quarta-feira, 4 de março de 2009

172 - Haroldo de Campos " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


»1211«
PEDRO LUÍS
Pedro Luís Pereira de Sousa
Nasceu 13 de dezembro de 1839, signo de sagitário.
Cabo Frio, interior do Estado de Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, advogado, político, Jornalista, orador. . .
Estudou Direito, na U.S.P., São Paulo, Brasil.
Tio do presidente Washington Luis . . . Pereira de Sousa, que
governou de 1926 a 1930. Pertenceu à "Academia Brasileira
de Letras" A.B.L.
Pedro Luís, faleceu em 1884.
*
CANTOePALAVRAS
Os Voluntários da Morte, 1864; Terribilis Dea, 1868;
Prisca Fides, 1876 . . .
*
Meu Deus! eu folheava mansamente
Este livro . . . e minh'alma estremecia . . .
Oh! quanto sonho! que visões douradas! . . .
Que sorrisos de amor e que ironia!
-
Folhas gentis e brancas "côr-de-rosa"
Verdes como de amor uma esperança
todas passavam a contar sentidas! . . .
Um beijo, uma loucura, uma lembrança
-
Assim, o passarinho entristecido
Roça as nuvens do céu . . . revôa e passa
E as nuvens de mil côres lhe desejam
Quadros de amor e sonhos de desgraça.
-
E, como o passarinho deixa as nuvens
E vai perder-se ao longe no infinito,
Também eu deixo as folhas comovido
E sigo além romagem de proscrito.
*
PEDRO LUÍS
"Em um Album"
»1212«
LUIZ GUIMARÃES
Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior
Nasceu em 1845, Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, diplomata.
Formado em Direito pelo (largo de São Francisco) U.S.P.,
e terminou em Recife . . .
Membro da Academia Brasileira de Letras, A.B.L..
Estilo parnasiano.
Faleceu em 1898.
*
CANTOePALAVRAS
Carimbos, 1869; Filigramas Sonetos e Rimas, 1880;
Poemas dos Mortos(Biografia de Carlos Gomes) . . .
*
Quando ella dorme como dorme a estrella
nos vpaores da timída alvorada,
E a sua doce fronte extasiada,
Mais perfeita que um lírio e tão singela,
-
Tão serena, tão lúcida, tão bella
Como dos anjos, a cabeça amada,
repousa na cambraia perfumada
eu velo absorto o casto somno della.
-
E rogo a Deus emquanto a estrella brilha,
Deus que proteje a planta e a flor abscura,
E nos indica do fundo a trilha,
-
Deus por quem toda a creação se humilha,
Que tenha pena dessa creatura,
Desse botão de flor - que é minha filha.
*
LUIZ GUIMARÃES
"Somno de Anjo"
»1213«
HAROLDO DE CAMPOS
Haroldo Eurico Browne de Campos
Nasceu em 19 de agosto de 1929, signo de leão.
Cidade de São Paulo, Brasil.
Poeta ensaísta, crítico, tradutor . . .
Doutorou-se na Faculdade de Direito na Universidade
de São Paulo, 1952, Brasil.
Professor das Universidades norte-americanas
"Texas"(Austin), 1971 e "Yale"(New Haven), 1978,
Professor titular de "Semiótica da Literatura no Programa
de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica"
Pontíficie Universidade Católica de São Paulo P.U.C.S.P.,
pertenceu ao "Grupo Noigandres",1950, junto com Décio
Pignatari e Augusto de Campos. Falava Espanhol, Francês,
Inglês, Latim . . .
Homenagens: Prémio "Otavio Paz", 1999;
Prémio "Jabuti", 1991; 1993; 1994; 1999; 2002.
Faleceu 16 de agosto de 2003.
*
CANTOePALAVRAS
Xadrez de Estrelas, 1949 a 1974; As Disciplinas, 1952;
Servidão de Passagem, 1962;
Signantia: Quasi Coelum, 1979; Galáxias, 1984;
A Educação dos Cinco Sentidos, 1985;
Finismundo: A Última Viagem, 1990; Crisantempo, 1998
A Máquina do Mundo Repensada, 2001. . .
*
Pássaros de prata, o Poema
ilustra a teoria do seu vôo.
Filomela de azul metamorfoseado,
mensurado geômetra
o Poema se medita
como um círculo medita-se em seu centro
como os raios do círculo o meditam
fulcro de cristal do movimento.
-
Um pássaro se imita a cada vôo
zênite de marfim onde o crispado
anseio se arbitra
sobre as linhas de força do momento.
Um pássaro conhece-se em seu vôo,
espelho de si mesmo, órbita
madura,
tempo alcançado sobre o Tempo.
