segunda-feira, 18 de maio de 2009

130 - Teofilo Braga " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

"Meu Jardim" Foto  LuisD.



*****************THEOPHILO BRAGA
Joaquim Theophilo Fernandes
Braga
Nasceu em 24 de fevereiro 1843, signo de peixes.
Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores.
Escritor, poeta, professor e principalmente politíco . . .
Descendente da nobreza
portuguesa, doutorou-se
na Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra,
Portugal.
Um dos fundadores do Partido Republicano.
Segundo presidente de Portugal.
Participou e organizou as festividades do
3°. Centário da morte de Luis de Camões . . .
Fundador da Revista "O Positivismo".
Sua obra literárica alcançou mais ou menos 350 publicações . . .
Criticado por muitos, como, Antero de Quental, Camilo Castelo
Branco, Silvio Romero e outros mais . . .
Faleceu 28 de janeiro de 1924.
*
CANTOePALAVRAS
Visão dos Tempos, 1864; Tempestades Sonoras, 1864; Torrentes, 1869;
Contos Fantásticos(ficção), 1865; História da Poesia Popular
Portuguesa, 1867; Romanceiro Geral, 1867 a 1869;
História do Direito Português - Os Forais, 1868;
Cantos Populares do Arquipélago Açoriano, 1869;
História da Literatura Portuguesa, 1870;
Traços Gerais da Filosofia Positiva, 1877;
Bocage, sua Vida e Época, 1877;
Parnaso Português Moderno, 1877;
História Universal, 1879 a 1882;
Sistema de Sociologia, 1884;
O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 1885;
Camões e o Sentimento Nacional, 1891;
História da Universidade de Coimbra(4 volumes), 1892 a 1902;
Pátria Portuguesa, 1894;
Viriato, 1904 . . .
*
(Mais . . . "O CANTO . . . do encanto das . . . PALAVRAS" pág. 189).
*
I
. . . O sentimento e a rasão procuram elevar-se gradualmente à unidade,
diante da penosa impressão. O homem morre, mas o Sol prosegue no
espaço alumiando infinitamente a immensidade; o Sol é pois a
fonte da vida, e foi pela astrolatria que o homem julgou attingir
a unidade moral. Quem podesse roubar uma faica e esse fogo
sagrado que se não apaga! Quando Prometheu accendeu o lume pela
primeira vez na terra, o homem adquiriu alguma cousa da
força dos Deuses. Mas a vida immortal? A anciedade precisa ser
satisfeira, e sobre a aspiração incessante estabeleceu-se a
theocracia como classe especulativa. Os Povos adoraram o Sol
como fonte de vida, como o Deus unico da riqueza e da felicidade.
O Sol ergue-se eternamente do Oriente; é lá que existe o manancial
de todos esses bens. Para lá emigram os Bactrios e os Hindus,
procurando o refugio e a existencia immortal. Foi, obedecendo a
esse impulso instinctivo, que muitos outros povos procuraram o
Oriente, como conta a lenda dos Argonautas; lá, collocaram os
normandos o Campo do Immortal; lá, sonharam os Anglo-Saxões
o Prado do Filho de Deus; os crentes do Islam a Fonte da Vida
e o Propheta Verdejante; os Cavalleiros errantes da Edade-média
da Europa o vaso sagrado do Santo Graal, transformação dos
sonhos do Millenium, e por ultimo os Portuguezes, através do
Mar Tenebroso, dobraram o Cabo da Boa-Esperança confiados
em chegar ao berço do Sol. . .
*
TEÓFILO BRAGA
"Proemio"(fragmento)
Visão dos Tempos
*
II
Contra o diluvio dos enormes rios,
Que se alastram com o impeto de oceanos,
Contra incursões de indomitos Tyrannos,
Que o sangue espalham impassiveis, frios
Babylonia, opulenta e assaltada,
Erguera fortes e invenciveis muros
Da Ásia deserta nas soidões tamanhas.
Alicerces seguros
Se excavam pelo esforço de estrangeiros;
E a grandiosa muralha alevantada
Desafia os imperios altaneiros,
No seio unindo as raças mais extranhas!
-
Assim a Humanidade, contra o assalto
Das forças da tremenda natureza,
E dos dogmas sensuaes na morbideza
Edificou bem alto
Cidadella onde a especie fraternisa.
Unindo o mais remoto parentesco,
Um Poema gigantesco;
Mythos da lucta, aonde idealisa
As leis do Cosmo, que lhe fôra adverso,
Emquanto ella era um Sêr passivo, inerte,
Até que em poder novo se converte,
Factor consciente da ordem do universo.
-
Cada raça, na migração constante
Da terra, é como aquelles peregrinos
Que ao passarem com santos desatinos,
Lidavam noite e dia
Na construcção da Cathedral gigante!
D'esta fórma se erguêra
Em Strasburgo a excelsa maravilha!
Cada raça passando de éra em éra
Foi construindo aquella eterna Lyra
Onde absorta dedilha,
Onde gemendo, a si mesmo inspira
A par da actividade
Pensamento de solidariedade.
-
E essa Lyra, afinada ao movimento
Dos planetas que observa nos espaços,
Foi construida como que aos pedaços,
Sem odio, nem alarde;
Ora, os muros cyclopios! mais tarde
De Ellora lavra o infindo pavimento;
As alas das Sphinges alevanta,
E n'essa actividade
À funeral Pyramide que espanta
Do Parthénon lhe liga a magestade,
Do Capitolio a inclyta imponencia!
E nos blocos graniticos escreve
O nome das Nações, a quem se atreve
A subjugar á bruta violencia.
-
E n'um preludio de suave rogo
A Lyra modulou, serena e pura
De antigos Vedas os sagrados Hymnos,
E os altos Mysterios Eleusinos
Que vem da Agricultura;
Da crenta Saga o ecco do passado!
Cantou a lenda magica do Fogo
Que Prometheu achou piedoso e ousado.
Fez cada raça a estrophe do Poema
Onde a Justiça vem impôr-se aos odios
Que os combates criaram!
As Civilizações são episodios
Que definem o lemma
Da Epopêa que os seculos dictaram.
*
THEOPHILO BRAGA
"Côro dos Sabios"
Visão dos Tempos
*
III
Como se vê cahir da arvore as sementes
E se alastram no val, dos montes nas arestas,
Que o vento arroja ao longe em espessas florestas,
Vão as Raças enchendo os vastos continentes.
-
Os Povos separou a voz da Divindade!
Vagando cada um pela amplidão deserta,
foi - na lucta da vida - á grande descoberta
Que um dia as hade unir perante a Humanidade.
-
Dos Aryas desprendeu os mais virentes ramos,
Rivaes, como entre si o Deus Ahura e Devas;
Vão rompendo através das brumas e das trevas,
Até reconquistar a luz de que gosamos.
-
Tal como a primavera espalha o enxame novo
Que vae buscando o mel pela campina agreste,
Pelo curso do Sol avança leste a oéste,
Seguindo para a luz o progressivo Povo.
-
Segue o curso do Sol! e coleando os montes,
Ao longe a desfilar pelos esconsos valles,
Passa as ribas do mar, e contra incertos males
Acha em si mais valor, busca ideas horisontes.
-
O Arya n'essa marcha em que entra no Occidente
Traz o culto do lar, traz a monogamia,
A Tradição de d'onde emana alta Poesia,
Do genesis da Sciencia encontrou a nascente.
-
E como em cada ramo a floração se espande,
O Povo que do berço oriental se esquece,
Comprehendendo o mundo - a si mesmo conhece;
Fructifica a invenção n'aquella raça grande.
-
Assim dos Aryas bróta essa força espontanea
Que da extensão da terra a posse ousada toma!
Brilhante surge a Grecia, altiva se ergue Roma,
A Hisperia, a Bretanha, as Gallias, a Germania.
-
O que é que a Grecia traz? O sentimento da Arte,
Pela emoção do Bello o accordo da vontade;
Á expressão ideal, que vence em toda a parte,
Liga a Sciencia, em que funda a unanimidade.
-
E Roma? Roma traz a noção da Justiça,
Com que sonsegue unir as inimigas raças!
Da Lyra que era a Lei afina as cordas lassas,
Á civica virtude as palmas dá na liça.
-
Que vem trazer o Celta? Amor e esperança,
A suave ilusão da immortalidade,
Que inspira para a vida e morte uma alliança
No conflicto vital - fraterna heroicidade.
-
O que traz o Germano? Irrompe em violencia
No impulso de audaz, fero individualismo;
Derruba a Auctoridade, e n'esse cataclysmo
comsigo os germes traz da nova independencia.
-
Cada povo vibrou o grito de anciedade,
Esse grito de Ajax, dos Deuses contra a Ira!
A Tradição longéva á Historia o transmittira,
No ecco hoje se sente a voz da Humanidade.
-
Quem é que hade afinar da Lyra as quatro cordas,
Que Povo hade fazer a synthese suprema
D'estas elevações, da Consciencia o poema?
D'este oceano de amor quem tocará as bordas?
*
THEOPHILO BRAGA
"Migração das Raças"
Visão dos Tempos
*
IV
Quando desbasta o artista
Pesado bloco informe,
Saltando as lascas d'essa mole enorme,
Logo sua alma avista
o typo ideal, occulto
que do bronco volume
Lhe destaca os contornos de algum nume,
De um heroe protentoso a estatua, o vulto;
-
Tal , d'entre a espessa massa
De cada geração, de tribo e raça,
Da pátria e da Cidade,
Quando sôpro da Morte entre ellas passa,
E as prostra sem piedade,
Esse vulto sublime,
Que immortal se redime,
Resurge, o Grande-Sêr - a Humanidade.
*
THEOPHILO BRAGA
"Paz e Verdade"
Visão dos Tempos

▬▬

Nenhum comentário: