terça-feira, 4 de agosto de 2009

036 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

"Jardim Botânico" de São Paulo
Foto LuisD.

▬▬
SOUSA VITERBO
Francisco Marques de Sousa Viterbo
Nasceu a 29 de dezembro de 1845, signo de capricórnio,
na Cidade do Porto, Portugal. Poeta, arqueólogo,
jornalista, historiador . . .
Estudou Medicina em Lisboa, Professor de Arqueologia
Na Academia Belas-Artes, Portugal, fundou a "Associação
de Jornalistas e Escritores Portugueses". . .
Faleceu em  29 de Dezembro de 1910, Lisboa, Portugal.

*

CANTOePALAVRAS
Anjo do Pudor, 1869; Rosas e Nuvens, 1875;
Harmonias Fantásticas, 1875;
A Fonte dos Amores, 1889 . . .




Conimbriga, Portugal.
*
Perguntas se eu chorei? Quem não chorasse,
ao ver perdida a luz do teu amor,
houvera um dia de subir-lhe à face.
Negro remorso d'infernal queimor.
Perguntas se eu chorei? Longo gemido
Soltou na despedida o peito meu,
qual ave que, na volta, viu caído.
O ninho, o verde ninho, em que nasceu.
-
Perguntas se eu chorei? . . . Harpa quebrada,
viúvo o seio, a inspiração perdi.
Perguntas se eu chorei? . . . A madrugada
e noite perenal sem ti, sem ti.
-
A madrugada sim, ela é que enxuga
o pranto cristalino à flor do val
Perguntas se eu chorei? A esperança em fuga.
Concerteu-se num ídolo de sal.
-
Não perguntes agora qual a essência
das lágrimas vertidas, por quem és,
embebeste-as nas águas da incência . . .
-
Deixa beijar-te agradecido os pés.
*
SOUSA VITERBO
" Lágrimas "

*
Foto, LuisD.
▬▬
DURVAL DE MORAES
Nasceu em Portugal, 1882 . . .
Poeta , tradutor . . .
Escreveu para varias revistas entre elas "Águia"
Faleceu em 1948.
*
CANTOePALAVRAS
Sombra Fecunda . . . .
*
Não te quizera ver fria como as geleiras
Inerte ao meu abraço e indolente ao meu beijo,
Na tristeza hibernal das ruinas e das freiras!
-
Labios fremindo ao sopro ardente do Desejo,
Olhos amplos de amor meu amor anceiando,
Assim te quero ver e em meus sonhos te vejo.
-
Harpa de oiro e coral aos meus dedos vibrando
A canção que meu sangue e os nervos meus exalta
E me faz todo amor para morrer amando!
-
Dar-te-ei o que não tens, dar-me-ás quanto me falta,
E num entre completo iremos pelo mundo
Desafiando o céu e a perfeição mais alta.
-
Só - não serás fecunda e não serei fecundo . . .
Murcharás, murcharei inutil e mesquinho
Como um deus renegado, idiota e vagabundo.
-
Offerta-me teu vinho e bebe do meu vinho,
O teu é doce e claro, o meu rubro e quente,
juntos farão vergel do deserto maninho!
-
Para um futuro ser não basta um ser somente . . .
O pollen não dá flor por um desejo vago,
Nem resume o pistillo a origem da semente.
-
Trazes tua belleza e meu vigor eu trago . . .
O espirito da força e o espirito da graça,
A alegria, o ideal, a rigidez, o affago.
-
A aza leve do luar que avelluda e esvoaça,
A aza régia do Sol destemerosa e forte,
Harmonia que doire a tristeza e a desgraça.
-
Poder que pise o mundo e sobrepuje a sorte,
Tudo que alegre a Vida e integralize o Bello,
Tudo que vença o Tempo e viva além da Morte;
-
Tudo dar-lhe-emos nós: da côr do teu cabello,
Dos meus olhos á côr; do teu rosto rosa
Ás minhas mãos de bronze! . . .E um dia, o Forte! . . . É vel-o! . . .
*
DURVAL DE MORAES
"Imortalidade"
Águia, Revista

▬▬


JÚLIO DANTAS
Nasceu em 19 de Maio de 1876, Lagos, Portugal.
Poeta, Escritor Romancista e Dramaturgo...
Faleceu em 25 de Maio de 1962, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Nada (poesia), 1896;  O que Morreu de amor (teatro), 1899; Viriato Trágico, (teatro);
Severa, (teatro); Crucificados, (teatro);
Soror Mariano, (poesia); D. Ramon de Capichuela, (poesia); Carlota Joaquina, (poesia)...
*
I
Quatro meses depois dessa hora dolorida,
voltei, já resignado e quase sem rancor,
Ao ninho onde viveu aquele imenso amor
que foi o grande amor de toda a minha vida.
-
Compreendi então - quanta imagem querida! -
Que pode haver encanto e doçura na dor;
Um perfume  - era o teu - palpitava em redor;
Dormia num sofá uma luva esquecida.
-
Uma luva e um perfume: é o que resta de ti,
Dos beijos que te dei, do inferno que sofri,
Do teu mentido amor de juras desleais.
-
que fui eu, afinal, na tua vida intensa?
O perfume que voa e em que ninguém mais  pensa,
A luva que se deixa e não se calça mais.
*
JÚLIO DANTAS
"A  luva"
▬▬


AUGUSTO GIL
Augusto Cézar Ferreira Gil 

Nasceu em 31 de Julho de 1873, Lordelo-do-Ouro, Porto, Portugal, . . .
Doutorou-se em Direito na "Universidade de Coimbra". . .

Poeta...
Estilo Simbolismo
*

Faleceu em 26 de Novembro de 1929, Guarda, Portugal.
CANTOePALAVRAS
Versos, 1898; O canto da cigarra, 1910; Luar de Janeiro,1910;
Gente de Palmo e Meio, 1913; Sombra de Fumo, 1915;
Alba Plena. Vida de Nossa Senhora, 1916;
O Craveiro da Janela, 1920; Avena Rústica, 1927;
Rosas desta Manhã, 1930. . .
Estilo Simbolismo
*

I
Não serei eu quem refute
O senso prudente e raro
Deste ditado. Está bem.
-
O gosto não se discute.

Não se discute, claro.

- Mas é com quem o que não tem
*
AUGUSTO GIL
"Gostos não se discutem"

II

Por mau homem não me tenho.
Grandes males nunca os fiz.
Todavia não convenho
No que este ditado diz.
-
Há companheiro algum
Pior e mais inimigo,
Do que o é cada um,
Quando conversa consigo?...
*
AUGUSTO GIL
"Antes só, que mal acompanhado"

III

Luar de janeiro,
Fria claridade. . .
-
Á Lua dele foi talvez
Que primeiro
A boca dum português
Disse a palavra saudade. . .
-
Luar de platina;
Luar que alumia
Mas que não aquece,
Fotografia
De alegre menina
Que há muitos anos já. . . envelhece.
-
Luar de Janeiro,
O gelo tornado
Luminosidade. . .
rosa sem cheiro,
Amor passado
De que ficou apenas amizade. . .
-
Luar de nevadas
Álgido e lindo,
Janelas fechadas,
Fechadas as portas,
E ele fulgindo,
Límpido e lindo,
Como boquinhas de crianças mortas,
Na morte geladas
- E ainda sorrindo. . .
-
Luar de janeiro
Luzente candeia
De quem não tem nada,
- Nem o calor dum bradeiro,
Nem pão duro para a ceia,
Nem uma pobre namorada. . .
-
Luar dos poetas e dos miseráveis. . .
Como se um laço estreito nos unisse,
São semelháveis
O nosso mau destino e o que tens;
De nós, da nossa dor, a turba - ri-se
- E a ti, sagrado luar. . . ladram-te os cães!
*
AUGUSTO GIL
"Luar de Janeiro"
Luar de Janeiro


▬▬*

SILVA BRAGA
Alexandre José da Silva Braga
Nasceu em 1849, no Porto, Portugal.

Estudou Direito na Universidade de Coimbra, 1849.
Faleceu em 1895.

CANTOePALAVRAS
..............................

I
Quando nasci deu-me a lira
Lindo arcanjo do Senhor,
Dizendo-me: "Tem três cordas":
N'uma d'elas canta amor.
Na segunda a pátria tua,
Na terceira o Redentor."
-
Eu peguei da lira d'oiro
Doces canções entoei;
Cantei d'amor as penas cantei;
As glórias da minha pátria,
O meu Deus apregoei.
-
Hoje ainda a pobre lira
Canta os mistérios d'amor;
Canta as vitórias da pátria,
Canta os dons do Criador,
E já que a lira assim canta
Bendito sejas, Senhor!
*
SILVA BRAGA
"A minha lira"


Nenhum comentário: