sexta-feira, 15 de maio de 2009

133 - Murilo Mendes " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "




"Retrato Murilo Mendes" 
Portinari, pintor brasileiro












MURILO MENDES
Murilo Monteiro Mendes
Nasceu a 13 de maio de 1901, signo de touro,
em Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Lecionou na Europa em vários países, como
Espanha, Itália, Holanda, Bélgica e Portugal,
"Literatura Brasileira", por exemplo em Lisboa,1953 . . .
Faleceu a 14 de agosto de 1975.
Estilo Modernismo.
*
CANTOePALAVRAS
Poemas, 1930; História do Brasil, 1932;
Tempo e Eternidade, 1935; Os Quatro Elementos, 1935;
A Poesia em Pânico, 1938;
O Visionário, 1941; As Metamorfoses, 1944;
Mundo Enigma, 1945; Poesia Liberdade, 1947;
Contemplação de Ouro Preto, 1954;
Bumba-meu-Poeta, 1930; Tempo Espanhol, 1959;
A Idade do Serrote, 1968; Ipotesi (Poema italiano), 1977;
Convergência, 1970; O Discípulo de Emaús (prosa), 1944
Parábola, 1952. . .
*
I
Minhas idéias abstratas,
De tanto as tocar, tornaram-se concretas:
São rosas familiares
Que o tempo traz ao alcance da mão,
Rosas que assistem à inauguração de eras novas
no meu pensamento,
No pensamento do mundo em mim e nos outros;
De eras novas, mas ainda assim
Que o tempo conheceu, conhece e conhecerá.
Rosas! Rosas!
Quem me dera que houvesse
Rosas abstratas para mim.
**
MURILO MENDES
"Idéias Rosas"
*
II
Eu existo para assistir ao fim do mundo.
Não há outro espetáculo que me invoque.
Será uma festa prodigiosa, a única festa,
Ó meus amigos e comunicantes,
tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.
**
Eu preciso presto assistir ao fim do mundo
Para saber o que Deus quer comigo e com todos
E para saciar minha sede de teatro.
Preciso assistir ao julgamento universal,
Ouvir os coros imensos,
As lamentações e as queixas de todos,
Desde Adão até o último homem.
*
Eu existo para assistir ao fim do mundo,
eu existo para a visão beatífica.
*
MURILO MENDES
"Fim"
As Metamorfoses
*
III
Levanto-me da carruagem de paixões e plumas
Aparentemente guiada pelas irmãs Bronte.
-
Deu uma tristeza agora nos telhados . . .
-
As cigarras sublinham a tarde emparedada,
O trovão fechou o piano.
Surge antecipadamente o arco-íris,
Aliança temporária de Deus com o homem,
Sem a solidez da eucaristia:
Surge sobre encarcerados, órfãos, marginais,
Sobre os tristes e os sem-solução.
-
Dos quatros cantos de mim mesmo
Irrompe um Dedo terribilíssimo que me acusa
Porque sem os olhar deixo de lado
Os restos agonizantes do mundo.
-
Transformou-se agora o céu.
Céu patinado, que escureza.
Céu sempre futuro e amargo,
Como são fundamentais
Estes sofrimentos de segundo plano!
-
Mais o que mesmo lembrar?
Ah sim ▬ esta arrastada caranguejola da vida . . .
*
MURILO MENDES
"Poema Pessoal"
Parábola
*
IV
Nasci no começo deste século:
Nasci no plano do eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal do bem.
Vim para amar e ser desamado.
Vim para ignorar os grandes e consolar os pequenos.
Não vim para construir minha própria riqueza
Nem para destruir a riqueza dos outros.
Vim para reprimir o choro formidável
Que as gerações anteriores me transmitiram.
Vim para experimentar dúvidas e contradições.
-
Vim para sofrer as influências do tempo
E para afirmar o princípio eterno de onde vim.
Vim para distribuir inspiração às musas.
Vim para anunciar que a voz dos homens
Abafará a voz da sirene e da máquina,
E que a palavra essencial de Jesus Cristo
Dominará as palavras do patrão e do operário.
Vim para conhecer Deus meu criador, pouco a pouco,
Pois se O visse de repente, sem preparo, morreria.
*
MURILO MENDES
"Vocação do Poeta"
Tempo e Eternidade
*
V
O choque de teus pensamentos furiosos
Com a inércia da boca e dos braços de outros.
O choque dos cerimoniais antigos
Com a velocidade dos aviões de bombardeio.
O choque da foice contra o cristal dos milionários.
O choque das roseiras emigrantes
Com o silêncio das linhas retas nas janelas.
-
A tempestade calcula um choque de distâncias
Com o lúcido farol e seus presságios.
Chocam-se as águia arredando a noite
Com o armário que, inalterável, rumina.
Um ouvido resistente poderia perceber
O choque do tempo contra o altar da eternidade.
Choca-se a enorme multidão sacrificada
Com o ditador sentado na metralhadora.
Choca-se a guilhotina erguida pelo erro dos séculos
Com a pomba mirando a liberdade do horizonte.
*
MURILO MENDES
"Choques"
Poesia Liberdade
*
VI
1
O pintor de olho vertical
Olha fixamente para o muro
Descobre pouco a pouco
Uma perna um braço um tronco
A cara de uma mulher
Uma floresta um peixe uma cidade
Um constelação um navio
-
Muro, nuvem do pintor
-
2
O muro é um álbum em pé
Política poesia
Desordem sonhos projetos
Anseios e desabafos
Um coração atravessado por uma flecha
"Gravo aqui neste muro
O amor de João Ventania por Madalena"
Datas de crimes. de encontros e de idílios
Viva o comunismo
-
3
Pedra úmida
Altar frio imagens ignóbeis
Flores de papel ímã de moscas
O lugar triste e árido
O contrário do arco-íris.
Baixará o Cristo aqui?
Ele baixou num estábulo
Baixou mesmo até em mim.
*
MURILO MENDES
"Muros"
Os Quatro Elementos
*
VII
Um buquê de nuvens:
-
O braço duma constelação
Surge entre as rendas do céu.
-
O espaço transforma-se a meu gosto,
É um navio, uma ópera, uma usina,
Ou então a remota Persépolis.
-
Admiro a ordem da anarquia eterna,
A nobreza dos elementos
E a Grande castidade da Poesia.
-
Dormir no mar! Dormir nas galeras antigas!
-
Sem o grito dos náufragos,
Sem os mortos pelos submarinos.
*
MURILO MENDES
"A Liberdade"
As Metamorfoses
*
VIII
Sentas-te à beira da noite
para fazer este poema,
este poema não é teu,
é da tinta e do papel.
Mas o que é teu, afinal?
Ideia de propriedade!
Nada é teu, nem de ninguém.
Teu passado não é teu,
nem sabes o que ele é.
Na neblina do passado
quase cego tu navegas,
mas um braço te pegou,
te agarra, não larga mais.
▬ Este braço não é teu. ▬
O presente não é teu,
presente já é passado,
tu falaste, voz sumiu,
ah! nem o eco ficou.
Mas o futuro? É de Deus,
e Deus não é ninguém.
Também não pôs ninguém.
tudo vês e tudo tocas,
tudo cheiras, tudo ouves,
nada fica nos teus olhos,
nada fica na tua mão,
no teu ouvido, nariz.
Levaste a noiva ao altar,
sei que a noiva não é tua,
sei que ela também não é
do noivo que a possuiu,
ela não é de ninguém;
nem é de ti que conheces
os encantos dessa noiva
muito melhor que seu noivo.
Coisa alguma te pertence,
também não és de ninguém,
viste o mundo do telhado,
cheiraste o mundo, viraste
o namorado do mundo,
namorado eternamente:
é melhor ficar assim,
casar dá muito trabalho
põe um número na gente,
põe um título na gente,
não se pode mais andar
desenvolto como dantes,
a gente tem que prender
toda atenção num objeto,
a gente fica pensando
que é dono dalguma coisa,
que possui móvel de carne . . .
Mas eu não sou de ninguém.
*
MURILO MENDES
"Canto da Pobreza"
O Visionário
*
IX
Pássaros noturnos:
Ao longe balançam o canto obscuro
Pois nas grutas profundas se encolheram
E nos maciços de árvores.
Pela noite seu canto oblíquo
Na soledade do silencio
Configura-os a bichos desconhecidos,
São provisoriamente outros bichos
Nascidos sem lei nem forma
Do inticado abismo e da folhagem.
Pássaros fantasmas,
Pássaros noturnos
Anunciadores de uma vida livre
Cujo segredo ao nosso ouvido escapa,
Uma vida de ignota relação.
*
MURILO MENDES
"Pássaros Noturnos"
Parábola 
*
X
Manhã da vida
Asas no céu translúcido
Jardins de nuvens
Movidos pelo som
Mozart aero-amigo!
Poeta sem véspera
Sem remorso
Nem sombra de crime
O mundo lavado
Se levanta com quatro anos cantando
Ó piano violino viola nuvem azul
Ó flauta e paz.
*
MURILO MENDES
"Mozart"
Os Quatro Elementos



▬▬
ERICO VERÍSSIMO
Nasceu em 07 de Dezembro de 17 de Fevereiro de 1905, signo de sagitário 
Cruz Alta, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil
Faleceu 28 de Novembro de 1975, Porto Alegre. Estado do R.G. do Sul, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
*
Primavera
Libélulas? Qual!
Flores de cerejeira
Ao vento de abril.
-
Verão
Moscardo verde,
Fruta madura no chão . . .
Ó mel da vida!
-
gota de orvalho
Na corola dum lírio;
Joia do tempo.
-
Outono
bosque de cobre,
Borboleta amarela,
Esquilo fulvo.

Inverno
Com cartas brancas,
O senhor cônsul solta
Pombos de papel.
*
ERICO VERÍSSIMO


▬▬
AFONSO FELIX
Afonso Felix de Sousa
Nasceu em 05 de Julho de 1925, signo de câncer. 
Jaraguá, Goiás, Brasil.
Poeta e tradutor . . .
Viveu no Rio de Janeiro
Homenagens e Prêmios
Premio "Olavo Bilac" (Departamento de Cultura do Estado) - 1957;
Premio "Alvares de Azevedo" (Academia Paulista de Letras) - 1960;
Troféu "Jaburu"(Conselho Estadual de Cultura de Goiás) 1990;
Premio "Nacional de Poesia" (Academia Brasileira de Letras) - 2001. . .  
Faleceu a 07 de Setembro de 2002
*
CANTOePALAVRAS
O Túnel, 1948; Do sonho e da esfinge, 1950; O amoroso e a terra, 1953;
Memorial do errante, 1956; Íntima parábola, 1960; 
Caminhos de Belém, 1962; Álbum do Rio, 1965;
Chão básico & amp; itinerário leste, 1978; As engrenagens do belo, 1981;
Quinquagésima hora; horas anteriores, 1987; À beira do teu corpo, 1990;Sonetos aos pés de Deus e outros poemas, 1996; Chamados e escolhidos, 2001; . . .
*
I
Porque nasceste obscuras raízes se espalharam 
traçando esses caminhos. Agora vais em frente.
Ainda que desejes parar debaixo de uma árvore,
comer de um fruto que não seja teu, deitar à sombra
que não caí do céu para todos, ou desviar-te
por caminhos que sonhaste e só por isso
julgas teus, irrevogáveis e mecânicos são os passos
que te vão levando, inerme, sobre a corda bamba
até a outra margem - de onde voltar não podes.
Voltar atrás não podes, é tarde, é sempre tarde,
que a cada momento a corda arrebenta atrás de ti
e arma-se de novo à tua frente para que de novo
a pises, vás em frente, chegues lá. Mas a que eira
ou beira? A que destino? Mãos invisíveis traçam 
o destino; e os fios com que o trançam, tramam,
são igualmente invisíveis. E vais. Por onde vais,
sejam ou não os caminhos  que sonhas teis e pisas,
em toda água sobre que te debruces, vês, encontras
a imagem de que foges e é a imagem que buscas.
*
AFONSO FELIX
¨Destino¨
*
II
Onde quer que estiveres
entregue ou fugitivo
verás o que não queres
na morte e no estar vivo.
-
Onde quer que banhares
a carne e os pensamentos
virão de outros lugares
banhar-te outros momentos.
-
Onde quer que dormires
será teu sono prece
que sobe em arco-íris
e sem que alcance desce.
*
AFONSO FELIX
"Embalo"
Do Sonho e da Esfinge
*
III
como o céu nos foi dado,
guardemo-lo malgrado
a alma ter muitos amos.
É nosso o encanto ilhado,
é nosso o que sonhamos.
*
AFONSO FELIX
"Oferta"
Memorial do Errante
*
III
Onde quer que estivers
entregue ou fugitivo
o que não queres
na morte e no estar vivo.
-
Onde quer que banhares
a carne e os pensamentos
virão de outros lugares
banhar-te outros momentos.
-
Onde quer que dormires
será teu sono prece
que sobe em arco íris
e sem que alcance desce.
*
AFONSO FELIX
"Embalo"
Do Sonho e da Esfinge
*
IV
Falazes alçapões... E o tempo segue em curvas.
E, enredando-se, o espaço é bem um vasto bosque.
Marcho a esperar, enquanto engulo tardes turvas,
que a serpente da morte em meu corpo se enrosque.
É belo o nadador! - Vai sobre as águas verdes,
e há de antever, bem longe, a praia do impossível.
Essas águas sem foz, se um dia as entenderdes 
muito elas vos dirão de seu ventre invisível.
É belo o nadador... E vai com dorso agudo
contra o mar avançando em braçadas de plumas,
É um mundo em vibrações... Pode em pouco, contudo,
sobre ele desmanchar-se um tumulo de espumas.
Tão belo, o nadador! - Se vence e alcança a praia,
põe-se a tragá-lo a areis antes que dela saia.
*
AFONSO FELIX
"Soneto XXXV"
Íntima Parábola
 ▬▬
DÉCIO PIGNATARI

Nasceu a 20 de agosto de 1927, signo de leão.

