domingo, 7 de junho de 2009

098 - Camilo Castelo Branco " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA"



Retrato de C.C.Branco século XIX, autor Pastor.
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CAMILO CASTELO BRANCO
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco
*
Manoel Coco; Saragoçano; A.E.I.O.U.Y.;
João Junior; Árqui-Zero; A Voz da Verdade;
Anastácio das Lombrigas; Felizardo; Modesto . . .
(Alguns dos pseudónimos).
Nasceu a 16 de março de 1825, signo de peixes.
Lisboa, Portugal.
Romancista, poeta, tradutor, cronista, crítico, dramaturgo. . .
Órfão aos dez anos de idade
Preso, por amar, Ana Plácido(livro "Memórias de um Carcere".
Rei d> Luis, de Portugal o consagrou com o titulo de Visconde, 1885.
Fim da vida com diversas doenças....
Estilo Romancista.
Faleceu (suicidou-se) 01 de junho de 1890.
*
CANTOePALAVRAS

Anátema, 1851; Mistérios de Lisboa, 1854; A Filha do
Arcediago, 1854; Livro Negro de Padre Dinis, 1895;
A Neta do Arcediago, 1856; Onde Está a Felicidade, 1856;
Um Homem de Brios, 1856; Lágrimas Abençoadas, 1857;
Cenas da Foz, 1857; Carlota Angela, 1858; Vingança, 1858;
O Que Fazem Mulheres, 1858; O Morgado de Fafe em
Lisboa(teatro), 1861; Doze Casamentos Felizes, 1861;
O Romance de um Homem Rico, 1861; As três Irmãs, 1862;
Amor de Perdição, 1862; Memórias do Carcere, 1862;
Coisas Espantosas, 1862; Coração Cabeça Estômago, 1862;
Estrelas Funestas, 1862; Cenas Contemporâneas, 1862;
Anos de Prosa, 1863; Aventuras de Basílio Fernandes
Enxertado, 1863; O Bem e o Mal, 1863; Estrelas Propícias, 1863;
Memórias de Guilherme do Amaral, 1863; Agulha no Palheiro,
1863; Amor de Salvação, 1864; A Filha do Doutor Negro, 1864;
O Esqueleto, 1865; O Judeu, 1866 . . .
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Simão Botelho levou de Viseu para Coimbra
arrogantes convicções da sua valentia. Se recordava os
chibantes pormenores da derrota em que pusera trinta
aguadeiros, o som cavo das pancadas, a queda atordoada
deste, o levantar-se daquele, ensagüentado, a bordoada
que abrangia três a um tempo, a que afocinhava dois, a
gritaria de todos, e o estrépito dos cântaros afinal, Simão
deliciava-se nestas lembranças, como ainda não vi algum
drama, em que o veterano de cem batalhas relembra os
louros de cada uma, e esmorece afinal, estafado de
espantar, quando não é de estafar, os ouvintes.
O acadêmico, porém com os seus entusiasmos, era incompa-
ravelmente muito mais prejudicial e perigoso que o mata-
mouros de tragédia. As recordações esporeavam-no a façanhas
novas, e naquele tempo a academia dava azo a elas. A mocidade
estudiosa, em grande parte simpatizava com as balbuciantes
teorias da liberdade, mais por pressentimento, que por estudo.
Os apóstolos da revolução francesa não tinham podido fazer
revoar o trovão dos seus clamores neste canto do mundo; mas
os livros dos emciclopedistas, as fontes onde a geração seguinte
bebera a peçonha que saiu no sangue de noventa e três, não era
de todos ignorados. As doutrinas da renegação social pela
guilhotina tinham alguns tímidos sectários em Portugal, e esses
de ver é que deviam pertencer à geração nova. Além de que, o
rancor à Inglaterra lavrava nas entranhas das classes manufa-
teiras, e o desprender-se do jugo aviltador dos estranhos,
apertado, desde o princípio do século anterior, com as sogas de
ruinosos e pérfidos tratados, estava no ânimo de muitos e
bons portugueses que se queriam antes aliançados com
a França. Estes eram os pensadores reflexivos; os sectários
da academia porém, exprimiam mais a paixão que as
doutrinas do raciocínio.
No Ano anterior de 1800, saíra Antônio de Araujo de Azevedo,
depois conde da Barca, a negociar em Madrid e Paris a
neutralidade de Portugal. Rejeitaram-lhe as potências aliadas
as propostas, tendo-lhe em conta de nada os dezesseis milhões
que o diplomata oferecia ao primeiro cônsul. Sem delongas, foi
o território português infestado pelos exércitos da
Espanha e França. As nossas tropas, comandadas pelo
duque de Lafões, não chegaram a travar a luta desigual,
porque a esse tempo Luís Pinto de Sousa, mais tarde visconde
de Balsemão, negociara ignominiosa paz em Badajoz, com
cedência de Olivença à Espanha, exclusão de ingleses de
nossos portos, e indenização de alguns milhões à França.
Estes sucessos tinham irritado contra Napoleão os ânimos
daqueles que odiavam o aventureiro, e para outros deram
causa a congratularem-se do rompimento com a Inglaterra.
Entre os desta parcialidade, na convulsiva e irrequieta
academia, era voto de grande monta Simão Botelho, apesar
dos seus imberbes dezesseis anos. Mirabeau, Danton,
Robespierre, Demoulins, e muitos outros algozes e mártires
do grande açougue, eram nomes de soada musical aos
ouvidos de Simão. Difamá-los na sua presença era
afrontarem-no a ele, e bofetada certa, e pistolas engatilha-
das à cara do difamador. O filho do sorregedor de Viseu
defendia que Portugal devia regenerar-se num batismo de
sangue, para que a hidra dos tiranos não erguesse mais
uma das suas mil cabeças sob a clava do Hércules popular. . .
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CAMILO CASTELO BRANCO
"Capitulo 2" (fragmento)
Amor de Perdição
-
Ó alma atribulada, corta o laço
da torva angustia que te cinge à vida!
Vai, foge para Deus. ou para o espaço . . .
Ou nada ou Deus, que importa? eis-te remida.
-
Não tiveste na vida um dia escasso
de paz e de alegria! Escurecida
te foi sempre a existência, desvalida,
e cortada de abismos, passo a passo.
-
Vai! Não leves saudades do que deixas.
Se a fé em melhor mundo preluz,
alma gemente, por que assim te queixasW
-
Desprende-te, asorrir, da horrenda cruz
em que tanto penaste! Os olhos fechasW
Abre os d'alma, e verás que infinda luz.
-
CAMILO CASTELO BRANCO
"Alma Atribulada"

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