quarta-feira, 8 de julho de 2009

059 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


ALBERTO DE OLIVEIRA
António Mariano Alberto de Oliveira
Nasceu a 28 de abril de 1857, signo de touro,
Saquarema (antigo Palmital de Saquarema), Estado
de Rio de Janeiro, Brasil. Formado em Farmácia, 1883.
Licenciado em "Filosofia e Letras", "Honoris Causa"
Universidade Nacional de Buenos Aires. Membro
da Academia de Ciências de Lisboa.
Um dos fundadores da " Academia Brasileira de Letras ".
Tendo uma vida política intensa. . .
Estilo Parnasiano (final do século XIX).
Faleceu a 19 de janeiro de 1937, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Canções Românticas, 1878; Meridionais, 1884;
Sonetos e Poemas, 1885; Versos e Rimas, 1895;
Poesias, 19oo; Páginas de Ouro da Poesia Brasileira, 1991;
Céu, Terra e Mar, 1914; Ramo de Árvore, 1922;
Os Cem Melhores Sonetos Brasileiros, 1932 . . .
*
I
Tal como douda garça, aos mares! Uma vela!
Uma vela! e é partir. Afronta o horror das vagas
Negras se a noite as cobre e as incha o vento, às pragas
E ao clarão e estridor do raio e da procela.
-
Nem todo o equóreo abismo, entre as equóreas fragas
Ruindo, urrante e estouraz, com a espuma à fauce e aquela
Luz dos ruivos fuzis como serpentes nela,
Pode o inferno igualar que teu silêncio esmagas.
-
Rompe, atira-te ao pego, as sombras lhe devassa
Menores que as do mal que no teu peito engrossas;
Talha os ventos, o oceano, as ondas sulca, e passa . . .
-
Ah! talvez longe, longe, em clima estranho, ao fundo
Do horizonte, há um deserto em que dormir tu possas,
Sem o incômodo olhar dos homens e do mundo.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" Só "
Poesias
*
II
Era um hábito antigo que ele tinha
Entrar dando com a porta nos batentes
- " Que te fez esta porta? " A mulher vinha
e interrogava . . . ele, cerrando os dentes:
-
- " Nada! Traze o jantar ". - Mas à noitinha
Calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revê da filha e a cabecinha
lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.
-
Uma vez, ao tornar à casa, quando
erguia a aldrava, o coração lhe fala
- " Entra mais devagar . . . " Pára. Hesitando . . .
-
Nisso nos gonzos range a velha porta,
ri-se, escancara-se, e ele vê na sala
A mulher como doida e a filha morta.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" A Vingança da Porta "
*
III
Comigo, a sós, o espaço contemplando,
Triste e de pé no mármore da escada,
Com o róseo dedo a luminosa enfiada
Dos astros, pela noite, ias contando.
-
- Vês, sobre o mar, as águas argentando,
Aquela estrela - pérola nevada?
E aquela? . . . e aquela? . . . E à tua voz amada
Novas estrelas vinham despontando.
-
E esta, do azul na transparente umbela,
Bem sobre nós a cintilar? E aquela? . . .
E aquela? . . . Olhando o límpido tesouro
-
Dos astros, reclinada no meu braço,
Cismavas . . . quando encheu no Oriente o espaço
A doce luz do plenilúnio de ouro.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" As Estrelas "
Poesias
*
IV
Entre as ruínas de um convento
De uma coluna quebrada
Sobre os destroços, ao vento
Vive uma flor isolada.
-
Através de férrea grade
Espiando ao longe e em redor,
Que olhar de amor e saudade
No cálix daquela flor!
-
Diz uma lenda que outrora
Dentre as freiras a mais bela,
Morta ao despontar da aurora,
Fôra achada em sua cela.
-
Ao irem em terra fria
O frio corpo depor,
Sobre coluna que havia
A um lado, nascera a flor.
-
E a lenda refere ainda:
Assim que o luar aparece,
Da flor animada e linda
No cálix se ouve uma prece.
-
Reza . . . E medrosa, e encolhida
A um canto, pálida a cor,
Toda no céu embebida,
Vendo-o, talvez, pobre flor!
-
Parece, tão branca e pura,
Tão franzina e desmaiada,
Uma freira em miniatura
Nas pedras ajoelhada.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" Flor Santa "
Poesias
*
V
O musgo mais sedoso, a úsnea mais leve
Trouxe de longe o alegre passarinho,
E um dia inteiro so Sol paciente esteve
Com o destro bico a arquitetar o ninho.
-
Da paina os vagos flocos cor de neve
Colhe, e por dentro o alfombra com carinho;
E armado, pronto, enfim, suspenso em breve,
Ei-lo balouça à beira do caminho.
-
E a ave sobre ele as asas multicores
Estende, e sonha. Sonha que o áureo pólen
E o nêctar suga às mais brilhantes flores;
-
Sonha . . . Porém de súbito a violento
Abalo acorda. Em tôrno as folhas bolem . . .
É o vento! E o ninho lhe arrebata o vento.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" O Ninho "
Poesias
*
VI
É um velho paredão, todo gretado.
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado
E num pouco de musgo em cada fenda.
-
Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la, é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.
-
Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão se estrela
Toda de um vago cintilar de prata;
-
E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
*
ALBERTO DE OLIVEIRA
" O Muro "

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