segunda-feira, 3 de agosto de 2009

037 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

GILKA MACHADO
Gilka da Costa de Melo Machado
Nasceu a 12 de março de 1893, signo de peixes, Rio de Janeiro
 Brasil. Viajou à Argentina,
  E.U.A., Europa. Revista "Malho", considerou-a
Maior Poetisa do Brasil, 1933. . .
Homenagens: Premio "Machado de Assis" Academia
Brasileira de Letras, 1979.
Estilo Simbolismo.
Seu corpo, faleceu em 11 de dezembro de 1980,
Rio de Janeiro, Brasil..
*
CANTOePALAVRAS
Cristais Partidos, 1915; Estados de Alma, 1917;
Mulher Nua, 1922; Meu Glorioso Pecado, 1928;
Sublimação, 1938; Meu Rosto, 1947;Vela Poesia, 1968;
Poesias Completas, 1978 . . .

"Meu Jardim" Orquídeas, Foto LuisD. 
*
I
No aconchego nupcial dos ninhos silenciados
sentem de um pesadelo a tétrica tontura
as aves, despertando aos repetidos chiados
do mato a se estorcer dentro da noite escura.
-
tudo acorda, Há no horror dos céus congestionados
a trágica expressão de uma etérea loucura:
Soam sinistramente uivos, lamentos, brados,
em seus dedos o vento as árvores tritura.
-
Cose rasgões de céu uma ignivoma agulha,
toda a floresta é um mar cheio de ímpetos de ondas
que em arremessos ronca e em recuos marulha.
-
Num frio estilicídio a á gua estreleja agora,
rápido o raio risca a treva, e estala, e estronda! . . .
- o mato arqueja . . . o vento geme . . . a chuva chora . . .
*
GILKA MACHADO
" Temporal "
Poesia Completas
▬▬▬
"Meu Jardim" Foto LuisD.
*

ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA
Nasceu a 17 de novembro de 1929, signo de escorpião,
Sete Barras, Estado de São Paulo, Brasil.
Jornalista, poeta, advogada, parapsicóloga . . .
Doutorou-se em Direito na Universidade de São Paulo,
U.S.P., Brasil, Doutorou-se também em Genealofia e Heráldica,
No "Instituto Genealógico Brasileiro".
Esteve em vários países . . .
*
CANTOePALAVRAS
Cantos de Amor à Vida; Catálise; Poesias ao Sol, 1984. . .
*
. . . E Deus me disse: Nascerás primeiro,
serás o ar, o teto, o alimento
daquele que - meu filho verdadeiro -
receberá de ti todo o sustento!
-
E tu vieste e que contentamento
em te ofertar, pelo planeta inteiro,
calor, pão, vinho, teto e desse alento
de que és, para viver, prisioneiro!
-
Porém . . . trocaste a vida natural,
que me ligava a ti, pelo veneno
da vida poluída artificial . . .
-
E, hoje . . . destruidos, os meus restos somem
por toda a terra . . . E meu adeus te aceno.
Mas . . . que será de ti, sem mim, pobre Homem . . .?
*
ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA
"A Árvore e o Homem"
Poesias ao Sol
▬▬▬
"Orquidea" Foto LuisD.*
*
VANDA JOSÉ
Nasceu no Brasil . . .
*
CANTOePALAVRAS
De Tudo um Pouco, 1989 . . .
*
I
Ah! . . . Meus olhos
-
Quando os quero calados
escondo-os atrás de meus óculos;
porque são duas matracas
que conseguem falar
mais que minha própria boca
ou então . . .
mais até que minhas mãos.
-
Meus olhos . . .
-
Dois queridos amigos
que se me distraio traem-me
falando coisas que não quero dizer,
mas . . . se estou atenta
são dois garotos matutos,
que dissimulam muito bem!
-
Meus olhos . . .
-
Ah! . . . quanto os prezo
por assistirem comigo
ao grande espetáculo da vida
onde admiramos tudo que há de bom na Natureza
lamentamos a dor alheia no corpo ou na pobreza,
e também desabafamos minha tristeza
numa conversa amiga que se expressa
através das lágrimas . . .
*
VANDA JOSÉ
"Meus Olhos"
De Tudo um Pouco
*
II
É como chama divina
integrando qualquer se,
faz parte da Natureza,
sem ele não há viver.
-
Viver sem amar
é o mesmo que vegetar
ou seguir seu destino
nos reboliços do Mar.
-
Está sempre presente,
na vida e também na morte,
é ele que nos inspira
a lutar por nossa sorte.
-
Afirma na morte
outra forma de vivência,
onde seguimos amando
na infinita existência.
-
Gera a saudade,
o perdão, a felicidade,
a vontade de servir
com muita fraternidade.
-
Quatro letrinhas
dando nome ao sentimento
que envolve o universo
no mais puro alimento.
-
Energia mãe,
essência do próprio Pai.
tudo que tem vida ama
e tudo que ama
da vida não sai.
-
É assunto
sem início ou fim
e como obra divina
está comigo e em mim.
*
VANDA JOSÉ
"Amor"
De tudo um Pouco
(Mais Poemas . . . "O CANTO . . . do encanto das . . .
PALAVRAS, pág. 189).
▬▬▬
"Flores" Foto LuisD.
*
LOURDES DE SOUSA INDELICATO
Maria de Lourdes de Sousa Indelicato
Nasceu em Campina Grande, Estado da Paraíba, Brasil.
Formada em contabilidade.
Poeta, pintora, escultura, arte em tapeçaria . . .
Homenagens: Medalha de bronze "I Triennale Mondiale
d'Art Figuratif", Galerie d'Art Machu Picchu; Mention Honorable
"Très Bien", Dexième Biennale Mondiale des Metiers d'Art,
Lyon, França; Prémio Especial "Société Nationale des
Beaux-Arts" Saloon 2007, Carroussel du Louvre, Paris França;
Museu de Arte de São Paulo, "Assis Chateaubriand" M.A.S.P..
*
CANTOePALAVRAS
Rendilhado dos Caminhos, 1983; Nós Mulheres (antologia). . .
*
I
N'ma orquestreação sublime,
de bequadros e bemóis,
entoando uma divina ária
eles voltaram.
-
Voltaram sim,
ao seu antigo abrigo,
abrigo verdejante,
de cores esmaecidas.
Multicores hoje surgem
em galhos ainda frágeis.
-
Voltaram sim,
n'uma revoada hilariante,
esvoaçando alegremente,
voando, revoando,
chilreando, reverenciando
a pousada,
d'antes desnuda,
hoje copada,
aconchegante está!
-
Voltaram sim!
Para fascinante
ser meu despertar.
São pardais e bem-te-vis
n'um gorgear repousante,
sussurrando uma ária divina.
Vai me despertando,
até me acordar!
*
LOURDES DE SOUSA INDELICATO
"Retorno"
Rendilhado dos Caminhos
*
II
Poeta não sei
se sou
mas as palavras me convidam
para o ritual de trocadilhos.
São milhares e milhares delas
que me olhando estão,
sorrindo-me
ao meu encontro vêm.
uma comigo quis ficar,
e ficou
para comigo conversar.
-
Palavra mágica
cheia de mensagem,
quero soltá-la.
Quero o mundo a decifrando,
quero o mundo a saboreando.
Como fazê-lo?
-
Se esta palavra
para muitos
valor não tem,
ofende aos céticos
ofende aos imorais.
Esta palavra
encerra um universo.
Em milhares de formas,
transforma-se.
-
No singular,
sempre está,
aquecendo com seu calor
a frialdade humana.
Esta palavra sublime é:
Amor!
*
LOURDES DE SOUSA INDELICATO
"A Palavra"
Rendilhado dos Caminhos
▬▬▬
"Orquideas" Foto LuisD.
*
TATIANA ALVES SOARES
Tatianana Alves Soares Caldas
Nasceu em 16 de setembro de 1966, signo de virgem.
Rio de Janeiro, Brasil.
poeta, professora, escritora . . .
Doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(U.F.R.J.) . . .
*
CANTOePALAVRAS
Gauche: do outro lado da vida; Desfaz o Jogo;
Mar Dentro . . .
*
Uma música suave embala os sonhos de então
Sugerindo outras vidas, existências de paixão
Vidas que um dia se uniram num desejo temporão
-
A lembrança é buscada, intagível como um grão
Sustenido ou bequadro, tom maior dessa canção
Flash-back de alegria, frágil versificação
Melodia interrompida dos casais em rotação.
-
Hoje apenas me limito a repetir o refrão
Rimas ricas se perderam, na rotina da escansão
Notas soltas desafiam, e meus pés já tocam o chão
Eu tropeço, deambulo, e me esgoto na ilusão.
*
TATIANA ALVES SOARES
"Contradança"
▬▬▬
JUSSARA SALAZAR
Nasceu em 1959, Recife, Estado de Pernambuco, Brasil
Poeta, tradutora, artista plástica, professora . . .
Fez, Estudos Literários na U.F.P.(Universidade Federal do
Paraná). Publicou, em vários países . . .
*
CANTOePALAVRAS
*
Inscritos da Casa de Alice, 1999; Jardim dos Retratos 2001;
Natália, 2004; Colorauriosonoros, 2008 . . .
*
humo y uma
filosofia de dos acaricia o tigre
sua a silhueta
onde o desenho
qual porta
aquece a lampada
um círio
entre imagens
uns pequenos encantos
na geometria cálida
desmedida
fronteira de um verão
em olhos cerrados
quase um espasmo
uma flutuação
tênue
cadenciosa
quando mergulha
o verde e as vacas
são pequeninos pontos
el aire ao longe
um pedaço
e duas ânsias
da desgarrada hora inútil
minuciosa
e a memória hilariante
nessa estridência
sublunar da chuva
às vezes feminina
derrama se maná
e oculta
para logo em seguida
emergir superfície
em cifras no anfíbio tear
redondilha
augúrio lampadário
spray
em cenas do teatro nô
escutam se a si
miram mesmo seus sonhos
samsara ao ventre
na saliva rapidíssima
soledad
quase mapa
nas delicadezas
e uma ave desavisada
arrisca um pouco
perfuma de continuidade
o beiral ovalado
e as lises
escamas de clarividência
nos azuis
numa fotografia impensável
sílabas
na fábula
escrita espumosa
antes luminosidade
ou casca
áspera
de um peixa.
*
JUSSARA SALAZAR
"Peixe Astral"
Na Virada do Século
▬▬▬
CELINA PASSERINE
Celina Maria R. Passarini
Nasceu em 16 de agosto de 1947, signo de leão.
Apucarana, Estado do Paraná.
Poeta, escritora . . .
Trabalha rádio Tv, jornais, revistas, internet . . .
É Associada á "Associação de Combate ao Câncer"
e muito mais . . .
Uma verdadeira filantrópica . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Andar trôpego,
mãos trêmulas,
sulcos pela face,
olhar sem esperança . . .
-
Outrora homem formoso
de corpo viril;
mas agora,
como uma vela, teima em apagar-se.
-
Quantas histórias me contou
e quem sabe quantas esqueceu.
Você sempre presente
no menor dos sonhos meus.
-
Pai, meu velho pai . . .
não imagino minha vida sem você.
Quero segurar tua mão,
como segurou a minha,
-
segurar o tempo
para ficar mais aqui,
passar tuas lições,
perpetuar tuas gerações.
-
Mas a lei da vida
não vasi querer deixar você comigo.
Como já disse alguém . . .
o jovem pode morrer,
mas o velho tem de morrer . . .
*
CELINA PASSERINE
"Pai"
Vozes e Saudades
(MAIS POEMAS . . ."O CANTO . . . do encanto das . . .
PALAVRAS", pág. 189).
▬▬▬
ZULMIRA RIBEIRO TAVARES
Nasceu em 27 de julho de 1930, signo de leão.
cidade de São Paulo, Brasil.
Poeta, pesquisa sobre Televisão e cinema.
Homenagens: Prémio Literatura A.P.C.A.(Associação Paulista
Crítica de Arte), 1982; Prémio Mercedes Benz de Literatura, 1985;
Prémio Jabuti, 1990 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Termos de Comparação, 1982; O Japonês dos Olhos Redondos, 1982;
O Nome do Bispo, 1985; O Mandril, 1988;
Jóias da Família, 1990; Café Pequeno, 1995 . . .
*
Não tenho medo de ir à Lua.
Vou
Volto
Continuo
dentro
da
cápsula.
Não sou astronauta
coisa nenhuma.
Sou
o único
remanescente
de uma
conciência
cheia
de nódoas? - Nunca.
De nós-pelas-costas.
*
ZULMIRA RIBEIRO TAVARES
"Circunvoluções e Invólucro"
26 Poetas Hoje
▬▬▬


ADALGISA NERY
Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira
Nasceu a 29 de outubro de 1905, signo de escorpião.
Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, escritora, jornalista . . .
Esposa de Ismael Nery, pintor modernista brasileiro.
Homenagens:
Prémio "Ordem da Águia Asteca", México.
Instituido Prémio "Adalgisa Nery", pela U.B.E.
(União Brasileira de Escritores), Rio de Janeiro, Brasil.
Retrato de Portinari . . .
Estilo Modernista.
Faleceu a 07 de Junho de 1980.
*
CANTOePALAVRAS
Poemas, 1937; Mulher Ausente, 1940; Og(contos), 1943;
Ar do Deserto, 1943; Contos da Angústia, 1948;
As Fronteiras da Quarta Dimensão, 1952;
A Imaginária(romance), 1959; Mundos Oscilantes, 1962;
Retrato sem Retoque, 1966; 22 menos 1(contos), 1972;
Neblina(romance), 1972; Erosão, 1973 . . .
*
I
Um após outro andei pelos portos
Procurando afogar em cada cais
A melancolia e o tédio
Que desde o grande Início o meu coração traz.
Percorri todos os povos, todos os céus,
Porque me esperançava que um dia
A minha angústia entre os homens se dissolveria.
Voltei novamente ao ponto de partida
Com a alma ainda mais vazia,
Pois que em vez de deixar, eu trazia
Tudo o que levei
E mais nostalgia
Dos olhos saudosos dos desembarcados
E os gemidos dos guindastes
Que mantiveram meu coração despertado.
Todos os céus foram iguais.
Os idiomas inúteis.
Só o meu tédio cresceu cada vez mais
E só eu continuei estrangeira de mim mesma
Prosseguindo na eterna viagem ao meu fim
Sem esquecer um só instante
De um terror cósmico
Que desde o meu Princípio está em mim.
*
ADALGISA NERY
"Viagem Inútil"
Mulher Ausente
*
II
Eu vejo minha forma engastada nas manhãs agônicas, sem nível
Assistindo de movimentos atados às costas
As vozes calmas e profundas se esvaindo no imperceptível.
A essência do novo aspecto de penetração tardia
Vara o espaço galopando na multiplicidade dos erros
Procurando a vida em totalidade e harmonia.
Um desejo impetuoso de juntar o todo espalhado em fragmentos
Semeado no mundo, esparço
Aos quatro ventos.
Sob a luz difusa dos astros
Minha forma torturada despe-se da medíocre inteligência
E nua de rastros
Procura cobrir-se da divina sapiência.
Na tarde da minha existência
Já começa a cair tudo que era morto, tudo que era esquecido
Tudo que era vago, tudo que era ausência.
E na feição de esperança
Relacionando a vida com a salvação e a perdicção
É quando meu espírito descansa
Da máscara do mundo
Onde moram nomes sem formas
E terrôres profundos.
*
ADALGISA NERY
"Paisagem Interior"
Ar do Deserto
*
III
Fiquei vivendo à tua sombra
Como os musgos à beira das fontes.
Com ritmo agreste verguei meu corpo
Com um movimento de arco distendido pela flecha
E o ruído do meu sangue correndo em minhas veias
Foi como o das distantes cachoeiras perdidas.
Meu pensamento como um pássaro da noite
Riscou o silêncio dos nossos corpos deitados
E pousou na tua boca entreaberta
Como a brisa sôbre os jardins pisados.
O perfume da terra chovida
Que tua presença evaporava
Penetrou em meus cabelos
Como a seiva dos frutos caídos
E aprofundou-se em meus sentidos
Como a gôta sorvida pelas quentes areias.
Fiquei no teu corpo
Como a poeira das estradas
Pegada às fôlhas novas
As fôlhas que não necessitam florescer
Porque o sangue da terra
Justifica o seu isolamento.
Fiquei vivendo à sombra do teu corpo
Como os musgos à beira das fontes.
*
ADALGISA NERY
"Lembrança"
Contos da Angústia
*
IV
Talvez sigas antes de mim e então poderás ler
Os poemas que minhas pupilas escreveram
No avêsso de minhas pálpebras
Quando meus olhos te perderam
Se assim, fôr no dia da mais absoluta tormenta poderás ver
Uma nuvem encharcada de melodias celestes
Cair desde a minha testa
Até a fímbria das minhas vestes,
Que me inundará de prazer como um doce chamado teu
Ao triste e amargurado
Coração meu.
Se fôres antes de mim, os teus sentidos perceberão
Tudo o que fiz
Sem que seja preciso uma só palavra de explicação.
O profundo das minhas intenções
Será afogado em tal claridade
Que só então poderás ver nitidez
Como soube resistir, com tua ausência, a minha fraca humanidade.
*
ADALGISA NERY
"O Que Só No Fim Saberás"
Mulher Ausente
*
V
Impede que dentro de mim cresça
Um pensamento que é mais forte do que tu,
Que é mais alto do que as montanhas milenares,
Mais violento do que o ódio dos oceanos
E mais cruel do que o sarcasmo que analisa.
Não permitas que ele domine a tua presença,
Que te olhe percebendo o que escondes,
Que te afronte com o silêncio implacável
Sôbre as tuas explicações.
E finalmente não deixes
Que ele esmague a ternura em florescência
Que por ti nasceu na terra do meu corpo.
Impede que eu me sinta forte,
Que minha fronte não se erga
Acima da tua lembrança,
Não deixes que ele movimente o sorriso
Que dilui a frágeis razões
E ampara a crítica que mata o encantamento.
Ocupa o espaço das horas em que estou só,
Expulsa êsse pensamento
Que inicia sua ronda sôbre o meu amor
Gritando o acontecimento sôbre os meus sentidos em flor.
Não te descuides,
Vigia a tua própria glória
Porque senão, breve,
Chamarás apenas por um nome
E não por uma mulher.
*
ADALGISA NERY
"Aviso"
Novos Poemas
*
VI
sereias douradas
Que são virgens puras
Em peixe encantadas,
Parem de chamar e respondam ao meu aflito
E eterno indagar.
Por acaso viram, têm alguma lembrança
De haverem encontrado, deitada nas algas longíquas
A minha esperança?
Estrêlas que piscam por cima de outros mares
Como sinais semafóricos de amor
Entre as praias e os luares.
Parem de brilhar
E respondam a quem vive a indagar.
Nas suas passagens pelos céus,
Em que nuvem de tempestade ou de bonança,
Podem se recordar,
Viram montada a minha esperança?
Rouxinol ou cotovia,
Que com o entreabrir das flõres
Glorificam o raiar do dia,
Parem de cantar e respondam-me num chilrear
A toda esta aflição de indagar.
No ramo alto, em que um dos dois descansa
Está lá, sem ninho, fatigada,
A minha pobre esperança?
Respondam-me luzes ou trevas
Mares ou pedras,
Troncos ou ervas
Por acaso o único ser do mundo sou eu
A quem a suave esperança de paz
Deus não deu?
*
ADALGISA NERY
"Pergunta"
Ar do Deserto
*
VII
Tu que me colocaste na tangência do tempo
Sabendo que com o descuido da tua mão
E o impulso do teu pensamento
Eu cairia no limite do mundo a qualquer momento,
Por que me abandonas completamente
E no entanto
Pedes muito,
Queres tanto?
Tu que já me conhecias na clausura do ventre materno,
Que sabias do fatal dos meus pecados
E do castigo do fogo eterno,Por que no entanto
Sabendo fora do tempo
Não me ajudas, pedes muito,
Queres tanto?
Tu que desde a minha vida na tua vontade
Deitaste o meu corpo na inconsciência
Na dor e na maldade,
Por que levantas o meu espírito contra ele
E continuas no entanto
Exigindo muito,
Pedindo tanto?
Tu que poderias dar neste minuto de aflição
Toda a paz e harmonia
Ao meu desagregado coração,Por que no entanto
Estás tão sedento de mim
E continuas a pedir tudo,
A querer tanto?
Por que não vens com tuas vestes tingidas no arco=íris
E com os pés amarrados em sandálias de pedrarias
Fazer neste instante, como disseste um dia,
Que minha alma torturada, da minha forma desentranharias?
*
ANALGISA NERY
"A Prece de todos os meus Pensamentos"
Mulher Ausente
*
VIII
Assim deve ser a doce morte,
Assim eu a imagino.
Funda como um completo pensamento de perdão,
De caminhar tranqüilo e leve. deixando pelos ares
O aroma de sândalo e de bôca de recém-nascido.
Doce como a memória do primeiro gesto de amor,
Bela como a noite recamada de úmidas estrêlas.
Assim eu a imagino.
Murmurante e maviosa como a água cantando pelas pedras das fontes,
Sombria e repousante como a velha árvore da mata.
Deve ter a atração misteriosa das mágoas que se inscrevem
No pensamento dos condenados e dos mártires.
Seus passos devem ter o ruído de ruflar de asas de arcanjo
Descendo do infinito sôbre os espíritos abandonados.
Assim eu imagino.
Funda e inextinguível como um beijo de ternura amiga,
Delíciosa como o olhar da eternidade,
Mansa como o sono da amada.
Assim deve ser a que eu amo,
Assim deve ser a que espero.
*
ADALGISA NERY
"A Desconhecida"
Contos da Angústia
*
IX
Um átomo que se incorpora mudo
Ao senso difuso da minha Unidade
Faz brotar o desespêro na certeza de em tudo
Se impossível iniciar minha humanidade.
A forma reta de uma estrada abandonada
Lembra a dissolução central dos pensmentos belos
E dá-me a sensação dos movimentos das raízes profundas
Que tanto acariciam bôcas perfeitas, corações singelos
Como almas erradas e línguas imundas.
O riso é um cântico fúnebre que anda ao lado do homem
Comprimindo segredos, dores e renúncias
Sem que ao menos as gargantas possam livres gritar um nome.
A escuridão das noites amargas ecoa
Em olhos vivdos, indiferentes,
Contorna o pensamento e apregoa
Como exemplo, a tristeza serena das águas humildes que correm docemente.
A nostalgia persegu os tempos esfumaçados onde a memória alcança
Com a mesma intensidade do tédio enlaçado no desespêro brando
De doentes sem cura que vivem iluminados de esperança.
Como um átomo que se incorpora
As vozes penetram em minha alma sem que seja preciso meu ouvido
E como um florescimento de astros, muitas vêzes, como agora.
A idéia do amor vem, incha o meu seio, invade minha essência
Se derrama pelo ar e vai sem mesmo eu pensar
Transmitir às futuras gerações as grandezas e os mistérios de toda uma existência.
*
ADALGISA NERY
"Poema Forte"
Ar do Deserto
*
X
Estes meus olhos que um dia perceberam vagamente
O colorido, as formas,
Que aprenderam a beleza do vôo das aves e a amplidão das campinas,
Meus olhos que um dia tão contentes
Transmitiram à minha alma
As palavras de um amor adolescente,
Meus olhos que mais tarde encantados
Viram meus braços receberem
O que o meu ventre havia gerado,
Estes meus olhos que choraram tantas vêzes escondido,
Que tantas vêzes se afogaram no pavor
E num medo indefinido,
Estes olhos que um dia sorriram
De frescura e esperança,
Estes meus olhos cansados
De tristeza prematuras
Rasos de doídas lágrimas
Sôbre berços e sepulturas
Foram os que aprenderam duramente
O que era o pranto e a mágoa
Na destruição do desejo de vida mais ardente.
Estes meus olhos que agonizam agora sofridos, envelhecidos
Se apagarão na misteriosa noite
Com a derradeira lágrima pelos desolados e os vencidos.
*
ADALGISA NERY
"Biografia dos Meus Olhos"
Contos da Angústia
*
XI
O refúgio no desmedido aniquilamento
Oferece fuga à opressão
No momento em que se desnvolve
E alarga o terror no pensamento.
Cresce o repouso na lassidão total
Reduzindo a reação
A um reflexo informe e frio
À medida que as palavras ouvidas
Escorrem pelas paredes do brutal silêncio
E a presença do ser humano
Se transforma em sombra inexpressiva.
Cada hora transmite um fragmento
Da grande treva consistente
E se incorpora no tempo absoluto
Após unificar o caos ao nada que existia.
A consciência exata da infinita aridez
Caindo violentamente no acontecimento imperecível
Envolve o mundo sem superfície dos sentidos
E faz levantar desmedidamente
O ímpeto de afrontar, de alma rasgada,
O desmoronamento do universo.
*
ADALGISA NERY
"Ápice"
Novos Poemas
*
XII
Chegaram os ventos.
Vieram sem o perfume das raízes
Manipuladas pelo carinho das madrugadas tranqüilas.
Ventos vermelhos e secos
Trazendo a emanação de carnes apodrecidas
E o calor das crateras em ebulição.
Nas faces desprevenidas
Deixaram eternas chagas negras
E na superfície das pupílas
A nuvem espêssa da solidão.
Chegaram as tempestades.
Vieram sem a purificação das chuvas
Porque a bôca da morte
Sugou a bendita alma das águas
Que engrandece a terra
E banha os pés da mulher sem rumo.
E depois, chegaram os silêncios.
Vieram sem a meditação,
Trouxeram a agonia e a dor,
Incorporaram a vontade e o pensamento
À região do caos e do torpor.
E por fim chegou a palavra.
Veio desumana, sem ternura,
Rasgou a alma com a voz fria e dura,
Arrasou o caminho por onde a crença transitava,
Pulverizou os sentidos e os sonhos
E tudo se fêz trevas
Sôbre a mulher que estertorava.
*
ADALGISA NERY
"Apocalipse"
Outros Poemas
*
XIII
Numa aurora indecisa
Uma estrêla fria e cega
Tombou em minha fronte lisa.
Minhas dormidas dores
De repente se acordaram,
Se abriram como flôres,
Subiram às minhas narinas
E isolaram-me da vida
Como pesadas cortinas.
Suor gotejei
Como o aflito moribundo
Que entre vascas e estertôres
Se despece do mundo.
Plantado foi meu corpo no meio de quatorze cruzes
E meu nome foi escrito
Na réstia de grandes luzes.
Pelas fendas do meu caminho saíam lamentos crescentes
E nos meus olhos passou
A procissão de dementes.
Pelas costas, meu coração foi tirado
E diante das minhas órbitas
Ele foi apunhalado.
Quis fugir dos meus ouvidos
E joguei sôbre meu cérebro
A fôrça misteriosa que apaga os sentidos.
Apanhei meu coração
Embalei-o a noite inteira
Com uma canção de perdão.
Mas a estrêla que cegou
E que numa aurora indecisa
À minha testa tombou
Escureceu meu espírito
E meu destino mudou.
E hoje vou caminhando
Empurrada por todos os ventos
Como as nuvens que vão andando,
Cheias de pensamentos.
*
ADALGISA NERY
"Canção"
Ar do Deserto
*
XIV
Eu sei.
Não precisas dizer por que aportou na tua alma
O navio escuro com o cruel carregamento
De solidões, tédios, horror a tudo
E levantou no teu pensamento
Ondas agitadas de um conflito surdo.
Eu sei por que na tua alma
Esse acre sabor do nada
Onde o existir é uma contínua ida
À procura da estrada certa e sonhada.
Eu sei por que dentro das tuas órbitas cansadas
Cessou o sêgredo das amadas evocações
E ouviste a voz dos desejos estrangulados
Surgindo das irremediáveis divisões
Eu sei por que respiraste no espaço morto
Moléculas de ar vazio
Depois que afogaste o ímpeto do teu corpo
Nas águas paradas do acontecimento frio.
Eu sei quando os teus ouvidos
Se povoam de passos lentos e incansáveis,
De vozes partidas, de imagens parciais
E antigos sentimentos instáveis.
Eu sei por que o tédio dizimou o teu alento,
Por que a paisagem perdeu o colorido,
Por que fugiste ao teu próprio conhecimento
E deixaste escapar forças em alvoroço
Que ensaiavam repousantes melodias
No teu espírito belo e moço.
Por que te ausentas, por que te afliges eu sei.
Tão apercebida de ti estou
Que não há distância nem lei
Que desate o que o amor ligou.
*
ADALGISA NERY
"Conhecimento"
Novos Poemas
*
XV
Entre o céu e a terra
Brotam as cores da vida e as sombras do mistério
Como o plano das campinas e as curvas das serras.
