quarta-feira, 24 de junho de 2009

074 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

Foto "Meu Jardim" LuisD

MARIA TERESA HORTA
Nasceu 20 de maio de 1937, signo de touro,
em Lisboa, Portugal.
Estudou na "Faculdade de Letras" em Lisboa.
Participou em várias revistas e jornais.
Descendente da famosa poetisa
"Marquesa de Alorna".
Participou também do "Movimento Feminista"
de Portugal e do grupo "Poesias 61" . . .
*
CANTOePALAVRAS
*
Tatuagem, 1961; Cidades Submersas, 1961;
Verão Coincidente, 1962; Amor Habitado, 1963;
Candelabro, 1964; Jardim de Inverno, 1966;
Cronista não é Recado, 1967;
Minha Senhora de Mim, 1971;Educação sentimental, 1976;
Anjos, 1983; Minha Mãe, Meu Amor, 1984;
Poesias Completas I e II, 1983; Ema, 1984;
O Transfer, 1984;Rosa Sangrenta, 1987;
Antologia Política, 1994; O Destino, 1997 . . .
Só de Amor, 1999; Vozes e olhares Femininos, 2001 . . .
*
I
Amor
a tua voz
e a minha sensação de vácuo
-
de liberdade paralelas
ontem
esquinas encontradas
no angulo dos lábios.
-
Amor
a tua lampada de nevoeiro
sulcado
manhãs de aves
súbitas
com noites inventadas.
-
nada
é o teu rosto
insetos de vertigem
sem paisagem.
*
MARIA TERESA HORTA
"Dúvida"
*
"Meu Jardim" Foto LuisD.
*
II
São tantos
os silencios da fala
-
De sede
De saliva
De suor
-
Silencios silex
no corpo do silencio
-
Silencios de vento
de mar
e de corpos
-
De amor
-
Depois, há as jarras
com rosas de silencio
-
Os gemidos
nas camas
-
As ancas
o sabor
-
O silencio que posto
em cima do silencio
usurpa do silencio o seu magro calor.
*
MARIA TERESA HORTA
"Os Silencios da Fala"
▬▬▬
"Meu Jardim"Foto LuisD.
*
LUCINDA ARAÚJO
Nasceu em Valadares-Baião, perto da cidade
do Porto, Portugal.
Formada em Folologia Românica . . .
*
CANTOePALAVRAS
Nunca mais Amanhecer, 1968;
O Sabor das Amoras, 1973 . . .
*
I
cantam as aves
nos ramos
da madrugada
-
mas é um canto antigo
que ficou perdido
como a esperança de um morto
-
não as ouvimos nós
não as merecemos já
-
cantam
solitárias e quase tristes
as aves
nos ramos da madrugada.
*
LUCINDA ARAÚJO
"Canto Antigo
O Sabor das Amoras
*
II
somos de longe
e a estrada
perde-se em becos
-
neles nos pedem contas
do que foi nosso mas já não temos
e nos cravam agudas facas
que por vingança
mais espetamos
nos nossos corpos
-
assim esfaqueados nos amamos
sabendo embora
que a morte é para breve
*
LUCINDA ARAÚJO
"Somos de Longe"
O Sabor das Amoras
*
III
a carriça julgou
que era dia e cantou
-
(era tal o luar!)
-
mas a coruja
embrulhada em seu manto
piou lá do seu canto
-
e a noite ficou.
*
LUCINDA ARAÚJO
"Carriça"
O Sabor das Amoras
▬▬▬
"Flores" Foto LuisD.
*
MARIA PEREGRINA DE SOUSA
Nasceu no seculo XIX, Leça de Palmeira(?),Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Grinalda(revista)
*
É triste lembrança
Abrolhos e cardos
Trançar em Grinalda
Que tecem os Bardos;
-
Mas quiz, por instada,
Abrolhos tecer
Na linda "Grinalda";
E fui-os colher.
-
Á porta das musas
Cheguei açodada,
Bati, e me dizem
Da agoa-furtada;
-
Em nosso jardim
Não crescem abrolhos;
Se julgas cá vê-los,
É mal de teus olhos.
-
E é triste lembrança
Abrolhos e cardos
Trançar em Grinalda
Que tecem os Bardos.
*
MARIA PEREGRINA DE SOUSA (D.)
"Bati, não Abriram"
Grinalda(revista), Porto.
▬▬▬
Foto "Meu Jardim" LuisD
*

