quinta-feira, 14 de maio de 2009

139 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

▬▬
MANUEL DA FONSECA
Nasceu a 15 de outubro de 1911, signo de libra, em
Santiago do Cacém, Portugal. . .
Poeta...
*
CANTOePALAVRAS
Rosa dos ventos, 1940; Planície, 1941; Aldeia Nova (contos), 1942;
Cerromaior (romance), 1944; O fogo e as cinzas (conro), 1953;
Poemas completos, 1958. . .
I
Ó mar Atlântico
à beira donde sofremos,
quando virá a maré-cheia da partida?
Ó mar de vendavais,
quando, quando?
*
Que triste a nossa vida,
tudo temos:
barcos, remos e tripulação,
só nos falta partir. . .
*
Ó mar que és um leão
com tua garra,
a vaga
despedaça a amarra
que nos prende à terra.
Queremos partir mesmo sem mestre!
Estamos fartos do marasmo
deste balanço de lago
onde apodrede nossa carne dolorida.
*
Que ansiedade de mar largo,
ai que desejo de Vida!
Todas as noites a lua nasce
e o mar se aquieta. . .
Faminta na beira do rio
tremendo no frio
que miséria dias e dias renova,
a tripulação inquieta
murmura chorando!
- Será amanhã a nossa lua-nova?
Ó mar, quando partimos, quando?
*
A noite passa,
o dia volta. . .
e no peito dos homens
sempre o mesmo grito de ansiedade e de desgraça:
- Ó mar de revolta!
montanhas de água,
oceano de vendavais,
Atlântico da partida!
A nossa mágoa, a nossa mágoa. . .
Não podemos mais. . .
Quando nos leva o mar?
Quando começa a Vida?
*
MANUEL DA FONSECA
"Canção da Beira-mar"
Poemas Completos
***
II
Vai vida na madrugada fria.
O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo,
a cabeça cheia de estrelas. . .

Fica abraçado e esta poeira que meu pé levantou.
Fica inútil e hirto como um deus,
desfalacendo na raiva de não poder seguir-te.

MANUEL DA FONSECA
"Adormecer"
▬▬
MACIEL MONTEIRO
António Peregrino de Maciel Monteiro
"Barão de Itamaracá"
Nasceu a 30 de abril de 1804, signo de touro,
Recife, Brasil.
Poeta e Letras 1824, Ciências 1826, Medicina 1826, pela
Universidade de Paris. Político, Diplomata, Poeta . . .
Faleceu em 1868, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pode ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera rosa purpurina;
-
Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contôrno e a forma rara;
Formosa, qual no céu jamais brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;
-
"Orquideas" Foto LuisD.
-
Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus lavôres
Jamais soube imitar no todo ou parte;
-
Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!!
*
MACIEL MONTEIRO
" Formosa "
MARIA THEREZA RAMOS MARCONDES
Nasceu em 09 de agosto de 1916, signo de leão.
Taubaté, Estado de São Paulo, Brasil.
Poetisa . . .
Mulher de Destaque de 1995 "Clube de Poesia e Arte", Campinas. . .
*
CANTOePOESIAS
Tempo e Memória, 1976. . .
*
Facilidade em rimar
é um talento profundo.
Pois o dom de versejar,
Deus não deu a todo mundo.
-
Ser Poeta é ter na alma
a doçura de um carinho.
Seguir alegre, com calma,
sem vero fim do caminho.
-
Ser poeta é ser sensível
como as cordas de um violino.
Um temperamento incrível
num coração de menino.
-
Ser poeta é ser pungente
como a dor que nos magoa.
É ser como toda gente
que ama, sofre e perdoa.
-
Ser poeta é um remédio
pra tristeza mais atroz.
É dar sempre encanto ao tédio
e as lágrimas, dar voz.
-
Ser poeta é como ouro
que nunca se deprecia.
É esbanjar um tesouro
e ter sempre a mão vazia.
-
Pode-se fazer um ator,
mesmo sem ter muita classe.
Pode fazer um orador,
mas o poeta já nasce! . . .
*
MARIA THEREZA RAMOS MARCONDES
"Ser Poeta"


