sexta-feira, 17 de julho de 2009

048 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


DOMINGOS DOS REIS QUITA
Alcino Micênico(pseudônimo)
Nasceu a 06 de janeiro de 1728, signo de capricórnio,
em Lisboa, Portugal.
Orfão aos 13 anos, se tornou barbeiro, cabeleireiro.
Falava Latim, Espanhol, Franês e Italiano.
Viveu em uma época muito conturvada, que foi
Marquês de Pombal.
Participou da " Arcádia Lusitana "
Em 01 de Novembro de 1755, perdeu tudo o que
possuia, no terramoto de Lisboa . . .
Estilo Arcadia
*
CANTOePALAVRAS
Obras Poéticas, 1766; Carta sobre a Utilidade de Poesia;
Hermíone(tragédia); Astarto(tragédia); Mégara(tragédia);
Inês de Castro(tragédia); Licore(drama pastoril) . . .
*
Num vale de frondosos arvoredos,
Onde a corrente de uma fontezinha
Por entre verdes juncos e penedos
Para praias do Tejo se encaminha;
Onde a relva se vê sempre viçosa,
O roxo lírio, a encarnada rosa.
-
Ali junto de uma árvore sombria
Sentado estava Albano sobre as flores,
E ao som de uma sanfona, que tangia,
Saudoso cantava seus amores,
E cantavam pendentes dos raminhos
Também os namorados vpassarinhos.
-
De uma grinalda a fronte enriquecia
De lírios e boninas fabricada,
Escrito no instrumento se lhe via
O nome da Pastora suspirada,
E no cajado as prendas excelentes
Como troféu de Amor tinha pendentes.
-
Desordenado andava pelo outeiro
Gostando a verde relva o manso gado,
Sómente do solícito rafeiro
Pelo deserto monte acompanhando,
enquanto o seu Pastor ao vento dava
As queixas, que saudoso assim cantava:
-
Solitária campina,
Medonhos vales, rústica aspereza,
fonte não tendes, árvore ou bonina,
que não encha meus olhos de tristeza.
Que diferentes são, que deleitosos
Os campos saudosos,
Onde a minha Pastora ausente assiste!
Nada ali se vê triste:
Não sei que nova graça
Estão aquelas plantas respirando!
Que suavemente a calma ali se passa
Ao movimento brando
Qua faz o fresco vento no arvoredo!
Não sei que maravilha ali me ofrece
Qualquer tosco penedo,
Que melhor que estas plantas me parece!
Aqui as mesmas flores a meus olhos
Se convertem em ásperos abrolhos:
Lá os espinhos duros
Em frutos saborosos e maduros.
Olhos, por quem de amor sempre suspiro,
Vinde ver-me, e vereis pelo meu rosto
As lágrimas correndo em largo giro,
Vereis o triste estado em que o desgosto
Me tem da larga ausência;
Com tanta violência;
Os saudosos ais esta alma exata,
que parece que estala
O triste coração de sentimento.
Vinde, olhos, consolar-me em tal tormento,
Eu creio, que vos vira
Não só cheios de amor, mas de piedade:
Se me vísseis nas ânsias, que conspira
Contra mim o rigor desta saudade.
É possível, que lástimas não tenhas,
fado injusto, de ver tão divididos
A quem Amor uniu tanto as vontades?
Como cruel te empenhas
Em que eu padeça os golpes repetidos
Do terrível tormento das saudades!
Mas segue o teu costume, dura sorte,
Que por mais que o rigor tirano, e forte
Armes contra meu peito,
Não hás-de nunca o laço ver desfeito
Deste constante amor, desta fé pura,
Inda que em meus retiros
Não alcance outros mimos de ventura
Mais que lágrimas tristes, e suspiros.
-
Assim soltava Albano o triste pranto,
Com que a dor da saudade mítigava
Mas a noite, que as sombras espalhava,
Renovando-lhe o mal, deu fim ao Canto.
*
DOMINGOS DOS REIS QUITA
"Albano" écloga XII
Obras Poéticas

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