quarta-feira, 17 de junho de 2009

085 - Olavo Bilac " 0S ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


OLAVO BILAC

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
Nasceu a 16 de dezembro de 1865, signo de sagitário,
Rio de de Janeiro, Brasil.
Foi um dos fundadores da "Academia Brasileira
de Letras". Escreveu a letra ao "Hino à Bandeira"
do Brasil. Esteve várias vezes em Portugal . . .
Faleceu a 28 de dezembro de 1918, Rio de Janeiro, Brasil.
Estilo Parnasianismo.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias(Panaóplias, Via-Láctea, Saga de Fogo), 1888;
Sagres, 1898;
Poesias(Alma Inquieta, As Viagens, O Caçador de
Esmeraldas), 1902; Crítica e Fantasia, 1904;
Conferências Literárias, 1906; Ironia e Piedade, 1916;
Dicionário de Rimas, 1913 . . .
*
I
Olha estas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
-
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrogam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
-
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
-
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
*
OLAVO BILAC
"Velhas Árvores"
*
II
Meu coração, na incerteza adolescência, outrora,
Delirava e sorria aos raios matutinos,
Num prelúdio incolor, como o alegro da aurora,
Em sistros e clarins, em pífanos e sinos.
-
Meu coração, depois pela estrada sonora
Colhia a cada passo os amores e os hinos,
E ia de beijo a beijo, em lascia demora,
Num voluptuoso adágio em harpas e violinos.
-
Hoje, meu coração, num scherzo de ânsias, arde
Em flautas e oboés, na inquietação da tarde,
E entre esperanças foge e entre saudades erra . . .
-
E, heróico estalará num final, nos clamores
Dos arcos, dos metais, das cordas, dos tambores,
Para glorificar tudo que amou na terra!
*
OLAVO BILAC
"Sinfonia"
*
III

Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na câdencia, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.
-
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguêsa.
-
És samba e jongo, chiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:
-
E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.
*
OLAVO BILAC
" Música Brasileira "
*
IV
- "Ora(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido espanto . . .
-
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do Sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
-
Direis agora: - Tresloucado amigo!
Que conversa com elas? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?"
-
E eu vos direi: - "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
"Via Láctea" E.S.O
*
OLAVO BILAC
"Soneto XIII"
Via Láctea
*
V
Ontem - néscio que fui! - maliciosa
Disse uma estrela, a rir , na imensa altura:
" Amigo! uma de nós, a mais formosa
De todas nós, a mais formosa e pura ,
-
" Faz anos amanhã . . . Vamos! procura
A rima de ouro mais brilhante, a rosa
De cor mais viva e de maior frescura! "
E eu murmurei comigo " Mentirosa! "
-
E segui, Pois tão cego fui por elas,
Que, enfim, curado pelos seus enganos,
Já não creio em nenhuma das estrelas . . .
-
E - mal de mim! - eis-me, a teus pés, em pranto . . .
" Olha: - Se nada fiz para os teus anos,
Culpa as tuas irmãs que enganam tanto! ".
*
OLAVO BILAC
" Soneto XXVII
Via Láctea
*
VI
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
-
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
rica mas sóbria, como um templo grego.
-
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre, E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
-
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
*
OLAVO BILAC
" A Um Poeta "
*
VII

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela . . .
-
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrôlo da saudade e da ternura!
-
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
-
Em que da voz materna ouvi: - " meu filho! ",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
*
OLAVO BILAC
" Língua Portuguêsa "
*
VIII
Plangei, sinos! A terra ao nosso amor não basta . . .
Cansados de ânsias vis e de ambições ferozes,
Ardemos numa louca aspiração mais casta,
Para transmigrações, para metempsicoses!
-
Cantai, sinos! Daqui, por onde o horror se arrasta,
Campas de rebeliões, bronzes de apoteoses,
Badalai, bimbalhai, tocai à esfera vasta!
Levai os nossos ais rolando em vossas vozes!
-
Em repiques de febre, em dobres a finados,
Em rebates de angústia, ó carrilhões, dos cimos
Tangei! Tôrres da fé, vibrai os nossos brados!
-
Dizei, sinos da terra, em clamores supremos,
Toda a nossa tortura aos astros de onde vimos,
toda a nossa esperança aos astros aonde iremos!
*
OLAVO BILAC
" Aos Sinos "
*
IX
Há no espaço milhões de estelas carinhosas,
Ao alcance do teu olhar . . . Mas conjeturas
Aquelas que não vês, ígneas e ignotas rosas.
Viçando na mais longe altura das alturas.
-
Há na terra milhões de mulheres formosas,
Ao alcance do teu desejo . . . Mas procuras
As que não vivem, sonho e afeto que não gozas
Nem gozarás, visões passadas ou futuras.
-
Assim, numa abstração de números e imagens,
Vives, Olhas com tédio o planeta ermo e triste,
E achas deserta e escura a abóbada celeste.
-
E morrerás, sózinho, entre duas imagens:
As estrelas sem nome - A luz que nunca viste,
E as mulheres sem corpo - O amor que não tiveste!
*
OLAVO BILAC
" Abstração "
Tarde
*
X
Camões sofre, na infamia da clausura,
Pária sem honra, náufrago sem nome;
E rala, na saudade que o consome,
O pobre peito contra a pedra dura.
-
O seu gênio ilumina a abjeta lura . . .
Mas a vida das carnes se lhe some:
Míngua de pão, e, outra mais negra fome,
Indigência de beijos e ventura.
-
Do próprio fel, dos íntimos venenos,
Faz a glória da Pátria e a luz da raça;
E chora, na ignomínia. Mas, ao menos.
-
Possui, na mesquinhez da terra grassa
E na vergonha de homens tão pequenos,
O orgulho de ser grande na desgraça.
*
OLAVO BILAC
" No Tronco de Goa "
Tarde
*
XI
Nuvem, que me consolas e contristas,
Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato:
Essas arquiteturas imprevistas
São como as construções em que me mato . . .
-
Nunca vemos, misérrimos artistas,
A vitória deste ímpeto insensato:
A um sopro benfazejo, que conquistas!
A um hálito cruel, que debarato!
-
Nuvens de terra e céu, brincos do vento,
Vai-se-nos breve a essência no ar varrida . . .
Irmã, importa? ao menos, num momento,
-
No fastígio falaz da nossa lida,
Tu, nas miragens, e eu, no pensamento,
Somos a força e a afirmação da Vida!
*
OLAVO BILAC
" As Nuvens "
Tarde
*
XII
As palavras do amor expiram como os versos,
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que têm vida, existências que invento;
-
Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos
De pó, que um sopro espalha ao tovelim do vento,
Raios de Sol, no oceano entre as águas imersos,
- As palavras da fé vivem num só momento . . .
-
Mas as palavras más, as do ódio e do despeito,
O "não!" que desengana, o "nunca!" que alucina,
E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas,
-
Abrasam-nos o ouvido e entramo-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
Imóveis e imortais, como pedras geladas.
*
OLAVO BILAC
" Palavras "
Tarde
*
XIII
Quando a noite cai, fica à janela,
E contempla infinito firmamento!
Vê que planície fulgurante e bela!
Vê que deslumbrante!
Olha a primeira estrêla que aparece
Além, naquele ponto do horizonte . . .
Brilha, trêmula e vívida . . . Parece
Um farol sobre o píncaro do monte.
Com o crescer da treva,
Quantas estrêlas vão aparecendo!
De momento em momento, uma se eleva,
E outras em torno dela vão nascendo.
Quantas agora! Vê! Noite fechada . . .
Quem poderá contar tantas estrêlas?
Toda a abóboda está iluminada
E o olhar de perde, e cansa-se de vêlas
Surgem novas estrêlas imprevistas
Inda outras mais despontam . . .
Mas, acima das últimas avistas,
Há milhões e milhões que não se contam . . .
Baixa a fronte e medita:
▬ Como, sendo tão grande na vaidade
Diante desta abóbada infinita
É pequenina e fraca a Humanidade!
*
OLAVO BILAC
"As Estrêla
s"

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