sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

178 - Cecília Bossi " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA"

»1265«
LUIS AMORIM DE SOUSA
Nasceu em Angola, África
Trabalhou na B.B.C., Londres, Inglaterra. . .
*
CANTOePALAVRAS
Signo da Balança, 1968; Norte e Sul, 1981;
Oceanografia, 1984; Cronica dos Dias Tesos
(prosa), 1996; Ultramarino,1997 . . .
*
I
levantas-te comigo
e levas-me pra fora
ó dentre todas
nua
-
a paisagem é o rosto
que levantas ao Sol
tu és o mensageiro.
-
o teu nome é do vento e das
aves marinhas
que adormeceram breves nos rochedos.
-
ninguém já te aguardava
cegos da espera
que os trilhos prolongaram.
-
à tua entrada os cães
latiam nos portões
e a lua enlouquecera nos
telhados.
-
quatro estações rasgaram-te as
insígnias.
-
perdeste a voz
e a casa de teus pais.
-aqui és apontado pelos velhos
e sem palavras sofres o regresso
imune embora
na matéria salina de que és feito.
*
LUIS AMORIM DE SOUSA
"Manhã"
Ultramarino
II
esta é a casa vulgar igual às outras
apesar dos retoques e das plantas
primeira aposta num sentir diferente.
-
este é o quarto pequeno muitos livros
quadros e coisas retratos de família
pégadas que deixámos no caminho.
-
esta é a cama de ferro com donos anteriores
feita e desfeita sempre por fazer
porto nocturno habituado à vaga e ao silêncio
-
este o cenário
contando com rasgões
-
à nossa volta o mar
-
para onde vamos?
*
LUIS AMORIM DE SOUSA
"Poema para Duas Vozes"
Ultramarino
»1266«
MANUEL LOPES
Nasceu em 1907, São Vicente, Cabo Verde, África. . .
*
CANTOePALAVRAS
Paul, 1932; Poemas de quem ficou, 1949;
Chuva braba, 1956; Galo cantou na baía, 1959;
Flagelados do vento leste, 1960;
Crioulo e outros poemas, 1964. . .
*
Que importa o caminho
da garrafa que atirei ao mar?
Que importa o gesto que a colheu?
Que importa a mão que a tocou
- se foi a criança
ou o ladrão
ou filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?
*
MANUEL LOPES

»1267«
TELMO FERRAZ
José Telmo Ferraz
Nasceu a 25 de novembro de 1925, signo de sagitário,
Mogadouro, Bragança, Portugal.
Morou em Angola, África.
Foi padre, capelão da Barragem do Picote, Angola.
Seu livro "O Lodo e as Estrelas", foi censurado pelo
Governo Português, 1960. . . .
*
CANTOePAlavras
O Lodo e as Estrelas, 1960 . . .
*
Lagos tranquilos na manhã.
Rolas
Perdizes
Flores campestres
Pios e cantares de aves
Barulho de vozes lá longe . . .
Sinfonia do acordar!
-
O sino - pedaço de carril na velha árvore
- chama.
Das palhotas de senzala saem, saem, saem . . .
E na capela de pau a pique começa a oração.
Oração virgem com sabor a caminhos de judeia.
*
TELMO FERRAZ
" Manhã "
O Lodo e as Estrelas
»1268«
CECÍLIA BOSSI
Maria Cecília Bossi
Nasceu 06 de fevereiro de 1939, signo de aquário,
São Paulo, Brasil.
Poeta, Pintora, pianista erudita, tendo como
professores Camargo guarnieri e Madalena Tagliaferro. . .
Homenagens: Prémio Pen Center "José Erminio de Morais". . .
*
CANTOePALAVRAS
Nervuras do Asfalto, 1978; Ruas do Sono, 1979;
Cavala Marinha, 1987; Música e Palavra,1989;
Umbrais da Memória, 1993; Rio do Tempo, 1995;
Sombra Sonora, 1996; Alaude de Cristal, 1991 . . .
*
I
Enxerguei o vento
Estranho corpo bramindo
Mãos verdes dedos velozes.
(estranhos às minhas dezenas digitais).
-
Enxerguei-o violento pinheiral
Sacudindo as ondas revoltas do mar
Do mar que não me quis amar.
-
E enxerguei a minha própria sombra
ventada pelo ar.
*
CECÍLIA BOSSI
"Vento Verde"
Música e Palavra
*
II
"Meu Jardim"
Foto Luis Dias

As flores que foram brotos, mudas semente
saíram da moda
as flores que eu queria
mudaram de praça
ninguém as olha
ninguém as quer.
*
CECÍLIA BOSSI
"Flores"
Música e Palavra
*
III
Se vieres ao meu encontro
Procura minha presença
como um pássaro o seu ninho
somos o que a hora é pro relógio
pontuais como o tempo
e o nosso estilo aponta a faca para o arco.
-
Se me encontrares a minha essência esvaída
e a porta fechada
não desistas
há um animal pulsando nas veias abertas do meu pulso
o mar revolto e aberto
um navio atracado no cais procurando o porto
-
e a minha alma ancorada
procurando a tua libertação.
*
CECÍLIA BOSSI
"À Procura de Poesia"
Música e Palavra
»1269«
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
Nasceu a 14 de fevereiro de 1895, signo de aquário,
em Aracajú, estado do Ceará, Brasil.
Homenagens: Escola Municipal "José Goés Duarte",
Boquim, Sergipe, Brasil. . .
Faleceu no seu dia de aniversário, 14 de fevereiro de 1961.
*
CANTOePALAVRAS
Obras Poética; Caminhos da Flor, 1961 . . .
I
Todo o tempo em que estiveste
do meu carinho distante,
meu coração, soluçante
foi como o mar . . . em vazante,
chorando a falta, constante
dos beijos que não me deste . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"Mar Vazante"
Obra Poética
*
II
Eu vivo sempre sonhando
alheado deste mundo,
contemplando o mar, profundo
o céu, azul, contemplando . . .
-
E muitas vezes, a esmo,
num grato cismar sem fim,
se me procuro a mim mesmo,
nem sei dar conta de mim . . .
*
JOSÉ  DE GOÉS DUARTE
"Eu Leio"
Obra Poética
*
III
A sós, com sua dor, na paisagem sombria,
O poeta cismava. A tarde, que morria,
Em sua alma espagia
A doce benção da melancolia . . .
-
súbitamente,
Alguma coisa,
(Imponderável coisa,
A que ninguém, por certo, até então,
Houvera dado, já definição),
Envolveu-lhe, um momento, o coração,
e o fez palpitar, na tristeza ambiente,
De forma estranha, indescritivelmente . . .
-
Senão, quando,
(E não julgueis uma alucinação!)
Qual se tocada ao sopro de algum mago,
A paisagem se fez, as súbitas, num lago.
-
A refletir o Sol crepusculando,
Num suave esplendor de meias-tintas vago,
Em meio à qual, por fim, o seu olhar
_ de muito perquirir
De muito perscrutar
Numa louca, incontida ansiedade, -
conseguiu distinguir
Do lago a se evolar,
A silhueta, humana, da saudade . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"O Poeta e a Saudade"
*
IV
Mês de Julho; depois das invernias
Esplêndidas manhãs, fresco verão;
Aves no bosque, lindas harmonias,
O perfume das flores, pelo chão . . .
-
Bela vida do campo! As serranias. . .
Aprazíveis vivendas do sertão . . .
Quanta tristeza, quantas nostalgias
evocativas, nesta solidão!
-
Só através de toda esta ramagem,
Neste cenário rústico, do mato.
Uma recordação dessa paisagem.
-
Do meu torrão natal: - Aquela vida . . .
A casa campesina, sem ornato . . .
As novenas de junho, numa ermida . . .
*
JOSÉ DE GOÉS DUARTE
"Saudade"(poema sem verbo)
»1270«
LIBÉRIO NEVES
António Libério Neves
Nasceu a 29 de abril de 1934, signo de touro
Buriti Alegre, Estado de Goiás, Brasil.
Doutorou-se em Direito na Universidade
Federal de Minas Gerais, U.F.M.G.,1960
Homenagens: Prémio "Cidade de Belo Horizonte",1964
Prémio "Claudio Manuel da Costa" . . .
*
CANTOePALAVRAS
Pedra Solidão, 1964; O Ermo, 1969; Pequena Memória
de Terra Funda(ficção), 1971; Mil Quilômetros
Redondos,(ficção), 1974 . . .
*
I
O botão de rosa
rosadormecida
possível do aroma.
-
é quando ainda
oncinha no assanho
de crescer o pêlo
e o peso nas unhas.
-
a mão é a seda
e a seda flutua
macia caindo
pelo vão dos dedos.
-
retoria procura
o clarão dos escuros
no roteiro do exato
recurvo cristal.
-
o arado caminha
no alinho da esteva
no sulco segredo
exposto revelado
-
carga e espoleta
numa escora de fresta
é pólvora e o fogo
armando de espreita.
-
O acaso dos espasmo
súbito conceito
do peito e o susto
no homem suspeita.
-
a verruga e seu passo
redondo crescendo
aos olhos do tempo
os olhos não vendo.
-
a mão e a pele
de pele vestida
no apelo e na pele
do corpo dormido.
*
LIBÉRIO NEVES
"A Curva"(fragmento)
Antologia
*
II
Arranca a pele do
negro
onde a tunda
é livre e dada
-
arranca do espelho
o negro
quando a tua
é livre idade
-
acusa o espólio do
negro
onde o ventre
ao livre é dado
-
acusa do pálio
o negro
quando (vento)
é a liberdade.
*
LIBÉRIO NEVES
"Escravo"
Antologia
»1271«
OLIVEIRA SILVEIRA
Oliveira Ferreira da Silveira
Nasceu em, 1941, Touro Sentado, Rosário do Sul,
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Germinou, 1962; Poemas Regionais, 1968;
Banzo Saudade Negra, 1970; Décima do Negro Peão, 1974;
Praça da Palavra, 1976; Pêlo Escuro, 1977. . .
*
I
Um naco de fumo escuro
negrinho
da tua cor, no monturo.
-
Um toco de pito aceso
negrinho
cor de teu sangue indefeso.
-
Muito estancieiro safado
negrinho
formigueiro à beira estrada.
-
Contra a manhas dessa malta
negrinho
se vai de cabeça alta.
-
E peço: clareia o rumo
negrinho
de teus irmãos cor de fumo.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Negrinho"
.......II......
Casas de Negros
.......queixa e resmunga
Casas de Negros
.......cantigas do Congo
Casas de Negros
.......feijoada e charque
Casas de Negros
.......santo e orixá
Casas deNegros
.......reza e batuque
Casas de Negros
.......palavras em choque.
-
Nas Casas de Negros
.......coisas escravas
.......passando livres
.......para a casa-grande.
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Casas de Negros"
*
III
O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não qu é sim.
É assim o Brasil
ou não?
*
OLIVEIRA SILVEIRA
"Ser ou não Ser "
»1272«
JOSÉ OITICICA
José Rodrigues Leite e Oiticica
Nasceu a 22 de julho de 1882, signo de leão,
Oliveira, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Faculdade de Medicina e Direito, no Rio de Janeiro. . .
*
CANTOePALAVRAS
Sonetos, 1911; Sonetos, 1919;
Ode ao Sol, 1954;
Fonte Perene, 1954. . .
*
Eu Vigio; eu observo a luz da Treva!
Eu quero penetrar-te, ó Lei da lei!
Sou a aranha da Teia real, primeva. . .
Fios da teia, um dia os quebrarei.
-
Vivo como os caídos filhos de Eva,
Sem saber quando me levantarei. . .
Mas confio na Roda que me eleva,
Nas sete vidas do meu Agnus Dei.
-
Vigio o teu Corcel e afio a espora,
Ó Pensamento, ó grande domador!
Quem não vigia, não vê tudo e ignora.
-
Dormir é a tentação do pecador. . .
Ó Treva, enche os meus olhos como agora!
Não poder ver é toda a minha dor.
*
JOSÉ OITICICA
"A Vigília"
Fonte Perene
»1273«
MARCOLINO MOCO
Domingos Florentino(pseudónimo)
Nasceu a 19 de julho de 1953, signo de câncer, em Chitue,
Município de Ekunha(antiga Vila Flor), Angola, África.
Doutorou-se em Direito na Universidade "Agostinho Neto" de
Angola. Ex-Primeiro Ministro de Angola. Secretário Executivo da
"Comunidade dos Países de Língua Portuguesa" C.P.L.P., membro
da "União dos Escritores Angolanos" U.E.A..
Homenagens: Comendador da "Ordem Infante D. Henrique, de
Portugal, 1996. . .
*
CANTOePALAVRAS
Raízes do Porvir, 1997. . .
*
O meu sonho
é uma madeixa dos teus cabelos
sufocada ao luar de uma noite
cansada de amor.
-
O meu sonho
somos nós, tu e eu
no corcel da vida
à procura do Sol.
-
Falo do sonho, amor
do nosso sonho
em que brincamos com crianças não paridas
com esperanças sangrando deseperanças.
-
O meu sonho
és tu, Minda-a-Mulata
sonhando com a vida e morrendo
em tempo de fome farta
e a guerra a acabar
(ou a reatar?)
-
O meu sonho
é sonho de mar
as ondas indo e vindo
do fim do Mundo
as aves a voar.
*
DOMINGOS FLORENTINO
"Sonho de Amor"
Raízes do Porvir

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