quarta-feira, 18 de março de 2009

165 - Cassiano Ricardo " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

»1148«
CASSIANO RICARDO
Cassiano Ricardo Leite
Nasceu a 26 de julho de 1895, signo de leão,
São José dos Campos, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta, estudou em S.Paulo e Rio de Janeiro, formou-se
em Direito, 1917. Participou do movimento
"Verde-Amarelo" e depois escola de "Anta", 1927.
Trabalhou em vários jornais. . .
Homenagens: Premio "Juca Pato", 1965 . . .
Estilo Modernista.
Faleceu a 15 de janeiro de 1974.
*
CANTOePALAVRAS
Dentro da Noite, 1915; A Flauta de Pã, 1917;
A Mentirosa de Olhos Verdes, 1925;
Borrões de Verde Amarelo, 1926;
Canções da Minha Ternura, 1927;
Martim Cererê, 1928; O Brasil no Original(ensaio), 1936;
O Negro na Bandeira(ensaio), 1938; A Academia
e a Poesia Moderna(ensaio), 1939;
Pedro Luis Visto pelos Modernos(ensaio), 1939;
Marcha para o Oeste(ensaio), 1942;
O Sangue das Horas, 1943;
Um Dia Depois do Outro, 1947;
Um Dia Depois do Outro, 1947; A Face Perdida, 1950;
Deixa Estar Jacaré, 1950; Face Perdida, 1950;
Poemas Murais, 1950; 25 Sonetos, 1952;
A Poesia na Técnica do Romance(ensaio), 1953;
O Tratado de Petrópolis(ensaio), 1954;
Meu Caminho até Ontem, 1955;
O Arranha-Céu de Vidro, 1956;
João Torto e a Fábula, 1956; Pequeno Ensaio
de Bandeirologia(ensaio), 1956;
Poesias Completas, 1957; Montanha Russa, 1960;
A Difícil Manhã, 1960; Algumas Reflexões sobre
Poética da Vanguarda(ensaio), 1964;
Vamos Caçar Papagaios;

Jeremias sem Chorar,1964; O Indianismo de Gonçalves
Dias(ensaio), 1965; Viagem no Tempo e no Espaço
(memórias), 1970; Os Sobreviventes, 1971 . . .*


"Meu Jardim" Foto LuisD.

I
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
de ilha de VERA CRUZ.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros

Ilha cheia de luz.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Depois mudaram-lhe o nome
para terra de SANTA CRUZ.
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de tanga e onças ruivas
deitadas à sombra das árvores mosqueadas de Sol.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

deram-lhe o nome de BRASIL.
-
BRASIL cheio de graça
BRASIL cheio de pássaros
BRASIL cheio de luz.
*
CASSIANO RICARDO
Fragmentos de "ladainha"
*
II
Ver a tarde, afinal. . .E as quérulas avenas
de um rancho de zagais, em chorosa surdina,
põem trêmulos de dor, de saudades terrenas,
no claro-escuro da tristeza vespertina. . .
-
Ao dorido langor de agrestes cantilenas,
a lâmpada do acaso as coisas ilumina.
-
Longe, a tarde se estorce, em violácea agonia.
Essas horas de susto e de melancolia,
como é triste ao pastor transviado compreendê-las!
-
Pelas moitas sem luz, pelos ermos escampos,
com cabelos de luar e olhos de pirilampos,
desce a Noite, tangendo o rebanho de estrelas. . .
*
CASSIANO RICARDO
"Tarde no Campo"


III
Exigente, a esperança,
sob o céu de amora e arroz,
me fez escravo, me pôs
a correr sobre a laje de fogo
(como uma salamandra)
-
agora, porém, já estou
em mim, muito mais do que sou.
Pra quê vara mágica? A pedra
é um relógio de Sol, parado.
(Só se move o girassol)
-
A esperança, agora, me chumba
ao catre, e me obriga a esperar.
A esperar crescer a hera.
Quando já de debulhou, todo,
em meu ser, o dom da espera.
-
Invertida primavera.
Ser forçado pela esperança
por feroz desnecessidade,
a esperar em silêncio, a contar
o Sol pelos dedos de pedra.
*
CASSIANO RICARDO
"Relógio de Sol"
A Difícil Manhã 

IV
A Instantaneidade
me trouxe a graça
da imobilidade
Viajo mas imóvel, dentro
do meu estúdio
Estou no teu jardim
a leste
e és tu que estás em mim 
a oeste
-
às terras mais distantes
vou, sem ir
(Supressão do ir e do porvir)
O mundo lá fora (hoje)
faz parte do meu corpo
(aqui dentro)
Não preciso sair de onde
estou pra percorrê-lo
Tenho-o sobre a mesa 
(sobremesa)
-
Cada um de nós
Não precisa sair de onde 
está
pra estar no outro lado
de um (ignorado) fim.
Quem não sente, no corpo
a rua
que divide o mundo
em Berlim?
CASSIANO RICARDO
"Estúdio"
Jeremias Sem Chorar

*»1149«
HERMES FONTES
Nasceu em 28 de agosto de 1888, signo de virgem,
em Buquim, Estado de Sergipe, Brasil. . .

Poeta, jornalista...
Estudou Direito no Rio de Janeiro, Brasil
Faleceu em 1930.
*
CANTOePALAVRAS
Gênese, 1913; O Mundo em Chamas, 1914;
Ciclo da Perfeição, 1914; Miragem do Deserto, 1917;
Epopéia da Vida, 1917; Microcosmo, 1919;
A Lampada Velada, 1922; Despertar, 1922;
A Fonte da Mata, 1930; Constelações; Apoteoses. . .

"Meu Jardim", Foto LuisD.

*
Corpo que se encontrou abandonado de alma,
corpo que se não pôde à ação do ar decompor, -
uma pedra é uma vaga imóvel. . .É uma calma
recordação do mar, de que foi leito a estrada,
uma vaga do mar dos Tempos, retardada,
que por aí ficou sem sentidos, parada,
adormecida por um íntimo torpor.
-
É a Impassibilidade esculturada, Dorme.
Secou-lhe o sangue, e não consegue apodrecer.
Vive? É possível. Morre? É provável. Conforme
a Vida e a Morte. . . A pedra é um ponto de partida.
É o princípio da Morte, é o princípio da Vida. . .
É um gesto contrariado, é uma força contida,
é o Ser que adormeceu em caminho do Ser. . .
*
HERMES FONTES
"A Primeira Pedra"
Gênese


»1150«
BUENO DE RIVERA
Odorico Bueno Rivera Filho
Nasceu em 03 de abril de 1911, signo de áries.
Santo António do Monte, Estado de Minas Gerais, Brasil
Poeta, radialista . . .
Faleceu em 25 de junho de 1982.
*
CANTOePALAVRAS
Mundo Submerso, 1944; Luz do Pantano, 1948;
Pasto da Pedra, 1974 . . .



"Meu Jardim", Foto LuisD.
*
I
Inútil fechar com violência as portas virá o sono,
a mão impassível cerrará as palavras,
então murcharás como um fruto imprestável.
O abandono cruzará os teus braços no peito,
os dedos acenderão as velas.
Virá o grande sono, chumbará teus pés.
-
Quando o sino da manhã chamar, não existirá mais.
Na bruma se apagarão os telefones,
os recados aflitos, as horas marcadas os negócios.
O relógio do escritório se diluirá no mundo longínquo dos vivos.
O sono Pousará na tua fronte
e acenderá um sonho novo no teu profundo esquecimento.
*
BUENO DE RIVERA
"Sono"
Mundo Submerso
*
II
Piedosos mortos,
sacrificados para que vivêssemos,
nós, os afogados, vos saudamos.
Algas e cabelos, espírito e mãos boiam no adeus,
morto, adeus!
-
Como sangra no coração a palavra soldado!
Não são mais os quartéis, são os símbolos marchando,
A cidade marchando entre o crepúsculo e a aurora.
-
Mortos do crepúsculo, mortos de quatorze,
Inutilmente mortos,
Mortos de quarenta, marcham os vossos filhos . . .
Mortos da aurora, que será de nós?
*
BUENO DE RIVERA
"Elegia dos Mortos do Século"
Luz do Pantano
*
III
O suor da cidade
é levado intacto
pelos buldogues
da limpeza pública.
-
A cidade é o pelicano
que amargo se devora
e expele os resíduos
de fumo e de alimentos
e o sal triturado
na máquina das horas.
-
As sobras da fome
impuras se despejam
em caminhões noturnos:
latas coloridas,
massas de tomate,
frascos de pimenta,
condimento azul,
cristas e penas
de pássaro cozido
e peixes afogados
em feijão dormido.
-
Os enfeites da cara
e as cobertas do copo
são, agora, em trapos
vaidade morta.
Na lama os diviso:
paletós sem mangas,
peitos de camisa,
peças impudicas,
lã de sapatinhos,
botas cambotas,
vidros de esmalte,
tubos de batom
e milhões de pastas
sorridentes.
-
O resto das lembranças
de tempo amoráveis
é atirado ao frio
caminhão da tarde:
cartas de afeto,
lenços, monogramas,
corações bordados;
retratos, mãos unidas
no banco dos parques,
retratos, cabelos
no ar das cachoeiras,
retratos, pão de açúcar,
noivados, retratos
agora desolados,
agora manchados
de azeite, pó e lágrima.
-
As dores do homem
são, também, cremadas
no forno da omissão.
São longas as noites
de febre e de abandono;
mas o Sol amanhece
e doura no lixo
as ampolas mágicas,
cápsulas do sono.
-
Os restos do amor
das noites de amor
são impunes jogados
ao lixo da manhã;
tapetes de automóvel,
espelhos e perfumes,
pentes e esponjas,
sais desodorantes,
bilhetes suicidas,
conta de boate,
colar desfiado
e o impermeável
onde se matou
um anjo frustado.
-
Os restos do amor
como as esperanças
apodrecem no lixo
neutro da manhã.
*
BUENO DE RIVERA
"Transcendência do Lixo"