-
Equânime, o Poema se ignora.
Leopardo ponderando-se no salto,
que é da presa, pluma de som,
evasiva
gazela dos sentidos?
O Poema propõe-se: sistema
de premissas rancorosas
evolução de figuras contra o vento
xadrez de estrelas. Salamandra de incêndios
que provoca, ileso dura,
Sol posto em seu centro.
-
E como é feito? Que teoria
rege os espaços de seu vôo?
Que lastros o retêm? Que pesos
curvam, adunca, a tensão do seu alento?
Cítara da língua, como se ouve?
Corte de ouro, como se vislumbra,
proporcionado a ele o pensamento?
-
Vede: partido ao meio
o aéreo fuso do movimento
a bailarina resta. Acrobata,
ave de vôo ameno,
princesa plenilúnio desse reino
de véus alísios: o ar.
Onde aprendeu o impulso que a soleva,
grata, ao fugaz cometimento?
Não como o pássaro
conforme a natureza
mas como um deus
contra naturam voa.
-
Assim o Poema. Nos campos do equilíbrio
elísios a que aspira
sustém-no sua destreza
Ágil atleta alado
iça os trapézios da aventura.
Os pássaros não se imaginam.
O Poema premedita.
Aqueles cumprem o traçado da infinita
astronomia de que são órions de pena.
Este, árbitro e justiceiro de si mesmo,
Lusbel libra-se sobre o abismo,
livre,
diante de um rei maior
rei mais pequeno.
*
HAROLDO DE CAMPOS
"Teoria e Prática do Poema"
As Disciplinas
»1214«
ADRIANO ESPÍNOLA
Nasceu em 1952, Fortaleza, Estado do Ceára no Brasil.
Professor de Literatura, poeta, colaborador de revistas. . .
*
CANTOePALAVRAS
Fala Favela, 1981; O Lote Clandestino, 1982;
Trapézio, 1984; Táxi, 1986; Metrô, 1993;
Em Trânsito, 1996; Beira-Sol, 1997 . . .
*
Jangadas amarelas, azuis, brancas,
logo invadem o verde mar bravio,
o mesmo que Iracema, em arrepio,
sentiu banhar de sonho as suas ancas.
Que importa a lenda, ao longe, na história,
se elas cruzam, ligeiras, nesse instante,
o horizonte esticado da memória,
tornando o que se vê mito incessante?
As velas vão e voltam, incontidas,
sobre as ondas ( do tempo). O jangadeiro
repete antigos gestos de outras vidas
feitas de sal e sonho verdadeiro.
Qual Ulisses, buscando, repentino,
a sua ilha, o seu rosto e o seu destino.
*
ADRIANO ESPÍNOLA
"O Jangadeiro"
»1215«
JOSÉ LANNES
Nasceu, no Rio de Janeiro, Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
De Profundis, 1915; Candeia, 1946. . .
*
Vou caminhar para ti, Senhor!
Perdoa a minha confissão sincera:
Vou lentamente e não como quisera,
que mal se pode caminhar na dor.
-
Atraso-me, a sentir, no meu horror,
a dúvida, que tanto me lacera. . .
Mas eu bem sei que o teu amor espera:
Se o não fizesse, não seria amor.
-
Muitos clamam, Senhor, toda a descrença. . .
Mas eu que sei a solidão imensa
de uma alma, em treva, neste mundo a ansiar,
-
sofro e calo. . . E se o espírito escarninho
mofa: - "Não tem saída este caminho"
responde o coração: - "Hei de chegar!"
*
JOSÉ LANNES
"Confissão"
»1216«
JOSÉ JORGE LETRIA
José Jorge Alves Letria
Nasceu 08 de julho de 1951, signo de cancer.
Cascais, Portugal.
Fez Direito na "Universidade de Lisboa".
História e História da Arte.
Participou em jornais, como "Diário Notícias", "O Diário" . . .
Rádio e Tv. . .
Membro da "World Literary Academy".
Homenagens: "Grande Prémio Garrett"; Prémio "Gulbenkian";
Prémio "Plural", México; Prémio "Aula de Poesia", Espanha;
Prémio "Internacional" U.N.E.S.C.O.; Prémio "Associação
Portuguesa Escritores" A.P.E.; Prémio "Associação Paulista de
Críticos de Arte", São Paulo, Brasil; Prémio "Camilo Pessanha";
Prémio "José Régio"(teatro) . . .
*
CANTOePALAVRAS
Mágoas Territoriais(ficção), 1973; Canto de Revolução, 1975;
Coração em Armas, 1977; Navegador Solitário, 1980;
As Tripas do Coração(teatro), 1981;
O Desencantador de Serpentes, 1984; Papão e o Sonho(teatro),
1985; Intimo das Ondas, 1988; Corso e Partilha, 1989;
Percurso do Método, 1990; A Sombra do Rei-Lua, 1990;
Os Oficiantes da Lua, 1991; A Bagagem Imaterial do Voa
(ficção), 1991; O Cavaleiro do Vento, 1991; Oriente da Mágoa, 1992;
Actas da Desordem do Dia, 1993;
Azul de Delft, 1993; Os Amotinadas do Vento, 1993;
O Fantasma da Obra, 1993; Coração em Armas(ficção) 1996;
Variantes do Oiro(ficção), 1998; Os Mares Interiores, 2001;
Alicate, Bonifrate e Versos com Remate, 2002 . . .
*
Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma corda,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero.
Desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixai-me reinar em ti
o tempo apenas de um rêlampago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes
que há um tempo dentro deste tempo.
Para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.
*
JOSÉ JORGE LETRIA
" A Sofreguidão de um Instante "
Variantes do Oiro
»1217«
REIS VENTURA
Manuel Joaquim Reis Ventura
Vasco Reis(pseudónimo)
Nasceu a 23 de Março de 1910, signo de áries,
Calvão, perto de Chaves, Portugal.
Morou em Moçambique, Angola.
Homenagens: Prémio "Fernão Mendes Pinto";
Prémio "Oscar Ribas"; Prémio "Antero de Quental". . .
Faleceu em 29 de janeiro de 1988.
*
CANTOePALAVAS
Romaria(Vasco Reis); Abandonada(romance), 1965;
Cidade e Muceque(conto), 1970; Sangue de Capim, 1962. . .
*
. . . E a voz menina e moça dos Hemínios,
tornada voz viril, mais se condensa,
numa visão de incógnitos domínios;
e canta e cisma, na ânsia milenar,
unida agora à voz profunda, imensa:
- o mar . . . o mar . . . o mar . . .
-
"Cinco velas vogam nas ondas, mar além . . .
Corpo vigoroso resaltando dos penhascos
de Sagres, máscara rude e tenaz vincada
contra o azul do céu, o Navegador sonha:"
-
Lindas velas! Lindas frotas
mar em fora!
Pelo mar em fora brancas e ligeiras,
num alado bando de alegres gaivotas,
brancas como a aurora! . . .
Lindas velas!
Lindas frotas feiticeiras!
-
Lindas terras, abrasadas
de oiro e luz!
Lindas caravelas de altas armuradas,
rumai para elas! Rumai, confiadas,
para as terras encantadas
de oiro e luz! . . .
-
Surge a terra nunca vista,
- "Terra à vista!
Viva El-Rei!"
Pela Cruz de Cristo. rasquem-se os mistérios!
Pelo amor da Pátria, ganhem-se os impérios!
-
Polla nossa Grey!
*
REIS VENTURA
" O Sonho do Infante "
A Grei
(Mais Poemas . . . "O CANTO . . .do encanto das
. . . palavras" pág. 188).
»1218«
ANA MAFALDA LEITE
Ana Mafalda Morais Leite
Nasceu em Portugal, desde criancinha morou em Moçambique,
adulta, foi para Lisboa.Doutorou-se, pela Faculdade de Letras
de Lisboa, onde se tornou professora . . .
*
CANTOePALAVRAS
Em Sombra Acesa, 1984; Canções de Alba, 1989;
Mariscando Luas, 1992; Rosas da China, 1999;
Passaporte do Coração, 2002 . . .
*
ó bem amado
arco íris
saltimbanco
jogo de corda
balanço
-
me vou me venho
a ti como quem dança
-
como quem sabe
do fogo sobre a chama
(como quem me chama
não fosse memória
apenas chamando
de desejo viesse)
-
de água sobre o mel
do mel sobre o mel
doce doce
amargo amargo
este travo largo
este delírio intenso.
-
ó bem amado
os dias são enormes como o horizonte
os dias são infinitos
como o tamanho deste corpo
em que te habito.
*
ANA MAFALDA LEITE
"Também com Noivas" (fragmento)
Mariscando Luas
»1219«
ANA BRANCO
Nasceu em 1967, Lunda Norte, Angola, África. . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Agora aqui;
Longe daquela terra;
A minha terra;
Aquela que me viu nascer;
Apreendi a minha maior;
Essência.
Todos me levam
e ninguém trás.
Levam tudo sim.
Carne, pele e ossos.
Até meu tutano conseguem sugar
Levam tudo sim.
O melhor que há em mim.
Trazer-me, nunca.
Senão o pior que neles há.
*
ANA BRANCO
" Sem Título "

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