segunda-feira, 27 de abril de 2009

156 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

"Cofre de Ferro
seculo XVIII-XIX, Portugal.



ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA
Nasceu 30 de julho de 1879, signo de leão.
São Pedro do Sul, Portugal. Participou da revista
"Águia", 1912.
Foi indicado para o "Premio Nobel" . . .
Faleceu 05 de maio de 1993.
*
CANTOePALAVRA
Ladainha, 1897; Cantigas, 1902; Raiz, 1903;
Tentações de Frei Gil, 1907; Dizeres do Povo, 1911;
Orações Novas; A Minha Terra, 1915 a 1917 . . .
*
I
Portugueses, Brasileiros,
- mar ao centro, - raça a raça. . .
Alma irmã: a mesma réstia
de cá e lá da vidraça.
-
Ó cinco "Estrelas do Sul",
porque sois cinco, tal qual?!
- Para sermos irmãzinhas
da "Quinas" de Portugal.
*
ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA
"Pátria Nossa, Pátria Vossa"
*
II
Àrvore eu fui, muito embora
Sob outra forma me esconda.
Bailei, à margem, na ronda
Dos pinheirais, Sol em fora.
-
Roda de moinho, agora,
Às voltas, batida da onda,
Sou como a Terra redonda
A girar na luz da aurora!
-
Leva-me a força do rio:
Gemo, corro, ao rodopio,
Desde a noite à manhãzinha.
-
Canta alguém: que voz a sua!
Da mó andar como a Lua
Cai o luar da farinha . . .
*
ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA
"A Roda do Moinho"
"Escrinha"
 para levedar massa de pão, Portugal.
*

III

Sou franzininha e pequena:

Nasci parar se assim;

Mas, apesar de pequena,

Não tenham pena de mim!

-

Debruço-me à beira da água:
Não pode haver melhor bem.
Sou os encantos da frágua,
Que tem vaidades de mãe!
-
Teno a folha miudinha,
Que, maior, fora abusar;
A luz tem pressa, caminha;
E diz-me adeus sem parar.
-
Não olho os Céus, de soberba,
Antes olho para o chão:
Quem nasceu para ser erva
Não muda de condição.
-
Fujo ao olhar do Sol e busco
Recanto em que a luz não arde;
eu gosto do lusco-fusco:
Sou como a estrela da tarde.
-
Quase sem cor, sem perfume,
Sou humilde de nascença.
(O cheiro é fala de lume,
Gritando a nossa presença).
-
Sou franzininha e pequena:
Nasci para ser assim.
Deixá-lo! Não tenham pena . . .
Todos se agradam de mim!
*
ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA
"Canção da Avenca"
*
IV
Ó bello Sol, Padre nosso,
Que estás no céu e na terra;
Bemdito seja o teu Nome
Nas vidas que a Vida encerra.
-
Venha a nós teu claro Reino,
Faça-se a tua Vontade:
- Meu corpo seja um jardim;
Minha alma um Sol de bondade.
-
Pão nosso de cada dia,
E Pão da noite, tambem:
- Pois a noite, tua Filha,
Igualmente é nossa Mãe.
-
Perdôa-nos nossas dividas
De bellêza e de esplendor:
- Todas as Vidas se devem,
Entre Si, a Luz e o Amor.
-
Ó bello Sol, Padre nosso,
Nosso exemplo, nosso Irmão:
Sê, em luz, purêza e glória,
Nossa eterna Tentação.
*
ANTÓNIO CORREIA OLIVEIRA
"Padre Nosso"
Orações Novas
Revista "Águia"
*
V
Donde vem a minha angústia?
Minhas mágoas onde vão?
Sou eu que entristeço o dia,
Ou ele o meu coração?
 -
Parece noite a manhã,
Tão cerrada em água e bruma,
Como se jamais nos céus
Houvera aurora nenhuma!
-
E nem sei já se a tristeza
É lá de fora, ou é minha:
Alma em nuvem, nuvens de alma...
Cai a chuva miudinha.
*
ANTÓNIO CORREIA OLIVEIRA
"Cai a chuva miudinha"
*
VI
E vi também erguer-se, horrenda e estranha,
Uma árvore de treva e claridade:
Braços de fumo, enchendo a imensidade;
Raiz de fogo, ardendo na Montanha.
-
Diz-se a visão, esfíngica e tamanha:
-"Árvore eu sou; meu nome é Liberdade.
Plantou-me, - a ferro! - a dura humanidade;
Cantando, em sangue e em lágrimas me banha!
-
Minha sombra de vida, fez-se morte;
Meus frutos são de cinza; o trono forte,
Devera ser de amor, e é de ódio e guerra!
-
Aspiro à luz, e bebo a escuridão!
Para ser livre, hei de prender-me ao chão:
- E sinto que me foge a própria terra! -
*
ANTÓNIO CORREIA OLIVEIRA
"Liberdade"



"Varina
feita de madeira, Portugal

RAUL DE CARVALHO
Raul Maria de Carvalho
Nasceu em 1920, Alvito, Alentejo, Potugal.
*
CANTOePALAVRAS
As Sombras e as Vozes, 1949; Poesia I, 1955; Mesa da Solidão, 1955; 
Parágrafos, 1956; Poesia II (Versos),1958; Talvez Infância, 1968; Realidade Branca, 1968; Tautologias, 1968; Tudo é Visão, 1970;
Poemas Inatuais, 1971; Uma Estética de Banalidade, 1972;
De Nome Inonimado, 1974; Realidade Branca 1975;
 Tempo Vazio, 1975; Três Poemas Iguais, 1976; 
Desejaria provar que esquecera a ponto de já nem sequer  se
lembrar de ter tido qualquer coisa para esquecer, 1976;
Quadrangular, 1976; Duplo Olhar, 1978; Elsinore, 1981...
*
I
Nunca vi mãos
Como as tuas mãos
Desafiam poderes
E acrescentamentos
São troncos de árvores
Milagrosas.
Desafiam o tempo, o gasto, o fim.
Estão prontas para apertar
Com força
São dedos que acumulam
Séculos de sangue e nódoa.
*
RAUL DE CARVALHO
"Nódoa"
Elsinore
*
II
Não hei-de amar vividamente só.
Hei-de ser sempre o mastro na colina.
E quando as urzes me cobrirem, restos
de qualquer coisa rútila e vibrante
- Deus declinará meu nome.
Só para ti.
*
RAUL DE CARVALHO
"Beijos"
Desejaria provar que esquecera a ponto...


LUCAS TEIXEIRA
Armando Teixeira
Nasceu em 1922, Porto, Portugal . . .
*
Escuta a minha voz, voz lusitana,
E vibrarás, Brasil, ao profundo
Amor a Portugal, pois tens no fundo
Do teu ser forte a fibra transmontana.

O ardor minhoto e a calma alentejana:
Quantas flores de lá no teu fecundo
E alegre chão que acolhe todo o mundo!
De em ti florir, meu coração se ufana:

Buscando a tua paz, eu me enraizo,
Sem me esquecer do Luso Paraiso,
Neste teu solo florescente e largo,

Onde dois folhos, rindo à minha mesa,
- Meigo esplendor da messe portuguêsa -
Me adoçam da Saudade o pão amargo. . .
*
LUCAS TEIXEIRA
" Ao Brasil "
(Mais Poemas . . ."Donde Borbota . . .Minha saudade",
pág. 193).
LUIZ PAIVA DE CASTRO
Nasceu em 1932, Rio de Janeiro, Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Pélaso, 1959; Pássaros na Alfandega, 1963;
Ofício das Coisas, 1964;
O País dos Homens Calados, 1967;
Cantiga de Maio, 1973; Ponte de Saudade, 1972;
O Galo e um Homem que Canta, 1980 . . .
*
I
Chegaram nos temporais
de dezembro
pisando em lama
pelo caminho que Macacu
se chama,
levando seus embornais e o que me lembro
que levaram,
e a olho nu o céu azul olharam
e isto os fez subir
apesar de tudo
sem saber direito para onde ir
- Pois Gachet ficou mudo
depois da entrega -
e D. João já não é o mesmo que navega
no meu sonho
de PORTUGAL em terra
e bem maior na América que a Inglaterra
o carvão
e muito mais
-Que já morreu DIOGO CÃO
e cada pessoa forte
no timão
para que o mar português não seja apenas
a noção
de canto e glória
-O que foi grande mas não virou história
*
LUIZ PAIVA DE CASTRO
"De Sonho se fez o Mar Portugês"
XXVII
Praça do Suspiro
*
II
A siriema deixa o ovo
na mata como um diadema
na pedra e no mundo novo
e agora o bicho sai e sua pata
a manhã com um suspiro
desacata e o faz também ao giro
da terra e pequeno e ligeira
cheira o que traz
e desaparece longe na serra
*
LUIZ PAIVA DE CASTRO
"Do Lugar dos Ninhos"
Ponte da Saudade
Praça dos Suspiros

AFONSO HENRIQUES NETO
Nasceu a 17 de junho de 1944, signo de gemeos.
Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Universidade de Brasília, Brasil, estudou Direito, 1966 . . .
Poeta, professor, jornalista . . .
*
CANTOePALAVRAS
O Misterioso Ladrão de Tenerife, 1972;
Restos; Estrelas e Fraturas, 1975;
Ossos do Paraíso, 1981; Tudo Nenhum, 1985;
Avenida Eros, 1992; Abismo com Violinos, 1995;
Eles devem ter visto o caos, 1998 . . .
*
eu sei onde ladram os ventos pelos ladrilhos
dos mistérios inexistentes.
eu sei de que matéria esta sensação de derrota
é feita, moldada, entre instrumentos de tortura
e pálpebras e espelhos amassados.
eu sei dos que falam no escuro a flauta da voz
das fábulas.
eu sei através do vídeo o vácuo do sangue atrás e além
da imagem, violentos planetas vomitando o drama.
eu sei as tartarugas infinitas.
os bodes expiatórios.
os lavabos cheios de unhas vivas.
a eternidade do gesto humano
morrendo no longo tombadilho.
sei das certezas e incertezas verdes.
sei do resumo de tudo dançando na chuva mais cotidiana.
só não sei do teu sorriso se diluindo em nuvem.
só não sei do teu corpo quase infantil
de mulher amanhecida.
só não sei do timbre de tua voz
entre borboletas e musgos fluindo do único verbo.
só não sei do opalescente rastro de teus pés
entre cachoeiras apagadas.
só não sei da galáxia a resumir vazia
o silêncio mortal de tua alma quebrada.
ai de mim
que eras ouro e breve.
*
AFONSO HENRIQUES NETO
"Quase Cinza"
26 Poetas Hoje


AFRANIO ZUCCOLOTTO
Nasceu em 24 de maio de 1913, signo de gemeos.
Altinópolis, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta, jornalista, advogado, pela U.S.P.(Univesidade de
São Paulo) . . .
Membro da Academia Paulista de Letras, 1979.
Homenagens: Medalha "Mário de Andrade", São Paulo, Brasil.

Faleceu em 1997.
*
CANTOePALAVRAS
Poemas, 1948; Porto Geral, 1957;
Retrato do Artista Remanescente, 1976;
Episódio do Soneto . . .
*
De homem
para homem
não transita
a experiência
-
Recusa o homem
o aprendizado
provindo
de outro
homem.
Da arte
recebe
como um sopro
auroral
tudo
quanto os outros
aprenderam
para
transmitir-lhe.
*
AFRANIO ZUCCOLOTTO
"Comunicação"



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