domingo, 23 de agosto de 2009

016 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "



 "Meu Jardim" Foto LuisD.

CRISTÓVÃO  FALCÃO
Cristóvão Falcão de Sousa
Nasceu entre 1515 e 1517. Portoalegre, Alentejo, Portugal.
Poeta e diplomata a cargo de el rei D. João III
Pouco se sabe a seu repeito...
Faleceu possivelmente em 1553...
-
CANTOePALAVRAS
Crisfal- 1543/46 (por alguns biógrafos atribuída a Bernardim Ribeiro).

*
Ela chamavam Maria,
e ao pastor Crisfal,
ao qual,  de dia em dia,
o bem se tornou em mal,
que ele tam mal merecia.
Sendo de pouca idade,
não se ver tanto sentiam,
que o dia que não se viam,
se via na saudade
o que ambos se queriam.
-
Algumas horas falavam,
andando o gado pascendo,
e então apascentavam
os olhos que, em se vendo,
mais famintos lhe ficavam.
E, com quanto era Maria
pequena, tinha cuidado
de guardar milhor que o gado
o que lhe Crisfal dizia;
mas, em fim, foi mal guardado.
-
Que, depois de assi viver
nesta vida e neste amor,
depois de alcançado ter
maior em para mor dor,
em fim se houve de saber
por Joana, outra pastora
que a Crisfal queria bem.
Mas o bem, que a tal vem,
não ser bem maior bem fôra,
por não ser mal a ninguém.
-
CRISTÓVÃO FALCÃO
Crisfal (trecho)


JERÔNIMO BAHIA
Nasceu em 1628*, Coimbra, Portugal.
Poeta, frei, estudou em Coimbra e Braga, Portugal...
Faleceu em São Romão de Neiva, Viana do Castelo, Portugal.
-
CANTOePALAVRAS
Tardes de Verão; Lampadário de Cristal...
*
Só vos conhece, amor, quem se conhece,
só vos entende bem quem bem se entende,
só quem se ofende assim não vos ofende,
e só vos pode amar quem se aborrece.
-
quem tudo por vós perde tudo ganha,
pois tudo quanto há tudo vós cabe;
ditoso quem no vosso amor se inflama,
-
pois faz troca tão alta e tão estranha,
mas só vos pode amar o que vos sabe,
só vos saber o que vos ama.
*
Jerônimo Bahia 
"Falando com Deus"

GREGÓRIO DE MATOS
Gregório de Matos Guerra
"Boca do Inferno"
Nasceu a 07 de abril de 1623, signo de áries,
Salvador, capital do Estado da Bahia, Brasil.
Poeta, filho de português e baiana, irmão de
Eusébio de Matos, estudou num colégio de
Jesuítas, em Salvador. Foi exilado para
Angola, depois que voltou para o Brasil.
Esteve várias vezes em Portugal, estudou na
Faculdade de Direito, na "Universidade de Coimbra", Portugal (1661). . .

Patrono da "Academia Brasileira de Letras"
Poemas com influências "Barroco Espanhol"
Faleceu em 26 de Novembro de 1696, Recife,
 Estado de Pernambuco, Brasil.

CANTOePALAVRAS
Sacra; Lírica; Graciosa. . .

*
I
Contente, alegre, ufano passarinho
que enchendo o bosque todo de harmonia,
me está dizendo a tua melodia,
que é maior tua voz, que o teu biquinho:

"Uirapuru verdadeiro"
-
como da pequenez desse corpinho
sai tão grande tropel de vozearia?
Como cantas, se és flor de Alexandria?
Como cheias, se és pássaro de arminho?
-
Simples cantas, incauto garganteias,
sem ver que estás chamando ao homicida,
que te segue por passos de garganta.
-
Não cantais mais, que a morte lisonjeias,
esconde a voz, esconderás a vida,
que em ti não se vê mais que a voz que canta.


"Fora Gaiolas"
*
Gregório de Matos
"Um passarinho cantando"
*
II
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em triste sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
-
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
-
Mas no Sol, e na luz, falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância;
E na alegria sinta-se tristeza.
-
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E se tem qualquer dos bens por natureza,
A firmeza somente na inconstância.
*
GREGÓRIO DE MATOS
"A Instabilidade das cousas do Mundo"
*
III
O amor é finalmente um embaraço de pernas,
Uma união de barrigas,
Um breve tremor de artérias,
Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias,
Um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.
*
GREGÓRIO DE MATOS
". . .Pensamentos. . . "

(Mais Poemas . . . " Negras Capas... Poetas de Coimbra" pág. 185).
LUÍS CARLOS
Luís Carlos da Fonseca
Nasceu a 10 de abril de 1880, signo de áries,
cidade do Rio de Janeiro, Brasil. . .
Poeta...
*
CANTOePALAVRAS
Colunas, 1920; Astros e Abismos, 1924 . . .
*
Amplo dia de paz . . .Tranquilos Céu e Terra,
Numa contemplação recíproca de cisma.
O azul se abisma em luz . . .o verde em luz se abisma . . .
Porque entre o verde e o azul nenhuma nuvem erra.
-
A brisa e o Sol, irmãos, compõem, de serra em serra,
Uma, a escala do som; outro, a escala do prisma.
Nada em tôrno maldiz a dor. Nada exorcisma.
Um êxtase infinito a natureza encerra . . .
Deslumbra em tudo a vida; em tudo há um peito aberto.
Ao longe, a luz solar toma uns fugentes de aço . . .
Visíveis vibrações ondulam, no ar, de perto.
-
Mas nenhum som de voz! Nenhum rumor de passo!
No Espaço, o Sol . . . deserta a Terra . . . o Céu deserto . . .
E a paz no Céu . . . e a paz na Terra . . .e a paz no Espaço . . .
*
LUÍS CARLOS
" Paz Sertaneja "
Colunas


 "Meu Jardim" Foto LuisD.

BERNARDO VIEIRA RAVASCO
Nasceu em 03 de Junho de 1617, signo de gêmeos.
Bahia, Brasil.
Poeta, irmão do Padre António Vieira. . .
Faleceu em 20 de julho de 1697.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias portuguesas e castelhanas . . .

*
 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Mil noutes padeci de ausência dura
Por um só dia, que em amanhecendo
Logo a sombra senti da noute escura
Que veio antes de tempo anoutecendo.
Quão tarde chega um bem, quão pouca dura,
À vista de meu mal vou padecendo,
E pois não vi o masl que depois vinha,
do mal que me ficou a culpa é minha.
-
A culpa minha é, e bem pudera
Culpar do breve tempo a brevidade,
foi breve aquele, ae outro tal viera
Perdera do passado a saüdade.
Tão saudoso do bem fiquei, que dera,
Se minha fora, minha liberdade,
Pelo tornar a ver, mas brado ao vento,
Pois sobre cousas vãs fiz fundamento.
-
Mil lágrimas me custa um desengano
De que me desengana um acidente,
Que na perda do bem se sente o dano
Se não se perde a vida juntamente.
Não queira bem quem não quero desengano,
Não há mor mal que o bem que é aparente;
E se é mal grande o mal que bem parece,
Amor com falsas mostras aparece.
*
BERNARDO VIEIRA RAVASCO
"Glosa a um Soneto" (trecho)

* datas aproximadas





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