domingo, 15 de fevereiro de 2009

179 - Eugênio de Castro " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA'


"Meu Jardim"
 foto LuisD.
»1274«
RODRIGUES DE ABREU
Benedito Luís Rodrigues de Abreu
Nasceu em 27 de setembro de 1897, signo de libra.
Capivari, Estado de São Paulo, Brasil. . .
Faleceu 24 de novembro de 1927.
*
CANTOePALAVRAS
Noturnos, 1919; A Sala dos Passos Perdidos, 1924;
Casa Destelhada, 1927. . .
*
Se eu tivesse saúde, rapazes,
não estaria aqui fazendo versos.
Já teria percorrido todo o mundo.
A estas horas, talvez os meus pés estivessem quebrando
o último bloco de gelo
da última ilha conhecida de um dos pólos.
Descobriria um mundo desconhecido,
para onde fôssem os japoneses
que teimam em vir para o Brasil. . .
Porque em minha alma se concentrou
toda a ânsia aventureira
que semeou nos cinco oceanos deste mundo
buques de Espanha e naus de Portugal!
Rapazes, eu sou um marinheiro!
-
Por isso em disvindouro, nevoento,
porque há-de ser sempre de névoa esse dia supremo,
eu partirei numa galera frágil
pelo Mar Desconhecido.
Como em redor dos meus antepassados
que partiram de Sagres e de Palos,
o chôro estalará em derredor de mim.
-
Será agudo e longo como um uivo,
o chôro de minha tia e minha irmã.
Meu irmão chorará, castigando, entre as mãos, o pobre
rosto apavorado.
E até meu pai, esse homem triste e estranho,
que eu jamais compreendi, está soluçando,
numa angústia quase igual à que lhe veio,
quando mamãe se foi numa tarde comprida . . .
-
Mas nos meus olhos brilhará uma chama inquieta.
Não pensem que será a febre.
Será o Sant Elmo que brilhou nos mastros altos
das naves tontas que se foram à Aventura.
-
Saltarei na galera apodrecida,
que me espera no meu porto de Sagres,
no mais áspero cais da vida.
Saltarei um pouco feliz, um pouco contente,
porque não ouvirei o choro de minha mãe,
O choro das mães é lento e cansado.
E é o único choro capaz de chumbar à terra firme
o mais ousado mareante.
-
Com um golpe rijo cortarei as amarras.
Entrarei, um sorriso nos lábios pálidos,
pelo imenso Mar Desconhecido.
Mas, rapazes, não gritarei JAMAIS!
não gritarei NUNCA! não gritarei ATÉ A OUTRA VIDA!
Porque eu posso muito bem voltar do Mar Desconhecido,
para contar a voces as maravilhas de um país estranho.
Quero que voces, à moda antiga, me bradem BOA VIAGEM!,
e tenham a certeza de que serei mais feliz.
Eu gritarei ATÉ BREVE!, e me sumirei na névoa espêssa,
fazendo um gesto carinhoso de despedida.
*
RODRIGUES DE ABREU
"Mar Desconhecido"
» 1275«


ANTÓNIO SARDINHA
António Maria de Sousa Sardinha
Nasceu em 09 de setembro de 1888, signo de virgem.
Monforte do Alentejo, Portugal.
Poeta, historiador, politico...
Doutorou-se em Direito na Universidade
de Coimbra.
Fundou a revista "Nação Portuguesa". . .
Faleceu em 10 de Janeiro de 1925, Elvas, Portugal.

CANTOePALAVRAS
Tronco Reverdecido, 1910; O Valôr da Raça,1915;

A Epopéia da Planicie, poemas da terra e do sangue, 1915;
A Questão Ibérica, 1916; Quando as Nascentes Despertam,
1921;Na Côrte da Saudade, 1922; Chuva da
Tarde, 1923; Ao Princípio Era o Verbo, 1924; Aliança
Peninsular, 1925; Ao Ritmo da Ampulheta, 1925;
Era uma vez um menino, 1926; Na Feira dos Mitos, 1926;À Sombra dos Pórticos, 1927; À Lareira de Castela, 1944. . .
*
P'ra que andas tu assim, com água e espuma,
criando mundos na tardinha mansa?
A variação logo as apaga e esfuma,
- mas oh que enlevo o teu que não se cansa!
-
E continuas. . . Nunca vi nenhuma
infanta mais singela e mais criança!
É de inocência o ar que perfuma,
- e não te falta o riso nem a trança!
-
Ascendem os balões, - rebanho lindo. . .
E, enquanto, Amor, os fazes e os desfazes,
o aroma dessa boca os alimenta!
-
Ó princesinha dos balões subindo,
p'ra que andas tu assim, entre os lilases,
criando mundos na tardinha lenta?
*
ANTÓNIO SARDINHA
"Conto Infantil"
"Meu Jardim"
 Foto LuisD.

»1276«
EUGÊNIO DE CASTRO
Eugênio Almeida de Castro
Nasceu em 04 de março de 1869, signo de peixes.
Coimbra("Aeminium", um dos nomes
antigos da cidade), Portugal.
Descendente de nobres.
Formado em Letras na Universidade de Lisboa,
Esteve envolvido na publicação de "BOEMIA"
revistas acadêmicas, do grupo também acadêmico
"OS INSUBMISSOS" 1889,Livro "OARISTOS" 1890 .
Professor da Universidade de Coimbra.
Faleceu, 17 de agosto de 1944, Coimbra, Portugal.
Estilo Simbolismo.
*
CANTOePALAVRAS
Horas,1891; Belkiss, 1894; Tirésias, 1895;
Sagramor, 1895; Salomé e outros Poemas, 1896;
A Nereide de Harlem, 1896; O Rei Galaor, 1897;
Saudades do Céu, 1899; Constança, 1900;
O Filho Pródigo, 1910; O Cavaleiro das
Mãos Irresistiveís, 1916; Canções desta Negra Vida, 1922;
Cravos de Papel, 1922; Descendo a Encosta, 1924;
Chamas duma Candeia Velha, 1925; Últimos Versos, 1938;
Oaristos, 1890. . .
*
I
Encontrou-se a CARIDADE
Com o ORGULHO, certo dia:
Subia o ORGULHO, uma escada,
E a CARIDADE descia.
-
Ela humilde, ele arrogante,
No patamar dessa escada
Os dois, cruzando-se, viram
Uma Rosinha pisada.
-
Emproado, o ORGULHO, vendo-a
deu-lhe nova pisadela;
De joelhos, a CARIDADE
Deitou-se aos beijos e ela.
-
Mas nobres passos se ouviram
Do som divino e tremendo:
O ORGULHO, seguiu, subindo,
E a CARIDADE descendo. . .
-
E a voz de Deus, entretanto,
Disse, bramindo e sorrindo:
- " Tu, que sobes, vais descendo!
Tu, que desces, vais subindo!"
*
EUGÊNIO DE CASTRO
"A Escada da Vida"
*
II
Numa das margens do saudoso rio,
Contemplo a outra que sorri defronte:
Lá, sob o Sol, que baixa no horizonte,
Verdes belezas, enlevado, espio.
-
Ali - (digo eu), será menos sombrio
O viver que me põe rugas na fronte. . .
E erguendo-me, atravesso então a ponte,
Com meu bordão, cheio de fome e frio.
-
Chego. Desilusão! Da margem verde
Eis que o encanto, de súbito, se perde:
Bem mais bela era margem que eu deixei!
-
Quero voltar atrás. Noite fechada!
E a ponte, pelas águas destroçada,
Por mais que a procurasse, não a achei!
*
EUGÊNIO DE CASTRO
"Ao Cair da Noite"
Descendo a Encosta

III
A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.
-
Sem nunca te encontrar, crendo avistar-te
nas moças que encontrava, donairosas,
fui-as beijando e fui-lhes dando as rosas
da coroa feita com amor e arte.
-
Trago, de caminhar, os membros lassos,
acutilam-se os ventos e as geadas,
já não sei o que são noites serenas...
-
Sinto que vais chegar, ouço-te os passos,
mas ai! nas minhas mãos ensanguentadas
uma coroa de espinhos trago apenas!
*
EUGÊNIO DE CASTRO
"A Coroa de Rosas"
IV
Que acabadinha que tu estás! Apenas
Resta e tão inteira formosura,
Do teu sorriso a mística doçura,
Bálsamo e abrigo de remotas penas!

Doçura tal, surprende-se nas serenas
Carícias, ó piedosa criatura,
Que estás fazendo a essa criança pura
Como a alvéola do monte e as açucenas.

Grisalha vejo a tua negra trança,
Turvos teus vivos olhos, em amêndoa,
Murcha essa boca de frescura infinda...

-"Que linda que há de ser essa criança!"
Dizes tu, pobre amiga, adormecendo-a;
E eu penso, triste, em como foste linda.
*
EUGÊNIO DE CASTRO
"Velha Amiga"
*
V
De mãos dadas, lá vão avó e neta,
- Saudade e a Esperança de mãos dadas! -
A neta é loira, a avó tem cãs prateadas,
Uma leva a boneca, a outra muleta.
-
Uma arrasta-se e a outra salta inquieta;
Aos suspiros vai uma, outra às risadas;
A avó desfia contas desgastadas,
E a neta colhe iriada borboleta.
-
Uma vai confiada, outra bisonha;
Uma lembra-se triste, e a outra sonha;
Leves asas tem uma,outra coxeia...
-
E eu, que as vejo passar, com mágoa infinda
Penso que a avó talvez já fosse linda,
E que a neta, que é linda, há de ser feia!
*
EUGÊNIO DE CASTRO
"Sombra e Clarão"

»1277«
GUSTAVO TEIXEIRA
Gustavo de Paula Teixeira
Nasceu a 04 de Março de 1881, signo de peixes,
em S. Pedro, Estado de São Paulo, Brasil. . .
Faleceu, 22 de setembro de 1937.
*
CANTOePALAVRAS
Ementário, 1908; Poemas Líricos, 1925. . .
*

"Meu Jardim"
Foto Luis Dias

Ó vós que na manhã de minha mocidade
Reduzistes a pó as minhas esperanças,
Porque vindes por entre as névoas da saudade
Derramar em minh'alma o perfume das tranças?
-
Ó flores que trazeis o olor da virgindade
E risos matinais em bocas de crianças,
Deixa-me, enfim, em paz na minha soledade
Apascentando o meu rebanho de lembranças!. . .
-
Mas se agora vos punge a dor do louco amante
Que via em vosso olhar a estrela do Levante
E ouvia uma canção em vossa ebriante voz:
-
Quando em breve eu fechar os olhos entre círios,
Pagai-me em bogaris, crisântemos e lírios,
As santas ilusões que desfolhei por vós!
*
GUSTAVO TEIXEIRA
"Visões"
Ementário

»1278«
MENOTTI DEL PICCHIA
Paulo Menotti Del Picchia

Nasceu em 20 de março de 1892, signo de peixes,
na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, Brasil.
Doutorou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, Brasil.
Fez parte da "Academia Brasileira de Letras".
Participou do "Grupo dos Cinco", que era Tarsila do Amaral,
Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, 1922.
Foi um dos integrantes do movimento "Verde-Amarelo"
depois a "Escola de Anta" 1927. . .
Homenagens: Prémio "Juca Pato", 1968 . . .
Faleceu, 23 de agosto de 1988.
*
CANTOePALAVRAS
Poemas do Vício e da Virtude, 1913; Moisés, 1917;
Juca Mulato, 1917; Angústia de D. João, 1922;
O Dente de Ouro (romance), 1923;
Chuva de Pedra, 1925; Toda Nua  (conto), 1926;
O Amor de Dulcinéia, 1926;
Républica dos Estados Unidos do Brasil, 1928;
A República 3000 (romance), 1930;
Poemas, 1935; Salomé (romance), 1940...

*
É um retângulo de luar esquecido no quarto
- que a lua não recolheu na sua pressa noturna.
Imitador como um plagiário
decalca servilmente a imagem que reflete.
Não tem memórias. Não guarda
na sua glacial retina indiferente
o brilho de um olhar e a flor de um gesto.
Entretanto
o corpo núbil dela deu-lhe estátuas
miraculosamente lindas!
*
MENOTTI DEL PICCHIA
"O Espelho"
Chuva de Pedra
»1279«
CARLOS DE OLIVEIRA
Carlos Alberto Serra de Oliveira
Nasceu, 10 de Agosto de 1921, signo de leão,
Belem do Pará, Estado do Pará, Brasil.
Filho de pais imigrantes portugueses, viveu e
estudou em Coimbra se formando em "Ciências
Histórico-Filosóficas", na Universidade, 1947. . .
Faleceu, 01 de julho de 1981.
*
CANTOePALAVRAS
Turismo, 1942; Casa da Duna(romance), 1943;
Alcateia(romance), 1944; Mãe Pobre, 1945;
Colheita Perdida, 1948; Pequenos Burgueses(romance), 1948;
Descida dos Infernos, 1949; Terra de Harmonia, 1950;
Uma Abelha na Chuva(romance), 1953; Cantata, 1960;
Sobre o Lado Esquerdo, 1961 e 1962; Micro Paisagem,
1963 a 1965; Finisterra(romance), 1979 . . .
*
I
Sonhos
Enormes como cedros
Que é preciso
Trazer de longe
Aos ombros
Para achar
No inverno da memória
Este rumo
De lume:
O teu perfume,
Lenha
Da Melancolia.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
" Infância "
*
II
A cidade caia
Casa a casa
Do céu sobre as colinas
Construída de cima para baixo
Por chuvas e neblinas,
Encontrava
A outra cidade que subia
Do chão com o luar
Das janelas acesas
E no ar
O choque as destruía
Silenciosamente,
De modo que se via
Apenas a cidade inexistente.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
" Nevoeiro "
*
III
Rudes e breves as palavras pesam
mais do que as lajes ou a vida, tanto,
que levantar a torre do meu canto
é recriar o mundo pedra a pedra;
mina obscura e insondável, quis
acender-te o granito das estrelas
e nestes versos repetir com elas
o milagre das velhas pederneiras;
mas as pedras do fogo transformei-as
nas lousas cegas, áridas, da morte,
o dicionário que me coube em sorte
folheei-o ao rumor do sofrimento:
ó palavras de ferro, ainda sonho
dar-vos a leve têmpera do vento.

CARLOS DE OLIVEIRA
"Soneto"
Trabalho Poético I
*
IV
Volto contigo à terra da ilusão,
mas o lar de meus pais levou-o o vento
e se levou a pedra dos umbrais
o resto é esquecimento:
Procurar o amor neste deserto
onde tudo me ensina a viver só
e a água do teu nome se desfaz
em sílabas de pó
é procurar a morte apenas,
o perfume daquelas
longínquas açucenas
abertas sobre o mundo como estrelas:
Despenhar no meu sono de criança
inutilmente a chuva da lembrança.
-
Acordar, acender
o rápido lampejo
na água escura onde rola submersa
como o lodo no Tejo
a vida informe, o peso dúbio
desse cardume denso ou leve
que nasce em mim para morrer
no mar da noite breve;
dormir o pobre sono
dos barbitúricos piedosos
e acordar, acender
os tojos caudalosos
nesta areia lunar
ou, charcos, nunca mais voltar.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Soneto do regresso"
Poesias
*
V
A água pura dos poços
que a alma teve
leva já lodo à superfície:
é o escuro tempo da velhice
e nós tão moços.
-
A água tormentosa
que a alma agora tem
cai de meus olhos tristes:
ó tempo, ó tempo alegre,
onde é que existe?
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Água"
Colheita Perdida
*
VI
Dormem os gênios que povoam
a habitação dos sonhos,
dormem os símbolos e a dormir deponho-os
onde as coisas da vida não perdoam.
-
Ainda bem que dorme tudo
o que limita o lume das areias,
como o silêncio preso nas cadeias
e o sossego das casas, ósseo e mudo.
-
Lá no fundo de tudo um mar parou;
e peixes como a luz ou detritos de fragas
apagam-se no fósforo das vagas
que uma respiração polar gelou.
-
Carnosa e nua vais surgindo, vida,
dessa água extinta, do instinto morto;
e às portas da verdade que suporto
chama a tua nudez, repercutida.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Voz"
*
VII
O céu não existe.
Simples distância nua
onde o rumor da terra se reflete 
como o eco dum grito,
deves chamar angústia à lua
e a cada estrela um coração aflito.
-
Se acaso for o rastro 
dalgum cometa errando  
no esplendor de tanta solidão,
é o meu desespero.
Lembra-te de tudo o que mais quero
e não lhes chames astro.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Céu"
Colheita Perdida
*
VIII
Quem ordena estes sonhos
coordena, conduz
os tratores cuidadosos
do acaso; êmbolos
com frio; quando lavram
o seu frágil fio de fogo
nas árvores, na memória.
-
E mais lenta ainda
as turbinas; turbilhão
que perturba vagarosamente
a ordem interior das coisas
que se deixam sonhar. Com
a polpa dos dedos
colhe-se a demora
para ver melhor. Nenhuma
colagem subliminar;
nem linhas de lume,
chispas, flechas.
Adormece talvez
quem ordena; se as lampadas 
vagueiam e explodem
entre ramagens excessivas;
estes sonhos.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"O Acender das Luzes"
Pastoral
*
IX
Sons sob a luz. Mosteiros,
torres sobrenaturais,
vibrando fluidamente no ar;
como? se o fluxo de mica,
os altos blocos de água,
cintilam sem rumor.
-
Toda esta arquitetura,
lenta percussão, perpassa;
sobre cerros sonoros
com o seu contorno
infixo, fulgurando. Detenham-se
as estrelas quando
for noite; preguem-se
outros pregos de prata
fora do céu visível.
-
Sons já sem luz. Pastores
poisam as ocarinas, bebem;
entre as colinas ocas;
o frio coalhado
pelas tetas das cabras.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Montanha"
Pastoral
*
(Mais Poemas . . . "NEGRAS CAPAS . . .
POETAS DE COIMBRA", pág. 195).
»1280«
RUY ESPINHEIRA FILHO
Ruy Alberto Espinheira Filho
Nasceu em 12 de dezembro de 1942, signo de sagitário.
Salvador, Estado da Bahia, Brasil.
Bacharel em Letras, e professor de "Literatura Brasileira"
na Universidade Federal da Bahia, jornalista . . .
Homenagens: Premio Nacional de Poesia "Cruz e Sousa",
de Santa Catarina, 1981; Premio "Ribeiro Couto",da U.B.E.,
1997 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Helébero, 1974, Julgado do Vento, 1979,
As Sombras Luminosas, 1981, Morte Secreta e Poesia
Anterior, 1984, Ângelo Sobral Desce aos Infernos(romance),
1985, O Rei Artur Vai à Guerra(novela), 1986,
A Canção de Beatriz e Outros Poemas, 1990,
Últimos Tempos Heroicos em Maracá da Serra(romance),
1991, Memória de Chuva, 1997, Livro de Sonetos, 1998,
Tumulto de Amor e Outros Tumultos(ensaio), 2001,
A Cidade e os Sonhos, 2003, A Guerra do Gato, 2005,
Elegia de Agosto, 2005 . . .
*
I
Chegar, assim, a um dia
como este, quem diria?
-
Ninguém, que não poderia
Alguém saber deste dia.
-
Nem eu, que me prometia
varandas de calmaria
-
se a uma hora tardia
da vida chegasse um dia.
-
No entanto, eis-me neste dia,
o qual jamais urdiria
-
nem em pesadelos; dia
ardendo contra a alegria,
-
a paz, o amor, a poesia,
o corpo, a esperança; um dia
-
como nenhum: pedraria
fulgurante de agonia.
*
RUY ESPINHEIRA FILHO
" Este Dia "
Elegia de Agosto
*
II
Depois da chuva e do vento,
saiu à varanda e olhou as árvores,
que pareciam cansadas mas felizes
cintilando ao luar,
-
e pensou em outras árvores,
e numa rua, e num cão, e em rostos
jovens,
e num espelho antigo com o seu próprio rosto
refletido,
-
e então voltou à casa
e
fechou a porta,
-
e caminhou até o quarto
e se estendeu na cama cheio de esperanças
de dormir,
-
porque, afinal, já era muito tarde.
*
RUY ESPINHEIRA FILHO
" depois da Chuva e do Vento "
Elegia de Agosto
*
III
Quando havia árvores no jardim, sentávamos-nos à sombra
sem surpresa nenhuma de sermos tão jovens
(todos os milênios tinham trabalhado para aquilo:
nossa juventude à sombra das árvores).
-
Passavam seios, bocas, panturrilhas, joelhos,
nesgas de coxa ao vento: nossos corpos sonhavam
(as almas também sonhavam, mas não falemos do que
jamais encontra sombra para se suavizar).
-
E foi assim, então: tardes mornas que sonhavam
num longínquo jardim à sombra de árvores e sonhos
(e assim ainda é, por haver o que se lembra
sonhando esta memória com árvores no jardim).
*
RUY ESPINHEIRA FILHO
" Árvores "
Elegia de Agosto
»1281«
SEBASTIÃO UCHOA LEITE
Nasceu em 31 de janeiro de 1935, signo de aquário.
Timbaúba, Recife,Estado de Pernambuco, Brasil.
Fez Filosofia e Direito na "Universidade do Recife"
(Universidade Federal de Pernambuco), onde chegou a
ser professor. Radialista, e editor, mora no Rio de Janeiro
responsável pelas edições do "Serviço Nacional de Teatro
e "Fundação Nacional de Artes e Cênicas" F.U.N.C.A.C.E.N..
1992, "Arquivo Nacional". 1992, "Instituto Brasileiro de
Arte e Cultura) I.B.A.C..
Homenagens: Premio "Jabuti", 1980. . .
Faleceu 27 de novembro de 2003.
*
CANTOePALAVRAS
Dez Sonetos sem Matéria, 1960;
Participação da Palavra Poética, 1966; Antilogia, 1979;
Isso não é aquilo, 1982; Crítica Clandestina(ensaio), 1986;
A uma Incógnita, 1991; A Ficção Vida, 1993 . . .
*
I
Pode ser chuva leve e limpa
Que lava os ares
Como as cardosianas
Ou chuva de escombros
Chuva suja
Vem da abóbada noturna
Obumbrosa
Satúrnea
Ela não cai: desaba
Raios de Zeus
Não a chuva de ouro
Que inundou Dânae
Mas metálica
A chibata de chumbo estala.
*
SEBASTIÃO UCHOA LEITE
" Temporal ", Anotação 13
A Ficção Vida
*
II
Mozart tinha um estorninho
Que imitava a música dele
Não só: uma paródia
Ou desafino
De ave zombeteira
Certa vez achou-se uma peça
Do próprio Mozart
E era desarmônico
Espirro musical
Qual se o compositor
Zombasse de si mesmo
Era o próprio músico agora
Seu escárnio estorninho.
*
SEBASTIÃO UCHOA LEITE
" O Pássaro Crítico " Anotação 1
A Ficção Vida
*
III
Várias vezes ouvi cantar o melro
Lá de baixo
Regular e harmônico
Uma só vez teceu variações
Súbito
Soou mais forte
Estridente ao meu lado
Indaguei à vizinha
Tem um pássaro?
Não era mais o melro
Era um papagaio
De modo que o que se ouvia
Era uma cópia gaia.
*
SEBASTIÃO UCHOA LEITE
" O Falso Cantor " Anotação 3
A Ficção Vida
»1282«
ALICE RUIZ
Nasceu em 22 de janeiro de 1946, signo de aquário,
Curitiba, Estado de Paraná, Brasil.
Poeta, letrista, publicitária, casada com o poeta
Paulo Leminski. Parcerias musicais com
Alzira Espíndola, Arnaldo Antunes, Chico Cesar,
Itamar Assumpção . . .
Homenagens: Premio "Jabuti", 1989 e 2009.
*
CANTOePALAVRAS
Navalhanaliga, 1980; Paixão xama Paixão, 1983;
Pelos Pêlos, 1984; Rimagens,1985; Hai Tropikai, 1985;
Vice Versos, 1988; Desorientais, 1998; Dois em Um, 2009 . . .
*
estrelas, planctons
que imita quem
vagalume?
-
estrela cadente
te peço
não seja vagalume
-
noite de estrelas
cidade ao longe
quem brilha mais?
-
a noite desce
o coração da terra
germina estrelas
-
longo-longo dia
até as estrelas
parecem cansadas.
-
céu do norte
leitoso de estrelas
um Sol na terra.
*
ALICE RUIZ
"Renga de Estrelas"
Eus
Desorientais

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