▬▬
»1265«
LUIS AMORIM DE SOUSA
Nasceu em Angola, África
Trabalhou na B.B.C., Londres, Inglaterra. . .
*
CANTOePALAVRAS
Signo da Balança, 1968; Norte e Sul, 1981;
Oceanografia, 1984; Cronica dos Dias Tesos
(prosa), 1996; Ultramarino,1997 . . .
*
I
levantas-te comigo
e levas-me pra fora
ó dentre todas
nua
-
a paisagem é o rosto
que levantas ao Sol
tu és o mensageiro.
-
o teu nome é do vento e das
aves marinhas
que adormeceram breves nos rochedos.
-
ninguém já te aguardava
cegos da espera
que os trilhos prolongaram.
-
à tua entrada os cães
latiam nos portões
e a lua enlouquecera nos
telhados.
-
quatro estações rasgaram-te as
insígnias.
-
perdeste a voz
e a casa de teus pais.
-aqui és apontado pelos velhos
e sem palavras sofres o regresso
imune embora
na matéria salina de que és feito.
*
LUIS AMORIM DE SOUSA
"Manhã"
Ultramarino
II
esta é a casa vulgar igual às outras
apesar dos retoques e das plantas
primeira aposta num sentir diferente.
-
este é o quarto pequeno muitos livros
quadros e coisas retratos de família
pégadas que deixámos no caminho.
-
esta é a cama de ferro com donos anteriores
feita e desfeita sempre por fazer
porto nocturno habituado à vaga e ao silêncio
-
este o cenário
contando com rasgões
-
à nossa volta o mar
-
para onde vamos?
*
LUIS AMORIM DE SOUSA
"Poema para Duas Vozes"
Ultramarino
▬▬
»1266«
MANUEL LOPES
Nasceu em 1907, São Vicente, Cabo Verde, África. . .
*
CANTOePALAVRAS
Paul, 1932; Poemas de quem ficou, 1949;
Chuva braba, 1956; Galo cantou na baía, 1959;
Flagelados do vento leste, 1960;
Crioulo e outros poemas, 1964. . .
*
Que importa o caminho
da garrafa que atirei ao mar?
Que importa o gesto que a colheu?
Que importa a mão que a tocou
- se foi a criança
ou o ladrão
ou filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?
*
MANUEL LOPES
▬▬
Nasceu em 1907, São Vicente, Cabo Verde, África. . .
*
CANTOePALAVRAS
Paul, 1932; Poemas de quem ficou, 1949;
Chuva braba, 1956; Galo cantou na baía, 1959;
Flagelados do vento leste, 1960;
Crioulo e outros poemas, 1964. . .
*
Que importa o caminho
da garrafa que atirei ao mar?
Que importa o gesto que a colheu?
Que importa a mão que a tocou
- se foi a criança
ou o ladrão
ou filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?
*
MANUEL LOPES
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»1267«
TELMO FERRAZ
José Telmo Ferraz
Nasceu a 25 de novembro de 1925, signo de sagitário,
Mogadouro, Bragança, Portugal.
Morou em Angola, África.
Foi padre, capelão da Barragem do Picote, Angola.
Seu livro "O Lodo e as Estrelas", foi censurado pelo
Governo Português, 1960. . . .
*
CANTOePAlavras
O Lodo e as Estrelas, 1960 . . .
*
Lagos tranquilos na manhã.
Rolas
Perdizes
Flores campestres
Pios e cantares de aves
Barulho de vozes lá longe . . .
Sinfonia do acordar!
-
O sino - pedaço de carril na velha árvore
- chama.
Das palhotas de senzala saem, saem, saem . . .
E na capela de pau a pique começa a oração.
Oração virgem com sabor a caminhos de judeia.
*
TELMO FERRAZ
" Manhã "
O Lodo e as Estrelas
▬▬
»1268«
CECÍLIA BOSSI
Maria Cecília Bossi
Nasceu 06 de fevereiro de 1939, signo de aquário,
São Paulo, Brasil.
Poeta, Pintora, pianista erudita, tendo como
professores Camargo guarnieri e Madalena Tagliaferro. . .
Homenagens: Prémio Pen Center "José Erminio de Morais". . .
*
CANTOePALAVRAS
Nervuras do Asfalto, 1978; Ruas do Sono, 1979;
Cavala Marinha, 1987; Música e Palavra,1989;
Umbrais da Memória, 1993; Rio do Tempo, 1995;
Sombra Sonora, 1996; Alaude de Cristal, 1991 . . .
*
I
Enxerguei o vento
Estranho corpo bramindo
Mãos verdes dedos velozes.
(estranhos às minhas dezenas digitais).
-
Enxerguei-o violento pinheiral
Sacudindo as ondas revoltas do mar
Do mar que não me quis amar.
-
E enxerguei a minha própria sombra
ventada pelo ar.
*
CECÍLIA BOSSI
"Vento Verde"
Música e Palavra
*
As flores que foram brotos, mudas semente
saíram da moda
as flores que eu queria
mudaram de praça
ninguém as olha
ninguém as quer.
*
CECÍLIA BOSSI
"Flores"
Música e Palavra
*
III
Se vieres ao meu encontro
Procura minha presença
como um pássaro o seu ninho
somos o que a hora é pro relógio
pontuais como o tempo
e o nosso estilo aponta a faca para o arco.
-
Se me encontrares a minha essência esvaída
e a porta fechada
não desistas
há um animal pulsando nas veias abertas do meu pulso
o mar revolto e aberto
um navio atracado no cais procurando o porto
-
e a minha alma ancorada
procurando a tua libertação.
*
CECÍLIA BOSSI
"À Procura de Poesia"
Música e Palavra
▬▬
»1269«
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
Nasceu a 14 de fevereiro de 1895, signo de aquário,
em Aracajú, estado do Ceará, Brasil.
Homenagens: Escola Municipal "José Goés Duarte",
Boquim, Sergipe, Brasil. . .
Faleceu no seu dia de aniversário, 14 de fevereiro de 1961.
*
CANTOePALAVRAS
Obras Poética; Caminhos da Flor, 1961 . . .
I
Todo o tempo em que estiveste
do meu carinho distante,
meu coração, soluçante
foi como o mar . . . em vazante,
chorando a falta, constante
dos beijos que não me deste . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"Mar Vazante"
Obra Poética
*
II
Eu vivo sempre sonhando
alheado deste mundo,
contemplando o mar, profundo
o céu, azul, contemplando . . .
-
E muitas vezes, a esmo,
num grato cismar sem fim,
se me procuro a mim mesmo,
nem sei dar conta de mim . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"Eu Leio"
Obra Poética
*
III
A sós, com sua dor, na paisagem sombria,
O poeta cismava. A tarde, que morria,
Em sua alma espagia
A doce benção da melancolia . . .
-
súbitamente,
Alguma coisa,
(Imponderável coisa,
A que ninguém, por certo, até então,
Houvera dado, já definição),
Envolveu-lhe, um momento, o coração,
e o fez palpitar, na tristeza ambiente,
De forma estranha, indescritivelmente . . .
-
Senão, quando,
(E não julgueis uma alucinação!)
Qual se tocada ao sopro de algum mago,
A paisagem se fez, as súbitas, num lago.
-
A refletir o Sol crepusculando,
Num suave esplendor de meias-tintas vago,
Em meio à qual, por fim, o seu olhar
_ de muito perquirir
De muito perscrutar
Numa louca, incontida ansiedade, -
conseguiu distinguir
Do lago a se evolar,
A silhueta, humana, da saudade . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"O Poeta e a Saudade"
*
IV
Mês de Julho; depois das invernias
Esplêndidas manhãs, fresco verão;
Aves no bosque, lindas harmonias,
O perfume das flores, pelo chão . . .
-
Bela vida do campo! As serranias. . .
Aprazíveis vivendas do sertão . . .
Quanta tristeza, quantas nostalgias
evocativas, nesta solidão!
-
Só através de toda esta ramagem,
Neste cenário rústico, do mato.
Uma recordação dessa paisagem.
-
Do meu torrão natal: - Aquela vida . . .
A casa campesina, sem ornato . . .
As novenas de junho, numa ermida . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"Saudade"(poema sem verbo)
▬▬
»1270«
LIBÉRIO NEVES
António Libério Neves
Nasceu a 29 de abril de 1934, signo de touro
Buriti Alegre, Estado de Goiás, Brasil.
Doutorou-se em Direito na Universidade
Federal de Minas Gerais, U.F.M.G.,1960
Homenagens: Prémio "Cidade de Belo Horizonte",1964
Prémio "Claudio Manuel da Costa" . . .
*
CANTOePALAVRAS
Pedra Solidão, 1964; O Ermo, 1969; Pequena Memória
de Terra Funda(ficção), 1971; Mil Quilômetros
Redondos,(ficção), 1974 . . .
*
I
O botão de rosa
rosadormecida
possível do aroma.
-
é quando ainda
oncinha no assanho
de crescer o pêlo
e o peso nas unhas.
-
a mão é a seda
e a seda flutua
macia caindo
pelo vão dos dedos.
-
retoria procura
o clarão dos escuros
no roteiro do exato
recurvo cristal.
-
o arado caminha
no alinho da esteva
no sulco segredo
exposto revelado
-
carga e espoleta
numa escora de fresta
é pólvora e o fogo
armando de espreita.
-
O acaso dos espasmo
súbito conceito
do peito e o susto
no homem suspeita.
-
a verruga e seu passo
redondo crescendo
aos olhos do tempo
os olhos não vendo.
-
a mão e a pele
de pele vestida
no apelo e na pele
do corpo dormido.
*
LIBÉRIO NEVES
"A Curva"(fragmento)
Antologia
*
II
Arranca a pele do
negro
onde a tunda
é livre e dada
-
arranca do espelho
o negro
quando a tua
é livre idade
-
acusa o espólio do
negro
onde o ventre
ao livre é dado
-
acusa do pálio
o negro
quando (vento)
é a liberdade.
*
LIBÉRIO NEVES
"Escravo"
Antologia
▬▬
»1271«
OLIVEIRA SILVEIRA
Oliveira Ferreira da Silveira
Nasceu em, 1941, Touro Sentado, Rosário do Sul,
OLIVEIRA SILVEIRA
Oliveira Ferreira da Silveira
Nasceu em, 1941, Touro Sentado, Rosário do Sul,
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Germinou, 1962; Poemas Regionais, 1968;
Banzo Saudade Negra, 1970; Décima do Negro Peão, 1974;
Praça da Palavra, 1976; Pêlo Escuro, 1977. . .
*
I
Um naco de fumo escuro
negrinho
da tua cor, no monturo.
-
Um toco de pito aceso
negrinho
cor de teu sangue indefeso.
-
Muito estancieiro safado
negrinho
formigueiro à beira estrada.
-
Contra a manhas dessa malta
negrinho
se vai de cabeça alta.
-
E peço: clareia o rumo
negrinho
de teus irmãos cor de fumo.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Negrinho"
*
CANTOePALAVRAS
Germinou, 1962; Poemas Regionais, 1968;
Banzo Saudade Negra, 1970; Décima do Negro Peão, 1974;
Praça da Palavra, 1976; Pêlo Escuro, 1977. . .
*
I
Um naco de fumo escuro
negrinho
da tua cor, no monturo.
-
Um toco de pito aceso
negrinho
cor de teu sangue indefeso.
-
Muito estancieiro safado
negrinho
formigueiro à beira estrada.
-
Contra a manhas dessa malta
negrinho
se vai de cabeça alta.
-
E peço: clareia o rumo
negrinho
de teus irmãos cor de fumo.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Negrinho"
.......II......
Casas de Negros
.......queixa e resmunga
Casas de Negros
.......cantigas do Congo
Casas de Negros
.......feijoada e charque
Casas de Negros
.......santo e orixá
Casas deNegros
.......reza e batuque
Casas de Negros
.......palavras em choque.
-
Nas Casas de Negros
.......coisas escravas
.......passando livres
.......para a casa-grande.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Casas de Negros"
.......cantigas do Congo
Casas de Negros
.......feijoada e charque
Casas de Negros
.......santo e orixá
Casas deNegros
.......reza e batuque
Casas de Negros
.......palavras em choque.
-
Nas Casas de Negros
.......coisas escravas
.......passando livres
.......para a casa-grande.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Casas de Negros"
*
III
O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não qu é sim.
É assim o Brasil
ou não?
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Ser ou não Ser "
▬▬
»1272«
JOSÉ OITICICA
José Rodrigues Leite e Oiticica
Nasceu a 22 de julho de 1882, signo de leão,
Oliveira, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Faculdade de Medicina e Direito, no Rio de Janeiro. . .
*
CANTOePALAVRAS
Sonetos, 1911; Sonetos, 1919;
Ode ao Sol, 1954;
Fonte Perene, 1954. . .
*
Eu Vigio; eu observo a luz da Treva!
Eu quero penetrar-te, ó Lei da lei!
Sou a aranha da Teia real, primeva. . .
Fios da teia, um dia os quebrarei.
-
Vivo como os caídos filhos de Eva,
Sem saber quando me levantarei. . .
Mas confio na Roda que me eleva,
Nas sete vidas do meu Agnus Dei.
-
Vigio o teu Corcel e afio a espora,
Ó Pensamento, ó grande domador!
Quem não vigia, não vê tudo e ignora.
-
Dormir é a tentação do pecador. . .
Ó Treva, enche os meus olhos como agora!
Não poder ver é toda a minha dor.
*
JOSÉ OITICICA
"A Vigília"
Fonte Perene
▬▬
»1273«
MARCOLINO MOCO
Domingos Florentino(pseudónimo)
Nasceu a 19 de julho de 1953, signo de câncer, em Chitue,
Município de Ekunha(antiga Vila Flor), Angola, África.
Doutorou-se em Direito na Universidade "Agostinho Neto" de
Angola. Ex-Primeiro Ministro de Angola. Secretário Executivo da
"Comunidade dos Países de Língua Portuguesa" C.P.L.P., membro
da "União dos Escritores Angolanos" U.E.A..
Homenagens: Comendador da "Ordem Infante D. Henrique, de
Portugal, 1996. . .
*
CANTOePALAVRAS
Raízes do Porvir, 1997. . .
*
O meu sonho
é uma madeixa dos teus cabelos
sufocada ao luar de uma noite
cansada de amor.
-
O meu sonho
somos nós, tu e eu
no corcel da vida
à procura do Sol.
-
Falo do sonho, amor
do nosso sonho
em que brincamos com crianças não paridas
com esperanças sangrando deseperanças.
-
O meu sonho
és tu, Minda-a-Mulata
sonhando com a vida e morrendo
em tempo de fome farta
e a guerra a acabar
(ou a reatar?)
-
O meu sonho
é sonho de mar
as ondas indo e vindo
do fim do Mundo
as aves a voar.
*
DOMINGOS FLORENTINO
"Sonho de Amor"
Raízes do Porvir
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