quarta-feira, 12 de agosto de 2009

030 - Almeida Garrett " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

autor anónimo

*
ALMEIDA GARRETT
João Batista da Silva Leitão Almeida Garrett
"Visconde de Almeida Garrett"
Nasceu a 04 de fevereiro de 1799, signo de áries,
cidade do Porto, Portugal.
Estudou, Direito na "Universidade de Coimbra", Portugal.
Teve influência de seu tio o Bispo de Angra D. Frei
Alexandre da Sagrada Família, na sua educação.
Foi seu o incentivo e a iniciativa, na construção
do "Teatro Nacional D. Maria II" 1846.
Se envolveu com política.
Faleceu a 09 de Dezembro de 1854, Lisboa, Portugal
*
Algumas homenagens
*Escultura no Porto, escultor Barata Feyo
*Escultura na "Escola de Palmeira", Braga, Portugal,
Escultor António Pinheiro . . .
"Bicentenário do Nascimento" Busto, 
feito por António Pinheiro, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Retrato de Venus,*(exemplar da 1ª. edição "Biblioteca Nacional
de Portugal", Lisboa),1821; Catão(teatro), 1822;
Camões, *(exemplar da 1ª., e 5ª. edição " Biblioteca Nacional
de Portugal", Lisboa), 1825, 1851;
Discurso,*(exemplar da 1ª. edição "Biblioteca Nacional de
Portugal", Lisboa), 1840; Mérope(teatro), 1841;
Alfageme de Santarém(reatro), 1842; Frei Luis de Sousa
(teatro), 1844;Flores sem Fructo,*(exemplar da 1ª. edição
"Biblioteca Nacional de Portugal", Lisboa), 1845; Romanceiro e
CancioneiroGeral; Viagens na MinhaTerra(romance),
*(exemplar da 1ª. edição "Biblioteca Nacional de Portugal",
Lisboa), 1846 A Sobrinha do Marquês(teatro), 1848 . . .
Acesse Internet, site www.bnportugal.pt/
*
I
Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!
-
Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.
-
E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz - Ó rosa vermelha
Bem me podes acudir.
-
Deixa do cálix divino
Uma gota só libar . . .
Deixa, é néctar pergrino,
Mel que eu não sei fabricar . . . -
-
Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?
-
Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai! que não te entendo, flor.
*
ALMEIDA GARRETT
" Rosa sem Espinhos "
*
II
Quando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar,
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar . . .
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia . . .
*
ALMEIDA GARRETT
" Quando Eu Sonhava "
Folhas Caídas
*
III
Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, és mulher.
-
Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua frente anuveada,
Não vejo a croa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios de amor.
Teus olhos tem negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?
-
Não respondes - e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito! . . .
Isto que me cai no peito
Que foi? . . .- Lágrima? - Escaldou-me . . .
Queima, abrasa, ulcera . . .Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá . . .De onde?
Em que mistérios se esconde
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?
*
ALMEIDA GARRETT
" Anjo És "
*
IV
Tu morreste por nós na cruz da afronta.
e o sangue derradeiro
derramaste do alto do madeiro,
Jesus, filho de Deus, Deus verdadeiro!
-
Aos crimes do homem não lançaste a conta,
inocente cordeiro,
quando foste no alto do madeiro
lavar, com sangue, o último e o primeiro.
-
E naquela hora o mundo foi mudado:
a antiga, frouxa luz
se apagou no Calvário ao pé da Cruz;
e agora é novo Sol o que reluz.
-
Por desiguais direitos, afrontosos
para o pobre que lida,
que trabalha, que sua pele vida,
andava a terra pelos reis regida.
-
Vãos sabedores, ricos poderosos
a tinham submetida
ao erro torpe que embrutece a vida
e que apaga a razão n'alma perdida.
-
Acabaram-se as leis dos reis da terra;
e esta só lei ficou:
" O Rei que está na Cruz nos libertou
e com seu sangue a todos igualou ".
*
ALMEIDA GARRETT
" Redenção "
Flores sem Fruto
*
V
Por teus olhos negros, negros,
Trago eu negro o coração,
De tanto pedir-lhe amores . . .
E eles a dizer que não.
-
E mais não quero outros olhos,
Negros, negros como são;
Que os azuis dão muita esp'rança,
Mas fiar-me eu neles, não
-
Só negros, negros os quero;
Que, em lhes chegando a paixão,
Se um dia disserem sim . . .
Nunca mais dizem que não.
*
ALMEIDA GARRETT
" Olhos Negros "
Flores Sem Fruto
*
VI
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?
-
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem veio, ai de mim! despertar?
-
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
-
ALMEIDA GARRETT
"Este Inferno de Amar 
*
( Mais Poemas . . ."Negras Capas . . . Poetas de Coimbra", 195.)



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