terça-feira, 13 de outubro de 2009

XIII - FOLCLORE . . .CANTOePALAVRAS








"Meu Jardim" Foto LuisD.




Na aldeia de cem vizinhos,
Na pobre choça, Senhor,
Vive alegre e satisfeito
O cansado lavrador.
-
Em paz se ergue, em paz se deita,
Não teme o Mundo revolto;
Lavra seus campos de dia,
Dorme, à noite, a sono solto.
-
Tem mel das abelhas,
Tem pão do seu cerrado;
Leite das suas ovelhas,
Veste a lã que dá seu gado.
-
Seu comer sempre é gostoso,
Pois o ganha a sua agência;
E não leva misturado
Amargos da dependência.
*
" Canção do Lavrador "
(Romanceiro Popular Província de Beira Litoral, Portugal)
Nau Catrineta, vol. II
Sentado no alto da serra,
Pôs-se a cabreira a chorar.
Por que chorava a cabreira,
Ides agora escutar:
-
"Ai! Que triste a sina minha,
Ai! que triste o meu penar,
Que não sei da pae e mãe,
Nem de irmãos, a quem amar".
-
" De pequenina nos montes
Nunca tive outro brincar.
Nas canceiras do trabalho
Meus dias vejo passar"
-
Mas, ao desviar os olhos,
Viu coisa que a fez pasmar.
Uma cabra toda branca
Se lhe fôra aos pés deitar.
-
"Que lá em baixo vejo estar!
E uma cabra toda branca,
Que nem se deixa fitar"
-
"Meus creados e escudeiros,
Ide a cabreira buscar"
Isto dizia a rainha
este foi o seu mandar.
-
Foram buscar a cabreira
E a cabra de a acompanhar.
Até ás salas dos paços
onde o rei a viu chegar.
-
"Pela minha c'rôa de ouro
eu quero agora apostar,
Que é esta a filha roubada
N'uma noite de luar"
-
Milagre! quem tal diria!
Quem tal pudera contar!
A cabrinha toda branca
Alli se pôz a falar. . .
*
Folclore Portugues
Carroça, Portugal
*
É sempre em março, quando aquece a Vida,
e a flor, louca de desejos,
estremece comovida,
aveludando pétalas e beijos . . .
-
O Sol no poente arde . . .
e rebrilham os pâmpanos das vinhas . . .
-
Estão chegando, esta tarde,
as primeiras andorinhas.
-
- Olha, à frente, enamorados,
garbosos noivos, a par!
Como é lindo! Como é lindo!
E a gente do povoado
vai olhando e vai seguindo,
dizendo que vão casar!
-
Mais atrás, outros chegando,
mirando, em baixo, as casa,
tatalando negras asas,
num grande acompanhamento . . .
e todos chegam, triunfando,
asas negras tatalando,
trinta ou mais, talvez um cento . . .
-
( São a Desdita e a Ventura
duas asas que estremecem,
que ora sobem ora descem,
num vôo louco de crença,
sempre em circuito . . .
- mas há esta diferença:
- a Ventura sobe pouco
e a Desdita desce muito . . .)
-
-Olha atráz aquelas três!
Foram as bodas, as bodas!
Ficaram bebedas todas . . .
Vejam lá o que a boda fez!
-
Já chegou o par da frente,
(par de noivos tão lindinho!)
e gostou tanto da gente
e do barro do quintal,
que anda já fazendo o ninho
no meu beiral . . .
-
E agora têm um bêbe . . .
(cumpriram-se os seus desejos)
e um par, vizinho do lado,
começou também aos beijos,
com muita fé,
e anda já acasalado . . .
-
Andorinhas, andorinhas,
em voltas quotidianas,
belas vizinhas galantes!
- Peitos brancos de tricanas
- capas negras de estudantes!
-
Andorinhas descuidadadas
por estradas e cabeços
correndo sempre à porfia
num vai-vem,
- não as matem, ó travessos,
são afilhadas
afilhadas de Maria,
que sempre as cria às ninhadas,
cento a cento,
céu além . . .
- são afilhadas, olá!
(tomem tento . . . )
- são afilhadas . . .
- vejam lá . . .
- vejam bem . . .
*
"Chegada das Andorinhas"
(Lenda Portuguesa)
Marques da Cruz
Água da Fonte
*

Lamparina de azeite de duas luzes, seculo XVIII a XIX, Portugal.
Tão balalão
Morreu o Simão,
No jogo da bola
Perdeu um tostão.
Tão balalão
De rosto de cão
Morreu uma velha
De rato na mão.
O Balancê, Balancê,
Balancê da neve pura;
Ó minha salve Rainha
Ó minha vida doçura.

O lobo andava no mato e o mocho estava em cima
de um, pinheiro no ninho.
O lobo enroscou o rabo no pinheiro como quem o
queria serrar. O mocho de cima disse-lhe:
- Ó compadre, não me serres o pinheiro, senão os meus
filhos caem abaixo e morrem.
Responde o Lobo:
- Pois se não queres que eu serre o pinheiro, anda tu cá
abaixo.
O mocho não queria, mas afinal veio vindo de galho
em galho, e depois disse para o lobo:
- Lobo, que queres de mim?
O Lobo respondeu:
- Anda cá mais abaixo, que quero dizer-te um recado.
O mocho respondeu:
- Diz daí, que eu ouço bem.
O lobo tornou a dizer:
- Anda cá, que não te faço mal.
O mocho descuidou-se e desceu, e o lobo passou-lhe os
dentes e meteu-o na boca.
O mocho de dentro da boca do lobo disse:
- Eh, compadre, não me comas, que eu quero fazer
testamento!
O lobo disse-lhe:
- Não, que agora no galheiro estás tu.
Diz o mocho:
- Então deixa-me ir despedir-me lá em cima dos meus
filhos.
O lobo disse:
- Não, que, depois, nunca mais voltavas.
Disse então o mocho:
- Olha, ao menos hás de dizer três vezes, que é para
eles saberem: "Mocho comi".
O lobo disse muito baixinho, para não abrir a boca:
- Mocho comi.
O mocho disse-lhe
- Ó compadre, fala mais alto, senão não ouvem.
O lobo tornou a repetir:
- Mocho comi.(já mais alto)
Responde o mocho:
- Mais alto, senão eles não ouvem.
Nisto o lobo escachou a boca para gritar mais alto,
e ia a dizer:
- Mocho comi.
O mocho, mal apanhou a boca aberta, abalou para
cima do pinheiro e disse-lhe:
- Outro sim, que não a mim.
*
" O Mocho e o Lobo "
Contos Populares Portugueses

*
Bordados, Portugal.
Onde foi senhora Teresa
Onde foi escolher o cravo
"Fui ao bairro do Outeiro
que lá estava bem formado".
-
Onde foi senhor Manuel
Onde foi escolher a rosa.
"Fui ó bairro da Igreja
que lá estava bem formada".
*
Folclore de Tuiselo
Província de Trás-os-Montes
Portugal
Alecrim, alecrim aos molhos
Por causa de ti, choram os meus olhos.
Oh! Meu amor, quem te disse a ti,
Que a flor do monte cheira ao alecrim.
À oliveira da serra
O vento leva a flor.
Ó, i, ó ai, ó linda, só a mim ninguém me leva,
Ó i, ó ai, ó linda, para o pé do meu amor!
*
Cantigas Populares
▬▬
O lobo e a grua
*
Comta-sse que h~ua vez h~uu(¹) lobo avia gramde fame e
achou carniça que auia muytos ossos. E, comendo con gramde
pressa da dicta carniça atreuessou-se-lhe h~uu osso na
guarguamta, pella quall rrazom o llobo estaua em pomto
de morte e amdaua buscamdo phisico que lhe
tirasse o osso e achou a grua e rrogou-lhe aficadamente
que lhe tirasse o dicto osso, prometemdo-lhe que, sse
o desse sãao, que lhe faria muyto alguo.
E a grua, ouvindo sseu prometimento, prometeo de
lhe dar ssaude e disse:
▬ Abre a boca.
E o llobo abrio a boca, e a grua lhe tirou o osso que
trazia na guargamta trauessado. Depois a grua lhe
rrogou que lhe desse o que prometera e ho lobo lhe disse:
▬ Eu fize a ty mayor graça que tu fezeste a mym, porque eu
dey a vida a ty, ca eu te podera talhar ho collo com os
meus demtes, quando tu meteste a cabeça e o teu collo
na minha boca, e nom te quis matar; sseja descomtamento do
seruiço que tu me fezeste.
E per esta guysa ficou emganada a grua.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Moral da História
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Per esta hestoria ho douctor nos demostra que nós nom
deuemos d'ajudar os maaos hom~es, porque os maaos
nom agradeçem, nem ssom conhoçemtes do bom
seuiço que lhe outrem faz, mais muytas vezes dam
maao grado a quem lhe faz bom seuiço. No emxemplo
diz que ha emgratidõoe sseca a fonte da piedade.
*
"O Lobo e a Grua"
Fabula do século XV
Leite de Vasconcelos
Biblioteca Palatina de Viena, Áustria
(¹) Til ~ sobre o u.
Grua - Femea do grou, ave pernalta,(de pescoço comprido).

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