segunda-feira, 29 de junho de 2009

065 - Bocage " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

BOCAGE
Manuel Maria Barbosa du Bocage
"Elmano Sadino"( Elmano, é o anagrama de Manuel,
Sadino, Rio Sado, rio que atavessa cidade de Setubal).
Nasceu a 15 de setembro de 1765, signo de virgem,
em Setubal, Portugal.
Seu pai Dr. José Luis Soares Babosa e sua mãe
D. Maria Xavier Lestof du Bocage, filha de
marinheiro francês, na armada Portuguesa, foi
almirante. Bocage esteve na Índia, 1786, Macau . . .
Seu corpo, faleceu a 21 de dezembro de 1805.
*
CANTOePALAVRAS
Canto marítimos. Rímas; Parnaso Bocagiano . . .
*
I
Adamastor cruel! . . .Deu teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!
-
Parece-me que entregues a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
co a espada, e co's filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Venús e os amores.
-
Parece-me que vejo a triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Ás garras dos leões correr furioso.
-
Bem te vingaste em nós do afouto GAMA!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita Fama!
*
BOCAGE
" Naufrágio de Sepúlveda "
Soneto LXVII
*
II
Olhos suaves, que em suaves dias
Vi nos meus tantas vezes empregados;
Vista, que sobre esta alma despedidas,
Deleitosos farpões, no céu forjados:
-
Santuário de amor, luzes sombrias,
Olhos, olhos da cor de meus cuidados,
que podeis inflamar as pedras frias,
Animar os cadáveres mirrados:
-
Troquei-vos pelos ventos, pelos mares,
Cuja verde arrogância as nuvens toca,
Cuja horríssona voz pertuba os ares:
-
Troquei-vos pelo mal, que me sufoca;
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Oh câmbio triste! Oh deplorável troca!
*
BOCAGE
"Soneto"
*
III
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo,
Como fervem no pego as crespas vagas.
-
Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (Ai de mim!) palpando e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.
-
Cego a meus males, surdo a teu reclamo
Mil objectos de horror co' a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.
-
Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar: eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro.
*
BOCAGE
" Soneto "
*
IV
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu infame influxo em nós não caia
Porque(triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia* e a tua aurora?
-
Da Santa Redenção é vinda hora
A esta parte é vinda hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! Venha . . .Oh! Venha, e trêmulo descaia
Despotimo feroz, que nos devora!
-
Eia! Acode ao mortal, que frio e mudo
Oculta o pátrio amor, torce a verdade,
E em fingir, por temor, empenha estudo:
-
Movam nossos grilhões tua piedade
Nosso númem tu és, e glória, e tudo
Mãe do Gênio, e prazer, Ó LIBERDADE!
*
BOCAGE
" Soneto "
LI
*Lísia- é Portugal de Luso ou Lisa.
(Mais Poemas . . ."OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS
E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA" pág. 15).

066 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "




ELOISA PEREIRA
Eloisa Menezes Pereira
Nasceu a 09 de abril de 1952, signo de áries.
Brasil . . . .
Professora de Lingua Portuguesa . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . .

 "Meu Jardim" Foto LuisD.

