sábado, 6 de junho de 2009

099 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA"


MOACYR FÉLIX
Moacir Felix de Oliveira
Nasceu, 11 de março de 1926, signo de aries,
Rio de Janeiro, Brasil . . .
Homenagens: Prémio "Alphonsus Guimarães" I.N.L., 1959. . .
Faleceu 25 de outubro de 2005.
*
CANTOePALAVRAS
Clube de Trevas, 1948; Lenda e Areia, 1950;
Itinerário de uma Tarde, 1953; O Pão e o Vinho, 1959;
Canto para as Transformações do Homem, 1964;
Um Poeta na Cidade do Tempo, 1966; Canção do
Exílio aqui, 1977; Neste Lençol, 1977; Invenção de
Crença e Descrença, 1978; Singular Plural, 1988;
Introdução a Escombros, 1998 . . .
*
I
Luna longa, longe mar
quantas faces já perdi
no meu tonto caminhar?
-
Fui menino, não sou mais
e aquele rosto ligeiro,
que eu carregava nas ruas
de todo um mundo maior,
aos poucos se desgastou.
Sonhei como toda gente,
sem reparar na tristeza
agachada atrás dos mortos
que o olhar de meu pai guardou.
Fui menino, não sou mais.
-
Luna longa, longe mar
quantas faces já perdi?
-
Já tive face incendida
dos que, longe das planícies,
na palma de certa mão
ou numa boca de ruiva,
marcharam por sobre as águas.
-
Luna longa, longe mar
quantas faces já perdi?
-
O mais escuro dos rostos
também senti sobre mim,
quando, vazio, eu buscava
um deus, qualquer que ele fosse
para fazer uma ponte
ou barco, e deixar a ilha
onde os ventos machucavam.
-
Luna longa, longe mar
quantas faces já perdi?
-
A face do espelho em frente
e o sal de seus lábios mudos,
me contam que o portador
navegou por muito tempo
um esverdeado roteiro,
e agora é gota de chuva
nos céus que rondam a terra.
-
Luna longa, longe mar
Longe mar!
*
MOACYR FELIX
"Canção das Faces Perdidas"
Itinerário de uma Tarde
*
II
De que adiantou?
Se os bancos dos jardins são como cruzes
na sombra que as luzes da cidade ferem,
se os travesseiros são fundos como os túmulos
em que a vida não tem mais qualquer espera,
se a paz é fardada e brilha como as baionetas
espetadas na Terra grávida de medo,
se os navios que partem não me levam
nem a todos que sonham sem dinheiro,
se a música que tomba na calçada
levanta uma poeira de dias natimortos,
se o corpo da mulher ainda é mercado
para a fome dos desejos que se esgueiram
como um rato ferido entre as suas pernas,
se eu já não sei mais
onde está a verdade e onde está o erro,
de que adiantou?
*
MOACYR FELIX
"De que Adiantou"
Cubo de Trevas
*
III
Assim como o Sol enfia os seus dourados dedos
na penumbrosa cabeleira do pedinte, que adormeceu
sem teto, ao som dos sonolentos campanários,
e ali amarelece o convite de mais um outro dia,
ó sonho, humano sonho, tu nos apareces e habitas.
-
No interior da noite, Prometeu fincou a vitória do fogo.
Desde então, de fogueira em fogueira, o legado se transmite.
Deserdados, tropeçamos com frequência nos atalhos
sem saida, e quase sempre
apodrecemos - Narcisos! - à beira do mais noturno lago.
-
Como a águia, esplêndida e faminta, ergue o seu vôo
e desce em longas espirais, do pico ensolarado
ao vale mais agreste, assim pousa em nós
igual ao riso da criança, o futuro.
No entanto, só o que refresca e incita à marcha
-
traz a marca do celeste. E muitas vezes, breve é a sede
do viajar que molha os lábios no cantante curso d'água,
pois, já de há muito sem memória do roteiro,
logo adormece, sob a mais aprazível e imóvel sombra.
Alguns apenas continuam; principalmente, os poetas.
-
Resgatando a luz com a própria carne, testemunhas
de uma aurora, os olhos do poeta queimam
sobre a mesa mais humilde, nos apertos de mão
e nos retratos, nos olhares de ódio ou de alegria, e sobretudo
dentro da lembrança mesma de todo heróico gesto.
-
Após o trabalho, em torno da lareira os homens se aconchegam
e conversam, gratuitos e bons,
e as mágoas do dia amadurecem novas esperanças
enquanto, lá fora, a neve silencia o verde das parreiras;
assim, na terra, caminha o coração dos homens.
-
Assim, ó cidade, teus passos caminham em meu poema!
*
MOACYR FELIX
"Assim como o Sol "
Itinerário de uma Tarde
(Mais Poemas . . . "O CANTO . . . do encanto das . . .PALAVRAS"
pág. 189).

