domingo, 30 de novembro de 2008

196 - 13 "NEGRAS CAPAS. . .POETAS DE COIMBRA"




* 001 *

MIGUEL TORGA
Adolfo Correia da Rocha
( MIGUEL - nome Ibérico, muito comum em Portugal,
TORGA - planta que enraiza nas fendas da rochas
em Trás-os Montes.)
nasceu a 12 de agosto de 1907, signo de leão,
São Martinho de Anta, Sabrosa, Vila Real,
província de Trás-os-Montes, Portugal.
Seu pai era professor primário.
Se licenciou em Medicina (otorrinolaringologia),
na Universidadede Coimbra (1933).
Consultório no Largo da Portagem, n. 45, 1. andar,
Coimbra. Ouvia, muita música principalmente
"Bach".(música clássica) e apreciava
pintura, como "Picasso","Siqueiros", "Orozco",
e "Cândido Portinari"(Brasil). . .
Um dos fundadores das revistas "Sinal" e "Manifesto"
e participou da "Presença."
Títulos pelo reconhecimento de seu trabalho como
escritor.
Prémios: - "Dário de Notícias", 1969;
"Prémio Internaciol de Poesia Knokke-Heist" (Alemanha);
"Prémio Montaigne" (Alemanha); "Prémio Camões", 1989;
"Prémio Personalidade do Ano", 1991;
"Vida Literária"( Associação Portuguesa de Escritores), 1992. . .

CANTOePALAVRAS

Ansiedade,1907; Rampa, 1930; Tributo, 1931;
O outro livro de Job, 1936; Bichos, 1940;
Mar(teatro), 1941;Terra Firme(teatro), 1941;
Contos da Montanha, 1941; Lamentação, 1943;
Novos Contos da Montanha, 1944; Libertação, 1944;
Vindima(conto), 1945; Odes, 1946; Sinfonia(teatro), 1947;
Nihil Sibi, 1948; Paraíso(teatro), 1949;
Cântico do Homem, 1950; Traço de União(teatro), 1956;
Orfeu Rebelde, 1958; Câmara Ardente, 1962;
Poemas Ibéricos, 1965; Fogo Preso, 1976. . .
I
Meu coração tem quantos versos quer;
É só pulsá-los com medida e rumo.
É só erguer-se a pino a um céu qualquer,
E desse alado azul cair a prumo.
*
Logo se desvanece o negro encanto
Que os tinha ocultos no condão da bruma;
Logo o seu corpo esguio rasga o manto.
E mostra a humanidade que ressuma.
*
Mas quando ele sangra para os orvalhar
De ternura, de sonho e de ilusão,
São outros versos. . . para segredar
A quem é sei irmão.
*
MIGUEL TORGA
"Intimidade"
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa" pág. 40;
"O CANTO . . .do encanto das . . .PALVRAS" pág. 189).


* 002*

FRANCISCO VILELA BARBOSA
Nasceu em 20 de novembro de 1769, signo de escorpião
Rio de Janeiro, Brasil
Visconde e Marquês de Paranaguá.
Estudou na Universidade de Coimbra, formou-se
Matemática. Envolveu-se em política, na volta ao
Brasil. . .
*
CANTOePALAVRAS
Poemas, 1794; Florilégio da Poesia Brasileira;
Cantata à Primavera, 1821. . .
**
Ali morreu Inês; crime horroroso
Não foi a causa do desastre duro,
Que um terno peito, um coração tão puro
Só podia culpar-se de amoroso.
*
Matou-se o cego Amor, que o escrupuloso
Interesse movera do futuro:
Chorou a mesma Morte o caso escuro,
O MONDEGO gemeu no pego undoso.
*
A sua sombra ainda fugitiva
Erra por sítio, aos Céus rogando
Lhe dêem aquele, de que a morte a priva:
*
E dentre estes penedos sussurrando
Uma fonte perene de deriva,
Que o seu pranto gerou suave e brando.
**
FRANCISCO VILELA BARBOSA
"Soneto"
Poemas

* 03 *

* JOÃO PENHA *

Nasceu em 1839, Braga, Província do Minho, Portugal.
Fundador da revista "A Folha" Coimbra, 1868.
Estilo Parnasiano.

Faleceu em 1919, Braga, Portugal.
**
Que música tão bela!
Eriçam-se os cabelos!
Excede a charamela
Da sala dos capelos
**
JOÃONHA
(sem título)


* 04 *

* AFFONSO DUARTE *
Joaquim Afonso Fernandes Duarte
Nasceu em 1884, Ereira,perto de Montemor-o-Velho,
Portugal. Doutourou-se em Filosofia, na Universidade
de Coimbra. Foi professor da Escola Normal e Primária,
também de Coimbra. Colaborou com revistas como
"Águia", "Presença", "Revista de Portugal" e outras. . .

CANTOePALAVRAS
Cancioneiro das Pedras, 1912;
Tragédia do Sol Pôsto, 1914; Rapsódia do Sol-Nado,
seguida do Ritual do Amor, 1916; Barros de Coimbra, 1925;
Poemas Líricos, 1929; Ossadas, 1947;
Post-Scriptum dum combatente, 1949; Sibila, 1950;
Canto de Babilônia, 1952; Canto de Morte e de Amor, 1952;
Obra Poética, 1956. . .
***
I
Vendo os gelos na serra a branquear,
Sinto um outro de mim desconhecido:
E o meu olhar percorre o desmedido
A chamar, a cantar. . .
*
São os montes alvíssima velhinha
que não tem coisa alguma que nos dar.
E são os gelos branca moleirinha
Que não se pode amar.
*
Não se pode tocar! Pois venha o caso
De a querer modelar, fazer em vaso
E eles fogem do Sol. . .
*
O gelo ao Sol é uma dor e doi-se:
Gorgeio de rouxinol!
Aqui passou, ali cantou, e foi-se.
**
AFONSO DUARTE
"Sonetos"
***
II
Sangue de Inês, COIMBRA, é o teu ex-voto.
Ah, quem o crime estranha, a morte chora?
Inês, ó miséria, teu nome invoco
Ao rito da paisagem que o memora.
*
Em teu perfil de magoada ausente
Que COIMBRA de lágrimas incensa,
Teu sangue, ó mártir, exilou em poente,
Doou-te o amor espiritual presença.
*
Teu infortúnio, aos meus lábios, timbra,
Sangüínea a golpes na hora do Sol-Pôr,
Que aos outonais poentes de COIMBRA
O Sol é em sacrifício do teu amor.
*
E em teu lago, cismático paúl,
Olho as nuvens do céu côr de martírios:
Anda tua Alma poluindo o Azul,
dorida luz viática de ciríos.
*
E ao que esta luz fatídica delira
E ao que a paisagem tem de insatisfeito,
Com meus dedos em febre, as mãos na Lira,
Soluçarei cuidados do teu peito.
*
teu vulto de "Mors-amor" recomponho
Quando cai em delíquio a tarde exangue:
- E é a paisagem minha Ágora de sonho
- E é o poente a Legenda do teu sangue.
*
"Mors-amor", sinto! É a expressão do Outono
Que vem dos choupos ao cair da folha!
"Mors-amor", ouço! Em ritos de abandôno
É o olor das pétalas que o vento esfolha!
*
Desígnio de algum choupo ou cedro velho
Quando o Sol abre o cálice vermelho
Da imensa flor da tarde, eu sinto, eu sei!
*
Oh! Mãos em holocausto, eu quero vê-los,
Ao poente, libando os teus cabelos,
Como se fôssem áulicos de El-Rei
***
AFONSO DUARTE
"Ex-voto da Paisagem de Coimbra ao Pôr-do-Sol"
Tragédia do Sol Pôsto
*
II
Vive-se de olhar uma flor.
Contar-lhe as pétalas
E beber a cor;
-
E, pode ser o melhor
(Se a alma não está comprometida)
E pode ser o pior
que tem a vida.
*
AFONSO DUARTE
"Flor"
Ossadas

* 05 *
* JOSÉ AFONSO *
"Cantor de Protesto"
Zeca Afonso
Nasceu em 1929, Aveiro(Talábrica), Portugal.
Doutourou-se em Ciências Histórico-Filosóficas,
na Universidade de Coimbra. Conhece António Portugal,
(guitarrista), quando morava, na casa de
uma tia, em Coimbra.
Em 1958, Como cantor gravou "Baladas de Coimbra"
primeiro disco.Grândola, Vila Morena é gravado em
Paris, "Cantigas de Maio" música de José Mário Branco.
Criado, 1988 "Prémio José Afonso", alguns ganhadores,
Dulce Pontes, Vitorino, Sérgio Coutinho. . .
*
I
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria.

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
Lança o teu desafio.

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

JOSÉ AFONSO
"Utopia"
**
II
Oh! COIMBRA doMONDEGO
e dos amores que eu lá tive
Oh! COIMBRA do MONDEGO
e dos amores que lá tive
**
Quem te não viu anda cego
Quem te não ama não vive
Quem te não viu anda cego
Quem te não ama não vive.
**
Do CHOUPAL até à LAPA
foi COIMBRA meus amores
Do CHOUPAL até à LAPA
foi COIMBRA meus amores
*
E sombra da minha capa
deu no chão abriu em flores
E sombra da minha capa
deu no chão abriu em flores.
*
JOSÉ AFONSO
(Zeca Afonso)
Interprete
Fado de Coimbra
"Oh! Coimbra do Mondego"
letra (?) Edmundo Bettencourt
*
III
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim sãos os olhos
Do meu coração.
-
Campo, que te estendes
Com verdura bela,
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
-
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
*
JOSÉ AFONSO
(Zeca Afonso)
interprete
letra: Luis de Camões
música: Zeca Afonso
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 096.
" O CANTO. . . do encantos das . . . PALAVRAS), 188


* 06 *
GONÇALVES CRESPO
António Cândido Gonçalves Crespo
Nasceu a 11 de março de 1846, signo de peixes,
na cidade de Rio de Janeiro, Brasil.
Naturalizou-se português,

Poeta, politico, jornalista, estudou Direito em Coimbra, 1875
dirigiu o "Jornal do Comércio". de Lisboa
pertenceu ao Instituto de Coimbra, Academia Real das Ciências . .
Estilo Parnasianismo.
Faleceu em 1883, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Miniaturas, 1871; Noturnos, 1882; Poesias, 1898. . .

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideias do Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando alta noite me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! Esse alguém
É de meus dias a esplendente aurora:
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

GONÇALVES CRESPO
"Alguém"

* 07 *

SILVA ALVARENGA
Manuel Inácio da Silva Alvarenga
Alcindo Palmireno(pseudônimo)
Nasceu em 1749, Ouro Preto, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Filho do músico Inácio da Silva, estudou Na Faculdade de
Direito, na Universidade de Coimbra(1771).

Primeiro poeta mulato, no Brasil, tocava rabeca e flauta.

Ao retornar ao Brasil, associa-se à " Socidade Literária do
Rio de Janeiro ".
Faleceu a 01 de novembro de 1814.
Estilo Neo-Clássico.

CANTOePALAVRAS
Glaura(poemas eróticos, 59 rondós e 57 madrigais), 1799
(exemplar na "Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa");
Obras Poéticas, 1864;
O Desertor das Letras(escrito em Coimbra), 1774. . .
Estilo Arcadismo
***
I
Adeus, árvore frondosa,
Venturosa em toda a idade!
Ó saudade! ó pena! eu morro
Sem socorro a delirar.

Deste bosque alto e sombrio
Sobre a margem da floresta
Vinha Glaura pela sesta
Vale e rio enamorar.

Tua Driade a chamava,
Ó mangueira, ó dias belos!
E entre pomos amarelos
Me esperava a suspirar,

Adeus, árvore frondosa,
Venturosa em toda a idade!
Ó saudade! ó pena! eu morro
Sem socorro a delirar.

Quando o vento estremecia
Nessa rama verde-escura,
Glaura cheia de ternura
Se afligia de esperar.

Os teus frutos mereceram
Ser por ela preferidos,
E o meu pranto e os meus gemidos
A souberam abrandar.

Adeus, árvore frondosa,
Venturosa em toda a idade!
Ó saudade! ó pena! eu morro
Sem socorro a delirar.

Morte iníqua. . .ai, Fado escuro!
Céu piedoso! eu esmoreço!
tudo sente o que eu padeço;
Quanto é duro o meu penar!

Onde eu via tenras flores
Vejo cardos, vejo espinhos:
Já não ouço os passarinhos
Seus amores gorjear.

Adeus, árvore frondosa,
Venturosa em toda a idade!
Ó saudade! ó pena! eu morro
Sem socorro a delirar.

Ai de mim! ó vida triste!
Dor cruel! terna lembrança!
Acabou minha esperança,
Só existe o meu pesar.

Glaura! ah! Glaura! em vão te chamo!
Chora amor, e quase expira,
E me manda a doce Lira
Neste ramo pendurar.

Adeus, árvore frondosa,
Venturosa em toda a idade!
Ó saudade! ó pena! eu morro
Sem socorro a delirar.
-
SILVA ALVARENGA
"A Árvore"
Rondó LIV
Obras Poéticas
**
II
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergir em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega
Que lhe nega o teu rigor.

Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado,
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-Flor.

Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
É já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova côr.

Deixo, ó Glaura, atriste lida
Submergir em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Vejo as penas e a figura,
Provo as asas, dando giros;
Acompanham-me os suspiros,
E a tenura do Pastor.

E num vôo, feliz ave,
Chego intrépido até onde
riso e pérolas esconde
O suave e puro Amor.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergir em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Toco o néctar precioso,
Que a mortais não se permite,
E o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor.

Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço;
Não me assusta o terno laço,
É fingido o meu temor.

Deixo , ó Glaura, a triste lida
Submergir em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade,
Não estimo a liberdade,
Busco os ferros por favor.

Não me julgues inocente,
Nem abrandes meu castigo;
Que sou bárbaro inimigo,
Insolente e roubador.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
*
SILVA AVARENGA
" O Beija-Flor "
Rondó VII
Obras Poéticas

*
 08*
TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA
Nasceu a 11 de agosto de 1744, signo de leão, na cidade
do Porto, Portugal.
Seu pai era brasileiro (Rio de Janeiro), desembargador no Porto,
época de Marquês de Pombal, e sua mãe, portuguesa,
filha de um negociante inglês.
Bacharel em Direito, na Universidade de Coimbra, 1768.
Viajou para o Brasil, 1751, Vila Rica, depois foi
expulso do país, para Moçambique, África. Participou
na "Inconfidência Mineira" 1789. Em "Liras" fala sobre "Marília",
que é Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, de quem ele
era enamorado (Existem somente três exemplares
originais no mundo, um em São Paulo). . .
Estilo Arcadismo.

Patrono da "Academia Brasileira de Letras".
Faleceu em 1810, Moçambique.

CANTOePALAVRAS
*
Marília de Dirce, 1792a 1812; Liras, 1792 e 1799;
Cartas Chilenas, 1845; Tratado do Direito Natural, 1944;
Carta sobre A Usura, 1957; Obras Completas, 1957. . .

I
Nas costas dos Golfinhos vêm montados
Os nus Tristões, deixando a Esfera cheia
Co rouco som dos búzios retorcidos.
Recreia, sim recreia
Meus atentos ouvidos
O canto sonoroso
Da música Sereia.

Já sobe ao grande mastro o bom gajeiro;
Descobre arrumação, e grita terra:
À murada caminha alegre a gente;
Alguns entendem que erra:
Pelo imóvel sómente
Conheço não ser nuvem,
Sim o cume d'alta serra.

De MAFRA já descubro as grandes torres:
(E que nova alegria me arrebata!)
De CASCAIS a muleta já vem perto,
Já de abordar-nos trata:
Já o piloto esperto
Inda debaixo manda
Soltar mezena e gata.

Eu vou entrando na espaçosa barra:
A grossa artilheria já me atoa.
Lá ficam PAÇO DE ARCOS e a JUNQUEIRA.
Já corre pela proa
Uma amarra ligeira;
E a Nau já fica surta
Diante da grã LISBOA.

Agora, agora sim, agora espero
renovar da amizade antigos laços:
Eu vejo ao velho Pai, que lentamente
Arrasta a mim os passos:
Ah como vem contente!
De longe mal me avista
Já vem abrindo os braços.

Dobro os joelhos, pelos pés o aperto,
E manda que dos pés ao peito passe:
Marília quanto eu fiz fazer intenta;
Antes que os pés lhe abrace
Nos braços a sustenta;
Dá-lhe de filha o nome,
Beija-lhe a branca face.

Vou a descer a escada(ó Céus!) acordo,
Conheço não estar no claro TEJO.
abro os olhos, procuro a minha amada,
E nem sequer avejo.
Venha a hora afortunada,
em que não fique em sonho
Tão ardente desejo.
-
TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA
"VIII" ( trecho )
Liras
-
II
Em uma frondosa
Roseira se abria
Um lindo botão.
Marília adorada
O pé lhe torcia
com a branca mão.

Nas folhas viçosas
A abelha enraivada
O corpo escondeu.
Tocou-lhe Marília
Na mão descuidada
A fera mordeu.

Apenas lhe morde,
Marília, gritando,
Co dedo fugiu.
Amor, que no bosque
Estava brincando,
Aos ais acudiu.

Mal viu a rotura,
E o sangue espargiu,
Que a Deusa mostrou,
Risonho beijando
O dedo ofendido,
Assim lhe Falou:

" Se tu por tão pouco
O pranto desatas,
Ah! dá-me atenção;
E como daquele,
Que feres e matas,
Não tens compaixão?"
-
TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA
" XX"
Liras

* 09 *

TOMÁS RIBEIRO
Tomás António Ribeiro Ferreira
Nasceu a 01 de julho de 1831, signo de câncer,
Parada de Gonta, Tondela, Portugal.
Fez Direito, Na Universidade de Coimbra,1855.. . .

Poeta, politico pertenceu à Academia Real de Ciências de Lisboa, Portugal.

*
Ferida chora a vida sobre o ulmeiro,
A noite chora orvalho na devesa,
No tegúrio misérrimo, a pobreza,
E sobre o rio, o pálido salgueiro.

De mimo e prazer chora o amor primeiro,
O orfãozinho, de medo e tristeza,
D'ambições mal logradas, a grandeza,
De saudades, o amante e o aventureiro.

Só tu, qual se o vulcão d'íntimas fráguas,
Que mata à superfície a flor e o fruto,
dos teus olhos secam as puras águas.

Andam serena, envolta no teu luto,
E seja imenso o horror das tuas mágoas,
sempre o teu rosto há-de ficar enxuto!

TOMÁS RIBEIRO
"Nunquam Flebilis"
Vésperas

Mais poemas... "Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores da Língua Portuguesa"  pág. 162.

* 10 *

ALMADA NEGREIROS
José Sobral de Almada Negreiros
Nasceu a 07 de abril de 1893, signo de áries.
Trindade, 

S. Tomé e Principe, África.
Estudou em Coimbra e Lisboa.
Poeta, ensaísta, dramaturgo, escritor, coreografo, pintor . . .
Um dos principais da revista "ORPHEU" 1915,
(revista trimestral, apenas dois volumes
sairam, existe exemplares na "Biblioteca
da Universidade de Coimbra), no terceiro
que foi impresso, nunca publicado,
José Sobral de Almada Negreiros destinou o
poema "A Cena do Ódio",1915.
Estudou pintura em Paris, França(1919,1920). . .
Afresco ou fresco(pintura sobre argamassa fresca,
ficando as tintas embebidas.) "O Verão"
na "Faculdade de Ciências" Universidade de Coimbra.
"Igreja de Nossa Senhora de Fátima", mosaicos e pinturas.
Amigo de Fernando Pessoa, pintou o retrato dele
Fernando Pessoa, 1954 . . .
Estilo Modernista

CANTOePALAVRAS
O Moinho, 1913; Os Outros, 1914;
O Quadrado Azul, 1917; Litoral, 1917; Engomadeira(novela), 1917;
A Invenção do Dia Claro, 1921; Pierrot e Arlequim, 1924;
Elogio da Ingenuidade, 1936;
Nome de Guerra(romance), 1936. . .
***
A pastorinha morreu, todos estão a chorar.
Ninguém a conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amores.
À beira do rio nasceu uma árvore e os braços da
árvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de além.
Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém.
Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho.
E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amores?
Há prendas para Lhe dar.
Ninguém sabe se é "Ele" e há prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu á praia uma santa
que vinha das bandas do mar.
Vestida de pastora p'ra se não fazer notar.
De dia era uma santa, à noite era luar.
A pastorinha em vida era linda pastorinha;
a pastorinha morta é a Senhora dos Milagres.
***
ALMADA NEGREIROS
" Canção "
Revista "Orpheu" n.01

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