*
Corpos delirantes
Arrepiam-se de desejos
Sonhando com o encontro
Festejam confiantes.
-
Carícias navegam ao prazer
Ancorando no deleite
Respiram cumplicidade
Fantasiando ao fazer.
-
Faixa da exclusão
-
Colmeias exóticas da civilização
Dominam os preconceitos
Investimentos na opressão
Aleijão os afeitos.
-
Representação documentada
Arraigada à escravidão.
Favorece abandonada
A elevação da transformação.
-
Inspiração na História
Escondem a aceitação
fortalecendo a memória
Limitam o cidadão.
*
ELOISA PEREIRA
▬▬▬▬
LINA TÂMEGA DEL PELOSO
Lina Tâmega Peixoto del Peloso
Nasceu a 05 de junho de 1931, signo de gêmeos.
em Cataguases, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Doutorou-se em "Letras Clássicas", na Pontifícia
Universidade Católica, 1955, Rio de Janeiro.
Poeta, professora, participou em diversas revistas. . .
*
CANTOePALAVRAS
Algum Dia, 1952; Entretempo, 1983 . . .
*
I
Se me visses agora,
sentada e amorosa,
com um pouco de flor
no jeito e no aroma,
-
se visses como sou frágil
e infinita na postura de sonho,
orvalhando a saudade
que não tem fim na madrugada,
-
se visses o tímido amor
encerrado em meu peito em fogo,
e a luta densa e constante
entre mandar-te bom-dia e um beijo,
-
se visses, por certo nada mais verias
que este ardido gesto me despindo.
te espero e te afasto na tremura
de flor enlaçada pelo vento.
*
LINA TÂMEGA DEL PELOSO
"Se me Visses Agora"
Entretempo
*
II
Quando te vejo,
ainda sou menina.
Murmuro teu nome
e treme tanto a boca
nas malhas do sussurro!
-
Quando vou te lembrando,
o vazio em torno de mim
vai-se aconchegando,
e, se estende os braços,
não te alcanço.
-
Gastei tudo quanto tinha
de amoroso gesto
e quando devia falar-te
disse apenas: boa-noite.
-
Não digas nada.
Vem a mim
como haste ao encontro da fruta.
*
LINA TÂMEGA DEL PELOSO
"Quando Te Vejo"
Entretempo
*
III
Será a palavra
um breve tremor do corpo
que salta com alvura tímida
sobre o mundo
e oscila as coisas
com a suavidade de trapos?
-
Será a palavra
iluminária de um pretérito
signo mais que perfeito
de um espaço
cúmplice e indecifrado?
Escamas do tempo
que ferem a palma da mão
com tatuagens?
-
Será a palavra,
com que amor
vai-se amando,
escassez de amar
se tantas vezes se reparte
em estilhaços
no que vai sendo amante?
-
Será a palavra
arrepios de espasmo
ou será a sombra desta palavra
que transita sob o poema?
*
LINA TÂMEGA DEL PELOSO
"Da Palavra"
Entretempo
▬▬▬▬
NINA TUBINO
Nina Maria Harres Tubino Rangel de Freitas
Nasceu em 18 de dezembro de 1933, signo de sagitário.
Taquari, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Poetisa, professora, jornalista . . .
Participou em jornais . . .
Academia de Letras. Distrito Federal;
Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul . . .
*
CANTOePALAVRAS
A Saga de Um Imigrante Alemão;
O Infante e a Saga Portuguesa . . .
*
Portugal, porta florida
Da Europa ancestral.
Portugal, esquina bravia
onde o Continente se dobra
aos caprichos do mar.
Onde o vento assobia
cantigas do mar.
-
Tens a esquina famosa
e nela plantaste o destino do mundo.
Nela, um homem ousou sonhar
e levantar velas brancas
rumo ao mar.
-
Daquele promontório,
de olhos fitos no horizonte,
e gênio das navegações
vislumbrou um mundo novo.
E sonhou, e lutou,
lutou contra gentios.
Lutou contra os ventos,
lutou contra as águas
e venceu!
-
Deus foi chamado
e se fez presente
e de presente lhe deu
toda a coragem,
toda a verdade, toda a glória.
-
O homem que ousou sonhar
e realizou o feito lusitano
vestia um burel de frade,
tinha a cruz no coração
e no olhar a firme determinação:
Vencer o mar, ver crescer Portugal.
*
NINA TUBINO
"Sagres"
O Infante e a Saga Portuguesa
▬▬▬▬
ALICE DAMAZIO NANTES
Alice Maria Nantes(pseudônimo)
Nasceu a 17 de dezembro de 1923, signo de sagitário
Matão, Estado de São Paulo, Brasil.
Participou de revistas e jornais . . .
*
CANTOePALAVRA
O Melhor d'O Boêmio, 1996. . .
*
Casarão grande, esquecido pelo tempo,
As paredes querendo cair sem amparo,
Lá estavam as árvores frondosas
Dando esperança de
Que um dia se recuperassem,
Dandouma aparência de bela
E o jardim florescendo de novo.
-
Mas a chuva danada não veio.
As flores nos canteiros querendo abrir,
Mas o frio malvado não deixou
Que nada brotasse.
As gramas do Casarão pareciam mortas,
Tristes, porque o tempo destruía tudo,
Esperando que lá de cima
Alguém visse tanta tristeza.
-
Mas nem mesmo a chuva chegou,
Nem as flores se abriram.
As árvores pareciam dizer adeus
A tudo,
O Casarão caindo, uma parede aqui,
Outra lá, até que tudo desmoronou
E o Casarão ficou esquecido
Para sempre.
*
ALICE DAMAZIO NANTES
"Casarão"
▬▬▬▬
ELZA CAPANEMA LEITÃO
Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil
Poetisa, escritora, tradutora . . .
*
CANTOePALAVRAS
Canção do Amor Absoluto, 1976; Sutilezas . . .
*
Aqui estou, Senhor,
na última escalada!
De pedra em pedra
subi, quase toda a montanha.
Tenho rotas as vestes,
e as mãos ensanguentadas,
invadindo-me o calor,
das longas caminhadas!
A brisa passa por mim,
não me refresca,
e a corda que me sustenta
nem sempre dá segurança
É bom parar e olhar
obstáculos vencidos!
Ali, falta uma pedra
que a minha teimosia tirou.
Mais adiante, a marca
que a ingratidão deixou!
Olhei o abismo
e ele me chamou!
Ah! . . . Como me feriu a ignorância!
Tive dias de angústia
e isolamento
Descri de tudo
e as forças me faltaram!
Mas a fé me socorreu
e descansei em seus braços! . . .
Tracei novos caminhos
e prossegui chorando! . . .
Penso no início.
Quando eu retinha a esperança
e a mocidade cantava! . . .
Ah! verdes campos,
sussurro de rios,
que amei e amo,
pois de amor sou feita!
O vento geme em meus ouvidos,
me torturando!
Mas irei prosseguindo . . .
Diviso agora a chegada!
Meu coração marca o compasso
do meu canto triunfal! . . .
Lá chegarei! . . .
E, então tudo será presente!
Minha infância feliz,
meus lindos sonhos.
Meus amores e a luz!
E tu Senhor,
não estarás ausente!
Porque és a força
em mim, sempre presente!
Quando sorrirei
ou chorarei ainda?
Pouco importa agora!
▬ Avante! Minha Alma!
Comanda este corpo,
que o passado e o presente
estarão juntos,
nesta última
escalada! . . .
*
ELZA CAPANEMA LEITÃO
" Última Escalada"
-----------

