sábado, 27 de dezembro de 2008

189 - 02 "O CANTO... do encanto das...PALAVRAS"


TEÓFILO BRAGA
Nasceu em 1843, Ponta Delgada, Açores.
*
O Português está destinado a viver sempre.
Se não que visse eu o feitio deste povo.
Nos cataclismos não se rende, nas aflições não perece.
O filho do Portugês, fora de Portugal aumenta a resistência.
*
TEÓFILO BRAGA
(Fragmento de entrevista dada a Rocha Martins, em 1916
e publicada na Revista Nacional, n°. 113, março 1934 . . .)
*
"Ah! como o homem, ha nações escravas.
Fujamos! A caminho do Occidente.
Ao mar! Quero affrontar as ondas bravas,
E respirar ni illimitado ambiente,
Rugir ao vendaval!"
Byron prosegue em caprichosa róta;
Um perfume da terra, em brisa ignota,
Denuncia de longe - Portugal.
-
Portugal! eis de Cintra ao longe serra,
Sob o azul se destaca!
Eil-a a bahia, o ádito que encerra
Um éden, onde a dor mortal se applaca.
"Oh, bem hajas, pequeno Povo altivo;
Depois que te libertas pela guerra,
Covarde rei entrega-te cativo
Ao julgo de Inglaterra.
-
Oh, bem hajas, pequeno e altivo Povo!
Do Oceano tenebroso abriste o atalho;
Achando um mundo novo,
Deste-o por campo á acção e ao trabalho.
Mas, retalho a retalho,
Roubam-te outras Nações as descobertas,
Provas da escravidão o fel amargo;
Fé e Imperio prolongam-te o lethargo,
Crêem-te morto, por que não despertas.
-
Oh, não! Ha em teu seio aquella ardeneia
Da chamma viva, que te alenta e leva
Á revolta, ao combate e independencia
Quebrando a algema séva
Proclamando-te livre entre as Nações!
Sob a garra leinina de Castella
Cahiste um dia! libertou-te d'ella
O Poema de Camões!"
. . . . . . . . . .
"Onde está de Camões a sepultura/"
Byron sentido e a seismar pergunta,
Entrando em Portugal;
Em volta d'elle a multidão se ajunta,
E atraiçoado sempre, conjectura
Intenção desleal.
-
De vergonha e estupidez no cúmulo,
Ninguem sabe dizer onde era o tumulo
Do Poeta immortal!
Então Byron, os olhos pondo em terra;
"Camões, ao vêr cahida a Patria escrava,
Á luz os olhos cerra,
Triste á vala baixava . . .
foi sua sepultura Portugal!
-
Ah! com certeza, o Genio nunca morre!
Como ele, n'um momento
Revivesce da Patria o sentimento,
A explosão da Liberdade ocorre!
E o chão sagrado que era a sepultura
Do Cantor sem egual,
Eis CAMÕES, em sua gloria pura,
Eterno pedestal."
. . . . . . . . .
Um Symbolo vê Byron da Realeza,
A Estatua equestre! Observa pensativo;
Na Estatua representa-se-lhe ao vivo,
Com assombro e surpreza
Synthetisada a Historia Portugueza . . .
*
THEOPHILO BRAGA
"Peregrinação em Portugal"
Visão dos Tempos
(Mais Poemas. . ."Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores
da Lingua Portuguesa, pág. 130.)
▬▬
SILVA BARRETO
Nasceu em 1918, no Brasil.
*
Eu quero Paz em vez de guerra,
Amor em vez de ódio!
Quero Vida em vez de morte,
Saúde em vez de doença.
Tudo o que conforte nosso sofrido coração!
-
Quero Riqueza em vez de miséria,
Esperança em vez de desespero,
Sonho em vez de realidade,
Alegria em vez de tristeza
e que se mate a fome dos inocentes!
-
Eu quero Sabedoria em vez de ignorância,
Fé em vez de covardia,
tudo o que brote da terra
como flores a explodir!
-
Quero Verdades em vez de mentiras,
Heroísmo em vez de traição.
Quero Delírios de rios em vez do delírio da guerra,
o estrondo das Cachoeiras em vez do estrondo das bombas,
tudo o que nos faz sonhar
com Pássaros cantando em volta de nosso lar!
-
Quero que se feche a boca dos canhões,
sem ver brotar terríveis cogumelos
na terra fértil de nossa PÁTRIA!
Quero plantar amor e paz
sem guerra biológica
com fantasmas de antraz!
-
Quero que a poesia reine eterna
na mente dos donos da guerra
de uma paz duradoura na terra!
*
SILVA BARRETO
"Mensagem nº. XII
aos Donos da Paz e da Guerra
. . .e outros Poemas
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa" pág. 87 ). 

▬▬
MOACYR FELIX
Moacir Felix de Oliveira
Nasceu, em 1926, no Rio de Janeiro, Brasil.
*
- Meu pai, o que é a LIBERDADE?
-
- É o seu rosto, meu filho,
o seu jeito de indagar
o mundo a pedir guarida
no brilho do seu olhar.
A LIBERDADE, meu filho,
é o próprio rosto da vida
que a vida quis desvendar.
É sua irmã numa escada
iniciada há milênios
em direção ao amor,
seu corpo feito de nuvens
carne, sal, desejo, cálcio
e fundamentos de dor.
A LIBERDADE, meu filho,
é o próprio rosto do amor.
-
- Meu pai, o que é a LIBERDADE?
-
A mão limpa, o copo d'água
na mesa qual num altar
aberto ao homem que passa
com o vento verde do mar.
É o ato simples de amar
o amigo, o vinho, o silencio
da mulher olhando a tarde
- laranja cortada ao meio,
tremor de barco que parte,
esto de crina sem freio.
-
Meu pai, o que é LIBERDADE?
-
É um Homem morto na cruz
por ele próprio plantada,
é a luz que sua morte expande
pontuda como uma espada.
É Cuauhtemoc a criar
sobre o braseiro que o mata
uma rosa de ouro e prata
para altivez mexicana.
São quatro cavalos brancos
quatro bússolas de sangue
na praça de Vila Rica
e mais Felipe dos Santos
de pé a cuspir nos mantos
do medo que a morte indica.
É a blusa aberta do povo
bandeira branca atirada
jardim de estrelas de sangue
do céu de maio tombadas
dentro da noite goyesca.
É a guilhotina madura
cortando o espanto e o terror
sem cortar a luz e o canto
de uma lágrima de amor.
É a branca barba de Karl
a se misturar com a neve
de Londres fria e sem lã,
seu coração sobre as fábricas
qual gigantesca maçã.
É Van Gogh e a sua tortura
de viver num quarto em Arles
com o Sol preso em sua pintura.
É o longo verso de Whitman
fornalha descominal
cozendo o barro da Terra
para o tempo industrial.
É Frederico em Granada.
É o homem morto na cruz
por ele próprio plantada
e a luz que sua morte expande
pontuda como uma espada.
-
- Meu pai, o que é LIBERDADE?
-
A LIBERDADE, meu filho,
é coisa louca que assusta:
visão terrível (que luta!)
da vida contra o destino
traçado de ponta a ponta
como já contada conta
pelo som dos altos sinos.
É o homem amigo da morte
por querer demais a vida
- a vida nunca podrida.
É o sonho findo em desgraça
desta alma que, combalida,
deixou suas penas de graça
na grade em que foi ferida . . .
A LIBERDADE, meu filho,
é a realidade do fogo
do meu rosto quando eu ardo
na imensa noite a buscar
a luz que pediu guarida
nas trevas do meu olhar.
*
MOACYR FELIX
"Iniciação"
Canto para as Transformações do Homem"(1964).
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", págs. 099 e )
▬▬
LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
Nasceu em 28 de junho de 1959, signo de cancer.
Junqueira, Estado de São Paulo, Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . .
*
Em teu nome continentes já se uniram
Em teu nome até muralha já ruíram
Tu estás no infinito
E no íntimo de todos nós
LIBERDADE! LIBERDADE!
Somos tua voz.
-
Em teu nome tantas vidas se perderam
Em teu nome tantas correntes se romperam
Tu estás na consciência
E na experiência de todos nós
LIBERDADE! LIBERDADE!
Somos tua voz.
-
Em teu nome foi banida a escravidão
Em teu nome fomos libertos da opressão
Tu és a fé e o caminho
Que norteia todos nós
LIBERDADE! LIBERDADE!
Somos tua voz
-
Em teu nome tantos já se redimiram
Em teu nome tantas grades já se abriram
Tu estás na esperança
Que sustenta todos nós
LIBERDADE! LIBERDADE!
Somos tua voz.
-
De que valeria o Sol
Na imensidão
Se não houvesse AMOR
Em cada coração.
-
De que valeria o céu
De que valeria o mar
Se não houvesse
A LIBERDADE para amar!
*
LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
"Liberdade! Liberdade!
▬▬
VANDA JOSÉ
Nasceu no Brasil . . .
*
Ser livre é ter a alma
isenta de preconceitos,
conviver com todo mundo
sem notar os seus defeitos.
-
LIBERDADE para muitos
é andar despreocupado,
fazer o que bem entende,
e nada estar ligado.
-
O progresso, mostra a todos
que ninguém pode ser livre
sem cumprir o seu papel
e saber como se vive.
-
Todo homem é gerado
pela união de mais dois
para entender que não pode
querer ser livre depois.
-
Desde o tempo da caverna
até ao do computador
o homem sente que a vida
não vive sem ter amor.
-
O amor é sentimento
para ser extravasado
e quem vive tem amor
que não pode ser guardado.
-
A LIBERDADE total
é desejo incoerente,
pois o amor mantém ligado,
um ao outro, o ser vivente.
-
Se o homem foi criado
para viver reunido,
como vai querer ser livre
sem ferir o seu sentido?
-
A noção de LIBERDADE
deve ser reformulada
e fará o homem livre
se for bem interpretada.
-
Jesus foi um homem livre,
cultivando muito amor,
porque a sua LIBERDADE
era a de um libertador
que veio mostrar ao mundo,
com sua ressurreição . . .
"A LIBERDADE se ganha
com amor e compreensão".
-
Portanto, a LIBERDADE
é conquista realizada
no respeito ao semelhante
e na missão executada.
*
VANDA JOSÉ
"Liberdade"
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa" pág. 037).
▬▬
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
Nasceu a 08 de março de 1914, Lisboa, Portugal.
*
Daqui a dez . . .cem anos
Talvez alguém leia estes versos.
Bons? Maus? É indiferente desde
que possam ser ainda lidos.
-
Daqui a dez . . . cem anos
Eu serei uma constelação de átomos dispersos
E uma criatura sem humanidade
Alheia a fé esperança ou caridade
Virtudes que só vivos podem ter.
-
Daqui a dez . . . cem anos
Comunicarei com os santos ou
No abismo do não-ser penarei p'ra todo o sempre.
-
Daqui a dez . . . cem anos,
Demais homens continuarão esquecendo
A sua dignidade imensa
De cada um ser único e poder
Dar contas só do seu viver.
*
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
"Liberdade"
O Espaço Prometido
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 160).
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TOMÁS RIBEIRO
Tomás António Ribeiro Ferreira
Nasceu a 01 de julho de 1831, em Parada de Gonta,
Tondela, Portugal.
*
Meu PORTUGAL, meu berço de inocente;
Lisa estrada que andei débil infante;
Variado jardim do adolescente,
Meu laranjal em flor sempre odorante,
Minha tarde de amor, meu dia ardente,
Minha noite de estrelas rutilante,
Meu vergado pomar dum rico Outono,
Sê meu berço final no último sono!
-
Costumei-me a saber os teus segredos
Desde que soube amar; e amei-os tanto! . . .
Sonhava as noites de teus dias ledos
Afogado de enlevo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos de amor, débeis os dedos
Não sabiam soltar da lira o canto,
Mas amar-te o esplendor de imenso brilho . . .
Eu tinha um coração, e era teu filho!
-
Jardim da Europa à beira mar plantado
De louros e de acácias olorosas;
De fonte e de arroios serpeado,
Rasgado por torrentes alterosas;
Onde num cerro erguido e requeimado
Se casam em festões jasmins e rosas;
Balsa virente de eternal magia
Onde as aves gorgeiam noite e dia.
-
O que te desdenhar mente sem brio,
Ou nunca viu teus prados e teus montes;
Ou nunca, ao pôr do Sol de ameno estio,
Viu franjas de ouro e rosa os horizontes,
Ondas de azul e prata em cada rio,
As perlas e os rubis de tuas fontes;
Nem de teus anjos, térreo paraíso,
Sentiu o magnetismo num sorriso.
-
PÁTRIA! filha do Sol das Primaveras,
Rica dona de messes e pomares,
Recorda ao mundo ingrato as priscas eras
Em que tu lhe ensinaste a erguer altares!
Mostra-lhe os esqueletos das galeras
Que foram descobrir mundos e mares.
Se alguém menos prezar teu manto pobre,
Ri-te do fátuo, que se julga nobre!
-
Porque te miras triste sobre as águas,
Pobre . . .d'áquem e d'além-mar senhora?
E te consomes nas candentes fráguas
Das saudades crueis que tens d'outrora?
Por tantos louros que te deram? Mágoas?
Foste mal paga e mal julgada? embora!
Hás-de cingir o teu diadema augusto;
São teus filhos leais, e Deus é justo!
-
Três testemunhas tens que ao numdo inteiro,
Grandes, hão-de levar-te a ingente glória:
Camões, o Sol, o Oceano; que o primeiro,
Ergueu-te em alto canto a nobre história.
Com prantos e com sangue, audaz guerreiro,
O seu livro escreveu d'alta memória!
Lede os cantos divinos do poeta,
Entoados em harpa de profeta!
-
O mar, na eterna lida porfiosa,
Cansado de correr largos desvios,
Vem afogar a sede angustiosa
No saboroso nectar de teus rios.
E quando, noutra idade mais ditosa,
Tu mandaste alongar teus senhorios,
conhecendo o roçar das tuas sondas,
Cavou as penhas, e aplanou as ondas.
-
Bramir ouviste o Génio das tormentas,
Algoz de tanto nauta aventureiro;
Vestido de neblinas pardacentas,
Assoprando golfadas de aguaceiro;
Mas quando viu, nas quilhas tão atentas,
Içado o teu pendão, tão altaneiro,
Acendendo o Sant'Elmo resplendente
Iluminou-te as portas do Oriente!
-
Fiel, sempre fiel à tua glória,
Conduziu-te o Evangelho a longas terras;
Acompanhou-te os cantos da vitória,
saudou-te os brios nas longínquas guerras!
Rasgem embora, ó Pátria, a tua história;
Enquanto o mar bramir, quebrando serras,
Ou brincar nas areias, em bonança,
Há-de falar de ti, Pátria, descansa.
-
Qual no deserto o lasso viandante
Vai no oasis sentar-se ao fim do dia,
Achando, atenuado e arquejante,
Verdor, fontes, aromas, e harmonia,
E naquela atmosfera inebriante,
Se alimenta, se farta, se extasia,
Tal és do Sol oasis reservado,
Jardim da Europa à beira-mar plantado.
-
Aqui apura os raios de luz viva
Nos bosques, nos rosais, e nas campinas;
Dum iris c'roa a nuvem mais esquiva,
Nem tem c'roa real pedras mais finas;
Faz prisma cada fonte que deriva
Por encosta suave entre boninas;
Dá luz dourada à selva que verdeja;
E o Sol de PORTUGAL o mundo o inveja.
-
Mas não é d'hoje só que o passageiro
Te vê ledo banhar em cada fonte,
Ou entre a branda relva do valeiro,
Ou sobre as neves do jaspeado monte;
Já não é d'hoje só que o mundo inteiro
Fala do brilho teu neste horizonte;
Já celtiberos, mouros e romanos,
Choraram pelo Sol dos lusitanos.
-
Lua do meu país, não me esqueceste,
Que eu sempre soube amar tua lindeza;
Bem sei que é este o sólio que escolheste;
Bem sei que tens aqui maior pureza;
Mas tanto os meus segredos entendeste,
Era tão minha só tua tristeza,
Que se não te invoquei, saudosa lua,
foi por zelos da terra, minha . . . e tua!
-
Por ti canto, meu berço de inocente;
Lisa estrada que andei débil infante;
Meu viçoso jardim de adolescente,
Meu laranjal em flor sempre odorante,
Minha tarde de amor, meu dia ardente,
Minha noite de estrelas rutilante,
Tu . . . dá-me ao encerrar noite o meu inverno,
Um leito funeral ao sono eterno.
*
TOMÁS RIBEIRO
" A Portugal "
D. Jayme

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JORGE DE SENA
Nasceu, em Lisboa, 1919, Portugal.
****
Às"Forças Armadas" e ao "Povo de Portugal"
- "Não hei-de morrer sem saber qual a cor de Liberdade."
JORGE DE SENA
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste País,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério.
toda ambófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essas guerras de Além-Mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de PORTUGAL,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
***
JORGE DE SENA
"Cantiga de Abril"
Quarenta Anos de Servidão
Centro de Documentação 25 de Abril,
Universidade de Coimbra.
Internet, Site http://www.sapo.pt%20www1.ci.uc.pt/cd25a
(Mais Poemas . . . "OS Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 144).
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MANUEL ALEGRE
Nasceu a 12 de maio de 1936, signo de touro,
Em Agueda, Portugal.
*****
I
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu País
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz
-
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
-
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu País
minha Pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
-
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu País.
-
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
-
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
-
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha Pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
-
Vi minha Pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
-
Vi navios a partir
(minha Pátria à flor das águas)
vi minha Pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
-
Há quem te queira ignorada
e fale Pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
-
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha Pátria parada
a beira de um rio triste.
-
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha Pátria florindo.
