sábado, 27 de dezembro de 2008

188 - 01 "O CANTO... do Encanto das... PALAVRAS"

*
AGOSTINHO NETO *06*
ALEXANDRE HERCULANO *12*
ALFREDO BROCHADO *
ALMADA NEGREIROS *13*
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE *09*
CELSO OLIVEIRA *14*
FAGUNDES VARELA *10*
GERALDO VANDRÉ *03*
JOSÉ AFONSO *04*
OLAVO BILAC *08*
REIS VENTURA *15*
SOPHIA MELLO BREYENER ANDRESEN *05*
TEIXEIRA E SOUZA *11*
VIMALA DEVI *01*
VINÍCIUS DE MORAIS *07*
VITORINO NEMÉSIO *02*
*
TERRA DE PORTUGAL! bendita e santa!
Terra de meus avós e onde eu nasci!
Quem é que hoje altivo se alevanta?
quem é que um povo, ajoelhado, canta?
Quem é, quem é, que está presente aqui?
-
Terra do meu País, aureolado!
Quem é, dizei?
É o corpo, bendito, de um soldado,
De palmas e de mirtos coroado,
Como um antigo rei!
-
Meu herói, meu herói da Grande Guerra!
Bendito seja o sangue teu vertido!
Que ungiu, frutificando, a nossa terra!
Bendito seja o herói desconhecido!
-
E a nossa Pátria, revolvendo a História,
Ergueu-se lá do fundo do Passado,
Para abraçar, num ímpeto de glória,
- D. Nuno Álvares Pereira da Vitória -
O corpo heróico e belo de um soldado!
-
O corpo de um soldado que é, afinal,
O grito , a afirmação altissonante,
Que Portugal é ainda Portugal!
E não há-de morrer, porque é imortal!
A alma de uma raça triunfante!
-
Por isso Portugal agradecido,
Num cântico d'Amor alto e profundo,
Celebra o seu herói desconhecido,
Que concorreu p'ra Paz de todo o Mundo!
-
E todos nós unidos neste dia,
dia de Sol, de cânticos de Amor,
Simbolizamos nele a estrela que nos guia,
Que nos dá fé, coragem, valentia,
Para sonhar um Portugal maior!
-
Filhos do meu País, sempre eu quisera,
Ver-vos assim cobertos de Beleza!
Longe de nós a ruim e vil tristeza!
Deixai cair o Sol da Primavera,
Por sobre a linda Terra Portuguesa!-
Meu herói! Meu herói! A terra inteira
Onde nasceste vem-te receber!
Envolvem-te de novo as cores da bandeira
Pela qual tu morreste, em França, a combater!
-
Herói da guerra d'África, pressinto,
E em ti vejo fulgindo, o heróico escudo a arder!
É teu irmão mais velho D. Afonso V,
Por isso à sua beira irás adormecer!
-
Meu herói, meu herói, da Grande Guerra!
Bendito seja o sangue teu vertido!
Que ungiu, frutificando, a nossa Terra!
Bendito seja o herói desconhecido!
-
Sangue de Portugal! Oh! Sangue das conquistas!
Do mar das Índias! de Damão! De Ormuz!
Sangue de Portugal! Do meu País d'artistas!
Sangue correndo em borbotões de Luz!
-
Sangue de Portugal! nas encantadas ilhas!
Sangue vertido pelo Mar além!
Sangue do meu País de maravilhas!
Sangue florindo a Terra de Ninguém!
-
Rosas de Portugal, pendendo das roseiras!
Rosas de Portugal! - vermelho Sol de Julho!
ei-las florindo, agora, ao longo das trincheiras,
Por onde Portugal andou cheio de orgulho!
-
Sangue de Portugal, de um povo todo em luta!
Sangue de Portugal, vencendo o medo ao perigo!
Sangue de Portugal, de um povo na labuta
De conquistar, de novo, o seu lugar antigo!
