domingo, 16 de novembro de 2008

198 - 15 "NEGRAS CAPAS. . .POETAS DE COIMBRA

* 01 *

FRANCISCO DE MELO FRANCO
Nasceu em 1757, Paracatu, estado de Minas Gerais, Brasil.
Médico honorário do Principe D. João.
Perseguido pela
"Ordem de Santo Ofício".
Estudou, na Universidade de Coimbra, 1785. . .
*
CANTOePALAVRAS
Reino da Estupidez, 1818. . .
*
Do fértil Portugal quase no centro
A vistosa COIMBRA está fundada:
Pelo cume soberbo de alto monte,
E pelas fraldas, que o Poente avistam.
Vai-se ao longo estendendo, até que que chega
A beber do MONDEGO as mansas águas.
Defronte outra montanha senhoreia
A líquida corrente dividida
De longa Ponte pelos grossos arcos.
Aprazíveis campinas, fortes vales
Do cristalino rio retalhados,
Em torno ornão, aos habitantes dando
Os mais belos passeios do Universo.
Da fronteira montanhosa, que dominam
dous famosos Conventos, se desfruta
A linda perpectiva da Cidade,
Que tem tanto de bela, quanto é dentro
" - Imunda, irregular e mal asseada - " ?!?!. . .
(pergunta e grife meu. . .)
*
FRANCISCO DE MELO FRANCO
"Do canto Terceiro" trecho
Reino da Estupidez

* 02 *

AUGUSTO GIL
Augusto Cézar Ferreira Gil 
Nasceu em 1873, Lordelo-do-Ouro, Portugal, . . .
Doutorou-se em Direito na Universidade de Coimbra. . .
Estilo Simbolismo
*
Faleceu em 1929
CANTOePALAVRAS
Versos, 1898; O canto da cigarra, 1910; Luar de Janeiro,1910;
Gente de Palmo e Meio, 1913; Sombra de Fumo, 1915;
Alba Plena. Vida de Nossa Senhora, 1916;
O Craveiro da Janela, 1920; Avena Rústica, 1927;
Rosas desta Manhã, 1930. . .
Estilo Simbolismo
*
In
asce uma fonte
Rumorejante
Na encosta dum monte;
-
E mal que do seio
Da Terra brotou,
Logo o seu veio
Transparente
E diligente
Buscou e achou
Mais baixo lugar. . .
-
E sempre descendo,
E sempre a cantar,
Vai andando,
Galgando,
Vencendo,
(Ou tenta vencer). . .
Numa confiante e persistente lida,
Folha, raiz, areia, o que tolher
A sua descida. . .
-
ao brotar da dura frágoa
- É uma lágrima de água. . .
Mas esse humilde fiozinho
que um destino bom impele;
Encontra pelo caminho
Um outro que é como ele. . .
-
Reúnem-se, fundem-se os dois,
Prosseguem de companhia,
E fica dupla, depois,
A força que os leva e guia. . .
-
Junta-se aos dois um terceiro,
Outros confluindo vão,
E o regato é já ribeiro
E o ribeiro é rio então. . .
-
E nada agora o domina
Ao fiozinho da fonte;
Entre colina e colina,
Ou entre um monte e outro monte,
-
Caminha sem descansar,
Circula através do Mundo
- Até à beira do Mar
Omnipotente e profundo.
*
AUGUSTO GIL
" A fonte"
*
II
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim. . .
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim. . .
-
É talvez a ventania;
Mas há pouco , há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho. . .
-
Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza
que mal se ouve, mal se sente?. . .
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
-
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do Céu,
Branca e leve, branca e fria. . .
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
-
Olho-a através da vidraça,
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho. . .
-
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança. . .
-
E descalcinhos, doridos. . .
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los. . .
-
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor
Por que lhes dais tanta dor?!. . .
Por que padecem assim?!. . .
-
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa,
cai neve na Natureza. . .
- E cai no meu coração.
*
AUGUSTO GIL
"Balada da Neve"
Luar de Janeiro

III
Contam que em pequenino costumava
Ao ver-me num cristal reproduzido
Beijar a própria boca, em que julgava
Ver a boca d'alguém desconhecido.

Cresci.
Amei-A. E tão alheio andava,
No sonho por seus olhos promovido,
Que em vez das cartas que Ela me mandava,
Eu lia o que trazia no sentido.

Rodou o tempo. Estou doente e velho. . .
Agora, se me acerco dum espelho,
Oh meus cabelos, que alvejais. . .

E as cartas d'Ela, se as releio agora
Só vejo por aquelas linhas fora
Palavras e palavras. Nada mais!

AUGUSTO GIL
"Words, Words. . ."
Versos

*
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Língua Portuguesa pág. 36)

*
* o3 *

XAVIER CORDEIRO
Nasceu, 1819. . .
Cursou Direito, na Universidade de Coimbra.
*
Teus mimos calor não têm,
Teu beijo é frio de gelo,
Não satisfaz, nem também
Me importa tê-lo ou não tê-lo.
-
O que me faz recebê-lo
Cativo de teu desdém,
É eu ter forjado o elo,
Da escravidão que me tem.
-
A ti preso, e que subjuga,
Quer seja rei ou pastor,
Desde o dia em que nasceu.
-
Desta sina não já fuga,
Mas na escravidão d'amor,
O mais escravo sou eu.
*
XAVIER CORDEIRO
" Escravidão "
Esparsas

* o4 *


CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
"Glauceste Satúrnio", pseudônimo
Nasceu a 05 de junho de 1729, signo de gêmeos,
Mariana, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Estudou com jesuitas, e Direito,
na Universidade de Coimbra, 1749
Envolvido com política, participou da "Inconfidência Mineira". . .
Foi preso onde faleceu a 04 de julho de 1789, Vila Rica (hoje Ouro Preto), Estado de Minas Gerais, Brasil.
Patrono da "Academia Brasileira de Letras".
Estilo Barroco, Arcadismo.
*
CANTOePALAVRAS
Munúsculo Métrico, 1751; Epicédio, 1753;
Labirinto de Amor, 1753; Números Harmônicos, 1753;
Obras Poéticas(primeira obra Arcadia no Brasil), 1768;
Vila Rica, 1773. . .
***
I
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
-
Uma fonte aqui houve;eu não esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado;
quendo pode dos anos o progresso!
-
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera;
Nem troncos vejo agora decadentes.
-
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
*
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
" Sonetos "
*
II
A cada instante, Amor, a cada instante
No duvidoso mar de meu cuidado
Sinto de novo um mal, e desmaiado
Entrego aos ventos a esperança errante.
-
Por entre a sombra fúnebre, e distante
Rompe o vulto do alívio mal formado;
Ora mais claramente debuxado,
Ora mais frágil, ora mais constante.
-
Corre o desejo ao vê-lo descoberto;
Logo aos olhos mais longe se afigura,
O que se imaginava muito perto.
-
Faz-se parcial da dita a desventura;
Porque nem permanece o dano certo,
Nem a glória tampouco está segura.
***
CLÁUDIO MANUEL COSTA
"Sonetos"
*


JOSÉ FERNANDES FAFE
Nasceu a 31 de janeiro de 1927, signo de aquário,
no Porto, região norte de Portugal.
Doutourou-se na Faculdade de Letras, Universidade
de Coimbra, onde foi professor.
Participou de várias revistas. . .
*
CANTOePALAVRAS
A vígilia e o sonho, 1951; O anjo tutelar, 1958;
Poesia Amavél, 1964. . .
*
A sua presença de mulher foi-se ausentando. . .
A um gesto seu, diáfano, alou-se o sofrimento. . .
Tudo era sua voz, mas sem significar
mais que o murmúrio dum encantamento. . .
-
Prendia-nos um fio de segredo, murmurado
pelos seus olhos baixados, antes dum sorriso,
com que a meus olhos as coisas se velaram
para lá do seu rosto assim preciso. . .
-
Pudor na alma ou nos meus dedos?
-
Como é indizível essa experiência de morrer!
-
O que me resta é regressar à Vida,
amá-la, delicadamente, como os mortos
- se os mortos pudessem reviver.
*
JOSÉ FERNANDES FAFE
"Sonho"
O Anjo Tutelar
*

AMÂNDIO CÉSAR
Nasceu em 12 de julho de 1921, signo de câncer,
Arcos de Valdevez, Portugal.
Doutourou-se em Letras na Universidade de Coimbra.
*
CANTOePALAVRAS
Vaga alta, 1943; Batuque de guerra, 1945;
Saudade de Pedra, 1949; Relógio de Sol, 1951;
Seiva, 1952; Natal, 1953;
As margens da memória, 1953. . .
.*.
Eu te sei pura, casta e meiga!
-
Eu te sei toda feita de pureza,
Branca como o leite fresco
Que se põe na mesa
-
eu te sei toda feita de castidade,
Num vago receio, perfume de alecrim
Que se percebe quando não há claridade.
-
Eu te sei, terna e meiga,
Como as flores silvestres, naturais,
Que nascem nas margens duma veiga.
-
Eu te sei - isso tudo - para mim!. . .
*
AMÂNDIO CÉSAR
"Flor"
Relógio de Sol
**


JOAQUIM NAMORADO
Nasceu a 30 de junho de 1914, signo de câncer,
em Alter do Chão, Portugal.
Formou-se em Ciências Matemáticas na
Universidade de Coimbra, participou de várias
revistas.
*
CANTOePALAVRAS
Aviso à navegação, 1941; Incomodidade, 1945;
A poesia necessária, 1966. . .
*
Olho o céu nas poças da rua
que a chuva de ontem deixou,
como pássaros verdes as primeiras folhas
empoleiram-se nos ramos enegrecidos do inverno
e o Sol entorna sobre o casario miserável
uma chuva de falso oiro.
Que raiva me dá. . .
Foi hoje a enterrar aquela miúda loura
que via brincar na rua
com as tranças apertadas nos laços vermelhos
- morressem antes os velhos
que da vida nada esperam,
já sem amor, já sem esperança,
roídos de chagas e da lepra dos dias.
que não morresse ninguém, valá!
mas ela. . .
levaram-lhe flores os outros meninos da rua,
iam contentes como para uma festa,
e a mãe atrás do caixão chorando,
e as folhas verdes
e as flores nos canteiros e nas janelas
como se florir fôsse uma coisa natural e inevitável,
e o velho mendigo cego estendendo a mão,
e a gente educada tirando o chapéu por hábito. . .
-
Que raiva me dá a Primavera sobre a dor do Mundo!
*
JOAQUIM NAMORADO
"Manhã de Abril"
***


AFONSO LOPES VIEIRA
Nasceu 1878, na cidade de Leiria, Portugal.
Em Coimbra cursou a "Faculdade de Direito"1894 a 1900.
Participou da revista "Lusitânia".

Viajou por diversos cantos do mundo.

Esteve por algumas vezes preso!!! . . .

Homenagens: Escultura em Leiria, 1979, escultor

Joaquim Correia. . .
Faleceu em 25 de janeiro de 1946.
*
CANTOePALAVRAS
Poesias Escolhidas, 1898 a 1902;
(Para Quê,1897; Náufrago, 1898; O Poeta Saudade,1901. . .)
"Éclogas de Agora", 1935;
Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, 1940. . .
*
Meu PORTUGAL cheio de fala-sós
Que andam na Lua, que os atrai e espera. . .
E eu ao vê-los evoco os meus Avós,
Os fala-sós da Arte e da Quiméra.
-
Ondas do Mar Oceano, adormentado
Os sonhos com aléns e com cantares,
Que é que vos disse, absorto, meditando,
O INFANTE de SAGRES, - fala-só dos Mares?

- O exilado fala-só enorme,
CAMÕES, cuja voz enche o amplo horizonte,
"Junto de um seco, duro, estéril monte,
Onde nem ave voa, ou fera dorme."
-
Suave fala-só, Crisfal, que um dia
As saudades sofrendo tão choradas,
Entre todas as lágrimas salgadas
Doces achaste aquelas de Maria.
-
As trombetas de prata clangorando
Incendeiam as sombras da cidade.
DOM PEDRO, fala-só que vais bailando,
"Até ao fim do mundo!" Que saudade!
-
SERRA da SINTRA, na neblina os ais
De "Bimnarder" os ecos despertaram.
Menina e moça um dia ta levaram,
Rouxinol fala-só que morto cais.
-
"Choro por ti os bens que tu não queres:
Olha, melhor é amar que ser amado."
Mariana cala o coração magoado,
Oh fala-só de amor entre as mulheres!
-
Meu PORTUGAL de almas na Lua, inquietas,
que balbucia tanta incerta voz?
Minha PÁTRIA, coitados dos poetas,
que são cá sempre os grandes fala-sós!
*
AFONSO LOPES VIEIRA
"Fala-Sós"
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Língua Portuguesa"«D. Dinís», págs. 010
e 076).













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