TERESA RITA LOPES

Nasceu 12 de setembro de 1937, signo de virgem
Cidade Faro, Província do Algarve, Portugal.
Poeta, Professora, teatróloga. . .
Doutorou-se, em Paris, França, Filologia Românica.
Professora, "Université de la Sorbonne Nouvelle" e
Faculdade de Ciências Sociais Humanas da "Universidade
Nova Lisboa".
Profunda conhecedora, da obra de Fernando Pessoa, e
Miguel Torga.
Suas peças de teatro forma representadas na
Alemanha, Bélgica, França, Itália, Portugal, Roménia. . .
Existiram alguns problemas, sobre suas ideias políticas
na década de sessenta.
*
Homenagens:
Prémio "Cidade de Lisboa", 1987;
Prémio de Ensaio "Pen-Club", 1990;
Prémio "Unicer", 1993;
Prémio "Eça de Queiroz de Poesia", 1996;
Prémio "Grande Prémio de Teatro da Associação
Portuguesa de Escritores", 2001;
*
CANTOePALAVRAS
Três Fósforos(teatro), 1962;
Sopinhas de Mel(teatro), 1981;
Os Dedos os Dias as Palavras, 1987;
Oficios a "Um Deus de Terra", 1990;
Por Assim Dizer, 1994; Cicatriz, 1996;
Andando Amando(teatro infantil), 1999;
Afectos, 2000; Jogos, Versos e Redacções(infantil),2001;
Esse tal Alguém(teatro),2001;A Nova Descoberta de Timor, 2002;
A Fímbria da Fala, 2002; As Barbas da Sua Senhoria
(teatro), 2003; A Asa e a Casa(teatro), 2004;
Estórias do Sul(contos), 2005;
O Sul dos Meus Sonhos, 2010 . . .
*
I
Nas plantas do meu jardim suspenso
assisto a um passar do tempo mais benéfico
que não se some em linha reta
-
mas vai
e volta com o rodar das estações:
-
o cacto
que só pelo Natal se desentranha em acetinadas
flores de seda rosa-vivo
-
pendendo como cachos
começa a preparar seu anual parto
-
e a oliveira
que nasceu num vaso de um caroço vagabundo
ostenta já algumas azeitonas pretas.
-
E este
-
fosco dia de Outono resplandece
-
alumiado
pelo azeite que se espremeria de suas magras
bagas
-
se com elas fabricassem a luz das minhas
noites.
*
TERESA RITA LOPES
"As Plantas do Meu Jardim Suspenso"
Afectos
*
II
Há os que optam por fechar os seus mortos
à chave
nos sótãos ou na cave
da memória
-
Por mim prefiro deixar os meus à solta
a povoar o meu dia e o jardim suspenso
do meu décimo andar
-
como pássaros poisando
como músicas indo e vindo
no vento.
*
TERESA RITA LOPES
"Como Pássaros Poisando"
Afectos
*
III
Quando eu era menina (o)¹
não havia Pai Natal² nem Árvore de Natal.
Armava-se o presépio com chão de musgo
rochas de cortiça virgem ervas a valer
pedrinhas de verdade
e searinhas que se semeavam em pires e latas vazias
no dia 8 de Dezembro
e eram o pequeno milagre . . . o primeiro
a despontar dos grãos de trigo e a crescer todos os dias.
As criaturas do presépio eram de compre
mas também moldei algumas em barro fresco.
Uma vez uma das minhas tias fez casas e igrejinhas de papel
e acendemos velas lá dentro.
foi um deslumbramento a luz a sair pelas janelinhas!
Mas ardeu tudo de repente.
desde então só a lamparina de azeite continuou a aluminar
esse parco mundo pobre.
-
No meu Natal de antigamente havia menos presentes.
Os meninos não exigiam esses brinquedos extrabíblicos:
computadores, jogos de computadores, cêdêroms, sei lá.
Nem o Menino Jesus podia com tanto peso!
Sim, porque no meu Natal de antigamente era o Menino Jesus
quem dava as prendas.
Púnhamos, na véspera, o sapatinho na chaminé