DORA FERREIRA DA SILVA
Nasceu em 01 de Julho de 1918, Conchas, Estado de São Paulo, Brasil.
Poetisa...
Faleceu em 06 de Abril de 2006
*
CANTOePALAVRAS
Andanças, 1970; Menina sem Mundo, 1976; Talhamar, 1982; 
Retratos da Origem, 1988; Poemas da Estrangeira, 1996; 
Poemas de Fuga, 1997; Cartografia do Imaginário, 2003;
Hidras, 2004...
-
Henry Miller planando no espaço em rudes soluços:
"Sofro como um animal. Sou como um animal. Ninguém pode ajudar-me.
Ninguém é forte para tal esforço." Anais a dizer-lhe
que a força é questão de ritmo. Quem não precisa
ser socorrido alguma vez? Mas é preciso humanamente
aproximar-se dos outros. "Mas tu - Henry - pareces incapaz
de ficar próximo de alguém." O mesmo diálogo se repete
entre eles elas em outras latitudes, tempos diferentes.
Trabalham juntos à beira da loucura, odiados e louvados
em dias consecutivos por sucessivas pessoas ou pelas mesmas.
Gêmeos divinos que a insanidade transforma em pactuários.
Sempre ficam à margem ou no centro instável de uma
compreensão equivocada. Entre o céu e terra os ecos
inumeráveis desse diálogo. Comunhão e distância - coisas tão diversas!
Próximos apenas da solidão comungam na missa
de todos os dias e de todos os santos.
*
Dora Ferreira da Silva
"Rude Suave amigo"
STELLA LEONARDES
Stella Leonardes da Silva Lima Cabassa
Nasceu a 01 de agosto de 1923, signo de leão.
Rio de Janeiro, Brasil
teatróloga, poetisa, tradutora . . .
Formou-se em "Letras Neolatinas" Universidade Federal
Rio de Janeiro, Brasil. . .
Teatro "Palmares", 1945 . . .
Homenagens:
Premio "Olavo Bilac", Associação Brasileira de Letras, 1957;
Premio "Brito de Poesia", 1960; Premio "Julia Lopes de
Almeida", Associação Brasileira de Letras, 1961;
Premio "Nacional de Poesia", 1964; Premio "Fernando
Chinaglia", União Brasileira de Escritores,1970;
Premio "Casimiro de Abreu", 1975; Bienal Nestlé de
Literatura Brasileira, 1986; Premio "Batista I Roca"
"Institut de Projecció Exterior de la Cultura Catalana"
Barcelona, Espanha; Premio Poesia Centenário de
"Henriqueta Lisboa", Academia Mineira de Letras, 2001 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Passos da Areia, 1940; E Assim se Formou a Nossa
Raça, 1941; A Grande Visão, 1942; Quando os Cafezais
Florescem (romance), 1948; Estátuas de Sal (romance), 1961;
Geoliríca, 1966; Cantabile, 1967; Amanhecência, 1974;
Romance da Abolição, 1986; Cancioneiro Capixaba, 2000 . . .
*
Nas ribas° do lago ouvi
Fernando Esguio passar
cantava ~ua cotovia
con apenado¹ cantar:
*
°ribas- margens
¹apenado- triste
-
-Vaiamos, irmãs, vaiamos fugir
das ribas do lago,  eu andar vi
a las aves meu imigo²
*
²imigo- inimigo
-
Nas ribas do lago vi
Fernando Esguio acenar:
-Cantade, pequena amiga
que vos non quero apenar!
-
E ouvi nas ribas do lago
Fernando Esguio cantar.
-E cantavam cotovias
que a seu lado iam pousar:
-
-Vaiamos, irmãs. Vaiamos folgar
nas ribas do lago, u eu vi andar
a las aves meu amigo!
-
(E vosso trovar no lago
amável Fernando Esguio
alou-se de cotovias
vozes d'amavioso³ afago
*
³amavioso- feiticideiro
*
STELLA LEONARDES
Amanhecência
MIRIAN PAGLIA COSTA
Nasceu em 1947, Londrina, Estado do Paraná, Brasil.
Poetisa, jornalista, escritora . . .
Homenagens: Premio de Poesia "Festival Universitário
de Londrina", 1969; Premio "Associação Paulista de
Críticos de Arte", 1981 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Colar de Maravilhas, 1981; Notícias do Lugar Comum, 1997 . . .
*
I
data vazia é terreno
baldios são os esforços
de encontrar menina em moita de capim
-
as maravilhas gritam no mato verde
- quero ser colar
- quero ser pulseira
- quero ser tiara
-
entre dedos as flores engrinaldam
-
flor e capim
