma
no corpo deste mundo
para que ela cresça,
permaneça
frutificando o bem
frutificando o amor,
frutificando a poesia.
-
Vou plantar minha alma
no chão da terra imensa
para espalhar frutos de perfeição
para pulsar seu coração
na floresta verde da esperança!
-
Vou plantar minha alma azul da Mantiqueira
para que continue
na visão da paisagem,
sem morrer, sem morrer! . . .
-
Vou plantar minha alma,
num topo de cimento armado
para que as multidões
não se esqueçam de quem passa,
arrancando corações.
-
Vou plantar minha alma
no fundo da terra
para que não se evapore
desaparecendo no infinito incerto
contra as leis de Lavoisier.
-
Vou semeá-la no céu,
vou plantá-la no além
para que volte à terra
como orvalho das folhas
como gotas de amor eterno . . .
*
SILVA BARRETO
"Quero Viver Eternamente"
Flores de Sangue
*
III
A água que geme, geme,
na cachoeira do rio,
geme por muita gente
que não pode gemer,
entrevada na cama,
paralítica na sociedade . . .
-
A ave que grita,
voando nos céus,
pousada nas árvores,
sem argolas nos pés,
sem grades mesquinhas,
grita, por quem tem a língua presa no céu da boca,
por quem é fraco,
por quem é coverde . . .
-
As nuvens que correm,
livres na amplidão,
ajudadas pela brisa,
arrojadas pela furacão,
correm por quem não pode correr.
São livres pelo escravo atado à terra,
pelo ideal enterrado no céu . . .
-
O mar furioso,
que chicoteia todas as praias
e no seio traga o navio atrevido
que sulca o seu dorso,
ensagüentando suas águas,
é o reflexo das mágoas
que se encarceram no mundo,
é a vingança, é o ódio
dos que não podem vingar,
dos que não podem odiar . . .
é o castigo, é a injustiça,
que foram sufocados
no recesso das almas,
na gaveta dos julgadores,
pela fragilidade das leis,
pelo sarcasmo do ouro . . .
-
A flor que se abre
no seio da mata,
entre bárbaras folhagens
que apavoram os corações,
são pétalas risonhas,
destemidas e aventureiras,
desafiando a brutalidade
prosmíscua das plantas . . .
-
É o sonho simbólico,
na sociedade retrógada,
que mal se desabrocha,
corajoso, intrépido e heróico,
entre selvagens ambições,
entre egoismo canibais,
para semear o saber,
para amainar a ignorância . . .
-
E na existência das coisas,
na constatação dos fatos,
esta analogia trágica
dos sofrimentos humanos
apunhala nossos olhos,
de milênio a milênio,
de minuto a minuto! . . .
*
SILVA BARRETO
"Reflexo"
Figuras Anônimas 


 "Meu Jardim" Orquidea Foto LuisD.
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