sábado, 25 de julho de 2009

042 - Hilda Hilst " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

HILDA HILST
Hilda de Almeida Prado Hilst
Nasceu a 21 de abril de 1930, signo de touro,
Jaú, Estado de São Paulo, Brasil.
Se formou em Direito na Universidade de
São Paulo (U.S.P)., Brasil
Homenagens: Premio "Pen", Clube de S. Paulo, 1962;
Premio Anchieta, 1977; Associação Paulista de Críticos
de Arte, 1977; Premio "Jabuti", 1984 e 1993;
Premio "Cassiano Ricardo", 1985; Premio "Moinho Santista"
2002 . . .
Seu corpo, faleceu em 04 de fevereiro de 2004, Campinas, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Presságio, 1950; Balada Alzira, 1951; Balada do
Festival, 1955; Roteiro do Silêncio, 1959;
Trovas de muito amor para um amado senhor, 1959;
Ode Fragmentária, 1961; Sete Cantos do Poeta para o Anjo, 1962;
Exercícios para uma ideia, 1967;
Da Morte/Odes Mínimas, 1980;
Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, 1974;
Amavisse, 1989; Alcoólicas, 1990;
Cantares do sem Nome e de Partidas, 1995
A Possessa (teatro), 1967; O visitante (teatro), 1968; O Verdugo (teatro), 1969;
Fluxofloema (Ficção), 1970; Qadós (ficção), 1973; Ficções (ficção), 1977...
"Bromélia",
Meu Jardim.
Foto LuisD.
*
I


E crivada de Hera?
Mas só pensada.
Em Matemática pura.
*
HILDA HILST
"À tua frente, em Vaidade"
*
II
E se eu ficasse eterna?
Demostrável
Axioma de pedra.
*
HILDA HILST
" Poeta Inventa. Viagem Retorno e sofre de Saudade "
*
IIIdetalhe do quadro "Saudade", 1899,
 pintor Almeida Junior, Brasil.

Ah, se eu soubesse quem sou.
Se outro fosse o meu rosto.
Se minha vida-magia
fosse a vida que seria
Vida melhor noutro rosto.
-
Ah, como eu queria cantar
De novo, como se nunca tivesse
De parar. Como se o sopro
Só soubesse de si mesmo
Através da tua boca.
-
Como se a vida só entendesse
O viver
Morando no teu corpo, e a morte
Só em mim se fizesse morrer.
*
HILDA HILST
" V "
Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão
*
"Orquidea" Foto LuisD.
IV
Por que me fiz poeta?
Porque tu, morte, minha irmã,
No instante, no centro
De tudo o que vejo.
-
No mais que perfeito
No veio, no gozo
Colada entre eu e o outro.
No fosso
No nó de im íntimo laço
No hausto
No fogo, na minha hora fria.
-
Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana idéia de um deus que não conheço,
A ti, morte, minha irmã
Te vejo.
*
HILDA HILST
" XXXII "
Júbilo , Memória, Noviciado da Paixão
*
V
Tenho pedido a Deus, e à Lua, ontem
Hoje, a cada noite, PERPETUIDADE
Desde o instante em que me soube tua.
E que o luar e o divino perdoassem
O meu rosto anterior, rosto-menino
Travestido de aroma, despudor contente
De sua brevidade em tudo, nos afetos
No fingido amor
Porque fui tudo isso, bruxa, duende
Desengano e desgosto quase sempre.
-
Mais nada pedi a Deus. Mas pedi mais
À Lua que tu sofresses tanto quanto eu.
*
HILDA HILST
" IV "
Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão
*
VI
É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de amor, logo cala?
-
sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a mulher e a rosa que escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
-
Não sei. De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
-
A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei.
*
HILDA HILST
" . . . . . . . . ."
Roteiro do Silêncio
"Natureza" Foto LuisD.

VII
Levarás contigo
Meus olhos tão velhos?
Ah, deixa-os comigo
De que te servirão?
-
Levarás contigo
Minha boca e ouvidos?
Ah, deixa-os comigo
Degustei, ouvi
Tudo o que conheces
Coisas tão antigas.
-
Levarás contigo
Meu exato nariz?
Ah, deixa-o comigo
Aspirou, torceu-se
Insignificante , mas meu.
-
E minha voz e cantiga?
Meu verso, meu dom
De poesia, sortilégio, vida?
-
Ah, leva-os contigo
Por mim.
*
HILDA HILST
"XI"
Da Morte: Odes Mínimas

*
VIII
Teu nome é Nada.
Um sonhar o Universo
No pensamento do homem;
Diante do eterno, nada.
-
Morte, teu nome.
Um quase chegar perto
Um pouco mais (me dizem)
E terias o Todo no teu gesto.
Um pouco mais, tu O terias visto.
-
Teu nome é Nada.
Haste, pata. Sem ponta, sem ronda.
Um pensar duas palavras diante da Graça:
Terias tido.
*
HILDA HILST
"XX"
Da Morte: Odes Mínimas
*
IX
Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
distanciado
Dos teus livros políticos?
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Tu sorris quando lês
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
-
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
-
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?
*
HILDA HILST
"VII"
Júbilo Memória Noviciado da Paixão
*
X
Se permitires
Traço nesta lousa
O que em mim se faz
E não repousa:
Uma ideia de Deus.
-
Clara como Coisa
Se sobrepondo
A tudo que não ouso.
-
Clara como Coisa
Sob um feixe de luz
Num lúcido anteparo.
-
Se permitires ouso
Comparar o que penso
A Ouro e Aro
Na superfície clara
De um solitário.
-
E te parece pouco
Tanta exatidão
Em quem não ousa?
-
E o mais fundo de mim
Me diz apenas: Canta
Porque à tua volta
É noite, O Ser descansa
Ousa.
*
HILDA HILST
"Exercício n°.1"
Exercícios para uma ideia
*
XI
Se quiserem saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba , senhor, que sempre me perdi
Na criança que fui, tão confundida.
À noite ouvia vozes e regressos.
A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.
O mundo na varanda. Céu aberto.
Castanheiras douradas. Meu espanto
diante das muitas falas, das risadas.
Eu era uma criança delirante
Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer coisas amantes.
O que vivia em mim, sempre calava.
-
E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo, este em que vivo,
Ter rituais e gestos e lembranças
Viver secretamente. Em sigilo 
Permanecer aquela, esquiva e dócil.
E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruido inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.
-
Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós, resguardará (por certo)
A criança que foi. Tão confundida.

HILDA HILST
"Testamento Lírico"
Ode Fragmentária


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