laço e pescoço
somos papagaios ao vento
coloridos, vãos imponderáveis
sementes de mulher
-
destintas, usamos colar de maravilhas.
*
MIRIAN PAGLIA COSTA
"II"
Colar de Maravilhas
*
II
alegria esvai-me num rir
menos durável que soluço e choro
temas de arte e de tragédia
contudo
só a felicidade é de deus
com seu tempo agora e seu futuro
eu e meus irmãos e nosso vale
estamos verdes para ela:
já não somos simples
ainda não estamos perfeitos.
*
MIRIAN PAGLIA COSTA
"IX"
Colar de Maravilhas
MARIA APARECIDA ATALIBA DE LIMA GONÇALVES
Nasceu em 1927, Itapetininga, Estado de São Paulo,
Brasil.
Poetisa, professora . . .
*
CANTOePALAVRAS
Mulher Você, 1967; Juventude e Possibilidade, 1968;
Jovem Você, 1972; Espaço e Tempo de Mulher, 1984. . .
*
I
Você está sempre lendo.
Os livros que os professores exigem
e aqueles que você quer.
Já leu Machado, Alencar, Carlos Drummond, Cassiano,
Raquel.
Passou ainda vários dias procurando as belezas de Cecília
Meirelles,
José Mauro e seu Pé de Laranja Lima na Rua
Descalça . . .
Mas chega uma hora em que você monologa:
- Eles escrevem bem, mas eu não fico atrás . . .
E você se entusiasma, pega o papel, a bic,
pensa um pouco com o dedo na testa e começa.
Pelo título? não. pelo começo mesmo, o título vem depois.
- Mas vou escrever uma ficção científica, um conto realista
o quê?
*
MARIA APARECIDA ATALIBA DE LIMA GONÇALVES
"Você e a Literatura"
Jovem Você
*
II
- Gosto de gente
-
Gente
Gosto de gente
Gente passando. Gente correndo
Gente sorrindo. Gente chorando
Gente sofrendo. Gente amando. Gente sentindo
Gosto de gente boa
Gente alegre, sincera.
-
Gosto de gente
É triste não se ter gente para alegrar a gente quando a
gente se entristece.
Gente consola
É triste não se ter gente para alegrar a gente quando a
gente se aborrece.
Gente diverte
É triste não se ter gente para mimar a gente quando a
gente adoece.
Gente ajuda
Gosto de gente amiga que não nos abandona quando
precisamos dela.
gosto de gente franca que não dissimula quando precisamos
dela.
Gosto de gente simples
Gente companheira.
-
Gostamos de gente
Porque gente nos faz:
Viver. Viver
Viver. Esquecer
Esquecer. Sofrer
Viver. Cantar. Chorar. Procurar. Ocultar. Aceitar.
Viver. Sorrir. Construir. Destruir. Partit. Sentir.
Viver. Rezar. Amar.
Passar. Morrer. Cantar.
Gente viva
Gente que vive
Gente moça
Gente presente
Gente que tem um ideal
Um grande ideal
Que conquista um ideal
Gente de valor
Valorosos. Inteligente
Gente de vontade
Resoluta. Ativa
Gente resistente
Constante. Livre
-
Gosto de gente
Gente amiga. Apaixonada
Gente e amor
Amoe e desejo
-
Gosto de gente
Gente alegre
Corajosa. Enérgica
Gente e esperança
Gente e amor
Gente semente
-
Gosto de gente
Gosto de ação
Calma. Trabalhadeira
Gosto de gente. Alegre. Otimista
Um exemplo
Alerta!!!
*
MARIA APARECIDA A. DE LIMA GONÇALVES
"Gente"
Jovem Você
*
III
Ao ver o nascer do Sol, sorrir.
Ao ver o pôr do Sol, sorrir.
Sorrir não quando tiver vontade, mas sempre
Quando caminhar sozinho, sorrir.
Quando estiver com gente, sorrir.
Diante das tristezas, sorrir.
Diante dos amores e alegrias, sorrir.
Sorrir, sorrir sempre.
Sorrir triste, sorrir alegre.
-
Sorrir não por sorrir.
Mas sorrir para cada vez mais ter pelo que sorrir.
Sorrir na derrota.
Sorrir na vitória.
Sorrir na solidão.
Sorrir para as paredes, para você mesmo e para os homens.
-
Sorrir sempre.
Os homens precisam de sorriso.
Os homens precisam de alegria e de vida.
Sorrir sempre.
Sorrir como se a vida fosse bela, apesar de às vezes não ser.
Como se o mundo fosse pacífico, apesar de não ser.
Sorrir para não sofrer e não chorar.
Só viver, só sentir, só amar, só sorrir!
*
MARIA APARECIDA A. DE LIMA GONÇALVES
"Sorrir"
Jovem Você

ZILA MAMEDE
Zila da Costa Mamede
Nasceu em 1928, Nova Palmeira, Estado da Paraíba, Brasil.
Poetisa...
Faleceu em 1985, Natal, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Rosa de Pedra, 1953; Salinas, 1958; O Arado, 1959; 
Exercício da Palavra, 1975; Corpo a Corpo, 1978;
Navegos, 1978...

De cabeça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
-
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
-
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
-
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era também caminho da cacimba
-
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
-
por longo capinzal, cantarolando;
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
-
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sós no busto)
libertas nesse banho vesperal.
-
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que os ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
-
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
-
Depois, voltava lentamente os rastros
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
-
Então era a moça regressava
tendo os olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
*
Zila Mamede
"Banho"
Navegos
CRISTINA BASTOS
Nasceu em 1960, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Poetisa e fotografa, estudou "Educação Artística" . . .
*
CANTOePALAVRAS
Decerto o Deserto, 1982; Teia, 2002 . . .
*
I
Verde se despede
Em que cometa enveredo?
-
Todos ao mar,
De branco toco flauta
Doce.
-
Minha cabeça . . .
Antes fosse menos
-
Mas cede o barco
Cala a flauta
-
Enveredo por mares
Ancestrais.
-
Fosse mais,
Mergulhava
Transparente.
*
CRISTINA BASTOS
"Sonho"
Decerto o Deserto
*
II
Flexas antecipam
Meu precipício
-
Descubro imagens
Para driblar o suicídio
- Morte dos olhos vivos -
-
É preciso mais que lembranças
Para afastar a queda,
Mais que morte
Para afastar a lembrança
Dos olhos vivos.
-
Tudo é preciso;
A rede
E a vida que na rede se cochila.
-
Estar atento
É um instante de esquecimento,
De si.
*
CRISTINA BASTOS
"Deitada na Sombra"
Decerto o Deserto
*
III
O que em mim
Agora adormece,
A espera de um beijo
Um começo,
Não vou por descuido
Chamar de perda.
-
Deixo a noite
Reclamar seu passado.
-
As árvores que habitam
Meu peito sem fronteiras
Assustam
- São bruxas -
Qualquer demarcação.
*
CRISTINA BASTOS
"Fronteira"
Decerto o Deserto
*
IV
No frio
Tatuei meu corpo
-
- Ave em vôo -
-
Quando me despi
O Sol era bola de fogo,
-
No inverno
Gravei um recado
Para o verão.
*
CRISTINA BASTOS
"XXIII"
Viagem dos Versos
Decerto o Deserto
LÚCIA FLEURY
Nasceu no Brasil
Poetisa, escultora . . .
*
CANTOePALAVRAS
Passoespaço, 1984; Gritos e Murmúrios, 1987 . . .
*
I
A noite traz-me o sonho
Que o dia antecipado desenhara.
Sopro vida em teu rosto
e me embalo em teus braços,
Qual folha leve
Que o rio colhe.
-
À noite sou pastora de estrelas
E vôo contigo
Em meu cavalo de asas.
-
Atrás do tempo agora imóvel,
Além desse momento único,
Escuto os pássaros da madrugada,
E entre carícias
Nos tingimos de aurora
E resplandecemos,
Como deuses amorosos.
*
LÚCIA FLEURY
"O Sonho"
Passoespaço
*
II
Tuas palavras
Foram chuva mansa
Regando minha aridez interior
Depois se tornaram temporal,
E com violência
Arrastaram folhas mortas,
Frutos verdes,
E num crescendo me inundaram.
Quase me afoguei.
-
Acalmada a tempestade,
Ainda chovia.
Tu sabias toda a profundidade
Da secura.
Era preciso regar
Raízes hibernadas.
Ainda chovia.
-
E um fecundo mundo renasceu,
Pela água de batismo da linguagem.
Foste semeador em campo de poesia.
Experimenta o trigo que lançaste.
Sou eu agora quem vem alimentar-te!
*
LÚCIA FLEURY
"Tuas Palavras"
Passoespaço
*
III
Queria pintar o amor.
Usei vermelhos.
Todos quentes, rubros, palpitantes.
Depois, apaziguados verdes,
