sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

176 - Costa Andrade " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA"



»1247«
ANA MARIA DEUS LIMA
Nasceu em 1958, na Ilha de Príncipe, em
São Tomé e Príncipe, África. Se envolveu
com política
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . .
*
És de cor
Conforme a natureza te criou
És de carne e osso como é outro qualquer.
-
És humilhado, maltratado, escravizado
És desprezado e explorado
Tudo isto devido
À cor da tua pele.
-
Mas irmão não te sintas humilhado
Perante outro
Que embora se julgue superior a ti
É precisamente igual a ti.
-
Sobretudo não pares
Como quem se entrega ao destino
Trabalha e luta
Para que os teus passos sejam certos e firmes.
-
Trabalha e luta
Caminha rumo a um futuro brilhante
Instrumento de dominação
Não será irmão o mito da pele
O caminho da revolução
será o fim da exploração.
*
ANA MARIA DEUS LIMA
"Irmão Negro"
»1248«
ARLINDO BARBEITOS
Arlindo do Carmo Pires Barbeitos
Nasceu a 24 de dezembro de 1940, signo de capricórnio
na província de Bengo, Angola África.
Poeta, por algum tempo morou em Portugal,e na Alemanha
estudou Sociologia, Antropologia, Filosofia, Economia
e Estatística, na "Universidade de Frankfurt/Main".
Professor universitário em Angola, participou em
jornais e revistas de Angola e Portugal. . .
*
CANTOePALAVRAS
Angola, Angolê, Angolema, 1985;
Nzoji, 1979; O Rio Estórias do Regresso, 1985;
Fiapos de Sonho, 1992 . . .
*
À sombra da árvore velha de muitos sobas
Só cresceram muxitos.
-
O sussurrar encarcoleante dos surucucus d'areia
Marcava dédalos efêmeros
Que os quissondes iam devorando.
-
À sombra da árvore velha de muitos sobas
Só cresceram muxitos.
*
ARLINDO BARBEITOS
" Sem Título "
»1249«
CLODOVEU GIL
Clodoveu Eduardo Brazão Gil
Nasceu a 19 de janeiro de 1929, signo de capricórnio,
em Moçâmedes, Angola, África.
Poeta, pianista, compositor, pintor.
trabalhou para vários jornais e rádios, em Angola.
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Nova Lisboa,
bela, atraente,
teu nome ecoa
n'alma da gente!
-
Beleza infinda
da tua terra se evola.
És a aguarela mais linda
que Deus pintou nesta Angola.
-
Nova Lisboa,
não há quem não tenha dito
que és o rincão mais bonito
desta Angola majestosa.
-
Nova Lisboa,
teus jardins, tuas avenidas
buliçosas, coloridas,
tornam-te ainda mais formosa.
-
Nova Lisboa,
teu céu azul tem mais luz,
tudo em ti nos seduz
porque és bela e atraente.
-
Nova Lisboa,
quem já viu tua beleza
de certo quer, com certeza,
p'ra ti voltar novamente.
*
CLODOVEU GIL
" Nova Lisboa "
»1250«
OSWALDO ALCANTARA
Baltazar Lopes da Silva.(nome)
Nasceu em 23 de abril de 1907, signo de touro.
Caleijão, São Nicolau, Cabo Verde, África.
Poeta, escritor, professor, linguista . . .
Participou na revista "Claridade". . .
Reitor do liceu "Gil Eanes", São Vicente, Cabo Verde.
Faleceu a 28 de maio de 1989.
*
CANTOePALAVRAS
Chiquinho, 1947; Cântico da manhã futura, 1986;
A caderneta, 1986; Os trabalhos e os dias(conto), 1987. . .
*
Onde há o Tântalo de todas as recusas
e tudo gerou nada
e o tempo desembocou no presente
e no chão podre de húmus malditos
o presente só tem para ti uma colheita clandestina
Esperança esperança esperança.
*
OSWALDO ALCANTARA
"Sem título"
»1251«
PEDRO CORSINO AZEVEDO
Nasceu em 1905, em São Nicolau, Cabo Verde, África.
Escritor (poeta, romancista, contista . . .)
Participou da revista "Claridade" . . .
Seu corpo faleceu em 1942.
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Aqui, perdido, distante
Das realidades que apenas sonhei,
Cansado pela febre do mais-além,
Suponho
Minha Mãe a embalar-me,
Eu, pequenino, zangado pelo sono que não vinha.
-
"- Ai, não montes tal cavalinho,
Tal cavalinho vai terra longe,
Terra longe tem gente-gentio,
Gente-gentio come gente".
-À doce toada
Meu sonho caía de manso
Da boca de minha Mãe:
-
" - Cala, cala, meu menino,
Terra longe tem gente-gentio,
Gente-gentio come gente".
-
Depois vieram os anos,
E, com eles, tantas saudades! . . .
Hoje, lá no fundo, gritam: Vai!
Mas a voz da minha Mãe,
A gemer de mansinho
Cantigas da minha Infância,
Aconselha ao filho amado:
-
" - Terra longe tem gente-gentio,
Gente- gentio come gente".
-
Terra longe! terra longe! . . .
- Ó Mãe que me embalaste!
- Ó meu querer bipartido!
*
PEDRO CORSINO AZEVEDO
" Terra Longe "
»1252«
ANTÓNIO BATICÃ FERREIRA
Nasceu em 1939, Canchungo, Guiné-Bissau, África. . .
É filho de um "Soba"(chefe). Poeta, licenciado em Medicina
"Universidade de Lausana" Genebra, Suiça e estudou em
Dacar e Lisboa.
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Olhai: O Mar tem influência singular
Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos!
Valia a pena persegui-los no mar alto;
Valia a pena vê-los saltar através das ondas.
-
O Mar, nesse mundo que os homens não habitam,
É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas:
-
Valia a pena olhá-las a correr.
Loucamente; valia a pena.
Ver qual delas primeiro entrava na baía.
-
Ah!. O Mar, vasto, no entanto, aqui nos fala.
Sim, fala-nos interiormente,
E nós compreendemos a sua língua;
É uma língua que se entende.
-
(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)
*
ANTÓNIO BATICÃ FERREIRA
"O Mar"
»1253«


AUGUSTO MEYER
Augusto Meyer Júnior
Nasceu em 1902, Porto Alegre, Estado de Rio Grande
do Sul, Brasil. . .
Poeta...
Homenagens: Premio "Machado de Assis", 1948 . . .
Faleceu em 10 de Julho de 1970, Rio de Janeiro, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Ilusão Querida, 1923; Coração Verde, 1926;
Giraluz, 1928; Duas Orações, 1928;
Poemas de Bilu, 1929; Sorriso Interior, 1930;
Poesias, 1957. . .
*
I
Negrinho do Pastoreio,
venho acender a velinha
que palpita em teu louvor.
-
A luz da vela me mostre
o caminho do meu amor.
-
A luz da vela me mostre
onde está Nosso Senhor.
-
Eu quero ver outra luz
na luz da vela, negrinho,
clarão santo, clarão grande
como a verdade e o caminho
na falação de Jesus.
-
Negrinho do Pastoreio,
diz que Você acha tudo
se a gente acender um lume
de velinha em seu louvor.
-
Vou levando esta luzinha
treme treme, protegida
contra o vento, contra a noite. . .
É uma esperança queimando
na palma da minha mão.
-
que não se apague este lume!
Há sempre um novo clarão.
Quem espera acha o caminho
pela voz do coração.
-
Eu quero achar-me Negrinho!
(Diz que Você acha tudo.)
Ando tão longe, perdido. . .
Eu quero achar-me, Negrinho:
-
a luz da vela me mostre
o caminho do meu amor.
-
Negrinho, Você que achou
pela mão da sua Madrinha
os trinta tordilhos negros
e varou a noite toda
de vela acesa na mão,
(piava a coruja rouca
no arrepio da escuridão,
manhãzinha, a estrela dalva
na voz do galo cantava,
mas quando a vela pingava,
cada pingo era um clarão)
Negrinho, Você que achou,
me leve à estrada batida
que vai dar no coração.
-
(Ah os caminhos da vida
ninguém sabe onde é que estão!)
Negrinho, Você que foi
amarrado num palanque,
rebenqueado a sangue pelo
rebenque do seu patrão,
e depois foi enterrado
na cova de um formigueiro
pra ser comido inteirinho
sem a luz da extrema-unção,
se levantou saradinho,
se levantou inteirinho.
Seu riso ficou mais branco
de enxergar Nossa Senhora
com seu Filho pela mão.
-
Negrinho santo, Negrinho,
Negrinho do Pastoreio,
Você me ensine o caminho
pra chegar à devoção,
pra sangrar na Cruz bendita
pelos cravos da Paixão.
-
Negrinho santo, Negrinho,
quero aprender a não ser!
Quero ser como a semente
na falação de Jesus,
semente que só vivia
e dava fruto enterrada,
apodrecendo no chão.
*
AUGUSTO MEYER
"Oração ao Negrinho do Pastoreio"
Duas Orações

II
Compadre Bilu, conte uma história´
"Vi a andorinha fugir do avião, 
vi cada coisa, vi cada cara,
vi Carlitos fazer discurso
e a fonte cantar a eterna canção."
-
Bilu, compadre, conte uma história,
que foi, meu bem, que você viu?
"Vi Lenine dançando shimmy,
vi Mlle Moral, chanteuse,
vi a estátua da Liberdade
na corda bamba do bate boca,
vi minha infância brincar de roda
e a fonte cantar a eterna canção."
-
Depois depois que foi que viu?
"Vi o tesouro da Teiniaguá,
vi tanta coisa que fiquei grogue.
Passa Rampaglia na Cadillac...
Vi o curupira trocando o pito
pelo canudo de bacharel.
Mas vi a rosa que sempre é a rosa
e a  fonte cantar a eterna canção."
*
AUGUSTO MEYER
"Balada de Bilu"
Poemas de Bilu

III
Quem passa? É o Rei, é o Rei que vai à caça!
Mal filtra o luar a sombra do arvoredo.
Joãozinho, a um restolhar, treme de medo,
Maria escuta, se uma folha esvoaça...
-
Era uma vez um rei... jogou a taça
Ao mar, e o amargo mar guarda o segredo...
E a princesinha que cortou o dedo?
Faz muito tempo... Como a vida passa!
-
Era uma vez a minha infância linda
E o sonho, o susto, o vago encanto alado...
Vem a saudade e conta-me baixinho
-
Velhas histórias... E eu já velho ainda
Sou um Pequeno Polegar cansado
Que pára e hesita, em busca do caminho...
*
AUGUSTO MEYER
"Era uma vez..."
Poesias 
▬ 
»1254«
COSTA ANDRADE
Francisco Fernando da Costa Andrade
Ndunduma We Leoi; Wayovoca André(pseudónimos)
Nasceu em 1936, Huambo, Angola, África.
Poeta, estudou no Brasil, Itália, Iugoslávia, foi jornalista
e participou em movimentos literários e políticos em
Angola e Portugal . . .
*
CANTOePALAVRAS
Terra das Acácias Rubras, 1960;
Poemas, 1961; Tempo Angolano em Itália, 1962;
Com os Olhos Secos, 1963; Um Ramo de Miosótis, 1970;
Armas com Poesia e uma Certeza, 1973;
Sagrada Esperança, 1974;
Poesias com Armas, 1975; O Regresso e o Canto, 1975;
O Caderno dos Heróis, 1977; No Velho Ninguém Toca, 1978;
O País de Bissalanka, 1979; Histórias de Contratados, 1980;
Renúncia Impossível, 1980;
O Cunene Corre para o Sul, 1981; Lenha Seca, 1986;
Sobre Poesia Angolana, 1988;
Limos de Lume, 1989; Lwini, 1991; Luanda, 1997
Poesia, 1998. . .
*
I
Além deste olhar vencido
Cheio dos mares negreiros
Fatigado
E das cadeias aterradoras que envolvem lares
Além do silhuetar mágico das figuras
Nocturnas
Após cansaços em outros continentes dentro da África
-
Além desta África
de mosquitos
e feitiços sentinelas
de almas negras mistério orlado de sorrisos brancos
adentro das caridades que exploram e das medicinas que matam.
-
Além África dos atrasos seculares
Em corações tristes.
-
Eu vejo
as mãos esculturais
dum povo externizado nos mitos
inventados nas terras áridas da dominação
as mãos esculturais dum povo que constrói
sob o peso do que fabrica para se destruir.
-
Eu vejo além África
amor brotando virgem em cada boca
em lianas invencíveis da vida espontânea
e nas mãos esculturais entre si ligadas
contra as catadupas demolidoras do antigo.
-
Além deste cansaço em outros continentes
a África viva
sinto-a nas mãos esculturais dos fortes que são povo
E rosas e pão
E futuro.
*
COSTA ANDRADE
" Mãos Esculturais "
Sagrada Esperança
*
II
Fevereiro há de sorrir feliz . . .
porque este ano.
com as chuvas que caíram lavando os instantes de vivemos
as mandioqueiras que plantámos
até mesmo os maiungos
virão mais cedo para alimentar o povo, povo inteiro
no combate.
*
COSTA ANDRADE
" O Futuro "
Povo Inteiro
*
Dito "UMBUNDU"
"Um cesto faz-se de muitos fios".
Angola
»1255«
HENRIQUE ABRANCHES
Nasceu em 1932, Lisboa, Portugal
Poeta, foi para Angola com 15 anos de idade,
Historiador, Antropólogo . . .
*
CANTOePALAVRAS
Cântico Barroco, 1987; Reflexões sobre
Cultura Nacional(Angola), 1980. . .
*
Datam ainda na memória de esperança
as asas senhoris do pássaro fecundo
que sobrevoou meu sonho de criança,
antes que o sonho, gasto pelo mundo,
fosse ganhando uma imagem frouxa.
-
Pássaro negro de pesada sombra
sentado num chapéu dum deus imundo,
pousado na cabeça dum boi mocho.
Pássaro negro criador da penumbra
que desde a minha infância me conduz
o meu braço de ferro e o meu andar de coxo!
Mancha inquieta que escamoteia a luz
do caminho obstinado desta esperança
com que o meu sonho em geral se veste.
-
Oh! quantas saudades dispersas pelo Mundo,
duma outra Angola até à velha França!
de terra em terra como um longo teste!
-
Companheiro do meu tempo de criança
de antes do pássaro da fecundidade,
de quando eu era menino e tu precoce,
de quando eu chorava desgostos absurdos
e o que tu sofrias me parecia doce.
Onde parou essa conversa de surdos
com que iniciamos amizade?
-
Companheiro das minhas epopeias,
Ulisses desta barca assombrada,
em que tu e eu, sem temores nem peias,
navegamos do exílio à luta armada.
Onde se afundou a barca carregada
do que havia de comum nas nossas ideias?
-
Olha para mim! Não me reconheces?
Eu sou aquele a quem tu ensinaste
que uma Angola nova não se faz com preces!
Eu sou aquele de quem tu aprendeste,
que a miséria do Povo é um estandarte
desfraldado na varanda do Mundo!
Eu sou aquele que não quer abandonar-te,
buda solitário de olhar frouxo,
sob as asas do pássaro fecundo,
pousado na cabeça do boi mocho . . .
*
HENRIQUE ABRANCHES
" Nzambi Yange "
Cântico Barroco

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