sexta-feira, 24 de abril de 2009

158 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

LUÍS GAMA
Luís Gonzaga Pinto da Gama
Nasceu a 21 de junho de 1830, signo cancêr,
em Salvador, Estado da Bahia, Brasil.
Pai português, mãe escrava africana.
Chegou a ser vendido como escravo. . .
*
CANTOePALAVRAS
Primeiras Trovas Burlescas de Getilino, 1859. . .
*
Pelas ruas vagava, em desatino,
Em busca do seu asno que fugira,
Um pobre paspalhão apatetado,
Que dizia chamar-se -"macambira".
-
A todos perguntava se não viram
O bruto que era seu, e "desertara";
Ele é sério (dizia), está ferrado,
E tem branco o focinho, é "malacara".
-
Eis que encontra potado numa esquina,
Um esperto, ardiloso capadócio,
dos que mofam da pobre humanidade,
Vivendom por milagre, em santo ócio.
-
" - Olá, senhor meu amo" lhe pergunta
O pobre do matuto, agoniado:
" - Por aqui não passou o meu burrego,
Que tem ruço o focinho, o pé calçado?"
-
Reponde-lhe otratante, em tom de mofa:
" - O seu burro, Senhor, aqui passou,
Mas um guapo Ministro fê-lo presa,
E um parvo 'Barão' o transformou!"
-
" - Oh, Virgem Santa!(exclama o tabaréu,
Da cabeça tirando o se chapéu)
Se me pilha o Ministro, neste estado,
Serei Conde, Marquês e Deputado!". . .
*
LUÍS GAMA
" Pelas ruas vagava, em desatino
 "

*
Meu Jardim
"Orquídeas"
Foto Luis Dias
ANTÓNIO B. MACHADO
António Bizerra Machado
Nasceu a 13 de junho de 1931, signo de gêmeos,
em Uibaí, Estado da Bahia, Brasil.
Bacharel em Filosofia na Universidade de São Paulo, (USP). . .
*
CANTOePALAVRAS
Poemas Seletos, 1981 . . .
*
I
Ser e não ser em relações de guerra,
árvores. Raízes no obscuro
calor do útero da Terra.
Tronco, flores e frutos em silêncio
vivendo o drama da potência ao ato.
-
Tronco - do Sol triunfo iluminado
sobre as sombras da Terra acolhedoras.
Em folhas traduzida a viridência,
flores e frutos louros em potência.
-
Flores. Festa aos sentidos e explosão
de sexo em cores, num convite ao fruto.
Flores - em ato o amor, fruto em potência
-
Fruto - deliciosa inconsciencia
semente, sêmen no bico dos pássaros.
Raízes, tronco, flores em potência.
*
ANTÓNIO B. MACHADO
" Árvore "
Poemas Seletos
*
II
Para uma quadra mais de idílio e canto
voltam os sabiás. Há Sol e é novembro.
Ouvindo-os, faço-me eterno e lembro
que houve um dia, na caudal do tempo
flor encalhada, que está longe e perto.
Eras a Terra e eu o Sol. Me lembro
Cantavam sabiás e era novembro.
*
ANTÓNIO B.MACHADO
" A Volta dos Sabiás "
Poemas Seletos
*
III
Rio que passa
de águas serenas.
Movem-se os peixes,
tua imagem fica.
-
Pousada em leito
forrado de rica
pedraria branca,
é a extensão.
-
(em areia e mica)
de outra imagem:
a que dá forma
à água intermédia.
-
Imagem de imagem
que a outra imagem
se identifica:
a impressa em teus olhos.
-
A realidade
do que és, existe:
é ausente e é quem sente
a imagem e sua imagem.
*
ANTÓNIO B. MACHADO
" A Imagem na Água "
Poemas Seletos
(Mais Poemas . . . "O CANTO. . .do encanto das. . .PALAVRAS ", 189).
*
"Aquário" Foto LuisD.

