domingo, 30 de agosto de 2009

013 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


ANTÓNIO FERREIRA
Nasceu em 1528, Lisboa, Portugal.
Estudou Direito Canônico, na
Universidade de Coimbra,1537, onde lecionou. . .
Estilo Renascentista.


Faleceu em 1569, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALABRAS
"Poemas Lusitanos"

I
Quando entoar começo com voz branda
Vosso nome d'amor, doce e suave,
A terra, o mar, vento, água, flor, fôlha, ave,
Ao brando som s'alegra, move e abranda.
-
Nem nuvem cobre o céu, nem na gente anda.
Trabalhoso cuidado ou pêso grave,
Nova cor toma o Sol, ou se erga, ou lave
No claro Tejo, e nova luz nos manda.
-
Tudo se ri, se alegra e reverdece.
Todo mundo parece que renova.
Nem há triste planeta ou dura sorte.
-
A minh'alma só chora e se entristece.
Maravilhosa d'Amor cruel e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.
*
ANTÓNIO FERREIRA
"Soneto"
Poemas Lusitanos

*
II
Aquele claro sol, que me mostrava
O caminho do céu mais chão, mais certo,
E com seu novo raio ao longe , e ao perto
toda a sombra mortal m'afugentava;
-
Deixou a prisão triste, em que cá estava.
Eu fiquei cego, e só co passo incerto,
Perdido, peregrino no deserto,
A que faltou a guia, que o levava.
-
Assi c'sprito triste, o juízo escuro,
Suas santas pizadas vou buscando,
Por vales, e por campos, e por montes.
-
Em toda parte a vejo, e afiguro.
Ela me toma a mão e vai guiando.
E meus olhos a seguem feitos fontes.
*
ANTÔNIO FERREIRA
"Soneto"
Poemas Lusitanos

FRANCISCO RODRIGUES LOBO
Nasceu em 1580, Leiria, Portugal.
Pais André Lázaro e D. Joana Brito de Galvão,
segundo pesquisadores eram de origem judaica
"cristãos-novos".
Frequentou, a Universidade de Coimbra de 1593 a 1602,
na Faculdade de Direito
Um dos mais importantes seguidores de Camões
Homenagens: Monumento em Leiria, 1973, escultor
Joaquim Correia. . .
*
CANTOePALAVRAS
Os Romances, 1596; Primavera, 1601;
O Pastor Peregrino, 1608; Desenganador, 1614;
O Condestabre de Portugal, 1610; Canto Éclogas,1614;
La Jornada que la Majestad Catholica del Rey
Filippe III, hizo al Reyno de Portugal, 1623;
A Fenix Renascida; História da Árvore Triste . . .
*
I
Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo ati, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.
-
A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-se a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente.
-
Já que somos no mal participantes.
Sejamo-lo no bem. Oh! quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!
-
Mas lá virá a fresca primavera:
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
Eu não sei se serei quem de antes era.
*
FRANCISCO RODRIGUES LOBO
" Sem Título "
*
II
Descalça vai para  a fonte
Leonor pela verdura;
-
A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limão,
Beatilha de madrugada
Pisa as flores na verdura:
Vai fermosa, e não segura.
-
Leva na mão a rodilha
Feita da sua toalha,
Com uma sustenta a  talha,
Ergue com a outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai fermosa, e não segura.
-
As flores por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
ficam de inveja sem cor
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai fermosa, e não segura.
-
Não na ver o Sol lhe vai
Por não ter novo inimigo,
Mas ela corre perigo
Se na fronte se vê tal;
Descuidada deste mal
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e não segura.
*
FRANCISCO RODRIGUES LOBO
"Cantiga"
*
( Mais Poemas. . . ." Donde borbota, minha Saudade . . .", 194)

ESTEVÃO RODRIGUES DE CASTRO
Nasceu em 19 de Novembro de 1559, Lisboa*, Portugal.
Poeta, Filósofo, Médico...
Faleceu em 30 de Junho de 1637*, Florença, Itália.
*
CANTOePALAVRAS
Verveceido
Obras Poéticas ( Universidade de Coimbra, 1967)

*
Ausente, pensativo, solitário,
como se vos tivera ali presente,
dou e tomo as razões ousadamente
firme em amor, em pensamento vário.
-
Quando venho ante vós com temerário
fervor renovo n'alma juntamente
quantos cuidados tive estando ausente,
que tudo em tal aperto é necessário.
-
Uns aos outros se impedem na saída
e querem cometer e não se abalam,
e vou para falar e fico mudo.
-
Porém. meus olhos, minha cor perdida,
meu pasmo, meu silencio, por mim falam,
e não dizendo nada, digo tudo.
*
Estevão Rodrigues de Castro
"Ausente, Pensativo, Solitário"
BENTO TEIXEIRA
Nasceu por volta de 1561, no Porto, Portugal.
Judeu, cristão-novo, viveu em Brasil, considerado
o primeiro poeta do Brasil. . .
Faleceu em 1600.
*
CANTOePALAVRAS
Prosopopeia, 1601. . .
*
VII
A Lâmpada do Sol tinha encuberto,
Ao Mundo, sua luz serena e pura,
E a irmã dos três nomes descuberto,
A sua tersa e circular figura.
Lá do portal de Dite, sempre aberto,
Tinha chegado, com a noite escura,
Morfeu, que com subtis e lentos passos
Atar vem dos mortais os membros lassos.
-
VIII
Tudo estava quieto e sossegado,
Só com as flores Zéfiro brincava,
E da vária fineza namorado,
De quando em quando o respirar firmava.
Até que sua dor, d'amor tocado,
Per antre folha e folha declarava.
As doces Aves nos pendentes ninhos
Cubriam com as asas seus filhinhos.
-
IX
As luzentes Estrelas cintilavam,
E no estanhado Mar resplandeciam,
Que, dado que no Ceo foxas estavam,
Estar no licor salso pareciam.
Este passo os sentidos comparavam
Àqueles que d'amor puro viviam,
Que, estando de seu centro e fim absentes,
Com alma e com vontade estão presentes.
-
X
Quando ao longo da praia, cuja area
É de Marinhas aves estampada,
E de encrespadas Conchas mil se arrea,
Assim de cor azul, como rosada,
Do mar cortando a prateada vea,
Vinha Tritão em cola duplicada,
Não lhe vi na cabeça casca posta
(Como Camões descreve) de Lagosta.
-
XI
Mas ~ua Concha lisa e bem lavrada
De rica Madrepérola trazia,
De fino Coral crespo marchetada,
Cujo lavor o natural vencia.
Estava nela ao vivo debuxada
A cruel e espantosa bataria,
Que deu a temetária e cega gente
Aos Deoses do Ceo puro e reluzente.
-
XII
Um Búzio desigual e retrocido
Trazia por Trombeta sonora,
De Pérolas e Aljôfar guarnecido,
Com obra mui subtil e curiosa.
Depois do Mar azul ter dividido,
Se sentou n~ua pedra Cavernosa,
E com as mãos limpando a cabeleira
Da turtuosa cola fez cadeira.
-
XIII
toca a Trombeta com crescido alento,
Engrossa as veas, move os elementos,
E, rebramando os ares com o acento,
Penetra o vão dos ínfimos assentos.
Os Pólos que sustem o firmamento,
Abalados dos próprios fundamentos,
Fazem tremer a terra e Ceo jucundo,
E Neptuno gemer no Mar profundo.
-
XIV
O qual vindo da vã concavidade,
Em Carro Triunfal, com seu tridente,
Traz tão soberba pompa e majestade,
Quanta convém a Rei tão excelente.
Vem Oceano, pai de mor idade,
Com barba branca, com cerviz tremente;
Vem Glauco, vem Nereu, Deoses Marinhos,
Correm ligeiros Focas e Golfinhos.
-
XV
Vem o velho Proteu, que vaticina
(Se fé damos à velha antiguidade)
Os males a que a sorte nos destina,
Nascidos da mortal temeridade.
Vem n~ua e noutra forma peregrina,
Mudando a natural propriedade.
Não troque a forma, venha confiado,
Se não quer de Aristeu ser sojigado.
-
XVI
Tétis, que em ser fermosa se recrea,
Traz das Ninfas o coro brando e doce:
Clímene, Efire, Òpis, Panopea,
Com Béroe, Talia, Cimodoce;
Drimo, Xanto, Licórias, Deiopea,
Aretusa, Cidipe, Filodoce,
Com Eristea, Espio, Semideas.
Após as quais, cantando, vem Sereas.
*
BENTO TEIXEIRA
"Narração"
Prosopopeia

* datas aproximadas

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