sexta-feira, 12 de junho de 2009

093 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

 SILVEIRA NETO
Manuel Azevedo da Silveira Neto
Nasceu, 04 de janeiro de 1872, signo de capricórnio,
Morretes, Estado do Paraná, Brasil.
Foi também pintor. . .
*
CANTOePALAVRAS
Luar de Hinverno, 1901...

"Flores" Foto LuisD.


*
Nuvens dolentes, macerados flocos
Pela amplidão;
Mármore da Altura, em vaporosos blocos.
Desolação. . .
-
Cobrem da lua, como um véu de noiva,
A palidez;
E ela, magoando a imensa goiva,
Chora talvez.
-
Lívida acorda, como os tons mais pulcros
Da sua luz,
A Saudade - a violeta dos sepulcros -
Que é a minha cruz.
-
Dolente e calma a etereal tristeza,
que a lua tem,
Faz-me ficar, na minha eterna reza,
Triste também.
-
Por que em meu seio beijos e agonias
Geme o luar?
Decerto é a sombra de passados dias
Que está a chorar
-
Porque a saudade que uma vez circunda
O nosso amor,
É eterna e cresce quanto mais profunda
É a nossa dor.
*
SILVEIRA NETO
"Noturnos"
Luar de Hinverno

 Cadela "Sombra" Foto LuisD.
 
FLORÍSIA MOREIRA
Nasceu em 22 de setembro de 1921, signo de virgem.
Feira de Santana, Estado da Bahia, Brasil.
Participou em jornais, revistas e antologias . . .
*
CANTOePALAVRAS
Retratos da Vida, 2000 . . .
*
Tinha nos olhos negros e rasgados
a cadencia e o fulgor
do Sol ao meio-dia
e nos lábios róscos e carnudos
o sabor agreste da goiaba madura.
Emolduravam a tela oblonga e morena
de seu rosto. duas longas
e espessas madeixas negras,
como as trevas densas da noite.
-
Tinha no corpo moreno
como o fruto do sapotizeiro,
seríceo como a plumagem da garça,
coleante como a serpente,
o perfume suave dos bogaris
e a destreza sutil das andorinhas!
Habitava uma choupana
de folhas de ouricuri
na falda da serra,
à margem de um ribeiro
Era feliz. Só conhecia os pais,
-
A casa, a serra, o riachinho,
O Sol de ouro, a amplidão cerúlea,
a mata virgem, os passarinhos
e os maciços longínquos
concatenados de montanhas!
-
Uma tarde, quando o Sol morria
no horizonte, um viajante
extenuado de longa caminhada,
viera bater à porta
da humílima serrana.
-
A noite desce, depois,
o silêncio misterioso e profundo.
Todos repousam na cabana.
Só dois olhos fulgem
no negro das trevas
e um coração palpita no silêncio . . .
-
Veio a madrugada
e com ela, o alegre cantar dos passarinhos
e depois o Sol, a dourar
as águas límpidas do regato.
-
A serrana deixa o leito,
apanha ânfora e vai cantarolando
buscar água no ribeiro
e lá encontra o viajante
banhando-se como um cisne
nas águas mansas
de um lafo muito azul.
-
Ao vê-lo, a tímida serrana
quer fugir, debalde!
O cisne estende as asas
e já desfolha ávida e perdidamente
a rosa mádida e vermelha
de sua perfumada e pequenina boca . . .
-
Um gemido . . . um soluço . . .
e a infeliz serrana
desprende-se lânguida e febril
daqueles braços mornos e cariciosos!
-
- Adeus serrana!
Sonharei contigo,
nas minhas noites tristes e silenciosa
- Leva-me contigo
ó viageiro de desconhecidas
e longínquas plagas!
Já não sou a tímida serrana,
quando se cobrir de bruma
o cimo azulíneo das montanhas!
-
Veio o inverno
a empor de névoa
a face árida das serras.
Transbordaram-se
as águas cristalinas
do plácido regato
-
Na casinha
de palhas úmidas e falhas
a serrana espera, ainda, o forasteiro
alongando os tristes e negros olhos
pelo caminho assoalhado
de cristais de chuva!
*
FLORÍSIA MOREIRA
"A Serrana"
 
MARIA FEIJÓ
Maria Feijó de Sousa Neves
Nasceu em Alagoinha, Estado da Bahia, Brasil.
Poeta, professora, jornalista, bibliotecária . . .
*
CANTOePALAVRAS
Bahia de todos os meus Sonhos, 1966;
Ramalhete de Trovas, 1969; Perfil da Bahia e
outros Poemas, 1970; Duas Lendas, 1971;
Cantando ao Luar, 1973 . . .
*
Por que, então,
não se conjugar
um verbo
altissonante e belo
que responderá
pelo bem-estar, de todos;
que repercutirá
pelas camadas mais longínquas
da existência,
pelas gênesis mais distantes
das gerações?
o verbo DAR, DAR, DAR?
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A vida seria mais amena,
o mundo seria mais suave.
A dor seria menos dor
e a humanidade
seria . . .
mais HUMANA.
*
MARIA FEIJÓ
"Tão Bom Que Fosse"

 
ARMINDO TREVISAN
Nasceu em 1933.
Santa Maria, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Poeta, jornalista, professor.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Homenagens: A.G.ES (Associação Gaucha de Escritores) . . .
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CANTOePALAVRAS
Surpresa do Ser, 1967; Dois Poetas Novos do Brasil, 1972;
Corpo a Corpo, 1973;A Dança do Fogo, 1995;
O Sonho nas Mãos, 2005; Cartas à Minha Neta - para ler quando
for adulta, 2007; Orações para o novo milênio;
Os olhos da Noite . . .
*
Foi absurdo que ela viesse. Os morangos
guardavam da chuva a pressa.
As folhas lhe alargavam a pele.
Seus pés tinham perdido o rigor
dos caminhos.
-
Os lábios lhe batiam,
coração trespassado. Pediu água para beber.
-
Foi absurdo que ela quisesse me amar neste dia.
Não pronunciamos palavra.
O entendimento dos corpos não nos deixou chorar,
pensamos em coisas que agradariam ao mundo.
-
Partiu subitamente. Em paz.
Quando se voltou para me olhar outra vez,
senti que não a amara sozinha. Dera-lhe
minha esperança incrível na ressurreição.
*
ARMINDO TREVISAN
"Os Morangos"

Dois poetas Novos do Brasil

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