terça-feira, 19 de maio de 2009

128 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


AGOSTINHO NETO
Nasceu a 17 de setembro de 1922, signo virgem,
num pequeno povoado, chamado Kaxicane,
Província de Bengo, Angola, África. Poeta, estudou Medicina,
na Universidade de Lisboa, doutorou-se em 1975.
O pai era pastor e professor da "Igreja Metodista"
Fundou o "CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS"(C.E.A.)
em Lisboa, Portugal, 1950; em 1957 "Amnistia
Internacional", elege-o "Prisioneiro Político do Ano".
Premio "Lotus", dado pela "Conferência dos Escritores
Afro-Asiáticos", 1970.
A 11 de novembro de 1975, Primeiro Presidente
da Républica Popular de Angola. . .
Homenagens:
Premio"Lênin de Paz, 1976; Mausoléu em Luanda, Angola,
Onde seu corpo jaz, "Agostinho Neto".
Seu corpo, faleceu, em 19 setembro de 1979, Moscou, Rússia.
-
CANTOePALAVRAS
Sagrada Esperança. . .
*
I
Seguindo
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
sobre a onda sobre a nuvem
com as asas primaverais da amizade
-
Simples nota musical
indispensável átomo da harmonia
partícula
germe
cor
na combinação múltipla do humano
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Preciso e inevitável
como o inevitável passado escravo
através das consciências
como o presente
-
Não abstrato
incolor
entre ideias sem cor
Sem ritmo
entre as arritmias do irreal
inodoro
entre as selvas desaromatizadas
de troncos aem raiz.
-
Mas concreto
vestido de verde
do cheiro novo das florestas depois da chuva.
-
da selva do raio do trovão
as mãos amparando a germinação do riso
sobre os campos de esperança.
-
A liberdade nos olhos
o som nos ouvidos,
das mãos ávidas sobre a pele do tambor
num acelerado e claro ritmo
de Zaires Calaáris montanhas luz
Vermelha de fogueiras infinitas nos capinzais violentados
harmonia espiritual de vozes tam-tam
num ritmo claro de África.
-
Assim
o caminho das estrelas
Pela curva ágil do pescoço da gazela
para a harmonia do mundo.
-
AGOSTINHO NETO
"O Caminho das Estrelas"
-

II
Criar criar
criar no espírito no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos.
-
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos tronco serrados
criar
criar com os olhos secos.
-
Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos.
-
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos.
-
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas.
-
Criar
criar amor com os olhos secos.
-
AGOSTINHO NETO
"Criar"
(Mais poesias "O CANTO. . . do Encanto das. . . PALAVRAS"n. 188).

▬▬
EUGÉNIA NETO
Maria Eugénia Neto
Nasceu em 03 de agosto de 1934, signo leão.
em Montealegre, Província de Trás-os-Montes, Portugal. 
Poetisa, esposa de Agostinho Neto, 1958. Viveu em Angola.
*
CANTOePALAVRAS
E nas Florestas os bichos falam(conto), 1977;
Foi Esperança e foi Certeza, 1976; O Som dos Kissanges, 2000...
*
Ser meu amor centelha no infinito
Raio de luz, trovão, ser sempre luz
Ser sempre aquela que para ti conduz
Vitórias de Maio inda no teu grito.
-
Ser aquela que te ama amou e canta
Ser aquela que em ti buscou e busca
Nas estradas de sonho que o mundo ofusca
Sublime amor que os homens alevanta.
-
Ser cisne, gazela, em enlaces de hera
Na cor na terra e até na própria fera
Em ligação perene e de saudades.
-
Ah! estas flores que ora te oferto
De um pesadelo com que me desperto
E que recuso ao longo das idades.
*
EUGÉNIA NETO
" Ser, Meu Amor . . ."
▬▬
JOSÉ LUANDINO VIEIRA
José Vieira Mateus da Graça
Nasceu 1935, Portugal.
Poeta, desde criança morou em Angola, esteve preso,
onde escreveu a maioria de sua obra . . .
*
CANTOePALAVRAS
Nosso Musseke; Nós, os do Makulusu; A Vida Verdadeira
de Domingos Xavier; Luuanda; A Cidade e a Infância . . .
*
Aiué, Quinzinho, aiué.
Vais a enterrar, Quinzinho, vais quieto como nunca foste.
Despedaçado pela máquina, Quinzinho, pela máquina
que tu amavas, que tu tratavas com amor, desenhando
as curvas sensuais das rodas, o alongado harmonioso
das correias sem-fim.
A máquina, Quinzinho, a máquina que te cantava aos
ouvidos a canção do trabalho sempre igual de todas as
semanas e que tu sonhavas libertar por réguas, compassos.
um poema negro sobre papel branco num estirador.
Aiué, Quinzinho, aiué.
Operário não pode sonhar, Quinzinho, não pode. A vida
não é para sonhos. Tudo realidade vivas, cruéis. A
luta com a vida.
Mas tu não eras operário, Quinzinho, tu eras um poeta.
E os poetas não devem ser amarrados às máquinas.
Agora vais quieto, mais branco, no teu caixão pobre.
Os teus amigos vão atrás, tristes, porque tu eras a alegria
deles.
A tua mãe já não chora, Quinzinho, não chora porque
é forte. Já viu morrer outros filhos. Nenhum morreu como tu.
Despedaçado pela máquina que te escravizava e que
tu amavas.
Eu também aqui no meio dos teus amigos. Mas não triste.
Não. Porque uma morte como a tua constrói liberdades
futuras. E haverá outros a quem as máquinas não
despedaçarão, pois as máquinas serão escravas deles,
que as hão-de idealizar, construir.
E os poetas como tu hão-de cantá-las porque elas serão
um instrumento de libertação. Cantá-las no papel
branco a tinta negra ainda antes de elas nascerem.
Por isso não vou triste, não. Não vou talvez o teu único
amigo branco, mas os outros não tiveram coragem de te
vir acompanhar. E são para ti estas rosas vermelhas que
trago. São a paga da tua estima por mim, a tua amizade
que eu sentia quando tu e eu nos encontrávamos, à beira-mar,
ou quando naqueles dias à noite atravessávamos os dois a
baía das águas sem fim. A nossa baía de Luanda.
Por isso aqui levo as rosas vermelhas para ti. São a minha
primeira homenagem àquele poema que tu escreveste com
a tua vida e a tua morte.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
JOSÉ LUANDINO VIEIRA
"Quinzinho"(fragmento)
A Cidade e a Infância
Alinhar ao centro

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