quinta-feira, 30 de abril de 2009

150 - José Saramago " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


JOSÉ SARAMAGO
José de Sousa Saramago
Nasceu a 16 de novembro de 1922, signo de escorpião,
Azinhaga, Golegão, província do Alentejo, Portugal.
Poeta, escritor, jornalista, dramaturgo, romancista . . .
político . . . serralheiro mecânico(!!!) desenhista . . .
Colaborou na Revista "Seara Nova". "Associação
Portuguesa de Escritores"; "Diário de Notícias";
Diário de Lisboa", Portugal. Fundador da "Frente
Nacional para a Defesa da Cultura" (F.N.D.C.).
Homenagens: Premio "Associação de Críticos
Portugueses", 1979; Premio "Cidade de Lisboa",
1980; Premio "PEN, Clube Português", 1982 e 1984;
Premio "Literário Município de Lisboa", 1982;
Premio "D. Dinís", 1986; Premio "Cinzane-Cavour"
Itália, 1987; Premio Internacional "Ennio Flaiano", 1992;
Premio do Jornal "Independent", 1993; Premio
Internacional Literário "Mondello" Itália, 1992; Premio
Literário "Brancatti", Itália, 1992; Premio "Vida Literária"
Associação Portuguesa de Escritores(A.P.E.), 1993;
Premio Consagração" Sociedade Portuguesa de Autores
(S.P.A.), 1995;
Premio Camões, 1995;
Premio "Nobel de Literatura", Real Academia Sueca,
08 de outubro, de 1998 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Tema do Pecado (romance), 1947; Os Poemas Possíveis,
1966; Provavelmente Alegria (poesia), 1970; O Ano de 1993
(poesia), 1975; Deste Mundo e do Outro (crônicas), 1971;
A Bagagem do Viajante (crônica), 1973; Os Apontamentos,
1976; Manual de Pintura e Caligrafia, 1977; Objeto Quase,
1978; Poético dos Cinco Sentidos - O Ouvido (conto),
1979; A Noite (teatro), 1979; Levantado do Chão (romance),
1980; Que Farei com este Livro? (teatro),1980; Viagem a
Portugal, 1981; Memorial do Convento (romance), 1982;
O Ano da Morte de Ricardo Reis (romance), 1984;
A Jangada de Pedra (romance)1986; História do Cerco de
Lisboa, 1989; O Evangelho Segundo Jesus Cristo (romance),
1991; Ensaio sobre a Cegueira (romance), 1995;
Todos os Nomes(romance),1997; A Caverna(romance), 2000;
O Homem Duplicado (romance), 2002; Ensaio Sobre a
Lucidez (romance), 2004; As Intermitências da Morte
(romance), 2005; A Viagem do Elefante (romance), 2008;
Caim (romance), 2009 . . .
*
I
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.
-
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.
-
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
-
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
-
Só direi:
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
*
JOSÉ SARAMAGO
"Poema a Boca Fechada"
Os Poemas Possíveis
*
II
Se não tenho outra voz que me desdobre
Em ecos doutros sons este silêncio,
É falar, ir falando, até que sobre
A palavra escondida do que penso.
-
É dizê-la, quebrado, entre desvios
De flecha que a si, mesma se envenena,
Ou mar alto coalhado de navios
Onde o braço afogado nos acena.
-
É forçar para o fundo uma raiz
Quando a pedra cabal corta caminho,
É lançar para cima quanto diz
Que mais árvore é o tronco mais sozinho.
-
Ela dirá, palavra descoberta,
Os ditos do costume de viver:
Esta hora que aperta e desaperta,
O não ver, o não ter, o quase ser.
*
JOSÉ SARAMAGO
"Se não Tenho Outra Voz . . ."
Os Poemas Possíveis
*
III
De paisagens mentirosas
De luar e alvoradas
De perfumes e de rosas
De vertigens simuladas
Que o poema se desnude
De tais roupas emprestadas
Seja seco seja rude
Como pedras calcinadas
Que não fale em coração
Nem de coisas delicadas
Que diga não quando não
Que não finja mascaradas
De vergonha se recolha
Se as faces sentir molhadas
Para seus gritos escolha
As orelhas mais tapadas
E quando falar de mim
Em palavras amargadas
Que o poema seja assim
Portas e ruas fechadas
-
Ah que saudade do sim
Nestas rimas desoladas.
*
JOSÉ SARAMAGO
"Dia Não"
Os Poemas Possíveis
*
IV
Poeta não é gente, é bicho coisa
Que da jaula ou gaiola vadiou
E anda pelo mundo às cambalhotas,
Recordadas do circo que inventou.
-
Estende no chão a capa que o destapa,
Faz do peito tambor, e rufa, salta,
É urso bailarino, mono sábio,
Ave torta de bico e pernalta.
-
Ao fim toca a charanga do poema,
Caixa, fagote, notas arranhadas,
E porque bicho é, bicho lá fica,
A cantar às estrelas apagadas.
*
JOSÉ SARAMAGO
"Circo"
Os Poemas Possíveis





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