quinta-feira, 13 de agosto de 2009

028 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

CASTRO ALVES
António Frederico de Castro Alves
Nasceu em 14 de março de 1847, signo de peixes
Curralinho (atual Castro Alves), Estado de Minas Gerais, Brasil.
Estudou direito em Recife, Brasil.
Patrono da "Academia Brasileira de Letras".
Estilo Romantico.
Faleceu 06 de junho de 1871, Salvador, Estado da Bahia, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Espumas Flutuantes, 1870; A Cachoeira de Paulo Afonso,
1876; Poesias Avulsas; Os Escravos, 1883; Navio Negreiro; Gonzaga(teatro) . . .
*



 "Orquideas" Foto LuisD.
I
Era hoje ao meio-dia,
Nem uma brisa macia
Pela savana bravia
Arrufava os ervaçais . . .
Um Sol de fogo abrasava;
Tudo a sombra procurava;
Só a cigarra cantava
No tronco dos coqueirais.
-
Eu cobri-me da mantilha.
Na cabeça pus a bilha,
Tomei do deserto a trilha,
Que lá na fonte vai dar.
Cansada cheguei da mata:
Ali, na sombra a cascata
As alvas tranças desata
Como uma moça a brincar.
-
Era tão densa a espessura!
Corria a brisa tão pura!
Reinava tanta frescura,
Que eu me quis banhar ali.
Olhei em roda . . . Era quêdo
O mato, o campo, o rochedo . . .
Só nas galhas do arvoredo
Saltava alegre o sagüi.
-
Junto às águas cristalinas
Despi-me louca, traquinas
E as roupas alvas e finas
Atirei sobre os cipós.
Depois mirei-me inocente
E ri vaidosa . . . e contente . . .
Mas voltei-me de repente . . .
Como que ouvira uma voz!
-
Quem foi que passou ligeiro,
Mexendo ali no ingàzeiro,
E se embrelhou no balseiro,
Rachando as folhas do chão? . . .
Quem foi? - Da mata sombria
Uma vermelha cutia
Saltou tímida e bravia
Em procura do sertão.
-
Chamei-me então de criança;
A meus pés a onda mansa
Por entre os juncos s'entrança
Como uma cobra a fugir!
Mergulho o pé docemente;
Com o frio fujo à corrente . . .
De um salto após de repente
Fui dentro d'água cair.
-
Quando o Sol queima as estradas,
E nas várzeas abrasadas
Do vento as quentes lufadas
Erguem-se novelos de pó,
Como é doce em meio às canas,
Sob um teto de lianas,
Das ondas nas espadanas
Banhar-se despida e só! . . .
-
Rugitavam os palmares . . .
E tôrno dos nenufares
Zumbiam pejando os ares
Mil insetos de rubim . . .
Eu naquele leito brando
Rolava alegre cantando . . .
Súbito. . . um ramo estalando
Saltava um homem junto a mim!
*
CASTRO ALVES
"Na Fonte"
A Cachoeira de Paulo Afonso
*
II
Alta noite. Ele ergue-se. Hirto, solene,
Pegou na mão da moça. Olhou-a fito . . .
Que fundo olhar!
Ela estava gelada, como a garça
Que a tormenta ensopou longe do ninho,
No longo mar.
-
Tomou-a no regaço . . . assim no manto
Apanha a mãe a criancinha loura,
Tenra a dormir.
Apertou-lhe os cabelos sobre a testa
Pálida e fria . . . Era talvez a morte . . .
Mas a sorrir.
-
Pendeu-lhe sobre os lábios, Como treme
No sono asa de pombo, assim tremia-lhe
O ressonar.
E como o Beija-flor dentro do ovo,
Ia-lhe o coração no níveo seio
A titilar.
-
Morto não era! Entanto um rir convulso
Contraíra as feições do homem silente
- Riso fatal.
Dir-se-ia que antes a quisera rija,
Inteiriçada pela mão da morte,
Hirta, glacial!
-
Um homem de bruços sobre o abismo
Ele, embalando-a, sobre o rio negro
Mais s'inclinou . . .
Nesse instante o luar bateu-lhe em cheio,
E um riso à flor dos lábios da criança
A flux boiou!
-
Qual no murzelo do penhasco à borda
Empina-se e cravando as ferraduras
Morde o escarcéu;
Um calafrio percorreu-lhe os músculos . . .
O vulto recuou! . . . A noite em meio
Ia no céu!
*
CASTRO ALVES
"Um Raio de Luar"
A Cachoeira de Paulo Afonso
*
III
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de Sol.
-
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu . . .
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu . . .
-
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar . . .
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
-
Unidas . . . Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor.
*
CASTRO ALVES
"A Duas Flores"
Espumas Flutuantes
*
IV
Ai! quando
Brando
Vai o vento
Lento
À lua
Nua
Perpassar sutil;
-
E a estrela
Vela
E sobr'a linfa
A ninfa
Suspira
Mira
O divinal perfil;
-
Num leiro
Feito
De cheirosas
Rosas
Risonhos
Sonhos,
Sonharemos nós;
-
Revoltos,
Soltos
Os cabelos
Belos,
Vivace
A face,
Tremulante a voz.
-
Cantos
E prantos
Que suspira
A lira,
A alfombra
À sombra
Encontrei p'ra ti;
-
Celuta,
Escuta,
De um seio
O enleio . . .
Vem, linda,
Ainda
Há solidões aqui.
*
CASTRO ALVES
"Capricho"
Poesias Completas
PAULO EIRÓ
Paulo Emílio de Sales Eiró
Nasceu a 15 de abril de 1836, signo de áries,
em São Paulo, Brasil.
Estudou, Direito na Faculdade de Direito em São Paulo. . .
Em homenagem, " Teatro Paulo Eiró", São Paulo.
*
CANTOePALAVRAS
A Vida de Paulo Eiró, 1940(pós-morte) . . .
*
Oh noite! Oh negro vampiro,
Que este saudoso retiro
Furtas às luzes do céu,
Nunca foste mais propícia,
Nunca sobre tal delícia
deixaste cair teu véu!
-
A vento açoita a espessura:
Inchado o rio murmura,
Corre louco de pavor;
Sombras, que o olhar não penetra,
Rasga a tuidara* e soletra
" Morte " no seu estridor.
-
Já que deste mudo campo
Não tinge um só pirilampo
A negra cor sem mariz,
Nem o céu tôrvo se estrela,
Vinde trevas, vem, procela,
Saudar um homem feliz!
-
Noite, foras tu eterna!
Como ao navio que aderna,
Some est'alma em teu horror!
Enfaixa em teus véus medonhos
Os fantasmas dos meus sonhos,
Os filhos do meu amor!
*
PAULO EIRÓ
" Noite Feliz "
(*Tuidara - Coruja-de-Igreja)

Nenhum comentário: