domingo, 4 de outubro de 2009

XXXVIII - CANTO. . .Os cantos.


LISBOA, com ser LISBOA,
tem sete portas de entrada.
Fechando as sete portas,
fica LISBOA fechada.
*
Tenho um amor em LISBOA,
outro em PONTE DE LIMA,
outro em PENAFIEL,
outro inda mais acima.
*
Se o mar tivera varandas,
ia-te ver a LISBOA;
mas o mar não tem varandas:
quem não tem asa, não voa . . .
*
De LISBOA me mandaram
uma cotovia assada,
por fora cheia de doce,
por dentro marmelada.
*
De LISBOA me mandaram
cinco maçãs num carrinho;
o ladrão do portador
comeu-as pelo caminho!
António Nobre
*
LISBOA à beira-mar, cheia de vistas,
Ó LISBOA das meigas Procissões!
Ó LISBOA de Irmãs e de fadistas!
Ó LISBOA dos líricos pregões . . .
LISBOA com o TEJO das Conquistas,
Mais os ossos prováveis de CAMÕES!
Ó LISBOA de mármore, LISBOA!
Quem nunca te viu, não viu coisa boa . . .
-
Ai canta, canta ao luar, minha guitarra,
A LISBOA dos Poetas Cavaleiros!
Galeras doidas por voltar a amarra,
Cidades de morenos marinheiros,
Com navios entrando e saindo a barra
De proa para países estrangeiros!
Uns pra França, acenando Adeus! Adeus!
Outros pras Índias, outros . . . sabe-o Deus!
-
Ó LISBOA das ruas misteriosas!
Da " Triste Feia", de João de Deus,
" Beco da Índia ", " Rua das Fermosas ",
" Beco do Fala-Só "(os versos meus. . .)
E outra rua que eu sei de duas " Rosas ",
" Beco do Imaginário ", dos " Judeus ",
Travessa (julgo eu) das " Isabéis ",
E outras mais que eu ignoro e vós sabeis.
-
Luar de LISBOA! aonde o há igual no Mundo?
Lembra leite a escorrer de têtas nuas!
Luar assim tão meigo, tão profundo,
Como a cair dum céu cheio de luas!
Não deixo de o beber nem um segundo,
Mal o vejo apontar por essas ruas . . .
Pregoeiro gentil lá grita a espaços:
" Vai alta a Lua! " de Soares de Passos.
-
Formosa SINTRA , onde, alto, as águias pairam.
SINTRA das solidões! beijo da terra!
SINTRA dos noivos, que ao luar desvairam,
Que vão fazer o seu ninho na serra.
SINTRA do Mar! SINTRA de Lord Byron,
Meu nobre camarada de Inlaterra!
SINTRA dos Moiros, com os seus adarves,
E, ao longe, em frente, o Rei dos Algarves!
-
Ó LISBOA vermelha das toiradas!
Nadam no Ar mores e alegrias,
Vêde os Capinhas, os gentis Espadas,
Cavaleiros, fazendo cortesias . . .
Que graça ingênua! farpas enfeitadas!
O Povo, ao Sol, cheirando às maresias!
Vêde a alegria que lhevai nas almas!
Vêde a branca Rainha, dando palmas!
-
Ó suaves mulheres do meu desejo,
Com mãos tãos brancas feitas pra carícias!
Ondinas dos Galeões! Ninfas do TEJO!
Animaizinhos cheios de delícias . . .
Vosso passado quão longíquo o vejo!
Vós sois Árabes, Celtas e Fenícias!
LISBOA das Varinas e Marquesas . . .
Qu bonitas que são as Portuguêsas!
-
Senhoras! ainda sou menino e moço,
Mas amores não tenho nem carinhos!
Vida tão triste suportar não posso.
Vós que ides suportar à novena, aos "Inglesinhos ",
Senhoras, rezai por mim um Padre-Nosso,
Nessa voz que tem beijos e é de arminhos.
Rezai por mim . . .Vereis . . . Vossos pecados
(Se acaso os tendes) vos serão perdoados.
-
Rezai, rezai, Senhoras, por aquele
Que no Mundo sofreu todas as dores!
Ódios, traições, torturas, - que sabe ele!
Perigos de água, e ferro e fogo, horrores!
E que, hoje, aqui está, só osso e pele,
À espera que o enterrem entre as flores . . .
Ouvi: estão os sinos a tocar.
Senhoras de LISBOA! ide rezar.
*
ANTÓNIO NOBRE
" À Lisboa das Naus, Cheia de Glória "
Despedidas
(Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 45;
"NEGRAS CAPAS . . .POETAS DE COIMBRA, pág.195 ).
Odylo Costa Filho
*
LISBOA dos gerânios na sacada,
ter a alma por tuas flores arrancada,
das suas dores fundas esfregada,
ficar leve e branquinha de lavada,
de Sol e não de lágrimas lavada . . .
-
Ó LISBOA das flores pelo chão,
ervas e flores, rio e coração,
LISBOA de Garrett e João de Deus,
em tuas mãos ponho os destinos meus.
-
Nasço de novo em ti. Abre-se em rosa
a rocha malferida e dolorosa.
-
Ó LISBOA de touro e cal, de tinta suave,
de janela de pedra (vôo de ave),
cidade de colina e ponte, cria
na vã saudade a súbita alegria.
-
Põe nesta ausência, à força de paisagem
e de canção. as salvações da viagem.
-
Não podes ressurgir os corpos perecidos
mas podes devolver-me os sonhos já perdidos.
-
Ó LISBOA das naus, que o poeta amou outrora,
dá-me para beber consolações de agora.
-
Faz-me um vinho perfeito, decantado,
nas noites longamente preparado,
sem gôsto à terra nem às pedras do lagar,
onde o Senhor possa o seu pão molhar.
*
ODYLO COSTA FILHO
"Declaração de Amor à Cidade de Lisboa"
Tempo de Lisboa
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 167)
Elton Carvalho
*
Amigos, não os invejo,
tão distante, isolados:
estou feliz como o TEJO
com PORTUGAL dos dois lados.
*
Elton Carvalho
" A Trova no Brasil "
Diogo Bernardes
I
*Eu me parto de vós, campos do TEJO
Quando menos temi esta partida,
E se minh'alma vai à dor rendida,
Nos olhos o vereis com que vos vejo.
-
Pequenas esperanças, mal sobejo,
Vontade que a razão leva vencida,
Asinha darão fim à triste vida,
Se vos não torno a ver, como desejo.
-
Em tanto nunca verá noite, nem dia,
Apartar-se de vós minha lembrança;
Amor, que vai comigo, o certifica:
Andarão sempre em minha companhia,
Enquanto na tornada houver tardança,
saudades do bem que em vós me fica.
*
Diogo Bernardes
" Soneto 26 "
*
II
Brandas águas do TEJO, que passando
Por estes verdes campos que regais,
Plantas, ervas, e flores, e animais,
Pastores, Ninfas ides alegrando:
-
Não sei, ah doces águas, não sei quando
Vos tornarei a ver; que mágoa tais
Vendo, como vos deixo, me causais,
Que já vou tornar desconfiado.
*
Ordenou o meu fado, desejoso
De converter meus gostos em pezares,
Partindo que me vai custando tanto:
-
Saudoso de vós dele queixoso
Encherei de suspiros outros ares,
Turvai outras águas com meu pranto.
*
Diogo Bernardes
" Soneto "
Os sinos da SÉ DE BRAGA
tocam todos à paixão:
o pequeno toca o fado,
o grande toca o malhão.
*
Ia eu por BRAGA abaixo,
dei um beijo numa rosa,
Nunca vi terra tão seca
dar uma flor tão mimosa.
*
Hei-de ir ao J'ão a BRAGA
e a BRAGA ao S. João.
O S. João é em BRAGA
e o S. Brás em CHAVÃO.
*
Atirei-te uma laranja,
por cima de BRAGA afora,
e lá caiu a laranja;
adeus BRAGA, vou-me embora.
*
Adeus, cidade de BRAGA
Convento das convertidas!
Adeus praça da Batalha,
perdição das raparigas!
Não sei que me quer o PORTO
que tanto chora por mim . . .
Eu hei-de ir morar p'ra o PORTO,
p'ra a rua do Bonjardim.
*
Foste-te gabar ao PORTO
que me tinhas dado um cravo;
eu tinha-te dado um lenço,
que mais me tinha custado.
*
O meu amor é do PORTO
e é meio cidadão;
anda afeito ao molete
já não quer comer o pão.
MONTE DA SERRA DAS NEVES
onde o penedo caíu,
Ninguém diga o que não sabe,
nem afirme o que não viu.

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