-
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu País.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
-
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
-
"MESMO NA NOITE MAIS TRISTE
EM TEMPO DE SERVIDÃO
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO".
***
MANUEL ALEGRE
"Trova do Vento que Passa"
(última estrofe, cantada por Adriano Correia
de Oliveira, em protesto contra a ditadura, antes
de 25 de Abril, em Portugal.)
**
II
Era um Abril de amigo. . . . . . . . Abril de trigo.
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus.
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo. . . . . . . . . . Abril contigo,
ainda só ardor e sem ardil.
Abril sem adjetivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça . . . . . . . . . Abril de massas,
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de Sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças,
era um Abril de clava. . . . . . . Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril vinil. . . . . . Abril tão bravo.
Abril de boca a abrir-se. . . . . . Abril palavra
esse Abril em que. . . . . . Abril se libertava
esse um Abril de clava. . . . . Abril de cravo.
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
*
MANUEL ALEGRE
"Abril de Abril"
Centro de Documentação 25 de Abril,
Universidade de Coimbra.
Internet, Site www.sapo.pt w
ww1.ci.uc.pt/cd25a
(Mais poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 122; e
"NEGRAS CAPAS. . . POETAS DE COIMBRA", pág. 197).

▬▬▬
FERNANDO SYLVAN
Nasceu em Dilli, Timor-Leste
*
Menino Jesus, Menino Irmão:
deixa-me contar ao povo portugês
como se contasse "Era uma vez". . .
que errada estava a tua certidão.
O dia estava certo, o mês, porém, não.
. . ."pois nesse tempo na Judeia se enganaram
quando o seu nascimento registaram". . .
Menino Jesus, Menino Irmão:
Deixa que os Meninos, aqui, em PORTUGAL,
a 25 de Abril celebrem o Natal.
*
FERNANDO SYLVAN
"Natal Portugês"
Meninos e Meninas
Centro de Documentação 25 de Abril
Universidade de Coimbra
Internet,Site www1.ci.uc.pt/cd25a
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 111).
▬▬▬
CECÍLIA MEIRELES
Nasceu no, Rio de Janeiro, Brasil
*
Olival de prata,
Veludosos pinhos,
clara madrugada,
dourados caminhos,
lembrai-vos da graça
com que os meus vizinhos,
numa cavalgada,
com frutas e vinhos,
lenços de escarlata,
cestas e burrinhos,
foram pela estrada,
assustando os moinhos
com suas risadas,
pondo em fuga cabras,
ventos, passarinhos . . .
-
Aí, como cantavam!
Aí, como se riam!
-
Seus corpos - roseiras.
Seus corpos - diamantes.
-
Ora vamos ao campo colher amoras
e amores
A amar, amadores amantes!
-
Olival de prata,
Veludosos pinhos,
pura Vésper, clara,
silentes caminhos,
lembrai-v0s da pausa
com que os meus vizinhos
vieram pela estrada.
Morria nos moinhos
o giro das asas.
Ventos, passarinhos,
árvores e cabras,
tudo estacionava.
As flores faltavam.
Sobravam espinhos.
-
Aí, como choravam!
Aí, como gemiam!
-
Seus corpos - granito.
Seus olhos - cisternas.
-
Este é o campo sem fim de onde não retornam
ternuras!
Entornai-vos, ondas eternas!
*
CECÍLIA MEIRELES
" Ida e Volta em Portugal "
Vaga Música
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa ", pág. 075 ).
▬▬▬
MENOTTI DEL PICCHIA
Paul Menotti del Picchia
Nasceu em São Paulo , Brasil.
*
A convite da História Universal
que havia marcado a festa para 21 de Abril,
o almirante PEDRO ALVARES CABRAL
veio com uma frota de luzidas caravelas
num séquito naval de mastros e de velas,
de estandartes e de cruzes,
de sotainas, alabardas, couraças e arcabuzes
inaugurar a futura REPÚBLICA
DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL.
-
A terra se enfeitara das mais raras maravilhas:
pássaros, parasitas, caciques e serpentes,
urrose pios, gritos e cânticos dolentes
e o mar de azulejo
palpitava de pirogas e de quilhas.
-
Pelas picadas da floresta
foram chegando as delegações da terra:
generais carijós com tangas e miçangas,
coronéis botocudos com escudos,
tocantis com inúbias, bororós com tacapes,
comissões de xavantes, guaicurus e guararapes.
-
Das curvas bruscas dos rios
em igarapés, tangendo borés, surgiam pajés
bebedos de sangue tapuia,
trazendo ao almirante portugues
alvíssiras das tabas tabajaras . . .
