terça-feira, 23 de junho de 2009

077 - Mario Quintana " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LÍNGUA PORTUGUESA "

MÁRIO QUINTANA
Mário de Miranda Quintana
Nasceu a 30 de julho de 1906, signo de leão,
Alegrete, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. . .
Homenagens: Prémio "Machado de Assis", 1980. . .
Faleceu 05 de maio de 1993.
*
CANTOePALAVRAS
A Rua dos Cataventos, 1940; Canções, 1948;
Sapato Florido, 1948; O Aprendiz de Feiticeiro, 1950;
Espelho Mágico, 1951; Antologia Poética, 1966 . . .
*


 "Natureza" Foto LuisD.

I
Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo.
-
Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo
-
E o Vento!
-
O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos . . .
*
MÁRIO QUINTANA
"O Vento"
*
II
O vento vinha ventando
Pelas cortinas de tule.
-
As mãos da menina morta
Estão varadas de luz.
No colo, juntos, refulge,
Coração, ancora e cruz.
-
Nunca a água foi tão pura . . .
Quem a teria abençoado?
Nunca o pão de cada dia
Teve um gôsto mais sagrado.
-
E o vento vinha ventando
Pelas cortinas de tule . . .
-
Menos um lugar na mesa,
Mais um nome na oração,
Da que consigo levara
Cruz, ancora e coração.
-
E o vento vinha ventando
Pelas cortinas de tule . . .
-
Daquela de cujas penas
Só os anjos saberão!
*
MÁRIO QUINTANA
"Canção de um Dia de Vento"
Canções
*
III
Vou andando feliz pelas ruas sem nome . . .
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano . . .
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas . . . e moças nas janelas
Com brincos e pulseiras de coral . . .
Búzios calçando portas . . . caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos . . .
Nisto,
na vitrina do bric o teu sorriso Antínous,
E eu lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga neblina . . .
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
seu morresse amanhã, só deixaria só,
Uma caixa de música,
Uma bússula
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inclusos . . .
Mas como sopra o vento nestas ruas de Outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas . . .
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.
*
MÁRIO QUINTANDA
"Obsessão do Mar Oceano"
O Amor de Feiticeiro
*
IV
O vento verga as árvores, o vento clamoroso da aurora . . .
Tu vens precedida pelos vôos altos,
Pela marcha lenta das nuvens.
Tu vens do mar, comandando as frotas do Descobrimento!
Minha alma é trêmula da revoada dos Arcanjos.
Eu escancaro amplamente as janelas.
Tu vens montada no claro touro da aurora.
Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz!
*
MÁRIO QUINTANA
"Cantico"
O Aprendiz de Feiticeiro
 "OrquideasFoto LuisD.

V
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
-
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
-
dancemos todos, dancemos,
amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...
-
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
*
MARIO QUINTANA
"Canção da Primavera"
Canções

VI
Que dança que não se dança?
Que trança não se destrança?
O grito que voou mais alto
Foi um grito de criança.
-
Que canto que não se canta?
Que reza que não se diz?
Quem ganhou maior esmola
Foi o Mendigo Aprendiz.
-
O céu estava na rua?
A rua estava no céu?
Mas o olhar mais azul
Foi só ela quem me deu!
*
MARIO QUINTANA
"Canção de Domingo"
Canções
*
VII
Varri-me como uma pista.
Frescor de adro, pureza um pouco triste
De página em branco...Mas um bando
De moças enche o recinto de pestanas.
Mas entram inquietos pôneis.
Ridículos.
Ergo os braços, escorre-me o riso pintado
E uma pura pura lágrima
Que estoura como um balão.
*
MARIO QUINTANA
"Função"
O Aprendiz de Feiticeiro

Nenhum comentário: