sábado, 23 de maio de 2009

121 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


NATÁLIA CORREIA
*
Natália de Oliveira Correia
Nasceu 13 de setembro de 1923, signo de virgem,
Fajã, Ilha de São Miguel, Açores, África. . .
Poetiza...
Faleceu 16 de março 1993.
*
CANTOePALAVRAS
Grandes Aventuras de um pequeno Herói, 1945;
Rio de Nuvens, 1947; Poemas, 1955;
Dimensão Encontrada, 1957; Passaporte, 1958;
Cântico do País Emerso, 1961; Mátria, 1967;
O Vinho e a Líra, 1969; As Maçãs de Orestes, 1970;
A Mosca Iluminada, 1972; Epistola aos Lamitas, 1976;
O Dilúvio e a Pomba, 1979; Sonetos Românticos, 1990 e 1991 . . .

"Vestes do folclore Açoriano
*
O poema não é o canto.
que do orino, para a rosa cresce.
O poema é o grilo,
é a rosa
e é aquilo que cresce.
-
É o pensamento que exclui
uma determinação
na fonte donde ele flui
e naquilo que descreve.
O poema é o que no homem
para lá do homem se atreve.
-
Os acontecimentos são pedras
e a poesia transcendê-las
na já longínqua noção
de descrevê-las.
-
E essa própria nação é só
uma saudade que se desvanece
na poesia. Pura intenção
de cantar o que não conhece.
*
NATÁLIA CORREIA
"Poema"
Poemas

 "Meu Jardim" Foto LuisD.
OLGA GONÇALVES
Nasceu 1929, Luanda, Angola, África.
Poetisa, professora e tradutora de Inglês . . .
Homenagens: Premio "Ricardo Malheiros", Academia das Ciências
de Lisboa, Portugal.
Faleceu 2004.
*
CANTOePALAVRAS
Movimento, 1972; 25 Composições e 11 Provas de Artista 1973;
Mandei-lhe uma Boca, 1973; Só de Amor, 1975;
A Floresta em Bremerbaven, 1975;
O Emigrante Là-Bas, 1978; Ora Esguardai, 1982;

Otolilisobi (ficção), 1983; Rudolfo,1985; Sara, 1986;
Armandina e Luciano o traficante de Canários, 1988;
Eis a História, 1993 . . .

*
I
Canta um mocho na floresta
à hora em que lábios descerrados
tornaram o silêncio repartido
-
Mais negros os luzeiros amarelos
apontam a flor que arrancaremos
neste palmo de chão.
*
OLGA GONÇALVES
"Canta um mocho na Floresta"
Movimento
*
II
Nós estaremos lá onde o silêncio fecha
os olhos moribundos nós estaremos
lá à porta do silêncio.
-
O Sol desmanchará o corpo das sombras
as pedras serão relógios os lugares voltarão
a ser grandes lugares.
-
E as lágrimas sem tempo e as lágrimas
traçadas perderão formas definitivas
-
nós estaremos lá.
*
OLGA GONÇALVES
"Nós estaremos lá"
*
"Folha I" Foto LuisD.

III
O que importa
é que se tenham entendido as palavras
de todos os ângulos
-
O que importa
é que se tenha vivido
o ângulo de todas as palavras
-
O que importa é que as palavras
fossem
-
O que importa
é que os ângulos não
encobrissem a forma desperta das palavras.
*
OLGA GONÇALVES
"O Que Importa"
Movimento

WALKYRIA NEVES GOULART
Nasceu em 1897, Rio Grande, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil
Poetiza...
Faleceu em 1980, Pelotas, R.G. do Sul, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
...................................

Esses olhos de sonho, que eu diviso
mais lindos na penumbra do aposento
e que fitam graves um momento
para depois volverem num sorriso;
-
esses olhos de sonho, em vão pesquiso
que é do seu olhar o vago intento,
quando me falam nesse brando acento,
misto de sombra e luz, meio indeciso.
-
Olhos profundos, que mistério forte
mais sagrado e temível do que a morte
se irradia de vós em mil reflexos,
-
e em concêntricas ondas aumentando,
crescendo sempre, vem-se propagando
até fechar-me em círculos de amplexos?
*
Walkyria Neves Goulart
"Olhos Profundos"
ALZIRA FREITAS TACQUES
Nasceu em 1913, São Borja, Estado do Rio Grande do Sul
Brasil.
Poetiza...
Faleceu em 1976, Porto Alegre, Estado do Rio G. do Sul, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
........................................

Verdes como os tigres, verdes-mares,
são teus olhos de brilho esmeraldino,
que no Saara sem luz do meu destino
entretecem oásis de luares.
-
Glaucos olhos que evoco em meus cismares,
sempre baixos, olhando o chão mesquinho,
tendes volúpias cálidas de vinho,
atrações de sereia à flor dos mares.
-
Olhos suaves, cor das algas frias,
dessa mesma quietude de onda mansa,
cegos de um todo a alheias agonias...
-
Olhos-jade, em milagre sem refolhos
ornamentei, com as palmas da esperança,
a clausura-azeviche dos meus olhos.
*
Alzira Freitas Tacques
"Teus Olhos"
▬ 
MARIA DE LOURDES COIMBRA
Maria de Lourdes Mendes de Almeida Coimbra
Nasceu em 1930, Petrópolis, Brasil.
Poetiza, formou-se em Filosofia, na P.U.C. do Rio de Janeiro,
Brasil. Critica em Arte, cronista, ficcionista, poeta . . .
Participou em revistas e jornais . . .
*
CANTOePALAVRAS
Os Cinco Sentidos, 1973;
Fachadas, 1994; Tremor de Mão, 1982;
Fachadas, 1994; Vai e Vem Vem e Vai, 2004 . . .




"Meu Jardim" Foto LuisD.

Penso que venho de-longe, explicou ela numa voz aflita.
Mas, não sei.
De-repente percebeu que estava falando sozinha,
em tons mentirosos. Fez um esforço para se lembrar.
Voltava a mesma frase, parecendo encerrar alguma
coisa vital.
O homem, ao lado, passou-lhe os olhos, com incredulidade.
De-longe? Mas, de onde? Ela ficou perplexa. Não sabendo o
que responder, foi-se afastando. O homem ainda fez um movimento
rápido, como se fosse segui-la. Então ela correu, correu em
direção ao parque.
Jogou-se sobre o primeiro banco. Procurou moldar seus
sentimentos às linhas disciplinadas da paisagem
- mas, seu ritmo escapava-lhe.
Crianças brincavam à sombra das bábas, enormes e
enfunadas, movendo-se lentamente como navios. Às
Vezes uma delas confabulava com outra, em seu
pequeno mundo superior.
Ela quedou-se fascinada, a contemplá-las.
Os meninos vestiam-se como nas estampas antigas:
sapatos de verniz, meias três quartos, roupa à
marinheira branca, debruada de azul-marinho, boné.
Triciclos cruzavam com aros de pular e enormes laços
equilibravam-se, diáfanos, nos cabelos compridos das
meninas. Seus risos e atitudes remeteram-na para
um passado distante.
Os maiores corriam a esconder-se atrás das árvores,
gritavam. Os vultos tinham uma certa maldade,
quando reapareciam. A bola pesada, dura, pulava
entre eles, como se tivesse vida própria e fizesse
parte do grupo.
Ela tornava aos seus pensamentos. Mas, de onde
meu Deus? Sim, poderia haver árvores, como agora,
mas que frio! que dor!
Os meninos brincavam cada vez mais violentos, os
gritos rasgavam o ar, lembravam pequenos demônios,
soltos com seus desejos.
Quererão se matar? pensou, inquieta. Os chamados
agora eram ferozes, a bola saltava como louca.
Louca, louca, é isso.
Estremeceu. Cuidado. olha a bola! Sim, lá vinha ela,
aos pulos sobre uma só perna, apressado e rancoroso
ser. O coração batia, retomando o ruido.
Cresceu, negra e brilhante, a seu encontro. Teve
apenas tempo, antes de ser jogada longe, de se
lembrar enfim do lugar.
*
MARIA DE LOURDES COIMBRA
"O Lugar ou o Parque e o Limite dos Parques"
Tremor de Mão
CÉLIA MARIA DE FIGUEIREDO OLIVEIRA
Nasceu em 15 de janeiro de 1946, signo de capricórnio
Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, Brasil . . .
Poetisa...
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

*
"Folha II" Foto LuisD.

*
Abrem-se as portas! Entramos
Deslumbrados, caminhamos.
Tudo é alegria e prazer!
todos chegam contemplando
A magia, embalando
A festa que se vai ter!
-
Não há tarde como esta.
O sonho se manifesta,
Um corre-corre sem par.
todos os postos! Juntinhos!
Tudo montado, certinho,
O show já vai começar.
-
Aqui todos são artistas,
Mágicos, malabaristas,
Trapezista, domador,
Dançarino, equilibrista,
Fazendo tudo com amor.
-
É o mundo da fantasia
Que em cores se irradia
Como a gente sempre quis.
O palhaço nos domina
Com brincadeiras, ensina
A viver sempre feliz.
-
Nos seus trapézios em cores
Saltam homens voadores,
Desafiando as alturas.
E aqui a fera se rende
Ao domador, que a entende
E a enfrenta com ternura.
-
A música soa forte,
Homens desafiam a morte!
Gritam:
- E o palhaço o que é?
É o dono da alegria
No mundo da fantasia,
Vamos aplaudir de pé!
*
CÉLIA MARIA DE FIGUEIREDO OLIVEIRA
"O Circo"

LU MENEZES
Nasceu em 1948, São Luís do Maranhão, Brasil.
Poetisa...
*
CANTOePALAVRAS
O Amor é tão esguio, 1980; Abre-te Rosebud, 1996;
Onde o céu descasca, 2011...
Para extrair
do alumínio seu lúmen
usaria
-
o desusado, exaurido
verbo "Haurir"
-
Arearia
-
panelas
à beira de um rio, mergulhada
-
no alumínio luzidio
-
- "haurindo-o" -
polindo-lhe
-
a índole de água
e o ímpeto
de prata
com grãos
de ouro de areia
-
"ourada"
-
submersa em seu domínio.
*
Lu Menezes
"Utensílios" 
Abre-te Rosebud
ANITA VAZ
Nasceu em 16 de agosto de . . . . , signo de leão.
Governador Valadares, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Escritora, poetisa, advogada, teatróloga . . .
Participou em várias Antologias . . .
Membro da "Academia Goianense de Letras" . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


"Flores" Foto LuisD.

*
Hoje
Lembrei-me de você, querido.
Meu peito ficou aguçado,
minha alma,
que estava adormecida,
despertou em prantos.
Tentando encontrar auxílio,
joguei meus olhos no horizonte
e tudo estava triste! . . .
A natureza calou-se aos meus pés.
Fiquei em meio à solidão
e me envolvi em tantas saudades . . .
O coração ficou aflito,
tudo tão triste
que o pensamento se congelou
Permaneci muda
qual monte de nada,
desfazendo-se em fagulhos,
servindo-me de fantasma.
Mas, mesmo inerte,
sem mesmo poder nada dizer,
consegui movimentar os lábios
e dizer com muito ardor:
TE AMO.
*
ANITA VAZ
"Lembranças"

MARCIA PINTO SOBRINHO
Nasceu em 21 de março de 1974, signo de áries.
Matão, Estado de São Paulo, Brasil. . .

Poetiza...
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . .
*
Sou água
Que não corre em sua fonte
Um Sol
Atrás dos montes
Estrela perdida no céu
E nem mesmo sou
O seu favo de mel.
-
O seu olhar
Nunca cruzou com o meu
As suas mãos
Jamais me acenaram um adeus
Os seus lábios
Nunca sorriram para mim
Você
Nunca se deu conta de mim
-
Eu só queria existir para você
Uma lembrança que apaga jamis
Eu não quero ser o seu mar
Mas a água cristalina
Que encontrará jamis.
*
MARCIA PINTO SOBRINHO
"Eu Existo"
Vozes e Saudades


▬▬▬▬

"Folha III" Foto LuisD.