Cidade de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil.

Poeta, ensaísta, professor, tradutor.

Faculdade de Direito , na U.S.P., São Paulo, Brasil.

Participa da Exposição Nacional de Poesia Concreta

no "Museu de Arte Moderna", M.A.M., São Paulo, e

"Museu de Arte Contemporânea" M.A.C., São Paulo, Brasil,

com o Grupo "Noigandres". . .

Homenagens: Membro da Associação Internacional de

Semiótica, Paris, França, 1969 . . .

Estilo Concretista.
Faleceu em 20 de Dezembro de 2012, São Paulo, Brasil.

*

CANTOePALAVRAS

Rosto da Memória(conto), 1988; Panteros(romance), 1992;

Céu de Lona(teatro), 1992; Poesia Pois É Poesia, 1977;

Po&tc, 1986. . .

*
I
E pois que me arrancaste a ferro,
Eis-me na fronte a marca do artifício:
A minha dor chorando em duas bocas,
Uma do parto e outra do exercício.
-
Aborto e prematuro, eis-me na estufa adrede,
Sem ter uma terceira boca que segrede:
"Lógico é o poema no seu reino,
Sem cuidar de sê-lo". E neste treino,
-
Enquanto me contorço, pela vizinhança,
Uma criança dança sem cuidar da dança.
*
DÉCIO PIGNATARI
"Lamentação Rimada do Poema"
Po&tc
*
II
Tosco dizer de coisas fluidas,
Gume de rocha rasga o vento:
Semanas tantas de existir
E de viver - um só momento.
-
Prisma empanada da retina
Que acalanta mundos sem prumo,
A luz que o fere perde o rumo,
Aclara a linfa submarina:
-
Prédios mergulham ramos de cimento,
Neons fazem dos olhos coágulos de seixos,
E esquinas lanham flancos desse rio sem peixes
De que sou fonte e náufrago no intento.
*
DÉCIO PIGNATARI
"Poema"
Poesia Pois É Poesia
*
III
Astórus, o polvo, e a rúbida Ardentéia,
Incendiária de cristais às barbas do Senatus,
Celebram suas bordas na Angra de Rapion,
O velho golfo, manso eunuco de ventre em desalinho.
-
Os gritos vem à tona em bolhas d'água
E os frios peixes são punhais de picardia.
-
Nada pôde evitá-lo. Nem as virgens
Crivadas de gritos pela ausência de ópio ardente,
Nem as lúbricas lesmas no umbigo do Conselho:
Ao monstro Astórus, dos sete barcos naufragados,
Sacrificara a dádiva e o escarmento de sua carne.
-
Na hora do espasmo, entre cordões de espuma,
Rapion sublevou a enorme cauda
Ébrio de vinho e sangue, e rebolando-se
No leito de calcáreo, entremostrou ao céu
A face de Surínis, a loucura.
-
Sete pálpebras de prata tem a lua descerrado
De cansaço, quando rompendo a flácida epiderme
Das praias viciadas,
Rapion vomita
Na fossa de detritos, por quem somos,
Em concha carcomida, um seio de Ardentéia,
Que hoje é Poesia no país dos Filimomos.
*
DÉCIO PIGNATARI
"Lenda"
Poesia Pois É Poesia
▬▬
MÁRIO CHAMINE
Nasceu 01 de abril de 1933, signo de áries,
Caboji, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta...
doutorou-se em Direito, U.S.P., Faculdade do
Largo de São Francisco, São Paulo, 1956 . . .
Membro "Academia Paulista Letras".
Homenagens: Prêmio "Nacional de Poesia", 1955;
Prêmio "Jabuti", 1962. . .
Faleceu em 03 de Julho de 2011, São Paulo, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Espaço Inaugural, 1955; Os Rodízios, 1956;
Lavra, Lavra, 1962; Indústria, 1967;
Conquista de Terreno; Planoplenário, 1974;
Objeto Selvagem, 1977; A Quinta Parede, 1986;
Natureza da Coisa, 1933 . . .
*
I
O profundinho
das campinas rastejantes
não tinha ideia
das idéias fora do lugar.
Aqui ou acolá
o profundinho,
se distante,
perto estava
de onde não sabia estar.
Assim tirava do lugar
o que, depois e durante,
já não estava lá
-
O profundinho
das campinas rastejantes
ouviu o galo cantar
onde canta o sábia.
*
MÁRIO CHAMIE
"Idéias Fora do Lugar"
Natureza da Coisa
*
II
Aristarco antecedeu
Ptolomeu.
De Da Vinci
a De Cusa
fez-se a hipotenusa
de Siracusa
Copérnico
sem medo de ser réu
serviu Galilei, o Galileu,
mas o Sol tirânico
não se escondeu.
-
Agora, sob o arco
astronômico
dos desígnios,
a Terra,
cumpre o seu destino,
- Gira em torno
de um Rei sem réu
e cai no abismo
do próprio Céu.
*
MÁRIO CHAMIE
"Astronomia da Liberação"
Natureza da Coisa
▬▬

WALMIR  AYALA
Nasceu em 04 de janeiro de 1933, signo de capricórnio.
Porto Alegre, capital do Estado de Rio Grande do Sul, Brasil.
Poeta, Teatrólogo, romancista, jornalista( Revista " Cruzeiro"; jornais "Última Hora"; "Jornal do Brasil"; "Correio da Manhã"; "O Dia". . . .
Viajou por vários da Europa e América, frequentou as Bienais de Paris e Veneza, representando o Brasil.
Produtor e redator da Rádio M.E.C.
Estudou filosofia na P.U.C. do R.G.do Sul
Homenagens: Livro "Águas como Espadas" Prémio "Bienal Nestlé" de Literatura Brasileira, 1982.
Carnaval de 1987 samba enredo da Escola de Samba da Portela, extraido do livro "A Pomba da Paz"
*
CANTOePALAVRAS
Face Dispersa, 1955; Este sorrir, a morte, 1957; O Edifício e o Verbo, 1961;
À Beira do Corpo(romance), 1964; Chico Rei/ A Salamanca do Jarau(teatro), 1965; Cantata, 1966; Um Animal de Deus(romance), 1967 
 Poemas da Paixão, 1967;Natureza Viva, 1973; A Pedra Iluminada, 1976;Estado de Choque, 1980; Águas como Espadas, 1982; Arte Brasileira(ensaio), 1985;
Os Reinos e as Vestes, 1986;
A Selva Escura(romance), 1990; O Anoitecer de Vênus(conto), 1998; As Ostras estão Morrendo(romance), 2007 . . . . 
*
I
Os homens amargos passam com seus olhos não,
pousam as mãos suadas no prodígios do mundo
 e suportam as veias da mais tênue alegria.
-
Eles boiam azedos nos aquários aéreos
como seres duros e gelatinosos
recusando mesmo a paz do silêncio.
-
Eles murmuram recusas e dúvidas,
eles maculam de acres condimentos
a mornidão dos dias
e tiram  dessa passagem um gosto de terra e carvão.
-
Eles não creem nos doces frutos.
-
Eles não creem nos braços potenciais,
nos olhares que se cruzam carregados de circuito,
na fé irreversível dos que bebem a claridade
a goles vorazes
nem nas sombras de irreal casualidade
abrindo no caminho um oásis balsâmico.
-
Os homens amargos estão vivos por esquecimento,
como certas crisálidas ansiosas de sombra.
*
WALMIR AYALA
"Os Homens Amargos"
Águas como Espadas 

II
Dando prosseguimento à infeliz ideia
de comercialmente lançar o dia de cada coisa,
recusando aos outros dias iguais
o privilégio da, por vezes, ansiada homenagem,
comemoram o dia do meio ambiente.
-
Um dia para se pensar no erro dos outros dias,
e para se lamentar o que tantos(como nós) praticam
em desfavor da vida.
Um dia sério, patriótico, severo,
com revoadas de pombos
que no dia seguinte servirão de alvo para o esporte da caça ao pombo.
-
Um dia de se regar as flores,
os gramados, 
as árvores, 
que no dia seguinte serão degastados
em favor do progresso
(e o progresso só se está medindo na base do cimento e do aço). 
-
Um dia de se cantar hinos à natureza,
quando no dia seguinte se amontoarão paredes  e os parques serão
contaminados com novos investimentos imobiliários,
para maior riqueza dos consumidores de uísque escocês, nas suítes
de luxo.
Estamos sorvendo o veneno com legumes, porque o progresso manda
que química substitua o orgânico,
e os legumes têm que parecer robustos, como os bebes que tomam cortisona,
e coloridos como os rostos das mulheres cujo ruge oculta fatal anemia.
-
Estamos vendo morrer as baías - nossos filhos mergulham
em águas escuras como as das privadas.
As vitórias-régias, os tucanos, e a alma febril do Amazonas já se abatem
como a a dama das camélias no terceiro ato.
-
Na Bahia e no Rio Grande do Sul já não se come peixe
as águas contaminadas prometem aos homens um pesadelo hereditário.
Em Minas o abate das montanhas na exploração do mináerio
vai apagando o rastro dos bandeirantes e ameaça a Serra do Mar.
Tudo ao nosso redor é uma onda escura que já respiramos
e que já nos acostumamos a respirar como área provisória
de uma agredida.
-
Sobre nós, incólume e irreal,
paira a nuvem sem rosto do dia mundial do meio ambiente.
*
WALMIR AYALA
"O dia do meio ambiente"
"Estado de Choque"(1980)
*
III
Queimaremos os pássaros
com um só olhar
de pânico O voo
que inventamos não tange o mínimo das asas.
-
Passam pássaros alternados  como sonhos
no encadeamento da noite.
-
Jazemos
no fundo do poço, como pedras.
-
Só o nosso olhar atinge a plenitude 
do voo. Os pássaros 
inclinam os leves corpos 
varados.
*
WALMIR AYALA
"10"
Os reinos e as vestes"
*
IV
A mão que me abre à noite os roseirais do vinho
pastor correto e sabedor das chuvas
e antigas liturgias; mão que me abre
as urnas musicais, enquanto o vinho
transpassa com seu sangue o incorruptível
limite dos cristais, enquanto o vinho
cintila imóvel, férvido no entanto
por trás de seus anárquicos pulmões.
-
Conversamos. O outono azul dos molhos
nos molha os lábios - logo a primavera
dos legumes enxuga nossos olhos. A poesia
é esta a conversa que nos corre viva
e passa pelas pálpebras do vinho,
e logo é signo, complacência, paz,
intriga, renovada paciência,
com que fazemos sábio nosso engano.
-
A poesia é exatamente a rosa
fisgada pelas lâminas do vinho,
ou a pedra encardida no vinagre
dos vinhos corrompidos, a poesia
é estar-se frente ao coração gelado
de um vinho que nos banha e nos inflama.
-
As mãos pousam na liturgia
da toalha, e o vinho as crucifica
enquanto a noite 
passa pousada na estação das uvas.
*
WALMIR AYALA
"O Vinho"
Natureza Viva
*
V
Ah, vai chegar o dia
em que todos farão poesias;
abrir-vos, lumes da melancolia,
praias de adeus, sal de rancores,
há de chegar tempo de amores
em que transitará a alegria.
-
Esquecei-vos, poderosos, dos tronos!
Deixai o supérfluo, adoradores!
Há de chegar um tempo de escolha,
uma noite de lanterna e flores,
um dia de barcos e brancura
sobre campos e campos e campos.
-
Será o dia da poesia,
o dia das almas e dos corpos,
dos enlaçamentos sem culpa,
das prisões abertas e da vida,
o verdadeiro dia, e quais os olhos
presentes beberão a água sádia?
-
E então se há de indagar por outros tempos
de névoa escura, e de tremor - os lábios
sombreados de receio hão de calar.
Mas o anjo da poesia, extremo e vasto,
desdobrando estandartes para amar
há de logo verter vinho e imemória
no homem do despertar. Será no dia
em que todos farão poesia. 
*
WALMIR AYALA
"São os Poetas uns Predestinados?"
Questionário
▬▬

MOACIR AMÂNCIO
Nasceu em 1949, Pinhal, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta , jornalista, professor. . .
Doutorou-se em "Lingua Hebráica" , pela
Universidade de São Paulo, U.S.P., Brasil.
Participou em diversas revistas como "Shalom" e jornais. . .
Homenagens: Premio "Jabuti", 1993 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Figuras na Sala, 1996;
Samaritanas e outros Filhos de Israel, 1997;
Colores Siguientes, 1999; Contar a Romã, 2001;
Dois Palhaços e uma Alcachofra, 2001; O Óbvio, 2004 . . .
*

 "Orquideas"  Foto LuisD.
I
A cor
apaga os limites
da maçã no prato
acesa.
-
Quase explode
o tom
de allegro
que a mão não toca.
-
porém ergue
o espelho,
porcelana,
e o coloca
num navio
-
feito de azul
e amarelo.
-
Prato de som,
vai-se a nave.
Então retine
um sol,
todo moto
fixo.
*
MOACIR AMÂNCIO
"Coreografia"
Figuras na Sala
*
II
Como saber são círculos
se falta um terço, um gesto,
e a falta se põe fruta.
-
Vela queimada, ausência
florescendo na sala
escuro em expansão.
-
Lua minguante ao meio,
copo d'água em perfil,
azul, queda de pétala.
-
Vazio dentro do espaço
se recoloca o quê,
acento, circunflexo.
*
MOACIR AMÂNCIO
"Medida Circular"
Figuras na Sala

▬▬
AUGUSTO MASSI
Nasceu em 08 de Junho de 1959, São Paulo, Brasil.
Poeta, professor de "Literatura Brasileira"
Universidade de São Paulo (U.S.P.), Brasil. . .
Participa em várias revistas . . .
*
CANTOePALAVRAS
Negativo, 1991; A Vida Errada, 2001 . . .
*
I
O que jaz no cristal?
Nervos destruídos?
Jazidas do sentido?
-
Há um pouco de pedra
e um pouco de vidro.
Pensamento invisível
-
Enraizado no risco:
o cérebro da pedra,
as vísceras do vidro.
-
Lua sonhada pela álgebra
Metáfora do recolhimento
Olho dentro da pálpebra.
-
Regresso à reflexão:
a mente está madura
para metades dissolutas.
*
AUGUSTO MASSI
"Coincidentia Oppositorum"
Negativo
*
II
Exploro a carga da crueldade
e ternura que cada uma delas
carrega e concentra.
Pintura "D. Quixote" Portinari   Eis minhas ferramentas:
-
os diários de Kafka, *
os desenhos de Klee, *
a sagrada leica de Kertész *
os cahiers de Valéry *
-
a visada irônica de Svevo, *
as elipses de Eric *
as hipóteses de Murilo, *
revelações de Rossellini, *
-
a pôtencia de Picasso, *
minérios rancorosos de Drummond *
o Más allá de Jorge Guillén *
os territórios de Antonioni *
-
as lições da pedra cabralina
o no estar del todo de Cortázar *
as idéias de ordem de Stevens *
e o alicate da atenção.
*
( *Kafka- Franz Kafka, nasceu, Praga, 03/07/1883, Um dos
maiores escritores de ficção da língua alemã, século XX,
Obra famosa "Castelo", 1926, faleceu, 03/06/1924 . . .
*Klee- Paul Klee, nasceu Münchenbuchsee, Suiça, 18/12/1879,
Pintor alemão de origem suiça, (expressionismo, futurismo,
surrealismo, abstracionismo), faleceu 29/07/1940 . . .
*Kertész- Imre Kertész, nasceu em Budapeste, 09/11/1929,
escritor Húngaro, Premio Nobel de Literatura, 2002 . . .
*Valery- Paul Valery, nasceu em Sète, 30/10/1871, escritor
francês, poeta da escola modernista, faleceu 20/07/1945 . . .
*Svevo- Italo Svevo, nasceu em Trieste, 19/12/1861, escritor
italiano, obra famosa "A Consciência de Zero", faleceu 13/09/1978 . . .
*Eric(?)-Erich Hermann WilhelmVögelin, nasceu em Colónia,
03/01/1901, filósofo, historiador e cientista político, alemão,
faleceu, 19/01/1985 . . .
*Murilo- Murilo Mendes, nasceu Juiz de Fora, Brasil, 13/05/1901,
poeta brasileiro, "Poesia Liberdade", 1947, faleceu 13/08/1975 . . .
*Rossellini- Roberto Rossellini, nasceu Roma, 1906, cineasta
italiano, faleceu 03/06/1977 . . .
*Picasso- Pablo Picasso, nasceu em Málaga, 25/10/1881
Pintor, escultor e desenhista espanhol, faleceu 08/04/1973 . . .
*Drummond- Carlos Drummond de Andrade, nasceu
Itabira do Mato Dentro, Brasil,31/10/1902, poeta, escritor
Brasileiro. Faleceu 17/08/1987 . . .
*Jorge Guillén, nasceu Valladolid, 18/01/1893, poeta
e crítico espanhol, faleceu 06/02/1984 . . .
*Antonioni- Michelangelo Antonioni, nasceu Ferrara, 29/09/1912,
diretor cineasta italiano, faleceu 30/07/2007 . . .
*Cortázar- Júlio Florencio Cortázar, nasceu em Bruxelas,
embaixada Argentina, Bélgica, 26/08/1914, escritor
(romancista, contista, cronista) argentino,
Livro, um dos seus melhores, "Histórias de Cronópios e
de Famas", faleceu 12/02/1984 . . .
*Stevens- Wallace Stevens, nasceu 02/10/1879, seu primeiro
livro "Harmonium", 1923, poeta americano, faleceu 02/08/1955 . . .
. . . . . . . . . . . . . .
*
AUGUSTO MASSI
"Caixa de Ferramentas"
Negativo
▬▬
"Carlito Azevedo"
FLIP, 2015
Parati, Rio de Janeiro, Brasil.
Foto Rogeri B. Huss

CARLITO AZEVEDO
Nasceu em 04 de Julho de 1961,
Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, critico, editor...
Faculdade de Letras da U.F.R.J. (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Brasil.
Editor da Revista "Inimigo Rumos" (poesia)...
Prêmios  "Jabuti", 1992; "Portugal Telecom", 2010.
*
CANTOePALAVRAS
Colapsus linguae (Premio Jabuti), 1991; Versos de Circunstância, 2001;
Monodrama, 2009...

Sobre esta pele branca
um caligrafo oriental
teria gravado
sua escrita luminosa
- sem esquecer entanto
a boca: um ícone em rubro
tornando mais fogo
o céu de outubro
-
tornando mais água
a minha sede
sede de dilúvio -
-
Talvez este poeta afogado
nas ondas de algum danúbio imaginário
dissesse que seus olhos são
duas machadinhas de jade
escavando o constelário noturno
( a partir do que comporia
duzentas odes cromáticas)
-
mas eu que venero mais que o ouro-verde raríssimo
o marfim em alta-alvura
de teu andar em desmesura sobre
uma passarela de relâmpagos súbitos
sei que tua pele pálida de papel
pede palavras de luz
-
algum mozárabe ou andaluz decerto
te dedicaria um concerto
para guitarras mouriscas e
cimitarras suicidas
-
Mas eu te dedico quando passas
me fazendo fremir
-
(entre tantos circunstantes, raptores fugidios)
-
este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios. 
*
Carlito Azevedo
"A uma passante pós-baudelairiana"
▬▬
RODRIGO GARCIA LOPES
Nasceu a 02 de outubro de 1965, signo de libra.
Londrina, Estado do Paraná, Brasil.
Poeta, jornalista . . .
Jornalista, estudou na "Universidade Estadual" de Londrina, Brasil.
Mestre em Artes "Arizona State University". . .
*
CANTOePALAVRAS
Solarium, 1994 . . .
*
I
A tarde toda meditava sobre o problema da linguagem.
Que nem mesmo ela, com seus rios imensos e pausas
imprevisíveis
seria capaz de apontar os gestos abruptos e os documentos lunares
desta bárbara, bavára manhã. É seu repetir, em busca de eventos
que possam nos ligar a velhas línguas
ou o beijo humano e morno esquecido no tempo, aparições
de um passado que foi agora mesmo. Um pesadelo.
De volta para o futuro, o autor
imerso em seu oceano de profundos sentimentos, olhava,
indiferente, para os sentidos que submergiam depois de cada
corte: em transe. Era ali que a ideia da loucura
ficava mais evidente: nas manifestações de disparatados
eventos, todos convergindo para um
som, que escapa de nós, uma explosão atrás do negro
da impressão, o tóxico dissolvendo o antídoto de um pôr-do-sol
chinês,
ou o neon do restaurante suspenso
e refletido num clichê, água de chuva. Um ritual
se faz mais que necessário, cenas quentes, episódios resolvidos
logo
nos primeiros movimentos, numa brisa
de setembro, ou? Nenhuma sombra plausível ou instante
carregado
de cenários, polifonias, uma promessa de perda ou transe
durante o processo, um lance
que dura menos que se pense e que nos faz lembrar
da necessidade estúpida de se comunicar,
metáforas puras, ecos batendo num rochedo,
devolvidos por vales em forma de banalidades.
Nuvens se acumulam num canto da gravura, num
horizonte
de múltiplas e improváveis perspectivas, quedas
d'água, livros
que se esfumam como brumas e retornam, eternas.
Explosões. Ondas. A ausência do espelho faz história
previsível
mas ainda assim não é dança,
apenas águas penduradas em meus lábios, musa,
querendo mais.
*
RODRIGO GARCIA LOPES
"Filósofo"
Solarium
*
II
Do nada, às vezes,
De lugar nenhum
-
Surgem luzes invisíveis
A olho nu.
-
Escuro, ou vozes
Que me chamam
-
Espelhos se partem - Um enxame
De vagalumes.
-
Nenhum vestígio
De que estivessem aqui.
-
O olhar uma lâmpada
Apagada
-
Uma lua cujo rastro
Acende a lesma que a devora.
-
Em chamas, inchada,
Ela agora derrama
-
Seu sangue
Sobre estilhaços brilhantes.
-
De um outro céu.
Sorrisos, estranhas iscas do além.
-
Irreconhecíveis.
*
RODRIGO GARCIA LOPES
"De Olhos Fechados"
Solarium
*
III
a solidão sempre aparece com beijos e bombons
a solidão faz visitas regulares a seus amigos íntimos
a solidão procura inverno em pleno verão
a solidão brinca no mar com seus dedos de açúcar
a solidão vive sorrindo pra desconhecidos
a solidão ainda se emociona com filmes antigos na televisão
a solidão tem olhos escuros, a solidão tem olhos azuis
a solidão tem cerca branca com rosas e uma bicicleta
a solidão imagina gueixas cujos olhos são borboletas de vidro
a solidão é uma loucura e arrebata concursos de beleza
a solidão bebe em meu corpo seu próprio desespero
a solidão adora esconde-esconde e amarelinha
a solidão coleciona diários e discos do coltrane
a solidão usa pijamas de bolinhas e óculos quebrados
a solidão depois do sexo ainda se sente sozinha
a solidão e eu somos apenas bons amigos
a solidão corta meus pulsos com gilete de sal
depois sai chapada pelas ruas
com uma folha de alface na lapela.
*
RODRIGO GARCIA LOPES
"A Solidão"
Solarium

▬▬


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