-
E PEDRO ÁLVARES CABRAL
para inaugurar a Pátria de WASHINGTON LUIS
fincou na terra uma cruz.
-
E, de noite, o estelário queimou fogos de artifício no
céu do equador.
E os marinheiros trouxeram de bordo as guitarras
para que dessem à luz
a primeira saudade brasileira . . .
*
MENOTTI DEL PICCHIA
"A Inauguração"
República dos Estados Unidos do Brasil
(Mais poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 179).
▬▬▬
OSWALD DE ANDRADE
José Oswald de Sousa Andrade
Nasceu a 11 de janeiro de 1890, em São Paulo, Brasil.
*
Minha terra tem palmeiras
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
-
Minha terra tem rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra.
-
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita DEUS que eu morra
Sem que volte p'ra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o Progresso de SÃO PAULO.
*
OSWALD DE ANDRADE
"Canto do Regresso à Pátria"
(Mais poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 088).
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ARY BARROSO
Ary Resende Barroso
Nasceu 07 de novembro de 1903, signo de escorpião,
Ubá, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Aos oito anos de idade ficou orfão de pai e mãe, passou a
viver com avó materna. Aprendeu a tocar piano, e se
apresentou em vários cinemas do Rio de Janeiro, em
orquestras São, Paulo e Rio de Janeiro. Se apresentou também
no "Teatro Carlos Gomes".
Premiado pela "Academia de Ciências e Arte Cinematográfica
de Hollyowood", pela trilha sonora do filme, "Voce já foi à Bahia"
1944, Walter Dysney.
*
BRASIL
Meu BRASIL brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos.
Ó BRASIL, samba que dá
Bamboleio, que faz gingá.
Ó BRASIL, do meu amor.
Terra de Nosso Senhor
BRASIL!
BRASIL!
Prá mim . . .
Prá mim . . .
-
Ó abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei gongo no congado.
BRASIL!
BRASIL!
Deixa, cantar de novo o trovador
A merencorea luz da lua
Toda a canção do meu amor . . .
Quero, ver a "sá dona"
caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido redando
BRASIL!
BRASIL!
Prá mim . . .
Prá mim . . .
-
BRASIL terra boa e gostosa
da moreninha sestrosa
De olhar indiscreto
Ó BRASIL, verde que dá
Para o mundo se admirá
Ó BRASIL! do meu amor
Terra de Nosso Senhor,
BRASIL!
BRASIL!
Prá mim . . .
Prá mim . . .
-
Ó esse coqueiro que dá côco
Oi onde amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
BRASIL!
BRASIL!
Ó oi essas fontes murmurantes
Ói onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincá.
Ói esse BRASIL lindo e trigueiro
É o meu BRASIL brasileiro
Terra de samba e pandeiro.
BRASIL!
BRASIL!
Prá mim . . .
Prá mim . . .
*
ARY BARROSO
"Aquarela do Brasil"
Primeira gravação Francisco Alves, 1939.
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SILVA BRAGA
Alexandre José da Silva Braga
Nasceu em 1849, no Porto, Portugal.
Estudou Direito na Universidade de Coimbra, 1849.
*
Sou português - não desprezo
A minha terra natal;
Se agora jaz indefeso
Já foi livre PORTUGAL.
Já foi o terror da terra,
Nas letras, na paz, na guerra,
Oh! nunca teve rival!
-
Oh! que não: mas negro fado
Em ferros o faz gemer!
Qu'importa? - O leão cansado
É vergonha adormecer;
Pode dormir: mas se acorda,
Se dos brios se recorda,
Não lhe fugir é morrer!
-
Que há de acordar o leão;
E tenho crença, nest'alma,
que há de colher nova palma
Na luta de redenção:
Sou luso - não me retrato . . .
Sou neto de VIRIATO,
D'APIMIANO, E CESARÃO!
-
Sou portugês - quanta glória
Este nome não contém!
Diga o d'OURIQUE a vitória,
De CERNEJA e SANTARÉM;
Hoje é servo o rei d'outrora!
Mas qu'importa? Vencedora
Já não foi Jerusálem?
-
Sou português - não despreso
As glórias do meu país,
Que essas sombras inda prezo
Não me acurvo aos pés do forte
D'um AFONSO, e d'um DINIZ:
Antes mil vêzes a morte
Do que vergar-lhe a cerviz.
-
Sou português: deste nome
Tenho o brio, a intrepidez,
pois tenho fé qu'inda assome
Miro-me n'antiga fama
D'um ALBUQUERQUE, d'um GAMA. . .
Como eles sou português!