WALLY SALOMÃO
Nasceu em Jequié, Bahia, Brasil.
Poeta, letrista, ensaísta . . .
Estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Lábia; Gigolô de bibelôs; Algarvias; Armarinho de miudezas;
Me segura que eu vou dar um troço . . .
-
Cresci  sob um teto sossegado,
meu sonho era um pequenino sonho meu,
Na ciência dos cuidados fui treinado.
-
Agora, entre meu ser e o ser alheio
a linha de fronteira se rompeu.
*
WALLY SALOMÃO
¨Câmara de Ecos¨
 
SANTIAGO DIAS
Nasceu em Nova Belém, Estado de Minas Gerais, Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Estradar, 1987 . . .
*
I
As andorinhas voam
Bailando no céu
Como as ondas
Simples e leves
Sem parar
Vai-se indo
Pela imensidão
Infinita
E encantando com as flores
Cantando eu vou.
*
SANTIAGO DIAS
"Voar"
Estradar
*
II
Choro a dor de um povo.
Tenho saudades
Do cantar dos atabaques
Que não mais pude povir
-
Lamento a angústia
De estar tão distante
Dos antigos
-
Penso nas barras de ferro
Na hora do repouso
-
O amargo gosto de partir
-
Lembro-me do sangue
Escorrendo sobre o verde
Dos gritos
Do desepero
Das marchas para os porões
-
Guardo no peito
toda vontade de voltar
Atravessar o grande rio
E cantarolar de braços dados.
*
SANTIAGO DIAS
"Longe da Terra"
Estradar
*
III
Soltaram
Meus braços
Mas fecharam
Janelas
E portas
-
Cercaram as ruas
Por onde
Iria passar
-
Reprimiram
Meu grito
Prenderam-me
No compasso
Do dia-a-dia
-
Vendam
Meus olhos
Para que
Não possa ver
Os raios
De Sol
-
Fazem-nos
Acreditar
Que somos
Ineficazes
-
Calam
Quem clama
Por liberdade
-
E todos os dias
Surge um muro
Em meu caminho
-
Mesmo assim
Vou indo
Por estas veredas
Abrindo espaços
Para os que virão.
*
SANTIAGO DIAS
""Veredas da Liberdade(pedinte)"
Estradar
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 090).
 
MIRTES FERNANDES RENNÓ
Nasceu em 04 de dezembro de 1929, signo de sagitário.
Itajubá, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Poeta, professora . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Quero vivier como esse velho tronco
caído a golpes de um machado rude,
e por engenho e arte - de ser bronco
passe a ser útil pra que tudo mude.
-
Quero ser ainda aproveitada
- como o tronco que ora se transforma
pelos golpes da última pancada -
em cama útil, confortável e morna.
-
Nesse mudar, teu corpo fará pouso
em letárgicas horas de descanso,
e ao te acolher, farei que esse repouso
seja consolo, seja doce ou manso.
-
Com um abraço final caída,
os últimos suspiros pela vida . . .
para que eu possa morrer descontraída!!!
*
MIRTES FERNANDES RENNÓ
"Eu e a Árvore"
 
JOSÉ DE PAULA RAMOS JR.
Nasceu em 1952, São Paulo, Brasil.
Poeta, professor, cantor lírico(barítono em corais) . . .
Doutorou-se em Literatura Brasileira na U.S.P.(Universidade de São
Paulo). . .
Participou em diversas revistas e jornais . . .
*
CANTOePALAVRAS
A Ilustre Casa de Ramirez(Crítica Literária), 1993;
Sondas, 1997. . .
*
Luzes pelas frestas,
vozes eletrônicas em surdina,
a porta fechada.
Lá dentro, talvez uma estufa,
talvez uma flor, talvez o tédio,
talvez o ócio gozoso do sexo.
Lá fora, a cidade atroa.
Os homens, imersos em seus destinos,
os caminhos fazem e os fazem os caminhos.
-
Qual o beijo de tua boca?
Que aurora floresce em tuas pernas?
Teu corpo, tatuado pelas cores da TV,
é noite de duas semiluas, palpitantes,
com aroma de amora.
-
A névoa envolve a cidade;
as árvores da tardia primavera
não brotaram.
-
O corredor escuro cega o olho mágico.
Batem à porta.
Tu abrirás?
Que segredo esconde a escuridão,
que mistério? O cachorro latiu. Haverá flores?
Haverá facas?
-
Um professor foi baleado,
mais chofer assassinado,
outro estrupo, estuporaram oguarda,
atropelaram o padeiro, bateram na vizinha,
roubaram o teu chefe, quase levam
a tua bolsa,
a fome saqueou o mercado.
- Cadê o toucinho que estava aqui?
- o gato comeu!
-
Os bares boquejam banalidades,
Anactória bêbada tropeça nas mesas tristes,
pinguins suam como garçons,
José Celso Martinez Correia,
de calça xadrez, envolto em confete,
evola-se como nuvem.
-
Um homem bate à porta.
Tua garganta modula
um som mais doce que o conforto;
o canto trêmulo de tua voz indaga;
-Quem é?
Um homem bate à porta.
Trará um buquê?
Trará uma bala?
-
A negra noite das estrelas corre solta,
o meigo Sol demora a colorir
a pálida face da manhã.
*