LÍLIA PEREIRA DA SILVA
Lília Aparecida Pereira da Silva
Nasceu em 1926, Itapira, Brasil.
Poetisa, tradutora, jornalista, teatróloga, pintora,
advogada, psicóloga . . .
Doutora em Artes Plásticas pela "Christian Ortodox Church
Bielary, Holy Heart College" Virginia, E.U.A..
Integrante da "Associação Internacional de Artes Plásticas".
Comitê Brasileiro da U.N.E.S.C.O.
Participou em exposições de Artes Plásticas . . .
6º. Grand Prix Internacional D'Art Contemporian, Monaco, 1970.
1º. Salão Nacional de Artes Plásticas "Alberto Santos
Dumont", São Paulo, Brasil, 1980.
Biblioteca "Biscayne Boulevard", Miami, E.U.A.
Holanda, Chile, Uruguai . . .
Homenagens
Premio "Pen-Club", São Paulo, Brasil, 1970. . .
*
CANTOePALAVRAS
Valsa dos Sentimentos, 1941;
Lenço Materno, 1958; Poemas à Luz do Abajur, 1959;
Reflexos, 1960; Os Sete Véus nas Marés, 1960;
Serenata do Abismo, 1960; Totens não deus, 1964;
Visita do Pássaro, 1967;
Festival de Desintegração, 1971; Impacto, 1996;
Album de Mim Nua, 1997;
Um Judeu na Minha Cama(teatro, cinema), 1997;
Cartas a minha Senhora(contos), 1997;
Chuva de Gatos Verdes, 2004; História do
Espantalho(infantil), 2010 . . .
*
I
Medram cantigasderodas
no telhadodacasa
cordelinho e sulcada
de chuvaescorridas.
-
A casa, num envelopedosilêncio
aromado
de deusessoterrados,
traves mordidas
e cacosde sombras.
-
A casa, num envelopedo silêncio
que incenso
desde a chamadoacalento
às roseiras azuis dosdoisjardins,
tão antes da inequívocafumaça
das verdesalianças
e das febres
de insondáveislabirintos.
-
A casa, num envelopedosilêncio
sela a solidão
manchaaalegria,
-
apesar do Natal.
*
LÍLIA PEREIRA DA SILVA
"Envelope do Silêncio"
Impacto
*
II
Não conhecia os deuses em criança.
Eles é que me sabiam
ditando-me poesias.
No circo, o palhaço era todos deuses
que eu conheceria.
Na juventude, viro estátua
colorida
▬ o sorridente mágico a brincar comigo
e a invadir-me telas e pincéis.
-
Hoje é obelisco, nos meus cabelos brancos,
mais alto que o cume de outras torres.
-
Tão mágico, tão insistente
que é o único
a invadir-me as venezianas
sorrindo, nas alvoradas,
a deitar no travesseiro que o espera.
*
LÍLIA PEREIRA DA SILVA
"O Palhaço"
Impacto


SUZANA VARGAS
Nasceu em 1955 . . .
Alegrete, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Poetiza, professora, tradutora . . .
Revistas, editora, eventos culturais, TV, Bienal do Rio de Janeiro,
Brasil. Vários projetos sobre leitura, no Brasil
Fundação Biblioteca Nacional, 1991. . .
*
CANTOePALAVRAS
Por um Pouco Mais, 1979; Sem Recreio, 1983;
Sempre Noiva, 1984; Doce de Casa, 1985;
Será Sonho, Frederico?, 1987; Sombras Chineses, 1990;
O Livro dos Quase-Amores, 1995 . . .
*
I
Eu queria estar
naquelas muradas portuguesas
de onde se avista o mar,
O Tejo,
e o Cabo da Roca.
-
Lá descobrimos
que o universo
é uma ilha ambulante.
Está
onde estamos
e não existe para além de nós.
-
Eu queria estar aqui.
*
SUZANA VARGAS
"Conversa de Fim de tarde"
*
II
Suspensa
-
Pássaro a engolir uma serpente,
eriges teus sinais em bronze vivo.
-
Sereias, sacerdotes,
há algum tempo
o mundo te contempla.
Mija ou não,
na cabeça de teus anjos.
-
Mescla de esperma e de gelo,
me espreitas sempre que eu quiser
te olhar.
-
O teu único crime
é perpetuar a flecha,
cravada em antigo coração.
-
E tua história
escrita em cada um
com um punhal
-
Juntará o que rasteja
ao que voa.
*
SUZANA VARGAS
"Monumento às Fontes"
*
III
Cem leões repousam sobre mim
e me perguntam: o prazer por escrito
-
vale a pena?
-
Cem feras domadas por uns meses
matam meu desejo de escrever?
-
E onde a poesia de todas as questões
depois de contestadas?
-
Ficaria à espera de outras
cem feras acordadas?
*
SUZANA VARGAS
"Nova Poética"


LEILA CORDEIRO
Nasceu em 05 de dezembro de 1956, signo sagitário.
Rio de Janeiro, Brasil.
Poetiza, jornalista, TV . . .
*
CANTOePALAVRAS
Pedaços de Mim, 1989 . . .
*
Tenho essa madrugada em mim,
que ferve a noite em desembaraços plenos.
Tenho o dia em liberdade,
amanhecendo tarde o que não ficou por menos.
-
Tenho a esperança esparsa
do tudo que passa e fica sem esquecer.
Tenho a eternidade em nada,
a ilusão que tarda no vão desse viver.
-
Tenho o meu olhar perdido,
o meu sim respondido do que ficou para trás.
Tenho a tarde esvaecida,
a minha dor ferida, a perda da paz.
-
Tenho em mim essa certeza
de que vivendo em tristeza não se pode sorrir.
Tenho a validade incerta,
a praia tão deserta pelo prosseguir.
-
Tenho a espera emocionada,
da volta que não tarda e que me faz buscar.
Tenho a coragem certa
na hora mais incerta que tenho de enfrentar.
*
LEILA CORDEIRO
"Consciência"



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