mas tínhamos que ir para a cama esperar pela manhã
porque Ele só descia pela calada da noite
se ninguém estivesse à espreita
(Hoje o Pai Natal não tem esses puderes).
Eu imaginava-O a saltar das palhinhas
nuzinho em pêlo
e a Nossa Senhora a agasalhá-Lo logo com a sua capa
E lá ia Ele
como um menino pobre enrolado no casaco do pai
a contentar todas as crianças do mundo.
O Pai Natal, esse, foi encarregado(não sei por quem)
de dar presentes a pequenos e grandes
Com o Menino Jesus tudo ficava entre meninos.
E se a prenda não agradava
a gente fazia uma careta
e até, à socapa, chamava-lhe um nome feio.
-
O Pai Natal é um palhaço cheio de postiços:
barba bigode cabeleira
até a barriga é uma almofadinha.
E vai à televisão convencer-vos a comprar coisas.
Agora o Natal antecipa o Carnaval.
O Menino Jesus, esse não! nunca ia à televisão
(que para dizer a verdade não existia ainda).
-
Mas que menino de hoje trocaria o seu Pai Natal
(gerente de um supermercado de prendas)
pelo meu Menino Jesus
a tiritar nas palhas?
*
¹No meu tempo, também era assim. . . . saudade.
²Papai Natal ou Papai Noel(Brasil).
*
TERESA RITA LOPES
"O Meu Natal de Antigamente"
Afectos
▬▬▬▬
MARIA ALBERTA MENÉRES
Maria Alberta Rovisco Garcia Menéres de Melo e Castro
Nasceu a 25 de agosto de 1930, signo de virgem.
Vila Nova de Gaia, Portugal.
Poeta, jornalista, professora . . .
Formada em "Ciências Históricas- Filosóficas,
participou em várias revistas, jornais, integrou a RTP
(Rádio e Televisão Poruguesa), lecionou . . .
Mãe de Eugénia de Castro e Melo, cantora e compositora,
portuguesa.
Homenagens:
Prémio "Calouste Gulbenkien", 1986.
*
CANTOePALAVRAS
Quotodiana, 1943; Intervalo(prosa), 1950; O cântico de
Barro(prosa), 1954; A Palavra Imperceptível(prosa), 1955;
Oração de Páscoa(prosa), 1958; Água Memória(prosa), 1960;
A Pegada do Yeti, 1962; Poemas Escolhidos Binolas, 1962;
Os Mosquitos de Suburna, 1967; Conversa em Versos, 1968;
Figuras, Figuronas, 1969; O Poema disse ao Poema, 1974;
O Robot Sensível, 1978; Um Peixe no Ar(infantil), 1980;
À Beira do Lago dos Encantos(Infantil), 1988;
Sigam a Borboleta(infantil), 1996;
Semana sim, Semana não, Semana Pumbas, 1998;
Camões, o Super Herói da Língua Portuguesa, 2010 . . .
*
I
Uma pálpebra é um meio
de ver o mundo. Não o olho
que esse escolhe o verde o mato
a água e deixa o contorno.
-
Uma paálpebra comanda:
espada de carne de luz
por dentro guarda um relevo
feito de escarna e azul.
-
Proibe o Sol o silêncio
Desliza em roda de neve
E quando o fugido salta
muros velhos e se mete.
-
nos intervalos dos medos,
uma pálpebra dos medos,
uma pálpebra é um meio
de ver o mundo vazio.
De coisas vazias cheio.
*
MARIA ALBERTA MENÉRES
"Relevos"
Poemas Escolhidos . . .
*
II
Um dia eu te direi o nome do silêncio
o pronome da cólera
Esta chuva destrói a cor
dos nossos olhos.
-
Eu te direi a luz do sussurro do vento
aberto na boca.
-
È preciso ensinar as palavras
com paciência
guiá-las docemente são crianças
grávidas e serenas.
-
Um dia eu te direi a face do papel
onde erguerei a casa
o jardim fecundado
pela gota de sangue
-
Eu te direi como a ternura quebra
-
o fósforo se esvai.
*
MARIA ALBERTA MENÉRES
"A Pegada do Yeti"
A Pegada do Yeti

Nenhum comentário: