sexta-feira, 10 de julho de 2009

054 - Machado de Assis " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

MACHADO DE ASSIS
Joaquim Maria Machado de Assis
Nasceu a 21 de junho de 1836, signo de câncer.
cidade de Rio de Janeiro, Brasil.
Pai Francisco José de Assis e Maria Leopoldina
Machado de Assis (portuguesa).
Mestiço, gago e canhoto (esquerdo). Participou em diversos jornais e revista,
e na política. Fundador da "Academia Brasileira de Letras", 1896
Membro do "Conservatório Dramático",1871. . .
Homenagens "Ordem da Rosa", 1867, grau cavaleiro.
Estilo Parnasiano.
Seu corpo, faleceu a 29 de setembro de 1908, Rio de Janeiro, Brasil.

HOMENAGENS POÉTICAS . . . .
Aqui venho e virei. À beira 
de seu túmulo uma fiandeira
como que me entrega, tecida,
tenuíssima teia - e da vida
mais clara aceitação eu posso
ter, pois do que é teu, meu, e nosso,
por ser um comum atributo,
extraio o que há de seiva e fruto,
e dou, como alimento, à alma,
que come, espanta-se, e se acalma.
Não te trago flores, ó mestre,
nem hinos minha voz campestre
é capaz de erguer a teu nome.
No entanto, mataste-me a fome
da alma, ao me deslindar a estranha
teia de almas que me acompanha.
No entanto, sem sequer pintá-la,
tua voz é que melhor fala
desta cidade onde, por obra
e graça da sorte, soçobra,
e vai existindo, e repousará
o Afonso Felix de Sousa.
*
AFONSO FELIX DE SOUSA
¨Visita ao túmulo de Machado de Assis¨
*
CANTOePALAVRAS
Crisálidas, 1864; Os Deuses de Casaca(comédia), 1866;
Falenas, 1870; Ressureição(romance), 1872;
Americanas,1875; Memórias Póstumas de Brás Cubas,
1881; Papéis Avulso(contos), 1882; Quincas Borba, 1891;
Poesias Completas, 1901; Esaú e Jacob(romance), 1904;
Memorial de Aires(romance), 1908;
Ocidentais . . .
Poesia e Prosa, 1957 . . .
*
I
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
com a sofreguidão da fome insaciável.
-
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
-
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo,
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
-
Friamente contempla o desepêro e o gôzo,
Gosta de colibri, como gosta de verme,
E cinge ao coração o belo e o monstuoso.
-
Para ela o chacal é, como a rôla, inerme;
E caminha na terra impertubável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
-
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspiro pomo.
-
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
-
Ama de qual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto
Tu dirás que é a Morte: Eu direi que é a Vida.
*
MACHADO DE ASSIS
Nota de 1.oo,oo cruzados de 1987 a 1990, Brasil.
" Uma Criatura "
Poesias Completas
*
II
O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma figura estranha,
Uma figura má.
-
Então, volvendo o olhar ao sutil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste
Pergunta o que será.
-
Como se perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem como se fôsse
Um pensamento vão,
-
Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro estendeu-lhe a mão.
*
MACHADO DE ASSIS
" No Alto "
*
III
Um homem, - era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga.
-
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
-
Escolheu o soneto . . . A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa a manca,
A pena não acode ao gesto seu.
-
E, em vão acode ao gesto seu.
-
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
" Mudaria o Natal ou mudei eu? "
*
MACHADO DE ASSIS
" Soneto de Natal "
Ocidentais
*
IV
Eu conheço a mais bela flor;
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor,
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.
-
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
Teme acaso indiscreta mão;
Vive às vezes na solidão.
Poupa a raiva do furacão
Suas folhas de azul celeste.
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
-
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno;
Que a flor morta já nada val.
Colhe-se antes que venha o mal.
Quando a terra é mais jovial
Todo o bem nos parece eterno.
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno.
*
MACHADO DE ASSIS
" Flor da Mocidade "
Falenas
*
V
Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.
-
Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Triste como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.
-
A custo rompe o Sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.
-
Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.
-
Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.
-
Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.
-
Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou cos sábios olhos
A suprema ciência do empresário.
-
Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, - a voz serena
Acorda os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.
*
MACHADO DE ASSIS
" Manhã de Inverno "
Falenas
*
VI
Olha como, cortando os leves ares,
Passam do vale ao monte as andorinhas;
Vão pousar na verdura dos palmares,
Que, à tarde, cobre transparente véu;
Voam também como essas avezinhas
Meus sombrios, meus tristes pensamentos;
Zombam da fúria dos contrários ventos,
Fogem da terra, acercam-se do céu.
-
Porque o céu é tambem aquela estência
Onde respira a doce creatura,
Filha de nosso amor, sonho de infância,
Pensamento dos dias juvenis.
Lá, como esquiva flor, formosa e pura,
Vives tu escondida entre a folhagem,
Ó rainha do ermo, ó fresca imagem
Dos meus sonhos de amor calmo e feliz!
-
Vão para aquela estância, enamorados,
Os pensamentos de minh'alma ansiosa;
Vão contar-lhes os meus dias mal gozados
E estas noites de lágrimas e dor.
Na tua fronte pousarão, mimosa,
Como as aves no cimo da palmeira,
Dizendo aos ecos a canção primeira
De um livro escrito pela mão do amor.
-
Dirão também como conservo ainda
No fundo de minh'alma essa lembrança
De tua imagem vaporosa e linda,
Único alento que me prende aqui.
E dirão mais que estrelas de esperança
Enchem a escuridão das noites minhas.
Como sobem ao monte as andorinhas,
Meus pensamentos voam para ti.
*
MACHADO DE ASSIS
" Pássaros "
Falenas
(Mais Poemas. . . . " Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa " pág. 15 ;
"MARIA???!!! VAI COM AS OUTRAS " pág. XXXIX)

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