quarta-feira, 11 de março de 2009

167 - Carlos Nejar " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


»1166«
CARLOS NEJAR
Luiz Carlos Vezoni Nejar
Nasceu a 11 de janeiro de 1939, signo de capricórnio
Porto Alegre, Estado de Rio Grande do Sul, Brasil.
Poeta, professor, advogado...
Cursou na Universidade Católica, Rio Grande do Sul,
Ciências Jurídicas e Sociais, 1962. . .
Homenagens: Premio "Fernando Chinaglia" da União
Brasileira de Escritores; Premio "Luísa Cláudio de Souza",
do Pen Clube do Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Sélesis, 1960; Livro de Silbion, 1963; Livro do Tempo;
O Campeador e o Vento, 1966; Danações, 1969; Ordenações,
1969; Canga, 1971; Casa dos Arreios, 1973; O Poço do
Calabouço, 1974; Somos Poucos, 1976; Árvore do Mundo;
Chapéu das Estações, 1978; Os Viventes, 1979; Um país o
Coração, 1980;
*
I
Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me

os perversos e alguns
dos poderosos.Amei
a Pátria injustamente
cega,como eu,num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra, E agora
me ergue no Convento
do Jerônimos o túmulo,
quando não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma Pátria.
Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de tantos filhos.
*
CARLOS NEJAR
"Luis Vaz de Camões"
*
II
O que vemos como muro é sulco,
o que pássaro vemos, é dia.
Nenhuma fera progride no teu vinco
e nenhum vinco te agride, entre címbalos.
-
O que vemos como muro é lâmina,
o que ao sangue tiramos, rombo.
Nenhum anel de ombros, América.
Nenhuma caça te espera, lançada a seta.
-
O que vemos como muro e rumo
e o sumo do entardecer, povo.
O que vemos de gerânios, somos.
O mais, ataúde.
*
CARLOS NEJAR
"Ave Liberdade"
Somos Poucos
*
III
Há em tudo um começo,
no Sol, no ar, no aberto.
Há em tudo em começo
que se abandona, havendo.
-
Eu mesmo me conserto
na proporção que entendo.
A vida é o meu gesto
da flagrá-la, dispêndio.
-
de não amar o excesso
ou me exceder, amando.
Amar o rosto certo
e o rosto que renego.
-
As coisas não conhecem
o que nelas vou pondo.
*
CARLOS NEJAR
"Excesso"
Ordenações
*
IV
Nossos dramas quotidianos
não contam
na milícia dos dias.
-
Iguais às nuvens,
as noites vêm e vão
num redondel ou tubo.
E os revezes são núcleo.
Qualquer gota
nos filtra.
é a nossa identidade.
Nosso número.
-
Tudo sucede
a tudo
e nós, humanos,
não nos sucedemos.
Nos sucedem.
E o sangue
é a cal
do sangue,
sua província.
-
Só vinga
o que adubamos
com folhas de abandono.
-
Tábuas de rebelião.
Tábuas de dor,
nós somos.
Tábuas, tábuas
no universo inviável.
-
Tudo sucede
a tudo.
Sem vestígio.
Insubmissos,
nosso amor
remota aos astros.
E é o desequilíbrio.
*
CARLOS NEJAR
"Prólogo"
Somos Poucos
»1167«
AMADEU AMARAL
Nasceu em 06 de novembro de 1875, signo de escorpião,

Capivari, Estado de São Paulo, Brasil.
Jornalista, professor e poeta.
Foi Membro da "Academia Brasileira de Letras". . .

Estilo Neo Parnasiano.
Faleceu em 1929...
*
CANTOePALAVRAS
Urzes, 1889; Névoa, 1902; Espumas, 1917;
Lampada Antiga, 1924; Letras Floridas; O Elogio da Mediocridade;

Dialeto Caipira. . .
*

I
Tu, sim, amigo, tu bem compreendeste aquilo:
a vacuidade atroz daquela feira abjeta,
onde, hostil, à penumbra, ao recato e ao sigilo,
estrondeia o tropel da turba ousada e inquieta.
