terça-feira, 9 de junho de 2009

095 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


DANTE MILANO
Nasceu a 16 de junho de 1899 signo de gêmeos.
Rio de Janeiro, Brasil.
Pai músico(maestro Nicolau Milano), irmão poeta
Atílio Milano, amigo de Manuel Bandeira e outros poetas.
Funcionário Público, jornalista, poeta, tradutor . . .
Homenagens: Premio "Felipe d'Oliveira, 1948;
Premio "Machado de Assis", 1988, A.B.L. (Associação
Brasileira de Letras). . .
Estilo modernismo.
Faleceu 15 de abril de 1991.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias, 1948; Poesias, 1958; Poesia, 1971;
Poesia e Prosa, 1979 . . .
*
I
Penso, para esquecer . . . Apenas vivo
Aquilo que me passa pela mente
E se vai desdobrando interiormente
Em forma de soneto pensativo.
Invento - não existe - algum motivo.
Como quem escrevendo à amada ausente
Imagina maior o amor que sente,
- Oh, tudo o que há no amor de descritivo -
Como o que ama de longe, assim pareço.
(O voo da ave é uma existência à-toa?)
Escrevo a minha vida que se esfuma
Na distância . . . - Ah, bem sei que habito numa
Bola que rola e piso um chão que voa . . .
*
DANTE MILANO
"Divagação"
Poesia e Prosa
*
II
Andando por um caminho
Vou comigo conversando.
Aonde quer que eu vá sozinho
Venho a mim me perguntando:
"Como vais Tu? " - "Vai-se andando".
-
Às vezes no fim do dia
Ao encontrar-me comigo
Reconheço um velho amigo,
Alguém que eu já conhecia
E há muito não via.
-
E que seria de mim
Sozinho, se não fosse isto,
Este ser, ao meu afim,
O qual me dá, quando o avisto,
A prova de que eu existo.
-
Sempre que de mim me ausento
Encontro esse amigo atento.
É como quando algum velho
Ao olhar-se num espelho
Vê cem anos num momento.
-
Existência imaginária
Que é só minha, tão vivida
Quando esta outra vida diária
Igual à de todos, vida
Apenas hereditária.
-
Prossigo na minha viagem
Sempre no mesmo lugar,
E sinto, alongando o olhar,
Boi da infinita pastagem,
O meu tédio da paisagem.
-
Eu sou como aquele monge
Que dormiu trezentos anos
Ouvindo um pássaro . . . Arcanos
Penetro, atinjo outros planos . . .
Como as palavras vão longe!
*
DANTE MILANO
"Escrito no Ar"
Poesia e Prosa
*
III
Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o principio do amor.
-
Quero escrever sem saber,
Sem saber o que dizer,
Quero escrever uma coisa
Que não possa entender,
-
Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.
-
Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.
*
DANTE MILANO
"Descobrimento da Poesia"
Poesia e Prosa
*
IV
O olhar no escuro,
Não dormir, esperar, acordado na noite.
Um verso feito em gesto rápido
Traça nas trevas do cérebro o rabisco de um raio.
É um poema ou talvez lá fora a tempestade?
As portas se abrem sozinhas com violência.
Passam vultos que não existem.
-
Meu corpo parado, entanto corro livre pelos descampados.
Estende-se a perder de vista a dolorida praia.
O mar avança pela areia com as patas de seus cavalos.
O vento chicoteia o fugitivo.
-
Não fujas da vida, espírito!
Volta, covarde!
-
Apagadas visões
Não tirarão teu brilho, realidade!
-
A poesia me leva a perdidos caminhos
De onde volto mais só, mais desesperançado.
De tudo resta apenas a página rabiscada.
Deixo cair da mão o verso que se parte.
Outro me foge escrito sem palavras,
Buscando outros sentidos . . .
-
O verso é feito do ar que se respira,
-
Correi, correi, ó versos sem palavras . . .
*
DANTE MILANO
"Passagem do Poema"
Poesia e Prosa
*
V
Eu sou um rio, a água fria de um rio.
Profundo, cabe em mim todo o vazio,
Um reflexo me causa um calafrio.
-
Sou uma pedra de cara escalavrada,
Uma testa que pensa, e sonda o nada,
Uma face que sonha, ensimesmada.
-
Sou como o vento, rápido e violento,
Choro, mas não se entende o meu lamento.
Passo e esqueço meu próprio sofrimento.
-
Sou a estrela que à noite se revela,
O farol que vê longe, o olhar que vela,
O coração aceso, a triste vela.
-
Sou um homem culpado de ser homem,
Corpo ardendo em desejos que o consomem,
Alma feita de sonhos que se somem.
-
Sou um poeta. Percebo o que é ser poeta
Ao ver na noite quieta a estrela inquieta:
Significação grande, mas secreta
*
DANTE MILANO
"Tercetos"
Poesia e Prosa
*
VI
A vida é tempo perdido.
O que se ganha é bem pouco.
Que vale ao morto o vivido?
Que vale ao vivo, tampouco?
-
E nunca me sai do ouvido
Esse rumor incessante:
"A vida é tempo perdido."
Oh que marulho distante.
-
Voz de sepultos oceanos
Num caracol aturdido.
Longos dias, breve anos.
A vida é tempo  perdido.
*
DANTE MILANO
"Cantiga"
*
VII
O canto não imita a realidade
Como as palavras. Fica sobrevoando,
E da boca feroz se libertando,
Como o voo de um pássaro se evade.
Desaparece sem deixar saudade,
Perde-se na existência, como quando
A água de uma carranca bobotando
Se irisa em tremula diafaneidade.
Não quero o sentimento que a treva
Do ser trás  qualquer coisa de aflitivo,
Que quer ser voz e a voz profunda eleva,
Despertando um espírito latente
Que estilhaça os cristais num vingativo
Riso de espectro lívido e estridente.
*
DANTE MILANO
"O Espectro"
*
VIII
Tanto rumor de falsa glória,
Só o silencio é musical.
Só o silencio,
A grave solidão individual,
O exílio em si mesmo,
O sonho que não está em parte alguma.
-
De tão lúcido, sinto-me irreal.
*
DANTE MILANO
"Glória Morta"
Poesias
*
IX
Penso, para esquecer...Apenas vivo
aquilo que me passa pela mente
E se vai desdobrando interiormente
Em forma de soneto pensativo.
Invento - não existe - algum motivo.
como quem escrevendo à amada ausente
Imagina maior o amor que sente,
-Oh, tudo o que há no amor de descritivo, -
Como o que ama de longe, assim pareço.
E ao lembrar de tudo quanto esqueço,
(O voo da ave é uma existência à toa?)
Escrevo a minha vida que se esfuma
Na distância... - Ah, bem sei que habito numa
Bola que rola e piso um chão que voa...
*
DANTE MILANO 
"Divagação"
Poesias
*
X
De olhos abertos enfrentei o assombro.
Tudo o que existe vem de um vago outrora.
Se contemplo o infinito, não me assombro.
E o tempo eterno é para mim esta hora.
tentei erguer o mundo no meu ombro,
Porém, rolou. Ao contemplá-lo agora
O mundo me parece um rude escombro.
Recordo-me que já em certa aurora
Quis ver o céu, - só vi a imensidade...
E nisto penso, embora não me importe.
Donde provém  tanta perplexidade?
Porque, sobre um mistério,Sol tão forte?
Penso num verso que descreva a morte:
tanto sonho e tão pouca realidade.
*
DANTE MILANO
"Existência"
Poesias
▬▬
ELISEO ORO
Nasceu em 10 de dezembro de 1926, signo de sagitário.
São Domingos do Sul, Estado de Rio Grande do Sul, Brasil.
Poeta, político, funcionário público, professor . . .
Participou em revistas, jornais e antologias . . .
*
CANTOePALAVRAS
Do Amanhecer ao Anoitecer . . .
*
Sou a força dos amantes
nas juras de todos instantes
e quem move o mundo
em seu sentido profundo . . .
Sou ativo no sentimento
ao perpassar o pensamento
e une até a vida
na própria vida . . .
Sou o que dá sustentação
da ação em (re)ação
ao unificar lares
vencendo os pesares . . .
Sou valor e energia
pra quem o bem avalia
e a esperança dos doentes
a agir e lutar contentes . . .
Estou em toda a parte
pro desamor destarte
procurar enfrentar
e o bem vivenciar . . .
Sim, sou mesmo forte
na vida e na morte
mas, afinal, quem sou eu?
EU SOU O AMOR! . . .
*
ELISEO ORO
"Quem Sou Eu?"

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