*
IV
O olho no microscópio
vê o outro lado, é solene
sondando o indefinível.
-
Dramática a paciência aguarda
do olho através da lente,
buscando o mundo na lamina. 
-
A tosse espera a sentença,
o leito aguarda a resposta.
O tísico pensa na morte.
-
O silêncio é puro e o frio
envolve o laboratório.
Os frascos tremem de susto.
-
O infinito dos germes
reflete no olho imenso
que pousa na objetiva.
-
O avental se levante.
Os dedos inconscientes
escrevem a palavra ríspida.
-
O resultado terrível
entre os óculos do médico
e ele diz: positivo.
-
O doente tira o lenço.
Aperta a mulher e o filho,
chora no ombro da esposa.
-
Imagina a reclusão
no sanatório, a saudade
e o vento no quarto branco.
-
Olha o papel: positivo.
Cresce a palavra com a tosse.
A febre queima a esperança.
-
O microscopista, no entanto,
conta anedotas no bar.
Está alheio e feliz.
-
Não sabe que olho esquerdo
ditou a sentença e a morte.
Paga o café e caminha.
*
BUENO DE RIVERA
"O Microscópio"
Mundo Submerso

»1151«
GERARDO MELLO MOURÃO
Gerardo Majella Mello Mourão
Nasceu a 08 de janeiro de 1917, signo de capricórnio.
Ipueiras, Estado do Ceará, Brasil.
Poeta, preso por problemas políticos, no governo de 

Getúlio Vargas, e na ditadura militar.
Membro da "Academia Brasileira de Filosofia"
Homenagens: Premio "Jabuti", 1999.
Faleceu em 09 de março de 2007.
*
CANTOePALAVRAS
Cabo das Tormentas, 1944; Valete de Espadas, 1960;
O País dos Mourões, 1964; Peripécia de Geraldo, 1972;
Vizinhas Chilenas, 1979;
Suzana 3, 1998; Canon& Fuga, 1999;
Invenção do Mar, 1999; O Bêbado de Deus, 2001;
Algumas Partituras, 2002 . . .
*
Vem, formosa, mulher pálida,
que banharam de luz as alvoradas
na concha de tuas mãos a água verde
flauta diáfana de água à pétala
do lábio estremecia
e desmanchada ao canto - ao canto
a água sugeria de novo o gomo verde
a flauta diáfana de água
ao milagre dos dedos e do sôpro:
bem que me deste, tu mesma, as notícias da Grécia
e eras jônica e coríntia, às vezes dórica
em teus quadris eólis tua concha
à relva eólia
à pétala do lábio estremecia e era
a melodia de tuas flautas escondidas:
começara
no golfo de teus olhos a viagem
ao verde mar por onde
a lua esverderara a lua
de mel dos cabelos
de Helena à espuma
do desvairado amor:
e estas são notícias da Grécia e um deus
tangia cítaras e ovelhas e os homens
jurados à beleza
domavam o cavalo, a nau, a lança, a espada e a terra
orvalhada de sangue dos guerreiros - um deus anunciava
a vida e a morte por amor do amor
e anunciava a vida e a morte e os machos
do país dos Mourões.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Não te enxugue em espádua e anca e coxa
a água de beleza em que estes olhos
lavaram tua pele:
vem formosa mulher, camélia pálida,
já do salgado mar a espuma viva
prateia-me a pupila:
é preciso partir e na mão grossa
a enxárcia a vela a cordoalha pedem
um jeito de monção e à chibata
dos ventos na garupa o barco pede
uma estrêla no céu para o caminho à noite:
tu com teus olhos, Vega de Lira, gema da Coroa Boreal, estrêlas verdes
e de Andrômeda e da Cassiopeía.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Um dia as orquídeas se abriram sôbre
olhos oblíquos de Magdalena
antes da âncora da dor numa angra verde e antes
de partir-se teu rosto da romã
antes, vadio com seu cão e sua flauta
pelos montes o poeta
vadiava e farejava as garrafas de wisky, a virilha das francesas e eram
baralhos de bacará e roletas de ouro
- a bolinha de marfim
cai no sete
cai no zero
cai no preto
no vermelho
a bolinha de marfim
cai não cai
onde é que cai?
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
E uma tarde
fazia o vento noroeste
caminho à popa
dentre um arvoredo ouvimos grandes brados
e fomos demandar onde bradavam
saíu um homem à borda do rio
com arco e flechas na mão
falou duas ou três palavras guaranis
poranga iporanga porangaba e logo
vieram três homens e uma mulher
sempre me vem alguma mulher e o marinheiro
macho e sábio é dividido
na tormenta do mar entre o mar mesmo
e o quarto da prima e o quarto dalva
e o quarto da modorra - e a mulher trazia
os cabelos vivos e castanhos
tinha uns ferretes que lhe tomavam as orelhas
e os homens na cabeça
uns barretes de peles das cabeças das onças
com dentes e tudo
por acenos entendemos: queriam
chamar outro homem de outra geração
e iriam e viriam em seus dias
então lhes mandei muitas cristalinas contas e cascavéis
e a cada um deles seu barrete vermelho
e à mulher uma camisa
e Frassinetti presenteava às putas baby-dolls côr de rosa
e uma vez
foram rasgadas nos dentes as calcinhas pretas
da russa Tatiana no apartamento de Lídia.
-
Como lhes dei os barretes vermelhos foram
a uns juncais
e tiraram duas almadías pequenas
e trouxeram ao bergantim pescado e taçalhos de veado
uma posperna de ovelha
a carne chamuscada e bebi
uma pipa de vinho verde das vinhas
de meu avô no Conselho de Mourão
em Trás-os-Montes
de Portugal e alguns canecos
de aguardente amarela
da uva
dos vinhedos de meu tio
Conselho de Feitosa
comarcas de Portugal, bandas da Beira
e comeram comigo e se foram
por tornar em cinco dias:
seis ao todo esperando tomei
muita caça e muitos veados
tamanhos como bois:
secava as mantas de carne ao sol e levava
os taçalhos dela às naus.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
GERARDO MELLO MOURÃO
(Fragmentos do livro)
Peripécia de Gerardo


»1152«
ALBERTO DA COSTA E SILVA
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva
Nasceu em 12 de maio de 1931, signo de gemeos.
Cidade de São Paulo, Brasil.
Poeta, historiador brasileiro, diplomata,
embaixador em diversos países. Formado pelo
"Instituto Rio Branco", Brasil. . .
Membro da A.B.L.(Academia Brasileira de Letras;
Intelectual da U.B.E.(União Brasileira de Letras), 2004;
Académico correspondente da A.C.L.(Academia de Ciências
de Lisboa), Portugal . . .
Homenagens: Premio "Luisa Claudia de Sousa",
Pen Club do Brasil, 1978; Premio "Jabuti", 1997;
"Honoris Causa", Universidade "Obafelli Awolowo",
Ifé, Nigéria . . .
*
CANTOePALAVRAS
O Parque, 1953; O Tecelão, 1962; O Livro da Linhagem, 1996;
As Linhas da Mão, 1978; A Roupa no Estendal,
Os Pombos, 1981; Consoada, 1993; As Relações entre o Brasil
e a África Negra de 1822 a 1996, 1ª. Guerra Mundial
(História), 1996;
Ao Lado de Vera, 1997;
Um Rio Chamado Atlântico(história), 2003 . . .
*
I
Como esperar que o dia pequenino,
com a mesa, a cama, o copo, as cousas simples,
desate em nossas mãos os lenços cheios
de canções e trigais e ninfas tristes?
-
Menino já não sou. Como de novo
conversar com os pássaros, os peixes,
invejar o galope dos cavalos
e voltar a sentir os velhos êxtases?
-
A linguagem dos grãos, do manso pêssego,
a bem-amada ensina e novamente
sinto em mim o odor de esterco e leite
-
dos currais onde a infância tange es reses,
sorve a manhã e permanece neste
cantor da relva mínima e dos bois.
*
ALBERTO DA COSTA E SILVA
"Soneto de Natal"
O Tecelão
*
II
Quem fez de tua corola
a boca que não responde
e se verga á brisa e corta
nosso espanto e nossa fome?
-
Qual a fonte que banha,
que não mana, nem se esconde
entre as ramas, e na fronte
os cabelos nos derrama?
-
De que és feita, de que asa
sem inércia e vôo, ausente,
mas que embala, nas sacadas,
os leques? O rio que mente,
-
que oculta seu curso e pratas,
teu segredo também cala.
Que escondes, ô flor? Desmaia
em nosso olhar tua cor
-
de ar sem céu. sem perfume,
sopro que morre na flauta,
cornamusa muda, ovelha
sem lã, aprisco e pastor,
-
Por entre a mão frágil, fina,
que dobra a haste sem trama
vegetal, que não te liga
nem à terra, nem ao drama
-
de meu sonho ó inexistente
que em pura beleza existes,
por que foges? De que chama
nasce e morre o breve ausente?
-
Vences a sombra . . . A lembrança,
ó lânguido quartzo, ó nada,
mentira de vergel mansa,
é uma rede imaculada,
-
pois morres sem ver os dias
ao teu exílio sem tempo,
sem que recebas a herança
dos jarros das madrugadas.
-
Ó vertigem, claro ente
de um paraíso feroz,
sal e carne dessas ondas
que as tarrafas nunca prendem,
-
que raízes tens na tarde
dividida pelo Sol
e o seu prenúncio lunar?
Por que ficas, puro e só,
-
centauro de flor e ar,
que inventas a nostalgia
de ser eterno, não sendo
martírio de um raro olhar?
*
ALBERTO DA COSTA E SILVA
"O Espaço Vazio"
O Tecelão
*
III
Na surpresa do dia nem reflito,
pois são poucas as frutas sumarentas
e era só o verão o que, perdido,
cantava em tudo. Havia is cataventos
-
no alto dos quintais, onde paravam
o tempo e o seu calor. No céu, as aves,
E na relva, baliam os carneiros.
-
Do outro lado do muro, respirava
a rua o seu frescor. Chegavam bondes
com rumor de manhã, de asas e fontes,
de esposas conta a pedra das escadas,
de talher que caísse ao chão, da mesa.
-
Vinha o vento de mim, que sou e vejo.
A chuva enverdecia os bananais.
Ia alguém a correr, com um tabuleiro
de coentros, quiabos, pranto alheio.
-
Ou, cinza, desfiava o seu sossego
a vacaria além ▬ talvez houvesse
um descanso do eterno na matéria.
-
Foi-me o mundo sonhado, ao ser real
e tempo, como unhas que, crescendo,
ao cortá-las, caíssem para dentro.
-
(O lembrado verão de minhas veias
acende o Sol de um dia, em Fortaleza).
*
ALBERTO DA COSTA E SILVA
"O Outro Sol dos Algarves"
As Linhas da Mão
*
IV
O tempo a fonte estanca e o torso apaga.
este de formas puras de pedra, quase carne,
despojado de ternura e de tristeza, imóvel
-
entre as sombras das árvores e o silêncio,
o fluir das águas frescas da fonte tão próxima
e a doce transfiguração da noite em morte.
-
Nas antigas lajes os passos dos meninos
gravados no passado remoto e, bem marcado,
o trotar dos burricos que flores carregavam.
-
As águas correm e, contudo, permanecem.
Quantas palavras não guardaram as cousas!
Quantos gestos nas pedras se perderam?
-
Os cântaros jamais recolherão as águas
pelas outras fontes abandonadas como
esquecemos um pouco de nós por toda a parte.
-
Este rumor tão distante e tão próximo
que as nossas mãos acariciam, cuidadosas,
é o mesmo fluir do chafariz antigo,
-
o mesmo soluço nos recantos de sombra
do inviolável jardim, a mesma chegada
infantil das bicicletas nos domingos brancos.
-
A fonte, embora o tempo exista, existe
ainda e, embora seca, o seu rumor ouvimos,
tão distinto, tão perfeito, tão diverso.
-
Antes que o tempo estanque a vida, antes
que o torso antigo, calmo e puro como
as lajes de um templo lavadas de prece,
-
seja apenas um bloco desfigurado e efêmero
de pedra, apagado pela chuva e pela brisa,
sem sopro algum de inocência ou pensamento,
-
acenderemos a memória e, na calma das luzes,
descobriremos um homem sobre a fonte reclinado,
o punho sustentando uma feia cabeça.
*
ALBERTO DA COSTA E SILVA
"O Parque"
O Parque
*
V
1
Deste canto de treva, esperas, surdo,
enquanto o céu corrói teu corpo escasso.
E sentes de ti mesmo o ofego gasto
pelo escoar do dia, o jogo amargo
de voltar das manhãs cheio de escuro.
-
Deste lado solar, desprezas mudo,
o que sabes virá porque marcado
na morte que vais sendo, o sonho alçado
ao espaço que passa, este amor breve,
pois é feito de tempo e o tempo cede.
-
Eis tuas mãos. As suas linhas, cego,
o solitário Sol, o rio vazio,
o saibro sob os pés, o choro inútil
e tudo o que feriste nos descrevem,
num rogo de beleza, sujo e puro.
-
Do centro crepuscular, dali tens tudo.
-
2
Vinha a tristeza.
Como a velha, ao mormaço, lenta, vinha,
a carregar o feixe de gravetos.
Como o velho, o lenço sobre o rosto,
a cobrir o cancro do nariz.
Como usados sapatos. E cavalos,
na manjedoura, a sacudir as moscas.
Como a passagem da sombra sobre a relva,
o epitáfio do verde. Como o instante
em que a tristeza
vem.
Tua, a espera que flui. Longe de ti,
o céu inseparável da viagem.
E aqui, o estar cortado,
o deixar escorrer do corpo adeuses.
(No menino, ao portão,
as sombras ardem
de Sol e enxaqueca).
-
As árvores floriam. As avencas
insinuavam a morte.
-
A tristeza
vinha de ti, da face que, estrangeira,
trazes no rosto, tensa e adulta, alheia
ao que fugia
para trás, para a ausência, para os campos
em que sonhavas o belo acompanhar,
na madrugada, os bois ao bebedouro.
-
Soubesse ser, assim, a espera
do que podia ser a vida, a trégua
com a impaciência do céu, um lento arrastro
das redes sobre a praia ▬ e não terias
da mesma forma senão os peixes mortos,
o sentimento de estar só nas veias?
Mas, talvez, de súbito, viesse
não a tristeza como a velha, lenta,
a carregar o feixe de gravetos,
mas o acender, na tarde, dos espaços,
como se o mar chegasse em ondas altas
e te banhasse a carne do mais íntimo
do negrume do assombro . . .
que te sonhando,
menino pouco, só, de dor puído,
empurro o tempo
para junto de ti.
Pois necessito
de ti e do teu sono.
-
O sono limpa.
-
3
Mas fui feliz.
Puseram a mão nesta mão.
Não me apagaram o choro da orfandade,
mas fui feliz.
-
Nada pedi
▬ O som da bica ouço,
o mesmo que irá comigo à morte
e esteve sempre no meu dia antigo,
e sabe o que eu queria ▬
mas fui feliz.
-
Senti o afago
entre o peito e a pele da camisa.
Fui Feliz.
-
4
E, no entanto, lá dentro, falam baixo
os dois que me sonharam e me sofreram.
Da humildade do amor pouco tiveram,
o seco pão, os céus contra os teus corpos.
-
As mãos de minha mãe sobre a tristeza
a se aquecerem sempre. O pai, sozinho.
Sobre nós, a ramagem do degredo.
-
(Vou à janela, ler este papel
e a luz o toma como sobre a relva
resvala a madrugada.
As sombras de palavras nele postas
correm de mim, sou eu
de volta à casa.
Assim, como se os dias nos marcassem
os disfarces do corpo
com o que em nós não se esgota
na passagem,
a mão parada quase sobre a anca
do burro do aguadeiro,
a mão parada quase sobre o cinza
dos cabelos do velho,
a mão parada quase sobre as frutas
espalhadas na mesa,
assim os tenho,
entre o jardim e o quintal,
rosais e mamoeiros,
os dois tão perto
do adeus e do eterno).
-
Ao menino que fui tudo foi pago,
no infinito que nele dissolveram,
mas, sendo a vida avara, de meus deuses
a roupagem despiram, que me deram.
-
O círculo do mundo passa em mim,
mas o centro de dor e treva é deles.
-
Nos confins do escuro, sou os dois.
-
ALBERTO DA COSTA E SILVA
"As Linhas da Mão"
As Linhas da Mão


»1153«
GILBERTO MENDONÇA TELES
Nasceu a 30 de junho de 1931, signo de cancer.
Bela Vista de Goias, Estado de Goias, Brasil.
Poeta , professor, crítico literário . . .
Fez Letras, Faculdade de Filosofia, Universidade Católica
de Goias, Brasil. Direito, Universidade Federal de Goias, Brasil.
Formado como professor de Língua Portuguesa,
na Universidade de Coimbra, Portugal.
Homenagens: Premio "Machado de Assis" Associação Brasileira
de Letras; Premio "Felix Bulhões, Associação Goias de Letras;
Premio "Leo Lynce", União Brasileira de Escritores;
Premio "Alvares de Azevedo", Academia Paulista de Letras, 1962
Premio "Olavo Bilac", Academia Brasileira de Letras;
Premio "Cassiano Ricardo", Club de Poesia de São Paulo, 1987
Premio "Juca Pato", 2002 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Alvorada, 1955; Estrela d'Alva,1956; Planície, 1958;
Fábula de Fogo, 1958; Pássaro de Pedra, 1962;
Sonetos do Azul sem Tempero, 1964;
Sintaxe Invísivel, 1967; A Raiz da Fala, 1972;
Arte de Amar, 1977; Plural de Nuvens,1984;
Álibis; Caixa de Fósforos; Linear, 2009 . . .
*
I
quando terminar tudo isso
continue guardando para mim
um pouco de seu prestígio
uma cerveja fresca
salgadinhos
aquele gole de uísque
um recorte de jornal
qualquer coisa que assinale
o fim dos tempos.
-
E não deixe de fechar a porta
a sete chaves
mas devagarinho
para que não saia magoado
nem sinta ganas de voltar.
-
Eu sairei andando de costa
andando de costa
de costa
até me precipitar
no poço do elevador.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Precipitação"
Álibis
*
II
Que gesto colherá o pássaro terrível
que sobre nós traçou a condição de afêmeros?
Quem na noite virá clareando os caminhos
por onde nunca mais, nunca mais passaremos?
-
Um grito de renúncia aprofunda a distância
que um dia sobre a terra os nossos passos trôpegos
estenderam, deixando uma só esperança
a desfazer-se eterna em fundo desepero.
-
Nenhum pássaro canta o segredo esquecido
nem abre no metal um céu de pedra e fogo.
As sombras nos desvãos bocejam num cochilo
e a tarde esconde o som do mundo no seu bojo.
-
Mas no longo silêncio entre os sonhos da vida
e a inútil solidão dos homens,
mais profunda,
uma estrela treluz num símbolo de eterno
plantado em diagonal no centro da pergunta.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Enigma"
Pássaro de Pedra
*
III
Recolho a tarde nos olhos
cansados de tanta espera
e perco o rumo dos astros
na solidão do crepúsculo.
A sombra que dissolve
na sombra que me antecede
não disfarça o impressionismo
do meu caminho sem rumo.
-
Paro de braços cruzados
na encruzilhada do tempo.
Interrogo a meia-noite
e me descubro encolhido
no cão da superstição.
Mas sob os pés sintonizo
o canto do povo antípoda
que a gravidade equilibra
na vertical do discurso.
-
Não é cegueira. Nem noite.
Nem aurora boreal
cuspindo um cuspe de sangue
num céu distante demais.
talvez memória noturna
das coisas que nunca vi,
da manhã que se desata
como um túnel pela estrada
por onde tenho de andar.
-
Não é do sono que sinto
peso de imagens nas pálpebras.
Mas desse Sol de metáfora
no centro da interjeição.
Dessa linguagem contida
da mãe-do-ouro que foge,
que risca a noite de fogo
a vai libertando a seda,
a labareda azulada
do sonho-fátuo que nasce
e faz brilhar no levante
o pensamento inconstante
que se reduz à sintaxe.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Vigília"
Planície
*
IV
No princípio, quando o nome soprava
da boca das crateras e o hálito
de fogo fundia os horizontes vazios,
nenhum sinal cortava o deserto do tempo
e apenas a sombra se movia monótona
sobre a fauce das águas.
-
Antes do nome, os seres se dispersavam
incógnitos nos abismos do Gênese.
Os elementos resistiam no caos
à natural elocução das intempéries.
E só o amor circulava difuso por entre
as árvores do bem e do mal.
-
Um dia, todos os seres viventes amanheceram
sur-presos nas malhas do nome.
Menos as coisas: essas permaneceram
livres e continuam noturnas, à espera
de outro momento da criação.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Antes do Nome"
A Raiz da Fala
*
V
-1-
Sou um poeta só, sem geração,
que chegou tarde à
gare modernista
e entrou num trem qualquer, na contramão,
e vai seguindo sem sair da pista.
-
A de quarenta e cinco me tutela,
me trata como a um filho natural.
Eu chego às vezes tímido à janela
mas vou brincar no fundo do quintal.
-
Na poesia concreta, a retaguarda
é que me vê brincando de arlequim.
Às vezes fujo à rima e lavo um fardo
de roupas sujas, não tão sujo assim . . .
-
A de sessenta e um foi de proveta,
foi mágica de circo para um só.
Ninguém me viu caçando borboleta
ou pescando escondido o meu lobó.
-
Quem fez letra, cantou e usou bodoque
quem se fez marginal pela cidade,
será que fez poesia ou fez xerox
ou apenas tropicou na liberdade?
-
-2-
Eu sei, minha Maria, que o verão
já vai passando trêmulo nos dias.
E sei que é muito bom ter geração,
"que as glórias que vêm tarde já vêm frias".
-
Melhor, muito melhor é ter sossego,
não saber nada sobre os bem-te-vis,
mas usar o radar(como um morcego)
e abrir as asas, pesquisar os xis,
-
ler os gênios antigos, ler os novos
(Bandeira e Cassiano, ler Cabral,
ler Mário ler Drummond) e juntar ovos
de ouro para um estilo nacional
-
O mais simples e sóbrio, o mais exato
no prazer de fazer como convém
na mistura que agrada e no formato
do meu próprio fermento e querer-bem.
-
E servir ▬ prato-feito ou
à la carte ▬,
servir por atacado e em comissão,
sete vezes servir, como quem parte
para tão grande amor . . . sem geração.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Geração"
Plural de Nuvens
*
VI
Desculpe o tanto que te fiz de mal
e esquece tudo o que te fiz de bem.
Desculpa o meu amor tão natural
e que por ser assim foi mais além.
-
E te deu essa forma de horizont-
te que se abre nas lâminas de abril,
sempre tentando aproveitar o tom
das nuvens roxas para o teu perfil.
-
E num grito de luz (lua e farol)
anoiteceu teu corpo sem nenhum
sinal que revelasse o girassol
da tua imagem no falar comum.
-
E da raiz mais limpa da manhã
foi recolhendo a essência até da úl-
tima gota de orvalho, neste afã
de te dar sempre a gota mais azul.
-
E amou teu nome de silêncio e mel
re amou teu canto de distância e fim.
Esquece agora quem te foi fiel,
desculpa o tanto que te dei de mim.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Letra"
Arte de Amar
*
VII

chá de poejo para o teu desejo
chá de alfavaca já que a carne é fraca
chá de poaia e rabo de saia
chá de erva-cidreira se ela for solteira
chá de beldroega se ela foge ou nega
chá de panela para as coisas dela
chá de alecrim se ela for ruim
chá de losna se ela late ou rosna
chá de abacate se ela rosna e late
chá de sabugueiro para ser ligeiro
chá de funcho quando houver caruncho
chá de trepadeira para a noite inteira
chá de boldo se ela pedir soldo
chá de confrei se ela for de lei
chá de macela se não for donzela
chá de alho para um ato falho
chá de bico quando houver fuxico
chá de sumiço quando houver enguiço
chá de estrada se ela for casada
chá de marmelo quando houver duelo
chá de douradinha se ela for gordinha
chá de fedegoso para mijar gostoso
chá de cadeira para a vez primeira
chá de jalapa quando for no tapa
chá de catuaba quando não se acaba
chá de jurema se exigir poema
chá de hortelã e até amanhã
chá de erva-doce e acabou-se.
(pelo sim pelo não
chá de barbatimão).
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Chá das Cinco"
Plural de Nuvens
*
VIII
Os ventos da minha terra não têm nomes especiais
nem são conhecidos nos tratados de anemologia.
São ventos que andam soltos pelos latifúndios
como gado bravio nos chapadões das invernadas.
-
Não se deixam prender como as abelhas selvagens
num ruidoso caixote de palavras perfumosas.
Não sabem de nomes antigos ▬ éolo, bóreas, aquilão;
nem de nomes literários ▬ zéfiro, aura, favônio;
nem de nomes estranhos ▬ simum, siroco, samiel
ou como esse de Provença
qu'Amour friso en or,
gai compaire dou Mistrau e misterioso
como o próprio nome do poeta.
-
Não são ventos de ciclones ou tornados violentos
que precisam de nomes femininos ▬ Shirley, Elza,
essas novas Eumênides que assolam continuamente
as praias e os jornais dos norte-americanos.
-
Não há por lá ventos com nomes bonitos:
aracati, nordeste, pampeiro e minuano;
nem ventos fortes como o vento sul,
nem ventos quentes como o terral.
-
Os ventos da minha terra vivem quase sempre de brisa
e são conhecidos pelo tempo em que aparecem:
o ventinho fresco da manhã
o ventinho de chuva
-
o vento morno da tarde
o desabafo de abril
o vento frio de junho
o sufocante de setembro.
-
Simples aragem que assinala a viração
de uma lufada de eventos do Planalto,
eles sopram, varrem, brincam e assobiam
como o vento geral nos descampados.
-
E, como todos os ventos anônimos, tornam-se encanados
fazem correntes
e redemunhos
pelas esquinas
e vão depois cochilar nos arredores.
-
O povo diz que estão conspirando para um dia
se transformar na grande ventania.
*
GILBERTO MENDONÇA TELES
"Ventos"


»1154«

ADAIL PACOR
Nasceu a 01 de dezembro de 1948, signo de sagitário.
Nuporanga, Estado de São Paulo, Brasil.
Poetisa . . .
Escreveu para diversos jornais . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . .
*
I
De mochila nas costas
Um cantil na cintura
Entre vales e montes
Eu acamparei . . .
Com minha Patrulha
Feliz estarei.
-
No "Arpi Dourado"
Junto à natureza
Com muita alegria
Acampar eu vou . . .
Um bom Escoteiro
Vou provar que sou.
-
Nas grandes jornadas
Vencer desafios
Com o Chefe amigo
A me acompanhar . . .
Sob o céu azul
Deus sempre estará.
-
Vamos todos juntos
Com toda certeza
Num retorno amigo
Junto à natureza
Sob o céu azul
Deus sempre estará.
-
E na despedida
Num forte abraço
Quero partilhar
De alegrias certas . . .
Adeus Escoteiros
Até breve. Alertas! . . .
*
ADAIL PACOR
"O Retorno à Natureza"
(Música do Acampamento Regional de Patrulhas, Escoteiros
Dourado, S.P.,Brasil)
*
II
Desde quando eu nasci
Só vivi para sonhar
Com o amor e com paz
Que eu queria encontrar,
E nessa esperança
Sem ter rancor algum
Aprendi que nesse mundo
Tem um amor prá cada um . . .
-
Numa tarde de calor
O jardim beijava o céu
Eu seguia um beija-flor
Que voava talvez ao léu,
De repente ele parou
Sem querer também parei
E quando ele voou
O meu amor encontrei . . .
-
Certa noite de verão
Eu cantava ao luar
As estrelas se reuniram
E ficaram a me escutar,
E quando eu terminei
Meu bem saiu lá na janela
E quando a lua se retirou
Eu beijei os lábios dela . . .
-
Quem não gosta de uma flor
Quem não deseja ter paz
Quem não sonha com o amor
Não precisa viver mais! . . .
*
ADAIL PACOR
"Não Precisa Viver Mais!


»1155«
MARIA RITA KEHL
Nasceu em 1951, cidade de Campinas, Estado de S.Paulo, Brasil.
Poetisa, escritora jornais, revistas, psicanalista, formada pela
P.U.C.(Pontíficie Universidade Católica) de São Paulo, Brasil . . .
Homenagens: Premio Jabuti, 2010.
*
CANTOePALAVRAS
Processos Primários, 1996; Deslocamentos de Feminino . . . 1998;
Sobre Ética e Psicanálise, 2002; O Tempo e o Cão, 2010 . . .
*
Não sou a voz da vizinha que lamenta
não sou o calor da única janela acesa
em vinte andares
-
sou uma que aprendeu a desaparecer
detrás do quadrado escuro
deixando meu assobio pelo apartamento.
-
Aqui, fugir é uma arte
que eu pratico quieta,
dentro.
*
MARIA RITA KEHL
"Arte da Fuga"
Processos Primários


»1156«

ANA CRISTINA CÉSAR
Nasceu em 1952,Rio de Janeiro, Brasil.
Poetisa, jornais, televisão, tradutora . . .
Faculdade de Letras P.U.C.(Pontifície Universidade Catôlica)
Rio de Janeiro, Brasil.
Morou em Londres, Inglaterra.
Faleceu em 1983.
*
CANTOePALAVRAS
Cenas de Abril, 1979; Luvas de Pelica, 1980;
Literatura não é Documento, 1980; A teus Pés, 1983 . . . .
*
a fala dos bichos
é comprida e fácil:
miados soltos
na campina;
águias
hidráulicas
nas pontes;
na cozinha
a hidra espia
medrosas as cabeças;
enguias engolem
sete redes
saturam de lombrigas
o pomar;
no ostracismo
a zoteca
me faço de engolida
na arena molhada do sal
da criação;
o coração só constrói
decapitado
e mesmo então
os urubus
não comparecem;
no picadeiro seco agora
só patos e cardápios
falam ao público
sangrento
de paixões;
da tribuna
os gatos se levantam
e apontam
o risco
dos fogões.
*
ANA CRISTINA CESAR
"Algazarra"

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