-
Zombem todos, muito embora,
Da minha terra natal,
Que as glórias que teve outrora
Nunca tiveram rival:
Zombem, que eu, no cativeiro,
Prezo mais que o mundo inteiro
Um só nome - PORTUGAL!
*
SILVA BRAGA
" Portugal "
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FLOREBELA ESPANCA
Nasceu a 08 de Dezembro de 1894, Vila Viçosa, Portugal . . .
*
I
Meu PORTUGAL querido, minha terra
De risos e quimeras e canções
Tens dentro de ti, esse teu peito encerra
Tudo que faz bater os corações!
-
Tens o fado. A canção triste e bendita
Que todos cantam pela vida fora;
O fado que dá vida e que palpita
Na alma da guitarra aonde mora!
-
Tu tens também a embriaguez suave
Dos campos, da paisagem ao Sol poente,
E esse Sol é como um canto d'ave
Que expira à beira-mar, suavemente . . .
-
Tu tens, ó pátria minha, as raparigas
Mais frescas, mais gentis do orbe imenso,
Tens os beijos, os risos, as cantigas
De seus lábios de sangue! . . . Às vezes penso
-
Que tu és, pátria minha, branca fada
Boa e linda que Deus sonhou um dia,
Para lançar no mundo, ó pátria amada
A beleza eterna, a arte, a poesia! . . .
*
FLORBELA ESPANCA
" Meu Portugal "
Trocando Olhares
*
II
Ó mães doloridas, celestiais,
Misericordiosas,
Ó mães d'olhos benditos, liriais,
Ó mães piedosas
-
Calai as vossas mágoas, vossas dores!
Longe na crua guerra
Vossos filhos defendem, vencedores,
A nossa linda terra!
-
E se eles defendem a bandeira
Da terra que adorais,
Onde viram um dia a luz primeira
Ó mães, por que chorais?!
-
Uma lágrima triste, agora é
Cobardia, fraqueza!
Nos campos de batalha cai de pé
A alma portuguesa!
-
Pela terra de estrelas e tomilhos,
De Sol, e de luar,
Deixai ir combater os vossos filhos
Ao longe, heróis do mar!
-
Dum português bendito, sem igual
Eu sigo o mesmo trilho:
Por cada pedra PORTUGAL
Eu arriscava um filho!
-
Por isso ó mães doridas, pelo peito
De morte, onde ajoelhais,
Esmagai vossa dor dentro do peito,
Ó mães não choreis mais!
-
A pátria rouba os filhos, mas é mãe
A mãe de todos nós
Direito de a trair não tem ninguém
Ó mães nem sequer vós!
*
FLORBELA ESPANCA
" Às Mães de Portugal "
Trocando Olhares
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa ", pág. 035;
"Donde Borbota, minha Saudade", pág. 194 ).
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ANTÓNIO B. MACHADO
Nasceu a 13 de junho de 1931, Uibaí, Estado da Bahia, Brasil. . .
*
Sou brasileiro,
sem orgulho o digo.
Guerreio a guerra
(pra que inimigo?).
-
Ser brasileiro
foi meu destino.
Assim é que o sou
desde menino
e antes que o fosse.
-
Com gosto digo
ao mundo inteiro:
" Não tenho orgulho,
sou brasileiro ".
-
Não é melhor
o meus país
que outro melhor
e mais feliz.
-
Mas é maior
que os mais pequenos
e sofre menos
que os infelizes
que sofrem mais.
-
Em nosso céu
há mais estrelas?
Desprezo o cômputo:
gosto de vê-las.
-
Não sei de várzea
menos florida
nem de outros bosques
com menos vida
que os da pátria
idolatrada.
-
Têm nossos pássaros
mais canto e cores
e mais perfumes
as nossas flores?
Não o sei, mas bastam-me
tais primores.
-
Outros, mais lindos
acham seu hino,
mais sobranceira,
sua bandeira,
e é bom que tenham sua razão:
viverão fartos
com seu quinhão.
-
Ser brasileiro,
eis o problema
(aceito o fato,
não há dilema).
Unida a ação
às louvações,
venham as fórmulas
com soluções.
*
ANTÓNIO B. MACHADO
" Poeminha Patriótico e Honesto
ao mesmo Tempo "
Poemas Seletos
(Mais poemas . . . " Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores
da Lingua Portuguesa", pág. 158).
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J.G. DE ARAÚJO JORGE
Nasceu no Estado do Acre, Brasil.
*
. . . Cabe aos intelectuais o papel de sentinelas.
A poesia hoje deve ser um alerta, deve ter olhos
de raios X para vencer os próprios corpos opacos,
radiografar intenções. As palavras na boca dos
políticos perderam o sentido.
Ninguém sabe, ninguém vê, mas há trincheiras ao redor.
Mais do que os canhões, há almas em revolta, consciências
alertas. Mais do que as grandes esquadras e as nuvens de
avião, manejadas pelas forças políticas em evidência, há
a poderosa força conjugada de vontades que encontram
um rumo e que sabem para onde vão. Há uma guerra que a
gente sabe, que os jornais vêem, que os telegramas noticiam,
mas há uma outra que não é própriamente guerra, que
nós, os poetas, sentimos e podemos adivinhar. O chão que
pisamos está sobre convulsões sísmicas, e sob os pés de cada
um de nós pode se abrir a fenda do vulcão. Há gemidos e
sangue ao redor. Há milhões de mortos no ar clamando Justiça,
Democracia, Liberdade. Milhões de mortos que se saturarão
em nós e nos impelirão para a frente. As palavras deixarão
de ser cometas anunciando um mundo melhor, para se
transformarem em pão, em terra, em teto, em remédio,
em livro, em amor. Há idealismo do mais sincero
desenterrado sabe lá Deus de onde; traições à vista.
Há uma luta que termina e muitas prestes a estourar . . .
*
J.G.DE ARAÚJO JORGE
Fragmento do Prefácio
Estrela da Terra(1945)
(Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa" pág. 94).
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CELINA PASSERINE
Nasceu em 1947, Apucarana, Estado do Paraná, Brasil . . .
*
País . . . teu futuro caminha
com fome e com frio
descalço e sem rumo.
Que pena Brasil!
-
Maltrapilhos e confusos,
tão cedo nas drogas,
futuro não têm.
Que pena, Brasil!
-
Menores nas ruas
no mundo do crime,
ninguém se importa.
Que pena, Brasil!
-
Nem homem se tornou
uma briga, um acerto,
uma bala, a morte,
Que pena Brasil!
-
Valores inversos,
o ter o poder,
superam sempre o ser.
Que pena Brasil!
-
Imenso e rico, do Sul ao Norte,
poderia ser diferente,
mas . . . quem se importa.
QUE PENA, BRASIL.
*
CELINA PASSERINE
"Que Pena"
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores
da Lingua Portuguesa" pág. 037).

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FERNANDO PESSOA
Nasceu em 13 de junho de 1889, em Lisboa, Portugal.
*
O Mostrengo(Adamastor*) que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: "
Quem é que dorme a lembrar

Que desvendou o SEGUNDO MUNDO,
Nem o Terceiro quer desvendar? "
(Adamastor*, minha referência)
-
E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar -
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora SENHOR DO MAR.
*
FERNANDO PESSOA
" Antemanhã "
Os Tempos
Mensagem
-
"O mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal".
*
FERNANDO PESSOA
(Mais Poemas . . . Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 060).
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MIGUEL TORGA
Nasceu em 1907, São Martinho de Anta, Portugal.
*
PÁTRIA vista da fraga onde nasci.
Que infinito silêncio circular!
De cada ponto cardeal assoma
A mesma expressão muda.
É agora ou sempre esta paisagem
Sem palavras,
Sem gritos,
Sem o eco sequer duma praga incontida?
Ah! PORTUGAL calado!
Ah! Povo amordaçado
Por não sei que mordaça consentida!
*
MIGUEL TORGA
"Panorama"
Diário
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa" pág. 40;
"NEGRAS CAPAS . . . POETAS DE COIMBRA", pág. 196).
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ANATOLE DE ABREU LIMA
Nasceu no Brasil . . .
*
Foi num dia em que o Sol no céu brilhou, festivo,
Qual se fora, da PÁTRIA, o grande coração,
Que D. PEDRO, lançando o brado decisivo,
Expulsa, desta terra, a vil escravidão!
-
O Brasílio Pendão, feliz, no mastro altivo,
Desfraldado flutua . . . e freme a multidão!
Nosso lindo país já não é mais cativo,
Transformando-se, assim, em fúlgida Nação!
-
E hoje, a nossa PÁTRIA, altiva e generosa,
Palmilha, com valor, a estrada luminosa
Que a levará, por certo, aos píncaros da glória!
-
Feilzes, festejando a nossa independência,
Cultuemos, com calor, com fé e com veemência,
Esta data feliz da nossa linda História!
*
ANATOLE DE ABREU LIMA
"Dia da Pátria"
Rimas do Coração
(Mais Poemas . . . " Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa " pág. 167)

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