ARTUR DE SALES
Artur Gonçalves de Sales
Nasceu em 07 de março de 1879, signo de peixes,
Salvador, Estado da Bahia, Brasil.
Participou do grupo " Nova Cruzada ", na Bahia . . .
*
CANTOePALAVRAS
Poesias, 1920; Sangue Mau, 1928 . . .
*
Sobre a cadeira, a um canto, a almofada de renda . . .
E Don'Ana, sentada, a fina teia branca
Entece, os bilros troca, este alfinete arranca,
Torce outro bilro mais, porque a linha se estenda.
-
Saltitando, febris, brincalhões, tatalantes,
Os bilros vão e vêm, entre os dedos ligeiros;
Ora em molhos aqui ficam prisioneiros,
Ora descem, cruzando os seus fios brilhantes.
-
E as mãozinhas sutis de Don'Ana movendo
Esse enxame doudado e esquisito de aranhas,
Que saltam, vão e vêm, irrequietas, estranhas,
E o nevado aranhol vâo tecendo, tecendo . . .
-
Da luz desta manhã os finos estiletes,
Através de uma fresta aberta no telhado,
Descem, luzem por sobre o meandro complicado:
São alfinetes de ouro entre esses alfinetes.
-
Pelo beiral da casa há gorjeios e chilros . . .
Anda a manhã lá fora esplêndida e luzente . . .
E na sala pequena a música sómente
Do trépido estalar treplicante dos bilros.
*
ARTUR DE SALES
" A Música dos Bilros"*
*(Bilro- Peça de madeira ou metal, semelhante ao fuso,
usada para fazer rendas de almofadas.)
Poesias

MÁRIO PEIXOTO
Mário Rodrigues Breves Peixoto
Nasceu a 25 de março de 1908, signo de áries.
Bruxelas, Bélgica., ou Rio de Janeiro, Brasil (?).
Poeta, escritor cineasta, viajou por vezes para a Europa . . .
Faleceu em 03 de fevereiro de 1992.
*
CANTOePALAVRAS
O Inútil de Cada Um, 1931; A Alma Segundo Salustre, 1983;
O Inútilde Cada Um. Itamar, 1984; Limite, 1996;
Mundeu, 1996; Poemas de Permeio com o Mar, 2202;
Limite(Filme),1931 . . .
*
I
. . . E à tarde,
quando eu esperei que ele mudasse,
as escumas ainda galoparam na
frente das ondas,
e o horizonte pardo, aproximou-se
de manso, mais escuro.
A peneiração que durante o dia
vadiou na praia e embaçou
minha vidraça,
povoou de cinza o mundo amedrontado dos desejos claros.
Pareceu-me impossível o
Sol, o ruído ▬ e a coragem.
O amor mesmo, vejo-o imóvel
sob acolchoados quentes,
ou, da covardia desses aconchegos
na penumbra,
imaginado à distância.
-
Faz um derradeiro frio.
Será o fim ideal, não pensar mais,
embora na crista branca das ondas,
eu pressinta o impulso de criação
e finalidade.
Não este fim;
▬ o amor, meu Deus, de me abraçar a mim mesmo, como faço agora,
assim,
e de encontrar dentro de mim próprio,
ainda o que ocasione alguma vibração . . . !
A vida sorri de pesar,
pela minha miséria descoberta . . .
Mas o que adianta ser só eu,
quando no mundo os milhares
se aglomeram e se extasiam?!
Quando o frio dos que se encontram e se descobrem,
nem é o frio maciço desse
mar de invernada?!
A mão levada à testa,
Constata bruscamente a hora.
Encosto-me à vidraça, sem poder ver,
abraçado comigo.
De repente, tudo está próximo e ali . . .
Imagino lá fora o frio sem abrigo
das escumas atormentadas
▬ branquicentas àquela hora . . .
e sofro-o nos ombros, porque
quero,
o "eu", pequeno, mas solto dentro do meu próprio escuro.
"Eu sei", escuto-me pensar, sem eco. "parado, tudo estará
próximo; ali . . ."
Porque a noite veio cansada, do mar,
e o horizonte turvo fendeu-se na queda sem fim.
*
MÁRIO PEIXOTO
"Mar"
Poemas de Permeio como Mar
*
II
Às vezes, à noite,
eu penso sozinho nos ecos longíquos
que se distanciaram há muito,
e nos gestos esmorecidos das coisas há muito resignadas . . .
E vejo cada planta e cada homem,
abafado na capa noturna do silêncio sem estrelas,
a agonia estendida no contorno dos vultos
e no rangido de sede das pisadas em areia . . .
Isso,
nas noites em que ainda não soprou o vento,
e que a janela baixa, conserva-se submissa sem luz.
O olhar interminável, de coisas sem contorno,
busca esse nível de submissão,
soprando sonho pelas pálpebras vivificadas.
A folhagem descida, acama-se "sem-formas",
na espessura dos terrenos secos,
sem o baque dorido dos rochedos cansados . . .
Tudo permanece imóvel na queda ▬ apenas o espaço é jovem!
Nem mesmo a pálpebra fria da vigília . . . !
As coisas brincam de leve, de ficar.
E o que penetra à ramada mais densa,
são piscos antigos de uma estória para dormir.
Ainda se houvesse sono?!
Mas parece que na terra ninguém mais dorme . . . a não ser as crianças;
nunguém mais ousa afastar-se dessa janela aberta para o mundo noturno,
porque as idades mais velhas se confundem nas vigílias . . .
E quando o galo canta,
ainda no lusco-fusco do terreno juncado . . . então a folhagem espavorida,
há muito já terá fugido,
ferida nos rombos vivos das cercas de taquara,
no farpado dos arames retorcidos ▬
aos alaridos nas porteiras escancaradas por inquietantes tropidos,
soprando o luar nas almas secas das folhas!
*
MÁRIO PEIXOTO
"O Vento"
Poema de Permeio com o Mar
*
III
Volto aos lugares determinados
onde coisas singulares
da minha vida
se destravaram.
-
E pesaroso,
levanto-as no tempo
como a experimentar-lhes o peso
▬ dando-lhes um valor, enfim ▬
a verificar
o danificado
nas pessoas
e o impermeável
nas coisas.
-
Fujo ao solo
▬ perscruto em desamparo,
olhando em torno ▬
dou alma ao inanimado!
-
Desejaria ser
como aquela casa de madeira
coberta de velhas pitangueiras,
à beira do mar.
-
Por ela passei
ainda jovem,
em frente a ela
paro agora, perplexo,
já em meio da jornada.
-
E nesta última
etapa,
ao olhá-la rodeada
pelas grades de ferro,
em losangos corroídos
salitrados pelo mar,
e necessitando uma urgente repintura,
pego-lhe mais a fundo a entidade fugaz,
como de um não identificado aceno
para sempre
mr intrigara.
-
Se andares pelos caminhos
(ah, imprecavido e casual ouvinte!)
verás
que também dou vozes às pedras
-
. . . e que por trás
de um pensamento,
muita vez,
filas se deitaram
na complacência
já distanciando-se
para o fundo,
vista e fugindo,
como da cauda lenta de um trem
em início de afastar-se (e que nos leva),
recuando da retaguarda plana
das memorias.
*
MÁRIO PEIXOTO
"Se andares pelos meus caminhos"
Poemas de um permeio com o Mar
*
IV
Pega do que é teu
e constrói
para a luz,
com o que percebes.
Não vês que há milênios
os sargaços se retorcem
na meia tona escumosa
do oceano?
Por que estagnar-se?
Assimilas a trajetória
de um segundo,
e o senhor
já subtrais
a pulsação que constata;
não precisas recear milênios!
Vê; o frio,
numa centelha
projetada do teu alcance
eles são tão perto
como teus mais íntimos e aconchegados
pensamentos!
*
MÁRIO PEIXOTO
"Espaço"
Poemas de permeio com o Mar


JULIO CESAR RIBEIRO DA SILVA
Nasceu a 14 de agosto de 1974, signo de leão.
Matão, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta, professor, escreveu para diversos jornais . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . .
*
Cativa-me; pois meu coração, livre e santo,
mui amante dos cânticos, mui amante das liras,
luta, mesmo solto, para que tu não firas
o teu doce sorriso num amargo pranto.
-
Ah! Eu sou assim mesmo; necessito do teu encanto
aquecendo o peito meu, meigo e sem mentiras . . .
Já é inverno - terço co'escolhidíssimas tiras,
para pernoitarmos no campo, o nosso manto . . .
-
A noite é bela.Caminhemos de mãos dadas,
não temendo deste bosque os duendes e as fadas,
(sómente permitindo em frestas a lua espiando).
-
vamos juntos a descobrir novos caminhos,
para que sem mais encontremo-nos cantando.
Amemo-nos, nesta hora em que estamos sózinhos.
*
JULIO CESAR RIBEIRO DA SILVA
"Soneto da Amizade Sincera"
Vozes e Saudades

HENRY CORRÊA DE ARAÚJO
Nasceu em 1940, Campo Belo, Estado de Minas Gerais,
Brasil.
Poeta e jornalista . .
*
CANTOePALAVRAS
Valacomum, 1966 . . .
*
I
Floricultor de flora e flor
floreio ana de florada flor
florestana.
-
Tear de ais
adentro mais
florete este de floretear
campeio e meio
flor esta ana
floreana.
-
De flora e flor floricultor
defloro ana florence flor
de floração florenceana.
*
HENRY CORRÊA DE ARAÚJO
"De Flor e Ação"
Antologia
*
II
Não escreverei
minhas palavras na pedra(nem
as moldarei na espuma)
-
eu as guardarei
para a festa
- do homem sem pluma
-
não gravarei
minhas palavras
na lenda (nem
as moldarei na flor)
-
eu as guardarei
para a festa
- do homem sem cor
-
não esculpirei
minhas palavras
no bronze (nem
as moldarei no agouro)
-
eu as guardarei
para a festa
- do homem sem ouro
*
HENRY CORRÊA DE ARAÚJO
"Anônimo"

CONTADOR BORGES
Augusto Contador Borges
Nasceu em 1954, São Paulo, Brasil.
Poeta e tradutor . . .
integrou o C.E.A.C(Centro de Estudos de Arte Contemporânea). . .
*
CANTOePALAVRAS
Angelolatria, 1997 . . .
*
Corre um olho invisível
Por dentro
De cada palavra que sonha
Sair da máscara
Como um sonho de larva
Em cada olho que sonha
Voar além
De si mesmo e da palavra
Cada olho que sonha
Sair da máscara
Em outra pessoa
Trocando a pele
No percurso da imagem
Cada olho que sonha
Fossilizar a luz
Em ressonâncias de sombra
Sem virar cinzas
Toda vez que inflama
Com metáforas secas
O gás do rosto
Pondo a máscara em chamas
Como se palavra
Não fosse
O ser que esconde
E ressoa em sua máscara.
*
CONTADOR BORGES
"Máscara"


CRISTINA APARECIDA DOMINGUES
Nasceu a 10 de outubro de 1979, signo de libra.
Siqueira Campos, Estado do Paraná, Brasil.
poeta, escritora . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Procurei por silêncio . . . mas não o encontrei. Quis, então,
a solidão . . .
mas descobri que ela não estava mais sozinha . . .
Era eu a minha alma sem paz . . . Tive vontade de chorar,
mas não chorei por vontade . . . Em meus lábios, o gosto amargo
das lembranças já faziam parte que não era eu . . .
Olhei no espelho e não acreditei no que via . . . apenas um rosto,
uma sombra . . . uma imagem vazia de quem sempre
sorria de corpo, alma e coração . . .
Quis compreender o que havia se perdido . . .
mas não havia resposta . . .
apenas uma enorme interrogação . . . tive vontade de ser menor
que um grão de areia . . . mas essa dor não tem fim . . .
Eu, justo eu, que jamais acreditei em sentimento algum . . . eu que
sempre fui livre. Agora estou presa . . . já não sou a mesma . . .
às vezes, me sinto meio sem vida . . .
um corpo vagando sem direção.
Quando essa dor vai ter fim . . . quando poderei olhar em um
espelho e ver alegria em meu rosto.
Sofrer ensina a viver, eu sei, mas sofrer também
consome a gente aos poucos . . .
Chega de palavras que não dizem nada!
O que eu sinto, jamais senti por alguém . . .
poderia tentar esquecer . . .
encontrar outro alguém, talvez resolvesse no memento e depois,
quando chegar a noite e eu encostar a cabeça no travesseiro . . .
quem vai estar nos meus pensamentos. Eu já fiz tantas pessoas
sofrerem sem me importar com a dor alheia e agora eu sei o que é
sentir o coração em pedaços . . .
e não poder fazer nada além de esperar.
Esperar que o tempo apague as lembranças e traga uma esperança. . .
*
CRISTINA APARECIDA DOMINGUEZ
"Tudo Que Eu Não Sei Dizer . . ."
Vozes e Saudades


ISABEL CÂMARA
Maria Isabel Câmara
Nasceu em 1940, Três Corações, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Poeta, escritora, atriz . . .
Homenagens: Premio Molière, 1971 . . .
Faleceu em 2006.
*
CANTOePALAVRAS
As Moças, 1971; Coisas Coió, 1998 . . .
*
Trata-se de uma certa dama
que acorda aflita pelo dia
observando da janela do seu
Disco-Voador
o cinza que se irradia
desde a música -
Romântica e Alemã
até a cor fria da Dor
. . . . . . . . . . . . . .
Quem diante do amor
ousa falar do inferno?
-
Quem diante do Inferno
ousa falar do Amor?
-
Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama de Baudelaire.
*
ISABEL CÂMARA
"Manhã de Frio"
26 Poemas Hoje

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