JOSÉ DE PAULA RAMOS JR.
"São Paulo by Starlight"


GRAZIELA MARINELI
Nasceu em 06 de julho de 1978, signo de câncer.
Jaú, Estado de São Paulo, Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Amor! Sentimento nobre de corações sensíveis
Inspirado em sonhos e realidades
Que a cada dia se aprimoram.
-
Mas o que é o amor?
O que é esse sentimento inexplicável?
O que é esse "fogo que arde sem se ver?"
-
Inúmeras são as perguntas
E infinitas as respostas,
Mas nada leva a uma conclusão.
-
Sem saber o porquê
Nos deparamos com infinitos sentimentos
Não podendo explicá-los.
-
Ah! Amor sem causa e sem razão,
Amor sem pai nem mãe,
Amor de irmão, amigo ou amante.
-
Seja qual for o tipo desse sentimento,
Seja qual for o motivo que nos faz senti-lo,
Sempre vem do coração, independe da razão.
-
Quero entendê-lo, mas não posso,
Quera explicá-lo, mas não consigo,
Quero senti-lo, e só me falta coragem.
-
Abrir mão de tudo,
Deixar os princípios,
Sentir a emoção do momento.
-
Qual a principal causa?
E o efeito?
Por favor, explique-me se conseguir.
-
Posso imaginar o que leva,
Muitas vezes, pessoas a matarem
Dizendo ser por amor.
-
Amores platônicos
Que chegam sem explicação
E só fazem sofrer o amante.
-
Por isso, não devemos pensar
Apenas nesse tipo de amor
E sim nas outras formas desse sentimento.
-
Amor de amigo, de pais, de irmãos,
Amor de Deus, amor à vida.
Amores em vão.
-
Eleve seu pensamento por um instante
E esqueça os princípios,
Pense com a emoção.
-
Veja e sinta em seu íntimo
Toda a força que o impulsiona
Quando o imagina.
-
Feche seus olhos e pense
Quantos momentos de sua vida
Você perdeu sem amar.
-
E aqueles momentos em que a dúvida,
Razão de ser dos humanos,
Tomou conta do seu ser.
-
Tantas fraquezas e falhas
Que não somos capazes de, por um momento,
Entendermos o que se passa.
-
O amor é respirar o perfume da vida,
A essência da alma,
A profundeza do ser.
-
Mas que ser, e que alma?
Qual é a essência?
E o perfume?
-
Tudo deve vir acompanhado,
Sem dúvida nenhuma,
De toda emoção de quem sente.
-
E a vida, nesse caso,
Nos ajuda a desvendarmos o grande mistério:
O que é amar.
-
Se algum dia, nas idas e vindas do mundo,
Alguém puder explicar esse paradoxo,
Grite aos quatro cantos da terra.
-
E se a vida der a oportunidade de senti-lo,
Agradeça a cada momento,
Pois o grande mistério será revelado.
-
Se for capaz, ame o mais profundamente,
Se puder, demonstre essa dádiva e, finalmente,
Sinta essa brisa leve e suave do infinito do ser.
-
E a todos aqueles que se irritam com esse sentimento.
Dê uma resposta singela:
Aquele que é capaz de aceitar o amor, é capaz de viver feliz!
*
GRAZIELA MARINELI
"Inspiração" 
VERA PEDROSA
Vera Pedrosa Martins de Almeida
Nasceu em 1936, Rio de Janeiro, Brasil . . .
Poeta, Crítica de Arte, filosofa, Diplomata(embaixadora em
diversos países, entre eles a França) . . .
*
CANTOePALAVRAS
Poemas, 1964; Perpectivas Naturais, 1978; De onde voltamos o
Rio desce, 1979; Fim do Dia . . .
*
Quando choveu o ar está
com água pesando
e passam aves rápidas
manchas indecisas
sombras
concentração de névoa
e do alto se vê
o topo da árvore
e as flores laranjas
desse flamboyant
vibram com o movimento
acelerado
do esôfago ao estômago.
O dia desenrolou
vagaroso o tédio recolhido
armado
sob um prisma de cristal ao lado
de um paralelepípedo de vidro verde
sobre a mesa preta
com objeto de prata.
A noite se aproxima.
Você pediu chocolate
veio na bandeja
os biscoitos meio moles,
Faz-se o gesto de afastar,
cinco jornais amarfanhados
de cima do pano claro do sofá.
Quando fazer com a tomada solta
a lâmpada queimada
o passepartout amarelecido?
-
Sai se esgueira
pela sala adentro
pelo corredor
de onde volta
trazendo o leite do irmão.
Fez um frio súbito
teve fome
como um gato
céu abaixo se despeja
uma água de chumbo.
*
VERA PEDROSA
"Fim de Dia"
26 Poetas Hoje
 
JANDYRA MASCARENHAS
Nasceu a 13 de novembro de 1904, signo de escorpião.
Brasil.
Poeta, trovadora . . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
No tempo colonial
festejava-se o Natal
com pompa e muita alegria.
Na chácara engalanada
os negros erguendo archotes
iluminavam a entrada,
separados ou em magotes,
como candelabros vivos
dando ares recreativos
ao festim comemorativo.
-
Num recanto do salão
o Presepe acha-se armado,
atapetando o chão,
da varanda até o portão,
folhas verdes, pequeninas
estalam sob os pés
dos janotas, das meninas
que vão descendo de seges,
de vistosas sepentinas
por escravos carregadas.
-
Calções curtos, muito justos,
casacas de seda pura,
véstias de cores brilhantes
chegando até à cintura,
cabeleiras bem empoadas
eram as modas usadas
pelos "peraltas" casquilhos
que olhavam de afogadilho
para as belas recatadas
que vinham sempre guardadas
por mui severos senhores.
Dos costumes os rigores
não permitiam que amores
fossem além dos olhares
antes de se casarem.
-
Às oito os jogos de prendas
e motes para glosar
vêm aos jovens facultar
romances encadear.
Às dez à mesa convidam
viandas, frutas, cocadas,
vinhos e bolos, empadas,
toda a sorte de acepipes
para saciar apetites.
-
Depois a dança começa,
a espineta dá sinal,
e para que bem se meça
daquele tempo a moral:
De um lado os homens se alinham.
as mulheres da outra banda,
assim quando se avizinham
mal se tocam como manda
a pragmática antiga.
O minueto francês,
a gavota, o português
em requebros, aos saltinhos,
só mostrando os sapatinhos
das delicadas sinhás,
iriam varar a noite
se não se fizesse ouvir
dos sinos o repicar.
-
E lá se vão aos magotes
embrulhados nos capotes,
tendo à frente os lanterneiros
que, em passos muito ligeiros,
galgam a encosta do morro
espancando a escuridão.
Sugem de outra, e de outra banda
vários grupos em demanda
do Outeiro iluminado,
para assistir sem enfado
na Glória a Missa do Galo.
*
JANDYRA MASCARANHAS
"Natal Colonial"


ELISABETH VEIGA
Nasceu a 30 de julho de 1941, signo de Leão
rio de Janeiro, Brasil.
Na Faculdade Nacional de Filosofia, cursou Filosofia, 1966.
Poeta participou para diversos jornais...

CANTOePALAVRAS

Poemas, 1969; Um gosto de fábula, 1973; A paixão em claro, 1992;
 Sonata para pandemônio . .
*
Eu tenho nervos de papel de seda,
associabilidade em síndrome
crítica.
-
s
Sinto a perna torta do medo
convidar à fuga;
a presença do outro me estrangula.
-
Dissimulo,
dou um nó com as três mãos;
pinga água.
-
Sirvo um sorriso infeliz,
uma careta aflita
e um olhar de galga.
cafezinho trêmulo,
derrubo a cadeira.
-
O céu desaba sobre a minha cabeça 
sem parar
Pára-raio de estrelas,
escrevo.
-
Quem quiser me ouvir,
que me ouça em segredo,
eu tenho nervos de papel de seda.
*
ELIZABETH VEIGA
¨Auto-Retrato¨
A paixão em claro



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