-
Sangue de Portugal, riscando os longes mares!
Sangue de Portugal, correndo-me nas veias!
Mostraste a todos nós que, enquanto não parares,
Estás pronto a correr pelas ideias!
-
Sangue de Portugal! Sangue d'Aljubarrota!
Sangue do entardecer . . .Alcácer . . . e o deserto!
Oh! sangue da Vitória! Oh! sangue da derrota!
É sempre o mesmo sangue a reviver, liberto!
-
Sangue do meu País dos olhos magoados!
Sangue do meu País, etéreo fogo a arder!
Sangue de Portugal, do corpo dos soldados,
De que ninguém, jamais, o nome há-de saber!
-
Dormi, dormi, heróis, o vosso sono eleito!
No convento ogival, de gotizada talha!
Floriu a Cruz de Guerra em vosso hercúleo peito,
Dormi, dormo, dormi, nos clautros da Batalha!
-
Dormi, dormi, heróis, onde D. Nuno um dia
Orou para expulsar de nós os espanhóis!
Ficais ali dormindo em boa companhia!
Dormem ali somente os corpos dos heróis!
-
Templo de pedra e sangue derramado
Por esta terra santa; ouvi a minha voz!
Ides guardar agora os restos de um soldado,
Que o mesmo é que guardar alguém de todos nós!
-
Guardai-o bem, olhai, na vossa aérea graça!
Arquitectura gótica, ogival!
O herói que um povo inteiro em cânticos abraça!
A encarnação da fé e do amor de Portugal!
-
E ai o que vão de mágoas e tristezas,
No coração das mães, a recordar . . .
Mas não choreis assim, mães portuguesas!
Que o nome d'Ele, cantando, anda no ar!
-
Herói desconhecido! Ele é o teu filho; vês!
Herói desconhecido! Oh pobre mãe, é o teu!
É o filho, vede lá, de todo o portugês,
que na guerra de heróis um lindo herói perdeu!
-
Mulheres de Portugal! Dos campos onde os milhos
Abrem ao luar d'Agosto, em níveo Paraíso!
Não choreis, não choreis assim os vossos filhos,
Mandai-os combater sempre que for preciso!
-
Mandai-os combater, sempre que a Pátria os chame!
Que em paga ela os memora eternamente!
Por mais, por mais que a turba ignara clame,
Eles não morrerão no coração da gente!
-
E em vossos olhos de magoado encanto,
Raiou, hoje de novo, um lindo dia!
E ao ver que o vosso filho é vivo, é santo,
Mães portuguesas enxugai o pranto;
Despi o luto, e enchei-vos de Alegria!
*
ALFREDO BROCHADO
"Ode"
Sangue dos Heróis
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 160).
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01

VIMALA DEVI
Teresa de Almeida
Nasceu em 1932, Goa,Asia. . .
*
Hoje resolvi fazer e enterro dos mitos
Não tive lágrimas: só as pedras choraram
e as Nektram* esconderam-se por detrás das nuvens
-
Os peixes confratenizaram comigo
Mas os homens, rochedos impenetráveis
Olharam-me com palavras de desdém:
"loucura! Acaba por se enterrar também!"
-
Os lótus cerraram a corolas de luto;
A seiva dos seus caules humedeceu-me os pés. . .
Ainda sem lágrimas, cantei a noite inteira
Como um Bul-Bul** orfão do mundo. . .
-
*Nekhetram, plural nekhetr - estrêla.
**Bul-Bul - passarinho.
*
VIMALA DEVI
"Enterro dos Mitos"
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", pág.177)
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02
VITORINO NEMÉSIO
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva
Nasceu em 1901, Vila da Praia de Victória, Ilha Terceira,
Açores. Portugal.
Formou-se em Filologia Românica, Faculdade de Letras de Lisboa.
Universidade de Bruxelas, lecionou. . .
*
CANTOePALAVRAS
Canto matinal,1916; O poeta povo, 1917; A fala das quatro flores, 1920;
Amor de nunca mais, 1920; Nave Etérea, 1922;
Nem toda a noite a vida, 1953; O pão e a culpa, 1955;
o verbo e a morte, 1959; Poesia, 1961; O cavalo encantado, 1963;
Andamento Holandês e poemas graves, 1964; Canto de Véspera, 1966;
Limite de idade, 1972; Poemas Brasileiros, 1972; Sapatela Açoriana, 1976. . .
Mau tempo( romance), 1944. . .
*
Ainda terás alento e pedra de canto,
Mito de Pégaso, patada de sangue da mentira,
Para cantar em sílabas ásperas o canto,
De rima em anto, o pranto,
O amor, o apego, o sossego, a rima inteira
Das almas calmas, isto e aquilo, o canto
Do pranto em pedra aparelhada a corpo e escopro,
O estupro de outrora, a triste vida dela, o canto,
Buraco onde te metes, duplamente: com falo,
Falas, fá-la chorar e ganir, com falo o canto
No buraco de grilo onde anoiteces,
No buraco de falso eremita onde conheces
Teu nada, o dela, o buraco dela, o canto
De pedra, sim, canteiro por cantares e aparelhares
Com ela em rua e cama o falo fá-la cheia,
Canteiro porque o falo a julga flores, o canto
Áspero do canteiro de pedra e sémen que tu és
(No buraco do falo falaste),
Tu, falazão de amor, que amas e conheces.
Amas a quem? Conheces quem? Pobre Hipocrene,
Apolo de pataco, Camões binocular, poeta de merda,
Embora isso em sangue dessa pobre alma em ferida:
A dela, a tua, cadela a tua pura e fiel no canto
De lama e amor como não há no charco em torno,
Maravilhoso canto só de soprares na ponta a um corno
E logo a sílaba e o inferno te obedecem
E as dores íntimas dela nas tuas falas se conhecem,
Sua íntima vergonha inconfessada desponta,
Passiflora penada, pequenina vulva triste
Em teu sémen sarada e já livre de afronta:
O canto em pedra e voz, psicóide e bem vibrado,
Límpido como vidro a altas horas lavado,
Como o galo de bronze pela dor acordado,
No amor e na morte alevantado,
Da trampa mentirosa resgatado,
Como Dante o lavrou em pedra de Florença
E Deus to deu de amor por ela no atoleiro?
Flor menina de orvalho em amor verdadeiro?
-
Ainda terás amor e pedra de canto,
Fé nela e sua dor de arrependida e enganada,
Ou, enfim, amor a fogo dado e perdão puro. . .
Eu quero lá saber! Amor de Deus no canto
De misericórdia e paz, mesmo para os violentos
Da violada violeta, e breve miosótis
Ao canto unida e em tuas lágrimas orvalhada?
Cala-te e humilha-te como ela,
Que é maior do que tu no canto
E a esta hora só bebe talvez água salgada,
Oh poeta de água doce!
-
Mas, antes de calar espada e voz, responde:
Ainda terás alento e pedra de canto
Para cantar estas coisas,
Encantar outra vez a donzela roubada ou niña morta,
Enfim, o teu amor?
Dize lá, sem vergonha,
Homem singelo:
Pois se nisto me mentes nunca mais a verás.
-
(Quem Fala?)
*
* VITORINO NEMÉSIO *

"Pedra de canto"
(Mais Poemas. . . " Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", 147)
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03
GERALDO VANDRÉ
Nasceu no Brasil. . .
**
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
-
coral
-
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
-
Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Inda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão.
-
Há soldados armados amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão,
Nos quatéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela Pátria e viver sem razões.
-
Nas escolas, nas ruas, campos construções
Somos todos soldados armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não,
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Aprendendo e ensinando uma nova lição.
*
GERALDO VANDRÉ
Música e letra
"Pra não dizer que não falei das Flores"

04
JOSÉ AFONSO
"Cantor de Protesto"
Nasceu em 1929, Aveiro(antiga Talábrica), Portugal.
Faleceu 23 de fevereiro de 1987.
-*-
I
Grândola,Vila Morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, Ó cidade.
-
Dentro de ti, Ó cidade
O povoé quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, Vila Morena.
-
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade.
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade.
-
Terra da fraternidade
Grândola, Vila Morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena.
-
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira.
Grândola a tua vontade.
-*-
JOSÉ AFONSO
"Grândola, Vila Morena"
Alerta musical para o golpe "Revolução dos Cravos"
Portugal, 25 de Abril de 1974.
*
II
Milho Verde, milho verde.
Milho verde maçaroca.
À sombra do milho verde,
namorei uma cachopa.
-
Milho verde, milho verde.
Milho verde miudinho
À sombra do milho verde,
namorei um rapazinho.
-
Milho verde, minho verde.
Milho verde folha larga.
À sombra do milho verde,
namorei uma casada.
-
Mondadeiras do meu milho.
Mondai o meu milho bem.
Não olhais para o caminho,
que a merenda já lá vem.
**
José Afonso
Zeca Afonso (cantor)
"Milho Verde"
"Folclore da Beira-Baixa"
"Grândola, Vila Morena" e "Milho Verde", censurados.
*
III
Por trás daquela janela
Por trá daquela janela
Faz anos o meu amigo. . .E irmão.
-
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão.
-
Se aquela parede andasse
Se aquela parede andasse
Eu não sei o que faria. . .Não sei.
-
Se a minha faca cortasse
Se aquela parede andasse
E o grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer.
-
Talvez o tempo corresse
Talvez o tempo corresse
E a tua voz me ajudasse. . .A cantar.
-
Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar.
-
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo. . .E irmão.
-
Na noite que se segue o dia
Na noite que se segue o dia
O meu amigo dorme. . . De pé
-
E o seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré.
-
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo. . . E irmão
-
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão.
**
JOSÉ AFONSO
Zeca Afonso
interprete
"Por trás daquela porta"
música e letra: José Afonso
(Homenagem a Alfredo Matos, que estava preso.)
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 096;
"NEGRAS CAPAS . . . POETAS DE COIMBRA", pág. 196).
▬▬▬
05
SOPHIA MELLO BREYENER ANDRESEN
Nasceu em Portugal. . .
*
I
. . .Vemos, Lemos e Ouvimos.
Não podemos Ignorar. . .
*
Sophia Mello Breyener Andresen
"Cantata da Paz"
*
II
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio.
E livres habitamos a substância de tempo.
*
SOPHIA MELLO BREYENER ADRESEN
"25 de Abril"
O Nome das Coisas
Centro de Documentação 25 de Abril."Universidade de Coimbra"
Internet, Site
http://www.sapo.pt/
*
III
Como casa limpa.
Como chão varrido.
Como porta aberta,
como puto início.
Como tempo novo.
Sem mancha nem vício.
-
Como a voz do mar
interior de um povo.
-
Como página em branco.
Onde o poema emerge.
-
Como arquitetura.
Do homem que ergue.
Sua habitação.
*
SOPHIA MELLO BREYENER ANDRESEN
"Revolução"
O Nome das Coisas
Centro de Documentação 25 de Abril "Universidade de Coimbra"
Internet, Site http://www.sapo.pt%20/www1.ci.uc.pt/25a
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua portuguesa", pág. 138)
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06
AGOSTINHO NETO
Nasceu em Angola, África. . .
-.-
Quando voltei
as casuarinas tinham desaparecido da cidade
--
E também tu
Amigo Liceu
voz consoladora dos ritmos quentes da farra
nas noites dos sábados infalíveis
--
Também tu
harmonia sagrada e ancestral
ressuscitada nos aromas sagrados do Ngola Ritmos
--
Também tu tinhas desaparecido
e contigo
os Intelectuais
a Liga
o Farolim
as reuniões das Ingombotas
a consciência dos que traíram sem amor
--
Cheguei no momento preciso do cataclismo matinal
em que o embrião rompe a terra umedecida pela chuva
erguendo planta resplandecente de cor e juventude.
--
Cheguei para ver a ressurreição da semente
a sinfonia dinâmica do crescimento da alegria nos homens.
E o sangue e o sofrimento
eram uma corrente tormentosa que dividia a cidade
--
Quando eu voltei
O dia estava escolhido
e chegava a hora.
--
Até o riso das crianças tinha desaparecido
e também vós
meus bons amigos meus irmãos
Benje, Joaquim, Gaspar, Ilídio, Manuel
e quem mais?
- centenas, milhares de vós amigos
alguns desaparecidos para sempre
para sempre vitoriosos na sua morte pela vida.
--
Quando eu voltei
qualquer coisa gigantesca se movia na terra
os homens nos celeiros guardavam mais
os alunos nas escolas estudavam mais
o Sol brilhava mais
e havia juventude calma nos velhos
mais do que esperança era certeza
mais do que bendade era amor.
--
Os braços dos homens
a coragem dos soldados
os suspiros dos poetas.
--
tudo todos tentavam erguer bem alto
acima da lembrança dos heróis
Ngola Kiluanji
Rainha Ginga
Todos tentavam erguer bem alto
a Bandeira da Independência.
--
AGOSTINHO NETO
"O Içar da Bandeira"
Poema dedicado aos Heróis do Povo Angolano
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", 128).
Internet Site http://www.sapo.pt/www.lusofoniapoetica.com/
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07
VINÍCIUS DE MORAIS
Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil.
*
A minha Pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha Pátria, Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha Pátria.
-
Se me perguntarem o que é a minha Pátria, direi:
- Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha Pátria
Mas sei que a minha Pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
-
Vontade de beijar os olhos de minha Pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos . . .
Vontade de mudar as cores do vestido(auriverde) tão feias
De minha Pátria, de minha Pátria sem sapatos
E sem meias, Pátria minha
Tão pobrezinha!
-
Porque te amo tanto, Pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento.
-
Eu fio invísivel no espaço de todo o adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
-
Ah, Pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
e eu vi Alfa e Beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu . . .
-
Fonte de mel, bicho triste, Pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: - aguarda . . .
Não tardo!
-
Quero rever-te, Pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo , mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
-
Pátria minha . . . A minha Pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha Pátria é desolação
De caminhos, a minha Pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha Pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha Pátria tem
Uma quentura, um querer bem, em bem
Um "libertas quae sera tamen"
Que um dia traduzi num exame escrito:
- "Liberta que serás também"
E repito!
-
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão . . .
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, Pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
-
Não te direi o nome, Pátria minha
Teu nome é Pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
BRASIL, talvez.
-
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
" - PÁTRIA MINHA, SAUDADES DE QUEM TE AMA . . .
VINÍCIUS DE MORAIS".
*
VINÍCIUS DE MORAIS
"Pátria Minha"
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa ", 80 ).
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08
OLAVO BILAC
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
*
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde
Circulo! e sou perfume, e sombra, e Sol, e orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,
E subo do teu cerne ao céu de galho em galho!
-
Dos teus líquens, dos teus cipós, da tua fronde,
Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho,
Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
De ti, - rebento em luz e em cânticos me espalho!
-
Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes,
No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!
E eu, morto, - sendo tu cheia de cicatrizes,
-
Tu golpeando e insultada, - eu tremerei sepulto;
E os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
Se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!
*
OLAVO BILAC
" Pátria "
*
Pára! Uma terra nova ao teu olhar fulgura!
Detém-te! Aqui, de encontro a verdejantes plagas,
Em carícias se muda a inclemência das vagas . . .
Este é o reino da Luz, do Amor e da Fartura!
-
Treme-te a voz afeita às blasfêmias e às pragas,
Ó nauta! Olha-a, de pé, virgem morena e pura,
Que aos teus beijos entrega, em plena formosura,
- Os dous seios que, ardendo em desejos, afagas . . .
-
Beija-a! O Sol tropical deu-lhe à pele doirada
O barulho do ninho, o perfume da rosa,
A frescura do rio, o esplendor da alvorada . . .
-
Beij-a! é a mais bela flor da Natureza inteira!
E farta-te de amor nessa carne cheirosa,
Ó desvirginador da Terra Brasileira!
*
OLAVO BILAC
" O Brasil "
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", 85 ).
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09
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Nasceu em 31 de outubro de 1902, Itabira do Mato de Dentro
Estado de Minas Gerais, Brasil.
*
Com o arremesso das feras
e o cálculo das formigas
a Seleção avança
negaceia
recua
envolve.
É longe e em mim.
Sou o estádio de Jalisco, triturado
de chuteiras, a grama sofredora
a bola mosqueada e caprichosa.
Assistir? Não assisto. Estou jogando.
-
No baralho de gestos, na maranha
na contusão da coxa
na dor do gol perdido
na volta do relógio e na linha de sombra
que vai crescendo e esse tento não vem
ou vem mas é contrário . . . e se renova
essa lenta lesma de Replay
Eu não merecia ser vaiado
por esse tiro frouxo sem destino.
Meus onze atletas
são onze meninos fustigados
por um deus fútil que comanda a sorte.
É preciso lutar contra o deus fútil,
fazer tudo de novo; formiguinha
rasgando seu caminho na espessura
do cimento do muro.
-
Então crescem os homens. Cada um
é toda a luta, sério. E é todo arte.
Uma geometria astuciosa
aérea, musical, de corpos sábios
a se entenderem, membros polifônicos
de um corpo só, belo e suado.Rio,
rio de dor feliz, recompensada
com TOSTÃO a criar e JAIR terminando
a fecunda jogada.
-
É GOOOOOOOOOOL na garganta florida
rouca exauta, gol no peito meu aberto
gol na minha rua nos terraços
nos bares nas bandeiras nos morteiros
GOL
na girandolarrugem das girândolas gol
na chuva de papelzinhos celebrando
por conta própria no ar: cada papel,
riso de dança distribuído
pelo país inteiro em festa de abraçar
é gol legal é gol natal é gol de mel e Sol.
-
Ninguém me prende mais, jogo por mil
jogo em PELÉ o sempre rei republicano
o povo feito atleta na poesia
do jogo mágico.
Sou RIVELINO, a lâmina do nome
cobrando, fina, a falta.
Sou CLODOALDO rima de EVERALDO
Sou BRITO e sua viva cabeçada,
com GERSON e PIAZZA me acrescento
de forças novas. Com orgulho certo
me faço capitão CARLOS ALBERTO.
FÉLIX, defendo e abarco
em meu abraço a bola e salvo o arco.
-
como foi que esquentou assim o jogo?
Que energias dobradas afloraram
do banco de reservas interiores?
Um rio passa em mim ou sou o mar atlântico
passando pela cancha e se espraiando
por toda a minha gente reunida
num só vídeo, infinito, num ser único?
-
De repente o BRASIL ficou unido
contente de existir, trocando a morte
o ódio, a pobreza, a doença, o atraso triste
por um momento puro de grandeza
e afirmação no esporte.
"Vencer com honra e graça
com beleza e humildade
é ser maduro e merecer a vida,
ato de criação, ato de amor",
A ZAGALO, zagal prudente,
e a seus homens de campo e bastidor
fica devendo a minha gente
este minuto de felicidade.
*
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
" O Momento Feliz"
Copa do Mundo de 70
Versiprosa
(Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", 90 ).
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10
FAGUNDES VARELA
Nasceu em 1841, Rio Claro, Estado de Rio de Janeiro, Brasil.
*
Terra da Liberdade!
Pátria de heróis e berço de guerreiros,
Tu és o louro mais brilhante e puro,
O mais belo florão dos Brasileiros!
-
Foi no teu solo, em borbotões de sangue
Que a fronte ergueram destimidos bravos,
Gritando altivos ao quebrar dos ferros:
Antes a morte que um viver de escravos!
-
foi nos teus campos de mimosas flores,
À voz das aves, ao soprar do norte,
Que um rei potente às multidões curvadas
Bradou soberbo - INDEPENDÊNCIA OU MORTE!
-
Foi de teu seio que surgiu, sublime,
Trindade eterna de heroísmo e glória,
Cujas estátuas, - cada vez mais belas,
Dormem nos templos da Brasília história!
-
Eu te saúdo, ó majestosa plaga,
Filha dileta, - estrela da nação,
Que em brios santos carregaste os cílios
À voz cruenta de feroz Bretão!
-
Pejaste os ares de sagrados cantos,
Ergueste os braços e sorriste à guerra,
Mostrando ousada ao murmurar das turbas
Bandeira imensa da Cabrália terra!
-
Eia! - Caminha, o Partenon da glória
Te guarda o louro que premia os bravos!
Voa ao combate repetindo a lenda:
- Morrer mil vezes que viver escravos!
*
FAGUNDES VARELA
" A São Paulo "
(Mais Poemas . . . " Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa ", 131).
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11
TEIXEIRA E SOUZA
António Gonçalves Teixeira e Sousa
Nasceu a 28 de março de 1812, signo de áries,
Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil. . .
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CANTOePALAVRAS
Independência do Brasil, 1847 a 1855;
Cornélia(teatro), 1840;Cânticos Líricos, 1842;
Três Dias de um Noivado, 1844;
A Providência(romance), 1854; Tardes de um Pintor, 1855;
Intrigas de um Jesuita, 1855; Maria ou a Menina
Roubada(romance), 1859 . . .
*
Nada mais de União! D'ora em diante
Portugal para nós seja estrangeiro!
Viverá para si nobre e possante
O venturoso Reino Brasileiro!
Juremos pois, amigos, neste instante
com ânimo fiel, nobre e guerreiro
seguir da cara Pátria a livre sorte
Bradando sempre "Independência ou Morte".
*
TEIXEIRA E SOUSA
12
ALEXANDRE HERCULANO
Nasceu em Portugal
*
XXIV
-
MINHA PÁTRIA onde existe?
É lá somente!
-
Oh lembrança da PÁTRIA acabrunhada
Um suspiro tambem tu me has pedido;
Um suspiro arrancado aos seios d'alma
Pela offuscada gloria, e pelos crimes
Dos homens que ora são, e pelo opprobrio
Da mais illustre das nações da terra!
-
A minha triste PÁTRIA era tão bella,
E forte, e virtuosa! e ora o guerreiro
E o Sabio e o homem bom acolá dormem,
Acolá, nos sepulchros esquecidos,
Que a seus netos infames nada contam
Da antiga honra e pudor e eternos feitos.
O escravo portugês agrilhoado
Carcomir-se lhes deixa juncto ás lousas
Os decepados troncos desse arbusto,
Por mãos delles plantado á liberdade,
E por tyrannos derribado em breve,
Quando patrias virtudes se acabaram,
Como um sonho da infancia! . . .
O vil escravo,
Immerso em vicios, em bruteza e infamia,
Não erguerá os macerados olhos
Para esses troncos, que destroem vermes
Sobre as cinzas de heroes, e, acceso em pejo,
Não surgirá jámais? - Não ha na terra
Coração português, que mande um brado
De maldicção atroz, que vá cravar-se
Na vigilia e no somno dos tyrannos,
E envenenar-lhes o prazer por noites
De vil prostituição, e em seus banquetes?
-
Não! - Bem como um cadáver já corrupto
A nação se dissolve: e em seu lethargo
O povo, envolto na miseria, dorme.
-
XXV
Oh, talvez como vate, ainda algum dia
Terei de erguer á PÁTRIA hymno de morte,
Sobre seus mudos restos vagueiando!
Sobre seus restos? - Nunca! Eterno, escuta
Minhas preces e lagrymas: - se em breve,
Qual jaz Sião, jazer deve Ulissea;
Se o anjo do exterminio ha-de riscá-la
Do meio das nações, que d'entre os vivos
Risque tambem meu nome, e não me deixe
Na terra vagueiar, orpham de PÁTRIA.
*
ALEXANDRE HERCULANO
"XXIV,XXV"
A Harpa do Crente
(Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portueguesa" , 20).
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13
ALMADA NEGREIROS
José Sobral de Almada Negreiros
Nasceu 07 de abril de 1893, São Tomé e Principe, África.
*
Vós, Oh portugueses da minha geração, nascidos
como eu no ventre da sensibilidade europeia do século XX,
criai a Pátria Portuguesa do século XX.
*
ALMADA NEGREIROS
(Poemas . . ."NEGRAS CAPAS . . .Poetas de Coimbra", pág. 196).
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14
CELSO OLIVEIRA
Celso Ximenes de Oliveira
Nasceu em Timor Leste.
*
Ouvi os jovens gritar:
Viva Timor Leste!
Viva Xanana Gusmão!
Viva Portugal!
-
Vi as lágrimas das mães,
Vi as mulheres chorar
À procura dos seus filhos,
À procura dos seus homens.
-
Vi na escuridão os cães uivar
Ao cheiro do sangue fortíssimo,
Vi as ameaças e perseguições continuar
Sem cessar.
-
Sem cessar,
Também sem tremer.
-
Os jovens continuavam a gritar:
Viva Timor Leste!
Viva Xanana Gusmão!
Viva Portugal!
Viva o 12 de Novembro!
*
CELSO OLIVEIRA
" 12 de Novembro "
Timor Leste : Lun Turu*
Lun Turu*- chorar
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", pag. 015 e 111).
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15
REIS VENTURA
Nasceu em Calvão, Portugal.
*
A Pátria nasceu alta como a aurora;
nasceu forte, vivaz, batalhadora.
Serviu-lhe de solar, berço e do Aínio,
um píncaro do Hermínio.
Intérprete da Grei,
pastor e rei,
herdico, intemerato,
um Homem - VIRIATO!
-
Balbuciar da Grei . . . Clamor primeiro
da nossa Independência: o brilho duma espada
no alvor radioso de alta madrugada,
e um homem - VIRIATO!
-
. . .E a voz doce e profética se adensa,
se concretiza e firma e se condensa,
e cresce, e desabrocha, e se ilumina,
ressôa nos recôncavos da serra,
alastra pelas veigas da campina,
absorve a seiva tépida da terra,
semeia a gleba forte, jeira a jeira,
e, forte, imperativa, persistente,
ergue, mais alto e firme, outro clamor
de afirmação juncada, adolescente,
na espada invicta do CONQUISTADOR! . . .
-
Saindo do solar de Numadona,
já coroada na fronte de rainha,
forte e segura, a Grei ora caminha . . .
Ergue castelos, cria leis, funda cidades,
conquista, dá forais, semeia herdades,
repele arremetidas de Castela,
vence as hostes negruscas de Mahomé
e, cheia de alto amor, plena de fé,
no corpo maternal da Europa bela,
esculpe a forma real
do primitivo sonho:
-
PORTUGAL !
*
REIS VENTURA
"O Sonho de Viriato"
A Grei
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág.172).

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