Estrêlas pastoreiam os desejos noturnos dos homens sem rumo
E o vento repete o cântico das folhas
Que se iguala ao lamento exangue do mundo.
As águas paradas nas pedras do rio
Ficaram espantadas, medrosas,
Esquecidas do ritmo bravio.
A pressão do renovamento
Aplaude o embrião que sobe nas paredes da vida
E na contemplação do movimento
Procura auxiliar toda existência que desde o início está perdida.
As plantas carnívoras inesperadamente surgem nos vales distantes
Desejando consumir as sombras das constelações espêssas
Que se deitam no solo úmido a todo instante.
Sob a especie de luz largada ao tempo
Entre o céu e a terra,
A vontade e o pensamento
Lá se vão repetindo eternamente e fecundando os povos,
A tristeza e o sofrimento.
*
ADALGISA NERY
"Estampa"
Ar do Deserto
*
XVI
Que se cumpra em mim o que estava pensando
E as palavras de pé, no último degrau da língua
Rolem projetadas contra a minha alma em desamparo
Que se fixem nos meus sentidos
As mais fortes, as mais violentas sensações
E todos os meus prantos perdidos
Façam o vácuo nas minhas emoções.
Que meu corpo se desfolhe ao vento,
Que minhas mãos esqueçam o gesto de carinho
E seja eu privada de sentir a boca do pensamento.
Que as flores murchem à minha passagem,
Os peixes morram nas águas em que eu me banhar.
E os pássaros atingidos pelo meu olhar
Fiquem despidos da sua plumagem.
que na´série de trepidações que contêm o meu ser
Carregue sempre uma lágrima de sangue
Pelo que tive, pelo que tenho e pelo que ainda possa ter.
Que minha consciência varra a dimensão em profundidade
E caia impotente em face do volume
Torturante da complexidade.
Que o gérmen latente que impulsiona o meu olhar
Risque no espaço o esquema do universo
E desgaste as minhas pupilas até cegar.
Que tudo seja belo, que tudo floresça, menos eu.
Que haja claridade e para ninguém chegue a tristeza
E eu esqueça as alegrias que a vida me deu.
Que os ventres se renovem em gerações,
Que as mulheres sejam meigas,
As adolescentes puras e os homens bons.
Que todos vivam alegres na fascinação do passageiro
Mas que eu, pela mão do Eterno esculpida em angústia,
Permaneça um bloco inteiro.
*
ADALGISA NERY
"Ambição"
*
XVII
Cantaremos, Senhor, a Tua grande noite
E nela as vozes tristes que não mais articulam queixas
Receberão deslumbradas
O milagre da íntima alegria
E a primitiva floração do encantamento.
Cantaremos a Tua majestosa noite, Senhor da amplidão,
Porque ela é a mensageira da verdade
Para aqueles que já perderam na lembrança
O perfume e a melodia
Duas coisas simples e puras.
Ela é a salvação e a crença
Na recuperação do que existiu em nós,
Ela é a pulsação da Tua bondade
Para aqueles que permanecem imóveis na confusão e no terror
É a indicação para os que viajam sem descanso
À procura das paisagens impossíveis.
E o Absoluto para aqueles
Que sepultaram no silêncio
Os seus desejos, seus sonhos e suas explicações.
Cantaremos a Tua noite, Senhor das águas e do fogo,
Porque ela é a fonte de doçuras
Que resta aos que foram aguilhoados
Pelo pranto seco.
Ela abrirá o coração dos homens com a grande melodia
Que abranda o vigor do vento do ódio,
Anula o grito de crueldade das palavras
E interrompe os passos do pensamento das trevas
Sôbre os corações premeditados.
Cantaremos a Tua plácida noite, Senhor,
Porque ela é o motivo intacto
Balançando sôbre o nosso mundo aflito
Sufocado na negação e na destruição.
Ela é a claridade projetada
Nas sombras das nossas penas,
Ela é a nossa definição Contigo.
Cantaremos, Senhor,
Cantaremos para todo o sempre
Até que tudo seja consumido no universo,
Até que Tua mão
Recolha a memória dos homens
E os faça adormecer no Teu regaço eterno.
*
ADALGISA NERY
"Canção de Natal"

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