ÂNGELA MELIM
Nasceu em 1952, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil . . .

CANTOePALAVRAS

As Mulheres gostam muito, 1970; O vidro o nome, 1974; Das tripas coração, 1978;
Vale o escrito, 1981; Poemas, 1987; Mais dia menos dia, 1996;
*
vi tanta coisa no mundo, tanta.
E sei que há muito mais para ver.
Perto do que há,
o tanto que vi é pouco, tão pouco, ínfimo.
Não chega aos pés do que falta.
Mas agora não quero ver nada, mais nada.
Neste momento.
Estou cansada.
-
Vi  tanta coisa no mundo, tanta.
Mas continuo criança. Boba.
Os olhos espantados, abertos.
Sem criar casca.
Oferecendo este lago do peito-
este lago à flor da pele, embora vaso
comunicante com o fosso fundo - 
a qualquer faca.
Pop isso estou cansada.
tudo está inscrito em pedras-logogrifos,
em acetat, chips, imagens de video,
sequências sensuais de sons e ritmos latinos
e latidos secos, saxônicos,
na voz de pessoas queridas -
vozes quentes,
nas suas opiniões ao vivo e também 
nas que elas imprimem nos jornais,
na dor que reavivam  as opiniões malignas
até mesmo quando não são poderosas,
em milhares de milhões de páginas lidas.
tudo isso remói, revolve, convulsiona
mar bravio de potentes motores  recônditos
correntes ascendentes, descendentes, centrípetas, centrífugas simultaneamente
e seus raros engates casuais que acionam o silêncio.
tão raros. tão desejados.
(Porque é penoso aprender e nem sempre se aprende a fluir
com as correntes, como todos sabemos).
-
O silêncio vem em paz com a missão cumprida.
Com o amor bom.
Vem com as palavras bonitas que aprendi, que reuni, que combinei
com as palavras que quero mostrar
que tenho que  mostrar
- sua respiração,
sua música -
que aprendi porque vi
tanta coisa no mundo.
*
ANGELA MELIM
¨Faca na água¨

▬▬▬
GLÓRIA REGINA F. MELLO
Nasceu a 30 de maio de 1954, signo de Gemeos.
Rio de Janeiro, Brasil.
Pela Faculdade de Direito da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro, Brasil se formou em Direito. . . .
*
CANTOePALAVRAS
Bordados de Penélope, 1992 . . .
*
e substantiva
há a lágrima
lambível gota
no mar de sal intenso
mulher
na face da vida
menina
na dos reflexos
e um não mais dizer
das fantasias noturnas
estrelas diuturnas
segmentadas
desprateadas
ao invocar do Sol
beber calor
e no unir das pontas dilaceradas
por amor
tomar a cor das terras semeadas.
*
GLÓRIA REGINA F. MELLO
"Semeadura"

067 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "



ARMANDO CORTES RODRIGUES
"Violante de Cisneiros"(pseudónimo)
Nasceu a 28 de março de 1891, signo de áries,
Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, Açores.
Licenciou-se em Filologia Românica,Lisboa. Portugal,1927.
Participou da revista "Orpheu". . .
Estilo Modernismo.
*
CANTOePALAVRAS
Rajada Doentia, 1914; Processional, 1921;
Quinto Império, 1934 . . .
*
E deitei mão do arado. Fui-me à vida!
A terra, palmo a palmo, arroteei;
E a semente que, pródigo, espalhei
Mais fresca depontou a mais garrida.
-
Pobres aves do céu, vinde e comei!
A mesa é posta, olhai que bem convida.
Tanta fartura seja repartida
Convosco, irmãs, segundo é justa lei.
*
ARMANDO CORTES RODRIGUES
*

Foto "Moinho de Vento" Açores

068 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

CASÍMIRO DE BRITO
Nasceu a 14 de janeiro de 1938, signo de capricórnio
em Loulé, Portugal.
Estudou em Londres "Westfield College".
Integrou, o Movimento "Poesia 61".
Foi, Presidente da "Associação Européia
para a Promoção da Poesia".
Viajou para Bélgica, França, Espanha, Itália,
Inglaterra, Canadá, África . . . divulgando a
poesia e a leitura por ela.
Prêmios como da "Imprensa Literária",
"Associação Portuguesa de Escritores e da
Secretaria de Estado e Cultura".
"Premio Internacional de Poesia Versília(Viareggio). . .

*
CANTOePALAVRAS
Ode e; Ceia, 1955; Prática da Escrita(ensaio), 1977;
Dom Quixote, 1985; Imitação do Prazer(romance), 1980;
Labyrinthus, 1981; Pátria Sensível(romance), 1983;
Contos da Morte Eufórica(ficção), 1984;
Duas Águas, um Rio, 1989;Subitamente o Silêncio, 1991 . . .
*
Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno insecto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz limpa dos frutos, oque me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?
-
Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda
do meu exílio, Perdoa-me se não te peço
a paz.
apenas pergunto: - O que me darias
em troca se te pedisse? O Sol? A Sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?
-
Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo de mim,
entrego-te o meu destino. E a morte vivo
Só de perguntar-te: - O que me darias
se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero construída
com as matérias vivas da liberdade?
*
CASÍMIRO DE BRITO
"A Paz"
Jardins de Guerra
Antologia

domingo, 28 de junho de 2009

069 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


JOSÉ PAULO PAES
Nasceu em 22 de julho de 1926, signo de cancer,
Taquaritinga, Estado de São Paulo,
Brasil.
Filho de português. Colaborou em várias revistas
e jornais. . .
Seu corpo faleceu, 08 de outubro de 1998.
*
CANTOePALAVRAS
O Aluno, 1947; Cúmplices, 1951; Novas Cartas
Chilenas, 1954; Epigramas, 1958; Os Poetas, 1961;
Mistério em Casa, 1961; Anatomias, 1967;
Meia Palavra, 1973; Resíduo, 1980; Calendário
Perplexo, 1983; Um por Todos, 1986;
A Poesia está morta mas juro que não fui eu, 1988;
Olha o Bicho(infanti-juvenil), 1989;
A Aventura Literária, 1990; Prosas Seguidas de Odes
Mínimas, 1992; Um Número depois do Outro(infanto-juvenil),
1993; Lé com Cré(infanto-juvenil), 1993;
A Meu Esmo, 1995; De Ontem para Hoje, 1996
Um Passarinho me Contou(infanto-juvenil), 1996 . . .
*
I
Eu mal o conheci
quando era vivo.
Mas o que sabe afinal
um homem de outro homem?
-
Houve sempre entre nós certa distância,
um pouco maior que a desta mesa onde hoje escrevo
até esse retrato na parede
de onde ele me olha o tempo todo. Para quê?
-
Não são muitas as lembranças
que dele guardo: a aspereza
da barba no seu rosto quando eu o beijava
ao chegar para as férias;
o cheiro de tabaco em suas roupas;
o perfil mais duro do queixo
quando estava preocupado;
o riso reprimido
até soltar-se (alívio!)
na risada.
-
Falava pouco comigo.
Estava sempre
noutra parte: ou trabalhando
ou lendo ou conversando
com alguém ou então saindo
(quantas vezes!) de viagem.
-
Só quando adoeceu e o fui buscar
em casa alheia
e o trouxe para a minha casa(que infinitos
os cuidados de Dora com ele!)
estivemos juntos por mais tempo.
Mesmo então dele eu só conheci
a luta pertinaz
contra a dor, o desconforto, os negaceios
da morte já bem próxima.
-
Até o dia em que tive de ajudar
a descer-lhe o caixão à sepultura.
Aí então eu o soube mais que ausência.
Senti com minhas próprias mãos o peso
do seu corpo, que era o peso
imenso do mundo.
Então o conheci. E conheci-me.
-
Ergo os olhos para ele na parede.
Sei agora, PAI,
o que é estar-se vivo.
*
JOSÉ PAULO PAES
"Um Retrato"
Prosas Seguidas de Odes Mínimas
*
II
Tiro da sua cartola
repleta de astros,
mil sobrenaturais
paisagens de infância.
-
A tua bengalinha
queima os ditadores,
destrói as muralhas
libertando os anjos.
-
Calço seu sapato
e eis que percorro
a branca anatomia
de pássaros e flores.
-
Repito seus gestos
de amor e renúncia,
de música ou luta,
de solidariedade.
-
CARLITOS!¹
-
Teu bigode é a ponte
que nos liga ao sonho
e ao jardim tão perto.
-
¹Carlitos- Carles Chaplin, Inglês, ator, diretor, dançarino,
compositor, mimico, roteirista, músico . . .
O Grande Mestre do cinema mudo . . .
*
JOSÉ PAULO PAES
"O Poeta e seu Mestre"
O Aluno
*
III
No alto da serra,
A palmeira ao vento.
Palmeira, mastro
De bandeira, cruz
De madeira, pálio
De fúnebre liteira,
Que negro suado,
Crucificado,
Traído, morto,
Velas ainda?
Não sei, não sabes,
Não sabem. Os ratos
Roem seu livro,
Comem seu queijo
E calam-se, que o tempo
Apaga a mancha
De sangue no tapete
E perdoa o gato
Punitivo. Os ratos
Não clamam, os ratos
Não acusam, os ratos
Escondem
O crime de ¹Palmares.
-
Negra cidade
Da liberdade
Forjada na sombra
Da ²senzala, no medo
Da floresta, no sal
Do tronco, no verde
Cáustico da cana, nas rodas
Da moenda.
Sonhada no ³banzo,
Dançando no bumba
Rezada na *macumba.
Negra cidade
Da felicidade,
Onde a chaga se cura,
O grilhão se parte,
O pão se reparte
E o reino de °Ogun,
ªSangô, ¹¹Olodun,
Instala-se na terra
E o negro sem dono,
O negro sem feitor,
Semeia seu milho,
Espreme sua cana,
Ensina seu filho
A olhar para o céu
Sem ódio ou temor.
Negra cidade
Dos negros, obstinada
Em sua força de tigre,
Em seu orgulho de puma,
Em sua paz de ovelha.
Negra cidade
Dos negros, castigada
Sobre a pedra rude
E elementar e amarga.
Negra cidade
Do velho enforcado,
Da virgem violada,
Do infante queimado,
De §Zumbi traído.
Negra cidade
Dos túmulos, Palmares.
-
'Domingos Jorge, velho
Chacal, a barba
Sinistramente grave
E o sangue
Curtindo-lhe o couro
Da alma mercenária.
Domingos Jorge, velho
Verdugo, qual
A tua paga?
Um punhado de ouro?
Um reino de vento?
Um brasão de horror?
Um brasão: abutre
Em campo negro,
Palmeira decepada,
Por timbre, negro esquife.
Domingos Jorge Velho,
Teu nome guardou-o
A memória dos justos.
Um dia, em Palmares,
No mesmo chão do crime,
terás teu mausoléu:
Lápide enterrada
Na areia e, sobre ela,
A urina dos cães,
O vômito dos corvos
E o desprezo eterno.
-
¹Palmares- quilombo época da escravidão, situado na
Serra da Barriga, Alagoas, Brasil, onde chegou a morar
aproximadamente, 15.000 negros, fugidos da escravidão . . .
²Senzala- Casa grande, alojamento, onde moravam os escravos . . .
³Banzo- doença causada aos escravos africanos, por
saudades da África . . .
*Macumba- culto Afro-Brasileiro . . .
°Ogun- guerreiro Orixá, violento deus do ferro, da África Negra . . .
ªSangô- deus do raio, do trovão, do fogo, Àfrica Negra . . .
¹¹Olodun- deus dos deuses, o criador do Universo, palavra
de origem "Oryba", África . . .
§Zumbi- lider da comunidade "Quilombo dos Palmares",
morto em 1695 . . .
'Domingos Jorge Velho- Bandeirante que perseguiu Indios,
escravos e invadiu o "Quilombo dos Palmares" 1695 . . .
*
JOSÉ PAULO PAES
"Palmares"
Novas Cartas Chilenas
*
IV
Tenham sanhas, querelas, tempestades,
Os mares nunca dantes navegados.
No rude mais se alimpa e mais se apura
A estirpe dos barões assinalados.
-
Cante o vento na rede das enxárcias.
Afane-se o marujo na partida.
Impe o velame inquieto, corte a proa
O infinito das águas repetidas.
-
Ande a estrela cativa do astrolábio.
mostre a bússula válido caminho.
Nas cartas se escriture todo achado
E fama nos virá em tempo asinho.
-
Achar é nossa lida mais constante
E lucro nosso empenho mais vezeiro:
Hemos a gula vil do mercador
Num coração febril de marinheiros.
-
Pene o mouro na gleba, que buscamos
Não colheitas de terra, mas navais.
No comércio marítimo fundamos
Opulência, destino, capitais.
-

Almejo Cipangos misteriosas,
Fabulosas Catais, Indias lendárias.
As latitudes são-nos desafio,
Sendo as ondas do mar nossa alimária.
-
Diga o zarolho, pois, da grã porfia
Da lusitana grei contra o oceano,
Recordo embora o velho do Restelo
Da fama e da ambição o ledo engano.
-
Um dia, nos brasis de boa aguada,
Havemos nosso ocaso de encontrar
E, algemado à Conquista, há de morrer
Aquele Império que nasceu do mar.
*
JOSÉ PAULO PAES
"Os Navegantes"
Novas Cartas Chilenas