-
Sábio, soubeste erguer no Silêncio um asilo,
- claustro branco onde canta o sonho azul do poeta,
como a fonte que flui, sonora no ar tranqüilo,
a encher perenemente a piscina repleta.
-
Do teu mudo desdém se ecoa, comovida,
a obra que tu compões - uma tácita prece
à beleza do mundo e à beleza da vida.
-
Assim vive a palmeira entre as paisagens calmas:
goza-lhes o esplendor e o encanto lhes acresce
com o alto fuste do caule e o capitel das palmas.
*
AMADEU AMARAL
"A Um Poeta Desconhecido"
*
II
Sonhos, sonhos de amor . . . enganosa miragem
do deserto . . . fulgor de insidiosa lagoa
a sorrir e a tremer sob a fresca ramagem,
na aparência feliz da água límpida e boa . . .
-
Castelo de fumaça a embalar-se na aragem
e que de brusco rola e no azul se esborra . . .
rútila espumarada oceânica . . . paisagem
que vista ao longe encanta e que de perto enjoa . . .
-
Borboletas ao Sol . . .Ingrime e dura serra,
Que na luz do horizonte afunda as amplas cristas,
Lembrando uma região de paz dentro da Terra . . .
-
Paisagem, borboleta, águas, espumantes!
Ilusório, clarão das cousas entrevistas!
Passageiro esplendor das cousas desejadas!
*
AMADEU AMARAL
" Sonhos de Amor"
Névoa
»1168«
ODYLO COSTA FILHO
Odylo de Moura Costa Filho
Nasceu a 14 de dezembro de 1914, signo de sagitário
São Luis do Maranhão, Brasil.
Poeta, advogado, radialista, político....
Doutorou-se em Direito,1933, na Universidade do Brasil,
Rio de Janeiro. Trabalhou em diversos jornais. 
Membro da Academia Brasileira de Letras, 1969. . .
Faleceu a 19 de agosto de 1979.
*
CANTOePALAVRAS
Graça Aranha e outros ensaios, 1934; Distrito da Confusão
(crônicas), 1945; A Faca e o Rio(novela), 1965;
Livro de poemas, 1936; Tempo de Lisboa, 1966;
Cantiga Incompleta, 1971; Os Bichos do Céu, 1972;
Notícias de Amor, 1974; Boca da Noite, 1979 . . .
*
I
Há uma cidade feita de lembrança
onde o tempo suspenso te rodeia
e o rio da memória enfim descansa
disperso em manchas d'água pela areia.
-
A roda alegre dos meninos dança
e a luz pequenos bichos encadeia.
Uma palmeira acende a verde trança
e o tempo pára: é sempre lua cheia.
-
Choveu. Formigas de asas no ar. Atracam
as canoas nas ruas misteriosas
que vão morrer no largo da matriz.
-
E nos campos sem fim os bois estacam.
Olha, A mão do vaqueiro colhe rosas
e leite. Ainda és menina. És tão feliz!
*
ODYLO COSTA FILHO
"Soneto de Infância"
Cantiga Incompleta
*
II
Só, neste chão ocidental da Europa,
sou apenas lembrança, e só lembrança.
A fé, se a não perdi, é que agarro
ao padre-nosso que escutei menino.
-
A saudade me tira o gosto às coisas
e me resseca os olhos enevoados.
Campos e barcos, trajes, casas, rios
atravessam-me o corpo sem ficar.
-
Mas espero no espírito e no sangue.
As rezas que aprendi e que ensinei
hão de chegar a tempo de salvar-me.
-
Traspassado do límpido segredo,
hei de com os dedos arrancar à terra
Alegria de amor que não se acabe.
*
ODYLO COSTA FILHO
"Soneto do Só"
Tempo de Lisboa
*
III
Ontem, mais uma vez, sonhei contigo:
não na montanha, em tarde de Sol frio,
mas ditada no chão florido e amigo
que se estende na frente do Rocio.
-
Havia ovelhas, e um silencio antigo
cobria a noite, a terra em flor, o rio,
luzes ao longe, bois ao desabrigo,
e as vozes dos vaqueiros num cicio.
-
Uma quentura suave, uma harmonia,
a sensação de um nunca se acabar,
das estrelas a nós, quieta descia.
-
Deitei-me ao pé de ti. Do teu olhar
uma ternura triste me vestia
e os campos eram brancos ao luar.
*
ODYLO COSTA FILHO
"Soneto do Sonho no Campo"
A Visita do Anjo
»1169«
IVAN JUNQUEIRA
Ivan Nóbrega Junqueira
Nasceu a 03 de novembro de 1934, signo de escorpião,
Rio de Janeiro, Brasil. Membro da "Academia Brasileira
de Letras". . .
Poeta...
Homenagens: Premio "José Sarney"; Premio Nacional de
Poesia "I.N.L"., 1981; Premio "Assis Chateaubriand", 1985;
Premio Nacional de Ensaísmo Literário "I.N.L.", 1985;
Premio Associação Paulista de Críticos de Arte, 1991;
Premio da Biblioteca Nacional, 1992; Premio "Jabuti", 1995;
Premio "Luísa Claudio de Sousa", do Pen Club do Brasil, 1995;
Premio "Oliveira Lima", U.B.E., 1999; Premio "Jorge Lima",
U.B.E., 2000. . .
*
CANTOePALAVRAS
Os Mortos, 1965; Três Meditações na Corda Lírica, 1977;
A Rainha Arcaica, 1980; Cinco Movimentos, 1982;
O Grifo, 1987;O Encanto de Serpentes(Ensaísmo), 1987;
A sagração dos Ossos, 1994; Poesia Reunida, 2005 . . .
*
I
Sonho.
Sonho um sonho antigo onde se movem
imagens de outro sonho que o desdobra
num córrego de vozes e horas mortas.
-
Sonho e cobro ao tempo a sua história:
pássaro de cinza, tua carne agoniza
nos braços escorregadios da noite,
enquanto lentamente teus passos percorrem
as rotas apagadas do mapa da infância.
-
(Retine a espora acesa de um menino
sob o flanco adormecido das colinas.)
-
Sonho e me abandono à tua música,
à tua harmonia úmida. Mas um golpe
de vento logo te dissolve.
Rápido, semeio tua lembrança na concha de uma onda,
onde a contemplo sob as águas em colóquio
e onde, liberto de formulas e palavras,
-
fecundo a solidão com o pólen de meu júbilo.
*
IVAN JUNQUEIRA
"Sonho"
Poesia Reunida
*
II
A árvore era humilde e arqueada,
assim como os ombros de um inválido.
Mas dava sombra e ríspidas flores vermelhas.
E líquens e pássaros e abelhas.
Um dia, suas grossas raízes fenderam a calçada,
deixando à mostra as vísceras do pátio.
E então derrubaram-se a golpes de machado.
Sobre o piso refeito, polido e imaculado,
os cães urinaram e defecam,
Os transeuntes escarram e cospem suas pregas,
os ratos roem os restos de uma carcaça abandonada
e os mendigos se arratam como vermes
rumo ao nada.
*
"A Morte da Vida" Foto LuisD.

*
IVAN JUNQUEIRA
"A Árvore"
Poesia Reunida
*
III
É o vento que vem uivando
pelas frinchas do infinito
é o vento que vem gemendo
na espinha do plenilúnio
é o vento que vem rolando
como um cascalho de treva.
-
É o vento que vem quebrando
as vidraças do silêncio
é o vento que vem abrindo
as cicatrizes da véspera
é o vento que vem pulsando
nas veias murchas do tempo.
-
É o vento que vem mordendo
a carne tenra das nuvens
é o vento que vem regendo
a sinfonia das águas
é o vento que vem varrendo
a nostalgia dos túmulos.
-
É o vento que vem trazendo
teu sorriso embalsamado
é o vento que vem despindo
a salsugem de teus seios
é o vento que vem moldando
tua gótica nudez.
-
É o vento que vem brincando
de roda com minha infância
é o vento que vem tangendo
meus pensamentos sem rumo
é o vento que vem traçando
o mapa de minha face.
*
IVAN JUNQUEIRA
"É o Vento"
Poesia Reunida
»1170«
HÉLIO JOSÉ DÉSTRO
Nasceu 20 de junho de 1935, signo de gemeos.
Cristais Paulista (antiga Guapuã), Brasil.
Poeta...
Fez, Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, 1956, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias do Sol, 1984 . . .
*
I
Se és mãe, és uma flor,
como ela, linda, delicada.
Aquela silvestre, do campo,
da casa pobre, da cidade,
da mansão, bem cuidada.
-
Aquela que nasce nos cantos,
nas encostas e nos prados,
na beira dos rios e na praia.
-
Todas as mães são flores.
Mãe, és esta flor.
No lugar que habitares,
no lugar onde estiveres,
exala bem teu perfume.
-
Para perfumar os teus com amor,
pois dele tu é feita:
FLOR - MÃE - AMOR
MÃE-FLOR.
*
HÉLIO JOSÉ DÉSTRO
"Mãe-Flor"
Poesias do Sol
*
II
O vento vento sibilante o seu ruído
continuo na sala a ouvir.
Talvez consigo vozes
que posso distinguir:
palavras de fome e dor,
palavras de amor e prazer.
Gemidos, passos e gritos,
choros altos, baixos e sussurros,
sons de músicas que encantam,
os modernos, também os ruídos.
Os suaves, de se ouvir.
Cantos de pássaros e aves,
o deslizar do mar na areia,
beijando-a a mais não poder.
O fervilhar de todas as ondas
encontrando-se, misturando-se.
O som do cristal, o cair das folhas,
o triturar das folhagens secas
nos passos do lenhador.
Pássaros chilreando e amando,
o chamar dos filhotes às mães,
Muitas talvez sem responder.
O amor à natureza,
o cheiro de todas as flores,
também de todas as fêmeas e machos.
O bailado suave dos Beija-Flores,
de todos os insetos, a procura do néctar.
O estrondo, o barulho, o trovão o assobio,
o pingo d'água caindo,
a guerra, a paz.
As vozes dos animais.
O sino da Catedral, o ego das grutas,
o barulho das folhagens, com suas danças,
onde Deus está a orquestrar.
tudo foi diminuindo, sumindo,
não se ouve nada, é o silêncio.
Dorme o vento.
Silêncio, silêncio.
*
HÉLIO JOSÉ DÉSTRO
"O Vento"
Poesias do Sol
»1171«
MÁRIO CÂNDIDO DE LIMA JUNIOR
Macaliju (pseudônimo)
Nasceu no Brasil, século XX
Poeta e advogado da Faculdade de Direito de São Paulo
U.S.P., famoso Largo de São Francisco . . .
*
CANTOePALAVRAS
Poemas ao Tempo; Poemas ao Vento, I, 1997. . .
*
I
Quando nasci, ela se encontrava por perto.
Era uma árvore de raízes bem profundas.
Que penetrava e penetrava fundo.
Sob o solo do rincão do meu mundo.
-
Naquele tempo, ó árvore saudosa,
Eu brincava ao seu redor com alegria,
E, de vezes, no tronco encostava a minha mão.
E parecia sentir o seu coração.
-
Naquele local, só havia o nosso sítio,
Que era simples, que era humilde, mas . . . mas eu digo
Ele fora para mim muito querido.
Lembro-me da casa dos animais.
Lembro-me de você. ó arvorezita, junto à janela,
Que, quando eu ficava sob os seus galhos.
Sentia um prazer imenso, era uma sombra estranha a sua.
-
Daqui de cima, eu avistava o sítio todo, que maravilha!
Via os galináceos a andarem pelo terreiro.
Via minha avó a levar milho ao galinheiro.
Via a planície, bem distante.
Via o meu pai, que se encontrava mais avante.
Via a vida passar por um instante.
-
E a tarde, quando o céu escurecia,
O ruído da estação do ano, que era outono,
Se fazia notar por cânticos inexplicáveis.
E você e eu, árvore do passado, ficávamos a ouvi-lo;
A sua voz, ó árvore, quando conversa com a natureza,
Que dizia palavras temas e amigas,
Que contava histórias diferente,
Histórias que não acontecem com a gente,
E que eu ouvia com atenção,
Que prestava tanta tenção.
-
Hoje(como padeço!), estou perto de você novamente.
Todavia, sem ver o sítio de outrora,
Porque nesse lugar, agora, nada existe.
Só você existe, ó velha árvore,
Conta-me, então, algo da vida, ó árvore calada,
Árvore que me viu viver nas madrugadas.
Só você restou por estes lados.
Vive sozinha, muito tristonha, eu já sabia.
Não quis morrer conosco um dia,
Pois viver por mais séculos de fantasia,
Pois iria viver sem saber porquê.
-
Também não vejo os meus irmãos a correrem por terra.
Nem a minha avó a levar milho ao galinheiro.
Somente, enxergo-lhe, ó árvore amiga.
Mas parece que me engano:
Você morreu também, pobre criatura,
E não me anunciou a sua morte.
Você errou por não fazê-lo.
Agora, somos ambos almas de um pesadelo.
Ó árvore silenciosa, vivamos neste aterro!
*
MÁRIO CÂNDIDO DE LIMA JUNIOR
"A Árvore"
Poemas ao Vento
. . . "Ofereço este Livro à Humanidade" . . .
. . . "O Silêncio é produzido por ventos desconhecidos . . .
Macaliju
*
II
Senhor pássaro, por que pousarás neste galho?
Sei que voas por toda a parte e não cansas.
Sei que que voas por esses ares, por essas terras.
Voas, por tudo, pelos bosques e florestas.
Voas, senhor pássaro, mas nunca chegas nas metas.
-
E agora, senhor pássaro, procuras em abrigo.
Também lutas pela tua sobrevivência,
E continuarás a lutar sempre,
Até caíres um dia por terra, como uma semente.
-
Daí, o vento agitará as tuas penas.
Ficarás coberto de pó, e serás devorado pelos insetos.
Sem dúvida, tu foste um pássaro inteligente.
Nasceste numa tarde e voaste diversas auroras.
Sei que tu atravessaste noites profundas manhãs formosas.
-
Oh pássaro, eu me lembro de ti;
Te conheci, certa vez, quando eu fitava a madrugada.
Tu me apareceste e me pediu pousada.
(Devia ser isso. De estranho não há nada!).
Viveras anos por estes lados.
Em dia nenhum me deixaste contrariado.
Tu sempre foste uma ave estimada.
Somente hoje, tu me deixaste pensativo,
Quando eu te encontrei, assim, hirto.
-
Peguei-te. Tu és mais leve que o vento.
És franzino e delicadíssimo.
Coloquei-te entre folhas verdes.
Daí, te deixei sozinho, inerte.
Na certeza, surgirão outros pássaros como tu,
E um deles novamente me pedirá pousada.
(Deverá ser isso. De estranho não há nada!).
*
MÁRIO CÂNDIDO DE LIMA JUNIOR
"O Pássaro"
Poemas ao Vento
*
III
Chegaste, enfim, ó pássaro negro.
Chegaste resoluto, imponente, soberbo.
Pousaste neste pedestal, sem ser representante do mal.
Ficaste imóvel a me contemplar.
Tuas penas aveludadas, macias,
Apenas tremulam com o vento que bate.
Que elegância és tu, que vigor!
Serás tu o próprio amor?
-
Vieste (eu sei) para te tornar uma estátua.
Uma estatueta viva, porém.
Vieste (eu também sei) de um lugar chamado além.
Escolheste este local porque é acolhedor.
Descobriste que aqui mora um sonhador.
Mas tu ainda permaneces esplendoroso,
Como se tua missão fosse uma mensagem,
Como se tua missão fosse uma homenagem.
-
Estou a te fitar.
Estou a te analisar.
A tua figura lembra a vida,
Mas também lembra a morte.
O teu grasnar é uma forma da sorte.
Pois então, viva ao meu lado,
Desfrutemos o que vem a ser amado . . .
-
Mas deixei aquele pássaro em paz.
Deixei-o tranqüilo. Abandonei-o,
Pois, daqui de longe, eu ainda o avistava.
Deixara, sim ele a mensagem que eu gravei.
E na distância, eu ouvia o teu grasnar.
O teu porte fora a advertência,
Uma vez que nos teus olhos estava o aviso.
Na tua imagem, traduzia-se a quietude
Na tua sombra, eu descobri a virtude.
E, no vento que me separou de ti,
Eu interpretei oque nunca vi.
*
MÁRIO CÂNDIDO DE LIMA JUNIOR
"Homenagens"
Poemas ao Vento
»1172«
ANATOLE DE ABREU LIMA
Nasceu no Brasil . . .
Um apaixonado professor e poeta . . .
*
CANTOePALAVRAS
Rimas do Coração, 2000 . . .
*
I
Esta árvore frondosa
Que vive no meu quintal,
Dá-me uma sombra gostosa
Para um repouso ideal.
-
De alto galho, no pino,
Um passarinho, contente,
Solta um trinado divino
Que encanta a alma da gente.
-
Seus frutos são saborosos
E nos fazem muito bem.
E são, ainda, copiosos
Em vitaminas, também.
-
Quando volto do trabalho,
Tendo a mente atribulada,
Procuro em seu agasalho,
Na sombra, a paz desejada.
-
Por isso, eu quero tanto . . .
E de manhã, bem cedinho,
Logo, assim que me levanto,
Vou regá-la com carinho.
*
ANATOLE DE ABREU LIMA
"Minha Árvore"
Rimas do Coração
*
II
sonho com teu carinho que me embriaga . . .
Com teu beijo sensual que me envenena.
No começo, a ilusão, tão doce e amena . . .
E depois, a paixão como uma adaga!
-
Quero fugir! Mas fico . . . Dura é a pena
De quem tem n'alma uma ilusão que afaga!
E essa praia, tão calma e tão serena,
Tornou-se um mar que em ondas se desbraga!
-
Não posso mais viver sem ter o enlevo
Dos teus carinhos, Faço o que não devo
E me arrependo do que fiz . . . e assim,
-
Nas ânsias deste amor, que me devora,
Guardo, no peito, um coração que chora
Este sonho impossível para mim!
*
ANATOLE DE ABREU LIMA
"Sonho Impossível"
Rimas do Coração
(Mais Poemas . . . "O CANTO . . .do encanto das . . .
PALAVRAS" pág. 189; "MAIS CELEBRIDADES!!!???
AS ETERNAS" . . . pág. XL).
»1173«
ALEXEI BUENO
Nasceu a 26 de Abril de 1963, signo de touro.
Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, escritor...
Em 2002, organizou a "Anthologie de la Poésie
Romantique Brésilienne", em Paris, para a U.N.E.S.C.O.. . . .
Homenagens: Premio "Alphonsus de Guimarães", Biblioteca
Nacional, 1995; Premio A.P.C.A., 1995; Premio "Fernando
Pessoa", 1998; Premio "Jabuti", 2002 e2003 . . .
*
CANTOePALAVRAS
As Escadas da Torre, 1984; Poemas Gregos, 1985; Livro
de Haicais, 1989; A Decomposição de J.S.Bach, 1989;
A Chama Inextinguível, 1992; Lucernia, 1993; A Via Estreita, 1995;
A Juventude dos Deuses, 1996; Entusiasmo, 1997;
Poemas Reunidos, 1998; Em Sonho, 1999;
Os Resistentes, 2001; Gambo, 2002;
O Patrimônio Construído, 2002; Glauber Rocha, mais forte
são os poderes do povo, 2003; Poesia Reunida, 2003;
A Árvore Seca, 2006; O Nordeste a Epopeia Nacional, 2006 . . .
*
I
Lá fora, no vento,
Cabelos soltos e risos . . .
E a vida tão pouca.
-
Surgindo da espuma
Conchas partidas, escamas . . .
Sorrisos da morte.
-
Nos bambus já escuros,
Morcegos, daqui, dali,
Também sem destino.
-
Batendo em meus dentes
A lua crescente, e um riso
Duas vezes branco.
-
Gotas furiosas.
Que ânsia da chuva e de tudo
Em voltar à terra!
-
Bêbado, o mendigo
Vituperando o silencio
Que o apagará.
-
Virando, rompendo
As folhas secas, meus pés
Sem respeito aos mortos.
-
Quantas avós tuas
Meus ascendentes pisaram,
Pertinaz barata?
-
Entre as ruas, eu,
E em mim, eu em outras ruas,
Sob a mesma noite.
-
Quando lá naquele
Píncaro eu me erguer, serei
Certamente eterno!
*
ALEXEI BUENO
"Lá fora, no Vento"(Fragmento)
Livro de Haicais
*
II
Nunca mais vos verei, faces que um dia
Marcaram meu olhar, nunca, jamais . . .
Vós sois tais como os dias, vós passais
Para nunca voltar; e na agonia.
-
Das noites, vós o exército sem guia,
Marchais mostrando os rostos imortais
Que um instante gravou, que ninguém mais
Poderá destronar de uma hora fria.
-
Mas onde ides tal noite, almas perdidas?
Viveis? Sois ossos já? Que porta oculta
Vos guardará dos cães e das feridas?
-
Não sei. Não vos verei. Meu tempo finda
Na mesma selva irreal que vos sepulta,
E assim voa amo e, assim vos vejo ainda!
*
ALEXEI BUENO
"Nunca mais vos verei, faces que um dia"(fragmento)
As Escadas da Torre
*
III
Amo-te, fonte, pois na boca escura
Tens o ser no que perdes, como nós.
Tua voz, para ser a tua voz,
Cai sobre a ausência prévia que a depura.
-
Mas nos teus olhos pétreos há uma dura
Expressão, como em quem se sabe o algoz
De si mesmo, pois que és nascente e foz
Quando apenas nascer teu ser procura.
-
Porém a queda ao nada é que é o teu canto,
E o musgo em tua face deixa ver
Manchas verdes que crescem como um pranto!
-
E o teu ser noite a dentro cospe a mágoa
De ser só no que parte, e de querer
Partir eternamente em tua água.
*
ALEXEI BUENO
"Amo-te, fonte, pois na boca escura"(fragmento)
As Escadas da Torre
»1174«
HAMILTON FARIA
Hamilton José Barreto de Faria
Nasceu em Curitiba, Estado do Paraná, Brasil.
Poeta...
Participou do F.I.C. (Forum Internacional
de Cultura), Porto Alegre, Brasil . . .
Homenagens: Premio "Prix Thorlet" Société Académique
des Arts, Science et Letters, Académie Francaise, 2006 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Diavirá, 1977; Estações, 1984; Poemas no Teatro, 1985;
Cidades do Ser, 1988 . . .
*
I
nuvenzinha
deixa cair tua gota
neste cálice de amor
-
um dia serei nem haste
e nenhum vivo que passe
me veria como flor
-
hoje digo às espécies
que restaram no jardim:
é tão preciso que festem!
é tão preciso que dancem!
é tão preciso que nuvem!
-
mesmo as flores sem alças
mesmo as flores descalças
mesmo apesar do dano
que a vida faz e não paga
mesmo apesar dos anos
que se escrevem não apagam
mesmo apesar dos donos
da nossa existência mágica
-
nuvenzinha
deixa cair tua gota
neste cálice de amor.
*
HAMILTON FARIA
"A Flor e a Nuvem"
Cidades do Ser
*
II
Cai
a
gota
de Venus
-
Rosa branca no jardim
Inverno
-
A primavera está em mim.
*
HAMILTON FARIA
"Orvalho"
Cidades do Ser

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