sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

173 - Rosa Silva " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA"


»1220«
ROSA SILVA
Rosa Maria Correia da Silva
Nasceu o1 de abril de 1964, signo de áries,
em Canada de Vassoura, Angra de Heroísmo, 
Ilha Terceira, Açores, Portugal. . .
Poetisa... 
*
CANTOePALAVRAS
Azoriana . . .
*
Rosas animam meu dia
Que se sente vão e perdido
Nem ouso fazer ruido.
Privo-me à melancolia.
-
Sua beleza é alegria;
Há espinhos com sentido,
Mas não lhes faço alarido
Pra não perder energia.
-
Ando às voltas nas marés
Enfrento alguns revés
Na espreita da nova luz.
-
Das rosas sorrisos vêm,
São eles que fazem bem
Na cor que noss'alma seduz.
*
ROSA SILVA
"A Cor que Seduz"
Azoriana
»1221«
ANTÓNIO DIAS MACEDO
Nasceu em Angola, África. Poeta e era capitão.
*
Se a Deos chamão por tu,
e a el Rey chamão por vós,
como chamaremos nós,
a três que não fazem hum,
que o povo indiscreto, e nú
falto de experiência, fez
em lugar de hum três
que com toda a Cortezia
tú, nem vós, nem Senhorita
merecem suas mercês.
*
ANTONIO DIAS MACEDO
(Sem Título)
»1222«
MÁRIO ANTÓNIO
Nasceu em 1934, Marquesa do Zombo,
Angola, África. . .

Poeta...
*
CANTOSePALAVRAS
Poesia, 1956; Poemas e conto miúdo, 1961;
Gente para romance, 1961; Chingufo, 1962;
100 Poemas, 1963; Crónica da cidade estranha, 1964;
Farra do fim de semana, 1965; Era tempo de poesia, 1966;
Rosto de Europa, 1968; Coração transplantado, 1970;
Afonso, O Africano, 1980; 50 anos, 50 poemas, 1988. . .
*
Nas tardes de domingo
(cheirava a doce de coco e rebuçado)
os meninos brincavam
iam passear no mar
até o Morro iam
ver a gente.
-
O menino ficou preso
quando cresceu.
-
E nas tardes de domingo
vozes vinham chamá-lo
vinham ecos de vozes
que lindas vozes o menino ouvia!
-
Mas o menino estava preso
e não saía. . .
-
Numa tarde de domingo
os outros meninos vieram chamar
O menino preso. . .
E foi nessa tarde de domingo
(cheirava a doce de coco e rebuçado)
que o menino fugiu para não voltar.
*
MÁRIO ANTÓNIO
"Fuga para a Infância"

»1223«
LUÍS MIRANDA CABRAL
Nasceu a 17 de outubro de 1926, signo de libra,
em Humpata, Angola, África.
Poeta, viveu  em Lisboa, Portugal, onde cursou a
"Sociedade Nacional de Belas Artes". . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Já dezassete dias haviam passado
do mês de outubro, quando num povoado,
(lá, na Humpata querida), ele nascia.
-
São vinte e quatro horas daquele dia.
-
Pela oitava vez aquele lar
tal acontecimento foi festejar.
-
Luís lhe chamaram. E na igreja,
que logo à entrada da vila alveja,
um padre velho,tão velho, a tremer,
disse que ele um triste havia de ser . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Um dia os irmãos saem em burricada,
e deixam-lhe uma fisga endiabrada:
- "Ah! esqueceram-se disto?! Vão ver, manos! . . ."
(ele tinha então apenas cinco anos.)
-
Entra pela mata, pé ante pé:
ouvira dizer que assim é que é:
"matam-se pássaros até mais não querer. . . "
E como lhe ensinaram, que fazer . . .
-
No sombreado bosque há um encanto
que o surpreende. Parece ser santo
aquele silêncio, Lá em cima há ninhos.
Mas, então . . ."Que é feito dos passarinhos?"
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
As árvores quietas. Nada estremecia . . .
e ele procurava e nada via.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Primeiro manso, muito de mansinho,
ouviu . . .o gorgeio dum passarinho.
Onde estaria? Ali, com certeza,
no mais espesso daquela devesa . . .
Foi-se preparando, de antemão,
p'ra o tiro certeiro.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Já então,
o canto ressoava alto, sublime,
da triste bengalinha, que em um vime,
pousara. Luís vê bem a árvore,
porém, seu rosto tem uma expressão grave . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
LUÍS MIRANDA CABRAL
trechos de
" Memória "
»1224«
JOAQUIM CORDEIRO DA MATTA *
Nasceu em 1857, Angola, Àfrica. . .

Poeta...

Negra! Negra! como a asa
do corvo mais negro e escuro,
mas tendo os claros olhos,
o olhar mais límpido e puro.
*
JOAQUIM CORDEIRO DA MATTA
"Negra"
Almanach de Lembranças
»1225«
TOMAZ KIM
Joaquim Fernandes Tomás Monteiro Grilo
Nasceu em 1915, cidade de Lobito, Angola, África.
Poeta, doutorou-se em Letras na Universidade de Lisboa.
*
CANTOePALAVRAS
Em cada dia se morre, 1939; Para o nossa iniciação, 1940;
Os quatro cavaleiros, 1943; Dia da promissão, 1946;
Flora & Fauna, 1959; Exercícios temporais, 1967. . .
*
Eis aqui a estalagem:
Escassa a palha na mangedoira
E morno o bafo das animais.
-
Brilhante a estrêla,
Brilhante o brocado
Dos Reis.
-
Oh, o fulgor, até, dos farrapos
Dos Pastores!
-
Claro o silêncio:
Um murmúrio a prece
Na noite clara
De graça plena.
-
Mas longe, longe. . .tão perto,
Afinal
Que uivo de mau agoiro
A prometer o estrupo do Sol
E a sombra da carne viva
No chão
Gravada?
-
Tão negra a noite,
Agora,
Ó, Senhores do Mundo!
Tão nua de GRAÇA,
Agora,
A noite - a noite e os dias. . .
*
TOMAZ KIM
"Tempo de Natal"
Exercícios Temporais
»1226«
BOAVENTURA CARDOSO
Boaventura da Silva Cardoso
Nasceu a 26 de julho de 1944, signo de leão,
Luanda, Angola, África.
Poeta, participou de várias revistas e jornais.
Secretário do Comité Nacional Preparatório da VI
Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, 1979, Luanda,
Angola. . .
*
CANTOePALAVRAS
Dizanga Dia Muenhu; O Fogo da Fala, 1980 . . .
*
Tinha chuva grande. Na corrida rápida do vento,
o capim alto dobrava-se todo, as árvores estremeciam.
Os pássaros já tinham passado.
Só, uma andorinha voava, perdida. Antes da chuva as
cabras correram à toa, saltaram vedações, regressaram
à senzala. Brincadeiras das crianças lá fora terminara.
As mulheres preparavam o fogo da cozinha dentro das
cubatas. Às vezes uma faísca cortava o negro do céu.
Tinha chuva. Chovia. Chuva grande.
O canto crescia. Cada vez que as enxadas cavavam
a terra, as vozes eram mais fortes. Desbravando a terra,
os contratados cantavam. O chicote marcava o ritmo do
canto nas costas negras.
Canto, Trabalho. Canto. Trabalho. Canto. Trabalho.
Canto. Força! Força! Trabalho! Trabalho forçado! Força!
Quando começaram a trabalhar era demanhã. Sol ainda
nascente. Ainda que chovesse, o tempo estava marcado.
Os contratados tinham de trabalhar sem parar. Cortar
capim alto, terra preparar, café plantar, plantar, plantar.
Trabalho de contratado.
Agora estavam na fila. Alinhados, Os contratados não
podiam tossir, nem falar. À frente deles, a uma certa distância,
o patrão, barrigudo, encharutado, continuava a fazer
contas, a assinar papéis. Quase não olhava para os
contratados. No fim de cada mês era sempre assim.
- João Tomé! - começou finalmente a chamada dos
contratados.
- Presente! - respondeu o contratado, enquanto avançava
em direção à mesa onde estava o patrão. Humildemente.
- Seis vales na cantina, mais a visita do médico, mais o im-
posto indígena . . . descontando tudo, não tens nada a receber.
Nada a receber! - aqui o patrão falava alto para todos
ouvirem.
Entretanto, a cena foi acontecendo cada vez. A maior parte
dos contratados não recebia nada. Alguns recebiam dez
angolares para todo o mês! Avançavam esperançados, para
recuarem tristes na fila. Ninguém percebia as contas que o
patrão fazia. Os contratados não sabiam ler, nem escrever.
Terra flor, o café florescia. O patrão aumentava
a sua riqueza. Todos os anos comprava carros novos e ia
passar as férias no estrangeiro. Os contratados não tinham
descanso.
- David Kassule! - o patrão lhe chamou. Fez aldrabice nas
contas, assinou os papéis e disse: - Não tens nada a receber!
Vá! Toca a andar! Outro! Vá! Toca a andar!
Vendo que o contratado não saía daquele lugar, começou
a ficar furioso. Levantou-se e lhe empurrou. David Kassube
rapidamente deu murro na cara do patrão. A confusão era
grande. Os papéis estavam no chão. Não tinha mais fila de
contratados. Cada um estava admirado. De repente o patrão
pegou na pistola e descarregou as balas na cabeça do
contratado. David Kassube começou a sangrar.
Caiu no chão. Todos estavam em volta dele. O medo não
lhes deixava falar nada. O patrão quis disparar mais.
A pistola não tinha balas.
Foi buscar a cçadeira da caça no mato. Disparou todas as
balas, toda a fúria, toda a raiva, tudo no corpo do contratado.
Arrastando os pés descalços, os contratados regressaram.
Era noite. Cantavam o mesmo canto. A fila do regresso ia
ficando pequena. Uns iam caindo. O canto enfraquecia. Os
pés arrastavam-se. As vozes morriam. Não tinha mais
canto. A fila dos contratados desaparecera na escuridão
da noite escura.
*
BOAVENTURA CARDOSO
"O Canto da Fome"
O Fogo da Fala
»1227«
ANA SANTANA
Ana Paula de Jesus Faria Santana
Nasceu a 20 de outubro de 1960, signo de libra,
Gambela, Kwanza Sul, Angola, África.
Poetisa e especialista em "Economia Internacional e Integração
Económica Regional", Universidade Técnica de Lisboa,
Portugal, I.S.E.G.. Bacharel em "Economia Empresarial"
1998, Grão-Bretanha.
Homenagens: Premio de Mérito da "London School of
Economics and; Political Science", Grão-Bretanha.
*
CANTOePALAVRAS
Sabores, Odores & Sonhos, 1986. . .
*
Havia a felicidade
no alto do morro,
do perfil da música
-
Do bico do pássaro
-
Assim mesmo
como em momentos
nos guarda-jóias
buscando apenas
quando se deve
-
acreditar na semeadura
-
Vai havendo a impotência,
que é trágica
quando não comedida,
-
no montar do sorriso.
-
Assim também
como o dente trincando
a maçã da imagem
-
na sacritia.
*
ANA SANTANA
"Longe da Cidade"
»1228«
MARIA AMÉLIA DALOMBA
Nasceu em 1961, Cabinda, Angola, África.
Poetisa, psicologa, jornalista . . .
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Quando a nuvem passar
a chuva
Desprender sobre os campos
Seus pingos que entoam
Baladas autênticas que
abafem meu pranto.
-
Voltarei
-
E sei que teus lábios
Se abrirão naquele sorriso
Ah!
aquele sorriso
que encanta tão bem.
*
MARIA AMÉLIA DALOMBA
" Aquele Sorriso "

Um comentário:

Terceirense disse...

Só hoje encontrei este "cantoepalavras". Agradeço por ter colhido o meu riacho de palavras que corre neste canto sublime de autores.
Cumprimentos
Rosa Silva