domingo, 8 de fevereiro de 2009

182 - 08 " NEGRAS CAPAS . . . POETAS DE COIMBRA "



«AOS ACADEMICOS DE COIMBRA»
ANTÓNIO PINHEIRO CALDAS
Nasceu em 1824, cidade do Porto.
*
Vêdes aquelles vultos imponentes?
Sabeis quem elles são?
São da patria esperanças grandiosas,
Sacerdotes do Templo da sciencia,
Mancebos, que no peito sentem livre
Pulsar-lhe o coração!
-
E, vós, já conheceis a patria augusta
Do nobre Egas Moniz?
Aqui nasceu; nasceu também Garrett,
O inspirador cantor, o egregio vale!
- Ufano d'estas glorias ergue o Porto
Guerreira, alta cerviz!
-
Saudai os operarios do progresso,
Os homens do porvir:
Ornamentos do Fôro e da Tribuna!
Futuros Passos, Leoneis, Estevams,
A gloria os bem-fadou, e a gloria é bella
Quando acena, a sorrir!
-
Estes, os nobres filhos dos valentes
Do antigo Imperador,
Soldados immortaes de Pedro Quarto!
Se um dia a patria carecer de braços,
Qual de nós deixará de erguer-se forte,
Contra o fero oppressor?
-
Alli a intelligencia, aqui os brios;
Alli - espirito e luz,
Aqui sempre o commercio, a industria, e as artes!
Potentes pedestaes aonde a patria
ha de, erguida, brilhar aos bello raios
D'um Sol que reluz!
-
Graças, mancebos, graças á fineza,
Lembrança especial,
Que fizeste ao solo dos valentes!
Em nome d'este povo a agradeço:
- É brazão que engrandece o Porto heroico,
O Etna de Portugal!
-
Ávante, nobres filhos d'esta terra!
Ávante, vós tambem!
Os pendões do progresso ondeiam, livres,
E a patria é um canto heroico! a patria é a vida!
É o ceu fulgindo além.
*
ANTONIO PINHEIRO CALDAS
"Aos Academicos de COIMBRA"
Porto, 11 de Abril de 1863.
Poesias
*
"Tenho a certeza, que sempre estaremos juntos,
independentemente das gerações, através dos séculos" . . .
minha a nota.
Luis Dias
"Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pags. 15 e 160).
MARQUES DA CRUZ
Nasceu em 1888, perto de Leiria, Portugal.
cursou Direito na Universidade de Coimbra.
*
I
Olhos tristinhos
que tu possuis
tão desmaiados . . .
olhos azuis, imaculados
dois manos gêmeos, dois meninos
que o povo, ao vê-los,
a olhar por entre os cílios negros
dessas prisões,
fica com dó dos pequeninos,
cobre-os de zêlos
e de perdões.
-
Olhos azuis,
e os cílios negros,
e as tranças negras,
e o rosto pálido e comprido
que tu possuis!
olhos azuis que dizem bem
o modo doce de um pedido,
indefinido, tentador,
feito a esse Deus vago do Além
(que é o Amor . . .)
-
Olhos azuis
de compaixão
tão desmaiados . . .
que são, que são
sonho profundo,
talvez dois filhos
de dois pecados,
e, sem ter culpa, são culpados,
pedindo ao mundo
perdão . . .
-
Olhos azuis
que olhar o teu,
que fluidez!
a olhar, a olhar lânguidamente,
sem ter fim . . .
Não vês, não vês
o céu, no ocaso, o olhar que tem,
triste e dormente,
azul também,
a olhar assim? . . .
-
Olhos azuis,
e os cílios negros,
e as tranças negras,
e o rosto pálido e comprido
que tu possuis!
olhos azuis que dizem bem
o modo doce de um pedido
indefinido, tentador,
feito e esse Deus vago do Além
(que é o Amor . . .).
*
MARQUES DA CRUZ
"Olhos Azuis duma Tricana"
Alma Lusa
*
II
Tu és, GUITARRA, um coração no jeito;
e, para teres mais meiguice e unção,
deitam-te sobre o peito,
sobre outro coração.
-
Depois, tão perto, devido à semelhança,
à confiança,
sai de cada coração (aberto
de par em par,
sem porta alguma),
saudade, bruma,
amor, luar . . .
- anseio fino
e maguado . . .
- o Destino,
o Fado . . .
-
- Fado! um soluço aflito ou brando de paixão,
um desabafo, um ai que cura, um grito;
- roxo balão com mecha de ternura
espiralando . . .
-
flamejando . . .
-
gotejando . . .
-
pelo Infinito . . .
*
MARQUES DA CRUZ
"A Guitarra e o Fado"
Alma Lusa
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", págs. 10 e 162;
"FOLCLORE . . .CANTOePALAVRAS", pág. XIII;
" . . .Donde borbota, minha Saudade . . ." pág. 194.
AMÉRICO CORTÊS PINTO
Nasceu em 1896, Leiria, Portugal.
Doutorou-se em Medicina na Faculdade de Medicina
Universidade de Coimbra . . .
*
Teus olhos andam mais vagos . . .
Teus gestos são mais perdidos . . .
Há mais outono nos lagos
Onde boiam Teus sentidos . . .
-
Os Teus passos anoitecem
Pela Acropole em ruinas . . .
Vagos repuxos fenecem
A agonisar nas piscinas . . .
-
A Infanta dos sonhos ageis
Pediu a Lua aos seus pagens
E nenhum lha pôde dar . . .
-
E vai d'ahi . . . abatidas . . .
Descem palpebras vencidas
Na steppe do teu olhar . . .
*
AMÉRICO CORTÊS PINTO
"Alegoria da Alma"
Senhora da Renuncia
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 163).

BOTELHO DE OLIVEIRA
Manuel Botelho de Oliveira
Nasceu em 1636, Salvador , Estado da Bahia, Brasil.
Poeta, estudou Direito na Universidade de Coimbra . . .
Faleceu em 1711, Salvador, Estado da Bahia, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Música do Parnaso, 1705 . . .
*
I
É meu peito navio,
São teus olhos o norte,
A quem segue o alvedrio,
Amor piloto forte;
Sendo as lágrimas mar, vento os suspiros,
A venda velas são, remos seus tiros.
*
BOTELHO DE OLIVEIRA
"Navegação Amorosa "
*
II
Temerária, soberba, confiada,
Por altiva, por densa, por lustrosa,
A exaltação, a névoa, a mariposa,
Sobe ao Sol, cobre o dia, a luz lhe enfada.
-
Castigada, desfeita, malograda,
Por ousada, por débil, por briosa,
Ao raio, ao resplendor, à luz fermosa,
Cai triste, fica vã, morre abrasada.
-
Contra vós solicita, empenha, altera,
Vil afeto, ira cega, ação perjura,
forte ódio, rumor falso, inveja fera.
-
Este cai, morre aquele, este não dura,
Que em vós logra, em vós acha, em vós venera,
Claro Sol, dia cândido, luz pura.
*
BOTELHO DE OLIVEIRA
" A Um Grande Sujeito Invejado e Aplaudido "
*
III
Quando em mágoas me vejo atribulado,
Vem, sono, a meu desvêlo padecido,
Refrigera os incêndios do sentido,
Os rigores suspende do cuidado.
-
Se no mente Cimério retirado
Triste lugar ocupas, te convido
Que venhas a meu peito entristecido,
Porque triste lugar se tem formado.
-
Se querem noite escura teus intentos,
E se querem silêncio; nas tristezas
Noite e silêncio têm meus sentimentos:
-
Porque triste e secreto nas ternezas,
É meu peito ~ua noite de tormentos,
É meu peito um silêncio de finezas.
*
BOTELHO DE OLIVEIRA
" Ao Sono "
*
IV
Quando o fogo se inflama,
Sobe ao céu natural a nobre chama;
Verás o mesmo efeito,
Divina Anarda, no amoroso peito,
Que em brando desafôgo
Sobe o suspiro ardente de meu fogo
A teu luzido rosto; e não me admiro,
Pois é teu rosto céu, chama o suspiro.
*
BOTELHO DE OLIVEIRA
" Suspiros "



NICOLAU TOLENTINO DE ALMEIDA
Nasceu a 10 de setembro de 1740, signo de virgem
em Lisboa, Portugal.
Cursou Direito, na Universidade de Coimbra(1767). . .
Estilo Arcádio.
Faleceu em 1811, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Obras Poéticas Vl. I, II, III Obras Póstumas, 1836. . .
*
Passei o rio, que tornou atrás,
Se acaso é certo o que Camões nos diz,
Em cuja ponte um bando de Aguazis
Registram tudo quanto a gente traz.
-
Segue-se um largo, em frente dele jaz
Longa fileira de baiúcas vis:
Cigarro aceso, fumo no nariz,
É como a companhia ali se faz.
-
A cidade por dentro é fraca rês,
As moças põem mantilhas, e andam sós,
Têm boa cara, mas não têm bons pés.
-
Isto, coisas de prata e de retrós,
E a cada canto um sórdido marquês,
foi tudo quanto vi em Badajós.
*
NICOLAU TOLENTINO DE ALMEIDA
" Descrição de Badajós "
Soneto
Obras Poéticas Vol III

FERNANDO NAMORA
Fernando Gonçalves Namora
Nasceu em 1919, Condeixa-a-Nova, Província
de Alentejo, Portugal.
Estudou Medicina, na Universidade de Coimbra.
*
CANTOePALAVRAS
As Sete Partidas do Mundo, 1938;
Fogo na Noite Escura, 1943;
Casa da Malta, 1945;
Minas de São Francisco, 1946;
Retalhos da Vida de um Médico, 1949;
O Trigo o Joio, 1954; Mar de Sargaços . . .
*
I
Onde fica o mundo?
só pinhais, matos, charnecas e milho
para fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda
E o mar? E a cidade?E os rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva
onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar
mas vieram engenheiros e máquinas estranhas
Em cada dia o povo abraçava outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio.
*
FERNANDO NAMORA
" Terra "
*
II
Uma árvore está quieta,
Murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
E lhe sopra os dedos,
Ela volta a empertigar-se renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
Perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
E nele há tudo
Que em ti não cabe.
-
Homem, até o barro tem poesia!
Olhas as coisas com humildade.
*
FERNANDO NAMORA
" Fazer das coisas fracas um Poema "
Mar de Sargaços

SOARES DE PASSOS
António Augusto Soares de Passos
Nasceu em 1826, na cidade do Porto, Portugal.
estudou em Coimbra . . .
Faleceu em 1860
*
CANTOePALAVRAS
Poesias, 1856;  O Firmamento . . .
*
E tudo outrora na mudez jazia,
Nos véus do frio nada
Reinava a noite escura; a luz do dia
era em Deus concentrada.
Ele falou, e as sombras num momento
Se dissiparam na amplidão distante!
Ele falou, e o vasto firmamento
Seu véu de mundos desfraldou ovante!
-
E tudo despertou, e tudo gira
Imerso em seus fulgores;
E cada mundo é sonorosa lira
Cantando os seus louvores.
Cantai, ó mundos, que seu braço impele,
Harpas de criação, fachos do dia,
Cantai louvor universal Àquele
Que vos sustenta e nos espaços guia!
-
Terra, globo que geras nas entranhas
Meu ser, o ser humano,
Que és tu com teus vulcões, tuas montanhas
E com teu vasto oceano?
Tu és um grão de areia arrebatado
Por esse imenso turbilhão dos mundos,
Em volta do seu trono levantado,
Do universo nos seios mais profundos.
-
E tu, homem, que éstu, ente mesquinho,
Que soberbo te elevas,
Buscando sem cessar abrir caminho
Por tuas densas trevas?
Que és tu com teus impérios e colossos?
Um átomo subtil, um frouxo alento;
Tu vives um instante, e de teus ossos
Só restam cinzas que sacode o vento . . .
.............................................................................................
*
SOARES DE PASSOS"
" O Firmamento"(Fragmento)
*
▬▬
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Primeiros tempos de COIMBRA! Passagem da solidão da
aldeia para o tumulto da cidade! Tempos de espantos e
estremecimentos creadôres! . . .
-
Ó meus olhos selvagens de Entre-Douro e Minho, cheios
da sombra nua do Marão . . . sombra que, ao pusar nas
aguas do eterno rio, como que reverdeceu e se vestiu
de flôres . . .
-
Ó Mondego, as tuas ondas são quasi nevoa e
melancolia, marulhando Evocações . . .
Lembram velhas ruinas, abrindo largas fendas ao luar
que lhes dá um clorido de além-côr e uma vida de
além-mundo . . .
-
Ó COIMBRA, paisagem quinhentista da Tristeza . . .
Outeiros de saudade . . . Arvoredos nascidos n'uma
terra de alma . . . Folhagens sentimentaes, dando sombra
e palidez . . . Ó Choupal embalando o seu eterno
crepusculo! . . .Murmurios de Legendas . . .
Vozes de Sombras mortas evocadas . . .
-
Primeiro encontro com os Poetas! . . .
Virgilio dos Pegureiros, da Edade de Oiro, da Solidão!
A estrela do pastor brilha nas tuas eclogas, como
sobre o êrmo dos nossos pinheiraes, isto é:
saudosissimamente.
Que misterio o da tua melancolia, aflorando, em sorriso,
aos labios virgens de Astreia . . .
E João de Deus, rezando a Mulher e a Flôr! Camilo a rir o
seu Suicidio! Anthero respondendo á sua Duvida pelos
labios da Morte! E Bernardim, o Ungido da Tristeza . . .
-
Primeiros tempos de COIMBRA . . .
Anciedades de alma sem nome! . . .
Sombra de Ignês fazendo a minha noite . . .
remotas lagrimas acêsas nos longes sêr . . .
via-lactea a que pertence a minha alma . . .
Ó saudades da aldeia longiqua . . .
Estrela da tarde sobre os olivaes de Sta. Clara . . .
Vulto ausente de Virgem, turbando a
paisagem, como que esparso em tudo . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
TEIXEIRA PASCOAES
"Verbo Escuro" (fragmento)
Águia (revista nº. 04)

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