Claros verdes de hervas
E campos perfumados.
E muito azul, oh muito . . .
Num lago de paz que sobreveio.
Grandes, maternais montanhas azuladas
Floriam refletindo céus
Com traços de lilás rosados,
Sensualmente doces,
Tomei ainda o amarelo
E com dedos de Sol
Pintei a iluminação da vida.
Foi tão intensa a luz do amor
Que precisei atenuá-la
Com a sabedoria do laranja,
Forte, mas contido.
Mas este vibrava tanto ainda
E num adensar-se
Cada vez mais forte,
Ó Deus,
Volto aos vermelhos,
Entregue e loucamente . . .
*
LÚCIA FLEURY
"A Cor do Amor"
NOEMIA CEZAR
Noemia Cezar da Silva
Nasceu a 20 de maio de 1933, signo de touro.
Possivelmente no Rio De Janeiro, Brasil.
Poetisa , médica . . .
Participou do "I Festival Brasileiro de Literatura"
em Teresópolis, Brasil, 1962. . . .
Faleceu em 06 de outubro de 1963.
*
CANTOePOESIA
Variantes . . . a Distância, 1963
*
I
Para tudo há solução,
há outra parte.
Em tudo a gente encontra outro perdido.
Não é possível a morte sem a vida,
não é possível estrelas sem o céu,
e a luz, só é bem luz na escuridão!
Adeus se prova na separação!
Pelo real procuramos o sonho,
se aqui é alegre, ali é tristonho!
Só não distingo a fantasia
Que possa mascarar a nostalgia!
Só meus poemas fazem-se em metades,
em avessos enormes de saudades!
Porque falta outra parte nos meus versos,
falta sentir você mais perto,
falta você, amor, a solução
para trazer, enfim, ao meu deserto
um perfume para a solidão!
*
NOEMIA CEZAR
"Um Perfume para a Solidão"
Variantes . . . a Distância
*
II
Um dia eu sonhei com a vida.
Tão linda, tão cheia de mistérios doces!
Gostei da vida.
Sonhei, então , por muitas vezes;
mas fui sentindo que ela se transformava
ao tempo que eu a embalava de anseios
e aprendi a querer!
Ao tempo que as horas passavam.
E fui sonhando sempre que vivia!
E fui pensando que tudo sabia,
até que nunca mais pude sonhar!
Foi quando a vida seguiu, de mansinho,
a fazer curvas longe de caminho
que me cabia então só caminhar.
-
Eis que cormi para outros mistérios,
para outras cascatas ouvir!
Hoje, porém todo esse desencanto,
de olhos abertos, dá-me pesadelo,
faz-me sorrir, assim, dentro do pranto
que vai caindo nalma, como gelo
nas geleiras desertas e tristes.
Naquele dia de primeiro sonho,
quando eu sonhei com a vida já perdida,
eu dormitava, sem saber, ingênua,
para a conquista plena desta sorte:
a solidão tão fria do presente,
que vai cercando, assim, todo o ambiente,
acomodando rimas e ilusões
para o sonho final que guarda a morte!
*
NOEMIA CEZAR
"Último Sonho"
Variantes . . . a Distância
*
III
Como tôdas as fontes do mundo,
uma fonte cantou uma promessa
na moeda que não foi ao fundo.
A pergunta era essa :
Seria eu tua um dia?
Amar-me-ias um pouquinho?
E eu sorri ante a vontade
de cerer no que a fonte dizia,
ao me pôr no teu caminho.
Acreditei, afinal!
Acreditei e esperei . . .
Esperei tanto,
que os dias foram passando,
tristezas insinuando!
E o amor virou saudade,
saudade do que não veio!
Por isso, as gotas do pranto,
sem divisar horizonte,
cantam a solidão chegando!
Cantam . . . como a promessa
cantada naquela fonte!
*
NOEMIA CEZAR
"A Promessa da Fonte"
Variantes . . . a Distância
*
IV
Não há ternura que caiba em poema,
que venha nascido à luz da rasão,
podendo falar da doçura do tema
que fica melhor em qualquer oração.
-
Por isso, minha mãe, sou pequenina,
mesmo crescida pela vida afora . . .
Tão bom naqueles tempos de menina! . . .
Dizia muito mais que digo agora!
-
Eu quero merecer a grande glória
de, como tu, também cantar vitória
nas tuas mesmas notas de ninar . . .
-
Porque o doce enlêvo do amor materno
já Deus imortaliza, e quer eterno! . . .
Seria triste vê-lo terminar!
*
NOEMIA CEZAR
"Mãe"
Variantes . . . a Distância

▬▬

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