sábado, 22 de agosto de 2009

020 - Alexandre Herculano "OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

ALEXANDRE HERCULANO
Alexandre Herculano de Carvalho Araújo
Nasceu a 28 de março de 1810, signo de áries,
em Lisboa, Portugal.
Estudou Diplomacia na "Torre do Tombo", 1830.
Exilado para a França, na volta foi bibliotecário
da "Biblioteca do Porto".
Envolvido em política, jornalista, historiador.
Seu corpo jaz no "Mosteiro dos Jerônimos", Lisboa . . .
Estilo Romantismo
Homenagens:
Segundo alguns pesquisadores a escultura
de mármore "Desterro" 1874, do escultor Soares
dos Reis, foi inspirada nos versos de Alexandre
Herculano, ganhadora do primeiro premio,
exposição de "Belas Artes" de Madrid, Espanha,
e exposta atualmente no "Museu Nacional de
Soares dos Reis", no Porto, Portugal.
Faleceu 13 de setembro de 1810.
*
CANTOePALAVRAS
A Harpa do Crente, 1838;
Qual é o Estado da Nossa Literatura, 1834;
Poesia Imitação, 1835; A Voz do Profeta, 1836;
A Voz do Profeta (parte 2), 1837; O Bobo, 1843; Poesia, 1850
Lendas e Narrativas(conto); Os Infantes em Ceuta(teatro)
O Fronteiro d'África(teatro); Monasticon(romance); O Bobo(romance);
 História de Portugal; Portugaliae
Monumenta Historica; História da Origem e Estabelecimento
da Inquisição em Portugal . . .
*
I
Sibila o vento: - os torreões de nuvens
Pesam nos densos ares:
Ruge ao largo a procela, e encurva as ondas
Pela extensão dos mares:
A imensa vaga ao longe vem correndo,
Em seu terror envolta:
E, de entre as sombras, rápidas centelhas
A tempestade solta.
Do Sol no acaso um raio derradeiro,
Que, apenas fulge, morre,
Escapa à nuvem, que, apressada e espessa,
Para apagá-lo corre.
Tal nos afaga em sonhos a esperança,
Ao despontar do dia,
Mas, no acordar, lá vem a consciência
Dizer que ela mentia!
As ondas negro-azuis se conglobaram;
Serras tornadas são,
Contra as quais outras serras, que se arqueiam,
Bater, partir-se vão.
-
Ó tempestade! Eu te saudo, ó Nume,
Da natureza açoite!
Tu guias os bulcões, do mar princesa,
E é teu vestido a noite!
Quando pelos pinhais, entre o graniso,
Ao sussurrar das ramas,
Vibrando sustos, pavorosa ruges
E assolação derramas,
Quem porfiar contigo, então, ousara
De glória e poderio;
Tu que fazes gemer pendendo o cedro,
Turbar-se o claro rio?
Quem me dera ser tu, por balouçar-me
Das nuvens nos castelos,
E ver dos ferros meus, enfim, quebrados
Os rebatidos elos.
Eu rodeara, então, o globo inteiro;
Eu sublevara as águas;
Eu dos vulcões com raios acendera
Amortecidas fráguas;
Do robusto carvalho e sobro antigo
Acurvaria as frontes;
Com furacões, os areais da Líbia
Converteria em montes;
Pelo fulgor da lua, lá do norte
No pólo me assentara,
E vira prolongar-se o gelo eterno,
Que o tempo amontoara.
Ali, eu solitário, eu rei da morte,
Erguera meu clamor,
E dissera: - "Sou livre e tenho império;
Aqui, sou eu senhor!".
*
ALEXANDRE HERCULANO
" A Tempestade "(fragmento)
A Harpa do Crente
*
II

Pura em sua innocencia,
Entre a sarça espinhosa,
Purpurea esplende, inda botão intacto,
Na madrugada a rosa.
-
É da campina a virgem
A pudibunda flor;
Em seus efluvios matutina brisa
Bebe o primeiro amor.
-
O Sol inunda as veigas;
Calou-se o rouxinol;
E a flor, ebria de glória, á luz fervente,
Desabrochou-a o Sol.
-
O sopro matutino
No seio seu pousara:
Prostituida á luz, fugiu-lhe a brisa
Que a linda rosa amara.
-
Bella se ostenta um dia;
Saúdam-na as pastoras;
Dão-lhe mil beijos, gorgeiando, as aves;
Voam do goso a horas.
-
Lá vem chegando a noite,
E ella empallideceu;
Incessante prazer mirrou-lhe a seiva;
A rosa emmurcheceu.
-
Desce o tufão dos montes,
Os matos sacudindo;
Desfallecida a flor desprende as folhas,
Que o vento vai sumindo.
-
Onde estará a rosa,
Do prado a bella filha?
O tufão, que espalhou seus frageis restos,
Passou: não deixou trilha.
-
Da sarça a flor virente
Nasceu, gosou, e é morta:
E a qual desses amantes de um momento
Seu fado escuro importa?
-
Nenhum, nenhum por ella
gemeu saudoso á tarde;
Não ha quem juncte as derradas folhas,
Quem amoroso as guarde.
-
Só da manhan o sopro,
Passando no outro dia,
Da rosa, que adorou, quando a innocencia
Em seu botão sorria.
-
Juncto do tronco humilde
O curso demorando,
Veio depositar perdão, saudade,
Queixoso sussurrando.
-
De quantas és a imagem,
Oh desgraçada flor!
Quantos perdões sobre um sepulchro abjecto
Tem murmurado o amor!
*
ALEXANDRE HERCULANO
" A Rosa "
*
III
É tão suave ess'hora,
Em que nos foge o dia,
E em que suscita a lua
Das ondas a ardentia,
-
Se em alcantis marinhos,
Nas rochas assentado,
O trovador medita
Em sonhos enleiado!
-
O mar azul se encrespa
Co'a vespertina brisa,
E no casal da serra
A luz já se divisa.
-
E tu em roda cala
Na praia sinuosa,
Salvo o som do remanso
Quebrando em furna algosa.
-
Alli folga o poeta
Nos desvarios seus,
E nessa paz que o cérca
Bemdiz a mão de Deus.
-
Mas despregou seu grito
A alcyone gemente,
E nuvem pequenina
Ergueu-se no occidente:
-
E sóbe, e cresce, e immensa
Nos céus negra flutea,
E o vento das procellas
Já varre a fraga nua.
-
Turba-se o vasto oceano,
Com horrido clamor;
Dos vagalhões nas ribas
Expira o vão furor.
-
E do poeta a fronte
Cubriu véu de tristeza:
Calou, á luz do raio,
Seu hymno á narureza.
-
Pela alma lhe vagava
Um negro pensamento,
Da alcyone ao gemido,
Ao sibillar do vento.
-
Era blasphema idéa,
Que triumphava emfim;
Mas voz soou ignota,
Que lhe dizia assim:
-
-" Cantor, esse queixume
Da nuncia das procellas,
E as nuvens, que te roubam
Myriadas de estrellas,
-
E o frémito dos euros,
E o estourar da vaga,
Na praia, que resolve,
Na rocha, onde se esmaga,
-
Onde espalhava a brisa
Sussurro harmonioso,
Em quanto do ether puro
Descia o Sol radioso,
-
Typo da vida do homem,
É do universo a vida;
Depois do afau repouso,
Depois da paz a lida.
-
Se ergueste a Deus um hymno
Em dias de amargura;
Se te amostraste grato
Nos dias de ventura,
-
Seu nome não maldigas
Quando se turba o mar:
No Deus, que é pae, confia,
Do raio ao scintillar.
-
Elle o mandou: a causa
Disso o universo ignora,
E mudo está. O nume,
Como o universo, adora! " -
-
Oh sim, torva blasphemia
Não manchará seu canto!
Brama a procella embora;
Pése sobre elle o espanto;
-
Que de sua harpa os hymnos
Derramará contente
Aos pés de Deus, qual oleo
Do nardo recendente.
*
ALEXANDRE HERCULANO
" A Voz "
A Harpa do Crente
*
▬▬ HOMENAGENS EM VERSOS ▬▬
*
I
Em Val de Lobos. Poente. O olhar bebendo as notas claras,
Que as azas vêm de riscar na pauta azul do Firmamento,
Sosinho, o Historiador scisma . . . Um sino, o vinho-amor das Aras
Pinga no ar, e, o vinho- amor da Vida entorna a voz do vento.
-
O Solitario estremece . . . Alegres vão gentes ignaras
Cantando . . . Que outro paiz lhes ouve o riso e o soffrimento? . . .
E parece-lhe escutar sobre as cidades e as searas
- Ó lingua de Portugal, amortalhaes o Pensamento! . . .
-
Dos pinheiros e choupaes a fala o aterra e o desconforta:
- Nenhum povo saberá de Eurico, além do lusitano!
A tua lingua sendo morta, a tua Obra será morta!
-
O sonho, sempre maior, ditou: - Mentiu a Natureza!
Os teus livros ficarão, vencendo as Eras, HERCULANO,
Urnas de oiro guardando o crystal da Lingua Portugueza.
*
DURVAL DE MORAES
"Alexandre Herculano"
Sombra Fecunda
(Mais Oemas "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág, 036).

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