domingo, 7 de dezembro de 2008

194 - 02 . . ."Donde borbota, minha Saudade" . . .




ÁLVARO ALVES DE FARIA *C 1*
AMÉLIA DE JANNY *O 2 *
ANÔNIMO * n 12*
TITO BETTENCOURT * M 4 *
ANTONIO CABRAL * B 5 *
ELOY DE SÁ SOTTO- MAIOR *i 11*
FLORBELA ESPANCA *i 13 *
FRANCISCO RODRIGUES LOBO *m 10*
JOÃO DE DEUS *R 6*
LUIS DE CAMÕES *I 3*
LUIS MARIA DE CARVALHO SAAVEDRA *A 7*
MARQUE DA CRUZ *u 14*
RÉGIS BONVICINO *m 15*
RIBEIRO COUTO *e 9*
TROVAS *a 8*

C * 1
ÀLVARO ALVES DE FARIA
Nasceu, em 1942, São Paulo, Brasil.

Encantam-se os nomes
de COIMBRA
além dos santos
além das santas
além dos reis e das rainhas
encantam-me os nomes de COIMBRA,
encantam-me a Travessa do Espírito Santo,
as quintas
das Lágrimas
das Flores
da Cheira
da Casa Azul
da Várzea
das Lages
de São João
das Varandas
da Nora
e outras quintas que não sei.
Encantam-me a rua das Padeiras,
o Largo Cruz de Celas,
os Arcos do Jardim,
a Praça da Porta Férrea,
encantam-me a rua Corpo de Deus,
o Parque de Santa Cruz ou Sereia,
o Penedo da Saudade,
a Ladeira do Chão do Bispo,
Casal da Eira,
Lomba da Arregaça,
Alameda da Conchada,
encantam-me os nomes de COIMBRA,
além dos santos,
além das santas,
dos reis e das rainhas
encantam-me os nomes de COIMBRA,
como se os guardasse todos
num caderno que hei de ter.

II

Se COIMBRA
não fosse,
teria de ser,
teria de ser
se COIMBRA
não fosse.
Teria de ser como é,
assim cidade,
de alma feminina,
assim mulher como é,
e se não fosse
teria de ser
COIMBRA,
assim como está,
assim como vive,
assim
como se faz a poesia,
assim
como é o poema,
assim.

III

Aos poucos me refaço,
aos poucos me refiro,
aos poucos me retiro,
aos poucos me recordo,
aos poucos
aos poucos
aos poucos me transformo
aos poucos me atrevo,
aos poucos
aos poucos
aos poucos perco o pouco
aos poucos perco o pouso
aos poucos não consigo
aos poucos
aos poucos
a poucos passos da alma
de Coimbra
a poucos momentos do rosto
de Coimbra,
aos poucos
aos poucos Coimbra acho,
a alma
mais que a alma
aos poucos Coimbra nasce
e se acrescenta
e se faz
e se deslumbra
e se encanta
aos poucos Coimbra está,
aos poucos
aos poucos
aos poucos Coimbra é
no seu espaço
largo mais que praça
que nunca se esquecerá
-*-
ÁLVARO ALVES DE FARIA
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Língua Portuguesa", pág. 169).
0* 2

D. AMÉLIA JANNY
*
A capa dos estudantes
É como um jardim de flores,
Toda cheia de remendos,
Cada um de várias cores!. . .
-*-
D. AMÉLIA JANNY


I * 3
LUIS DE CAMÕES
Luis Vaz de Camões
Nasceu em 1524(?) Talvez em Lisboa, Portugal.
Período quinhentista.
*-*
I
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe poseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores!
*-*
LUIS DE CAMÕES
" Episódio de Inês de Castro "
Estrofe 135, Canto III
Os Lusíadas
*-*
II
Vão as serenas águas
Do MONDEGO decendo,
Mansamente, que até o mar não param;
Por onde minhas mágoas,
Pouco e pouco crecendo,
Pera nunca acabar se começaram.
Ali se ajuntaram,
Neste lugar ameno
Aonde agora mouro,
Testa de neve e ouro,
Riso brando e suave, olhar sereno,
Um gesto delicado,
Que sempre na alma me estará pintando.
-
Nesta florida terra,
Leda, fresca e serena,
Ledo e contente pera mim vivia;
Em paz com minha guerra,
contente com a pena
Que de tão belos olhos procedia.
Um dia noutro dia
O esperar me enganava;
Longo tempo passei,
Com a vida folguei,
Só porque em bem tamanho me empregava,
Mas que me presta já,
que tão fermosos olhos não os há?

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


LUIS DE CAMÕES
trecho " Canção"
Para BELISA, sua prima Isabel Tavares,
segundo alguns biógrafos.
*
III
Doces e claras águas do MONDEGO,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida e pérfida esperança
Longo tempo após si me trouxe cego:
-
De vós me aparto, sim; porém não nego
Que inda a longa memória, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança,
Mas quanto mais me alongo, mais me achego.
-
Bem poderá Fortuna este instrumento
De alma levar por terra nova e estranha,
Oferecido ao mar remoto, ao vento;
-
Mas a alma, que de cá vos acompanha,
Nas asas do ligeiro pensamento
Para vós, águas, voa, e em vós se banha.
*-*
LUIS DE CAMÕES
"Soneto 50"
*
LUIS DE CAMÕES
IV
Fez primeiro em COIMBRA exercitar-se
O valoroso ofício de Minerva;
E de Helicona as Musas fez passar-se
A pisar de MONDEGO a fértil erva.
Quanto pode de Atenas desejar-se
Tudo o soberbo Apolo aqui reserva.
Aqui as capelas dá tecidas de ouro,
Do bácaro e do sempre verde louro.
*
LUIS DE CAMÕES
Estrofe 97,Canto III
*
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Língua Portuguesa", pág,15).
M* 4

TITO BETTENCOURT
Doutorou-se em Direito na Universidade
de Coimbra, Portugal
*
No coração da cidade
És uma doce visão
O PENEDO DA SAUDADE
E mais do meu coração.
-
Ao ver-te alegrar e a gente
Deixar-te, custa-nos bem
Saudade quem a não sente?
Saudade quam a não tem?
*

TITO BETTENCOURT*

B* 5

ANTÓNIO CABRAL
*
COIMBRA! Sem os estudantes,
És como um jardim sem flores,
Uma guitarra sem cordas,
Um coração sem amores. . .
-
Mas, com as capas flamantes
Dos teus futuros doutores,
Todos os dias acordas,
Sem tristezas e sem dores.
-
A luz da tua colina,
Encantadora cidade,
Toda a minha alma ilumina
-
Com fulgente claridade.
Minha COIMBRA pequenina!
O minha eterna saudade!
*-*
ANTÓNIO CABRAL
"Coimbra"
R* 6
JOÃO DE DEUS
João de Deus Nogueira Ramos
Nasceu a 08 de Março, de 1830, signo de peixes,
São Bartolomeu de Messines, Província de Algarve, Portugal.
Filho, de Pedro José do Ramos (Comerciante), e de Isabel Gertrudes
Martins. Começou a estudar na Universidade de Coimbra 1849, mas
sómente 1859, se doutourou, em Direito, depois de muita boémia e viagens.
Amigo de Antero de Quental. . .
Estilo Romantico.
*
CANTOePALAVRAS
Campo de Flores, 1868; Folhas Soltas, 1875; Prosas, 1898. . .
*
I
Nessas águas do MONDEGO.
Se pode a gente mirar,
Elas procuram sossego...
E vão caminho do mar
*
JOÃO DE DEUS
Trecho " CANTIGAS"
-*-
II
A vida é o dia de hoje,
A vida é o ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa,
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve,
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai.
-*-
JOÃO DE DEUS
"Campo de Flores"
( Mais Poesias . . . " Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa ", 043 )
A* 7
LUÍS MARIA DE CARVALHO SAAVEDRA
-
Em que de COIMBRA o povo estouvado
Arranha na banza e vai farfalhando,
Comendo, bebendo, cantando rasgado
E mil barrigadas de riso tomando.
-
LUÍS MARIA DE CARVALHO SAAVEDRA
"Donas Boto"


a - 8

TROVAS
*
Se COIMBRA fosse minha

como é dos estudantes,
mandava-lhe pôr no centro
uma c'roa de brilhantes
*
Ó minha mãe! não me mande
a COIMBRA vender trigo,
que me dão os estudantes;
Menina, case comigo!
*
"Trovas"

e - 9
RIBEIRO COUTO
Nasceu em 12 de março de 1898,
 Brasil.I
Por vós e de um só nome eu te chamaria,
Não fosse a inclinação ao natural - infanta! -
E o pudor que também mais alto se alevanta
No meu vocabulário e na minha poesia.
-
Passaste com um cântaro à cabeça.
E eu - MONDEGO, CHOUPAL, CAMÕES, RAINHA SANTA -
Outro nome não sei que te valha e mereça.
Infanta? Pobre rapariga,
Havia sugestões clássicas pelo espaço
E eras infanta, sim, na paisagem antiga:
Parecias pisar o mármore de um paço.
(Era estranho que eu não ouvisse o burburinho
De fidalgos em ala a oferecer-te o braço.)
-
Entre escuros portais vejo-me a errar sozinho.
Vai alta a noite. Em que casa moras?
Na colina, uma luz entre tantas
(Não de castelos de rainhas e de infantas)
Será tua janela ainda acesa a estas horas.
-
Amanhã voltarás ao rio, lavadeira.
Dorme. . .Dentro da noite um refrão de modinha
Sobe da terra ao céu numa voz estrangeira:
"SE COIMBRA, SE COIMBRA FOSSE MINHA. . ."
-*-
RIBEIRO COUTO
"Serenata em Coimbra"
-*-
II
E chove. . .Uma goteira, fora,
como alguém que canta de mágoa,
canta, monótona e sonora,
a balada do pingo d'água.
-
Chovia quando foste embora. . .
*
RIBEIRO COUTO
"Solidão"
O Jardim das Confidências
-*-
III
A chuva fina molha lá fora.
O dia está cinzento e longo. . .Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora. . .
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.
-
Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta. . .
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
Se um de nós vai falar e recua depois.
-
Dentro de nós existe uma tarde mais fria. . .
-
Ah! para que falar? Como é suave, brando,
O tormento de adivinhar - quem o faria? -
As palavras que estão dentro de nós chorando. . .
-
Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
-
Chove dentro de nós. . .Chove melancolia. . .
-*-
RIBEIRO COUTO
"Chuva"

( Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas

e Pensadores da Língua Portuguesa ", pág. 91)
m - 10


FRANCISCO RODRIGUES LOBO
Nasceu em 1580(?), Leiria, Portugal.
Cursou, Faculdade de Direito na Universidade
de Coimbra 1593-1602.
Considerado, o melhor poeta dos seiscentos. . .

Estilo Barroco.
*
CANTOePALAVRAS
Romances, 1596; Primavera, 1601;Églogas, 1605;
Pastor Peregrino, 1608; O Desenganado, 1614;
Côrte na Aldeia, 1619. . .
*
I
A Deos agoas cristalinas,
A Deos fermosos outeiros,
Fayas, choupos e salgueiros,
Lirios, flores e bononas
-
A Deos fermosa lembrança,
Com que eu meus males vivia,
A Deos vales de alegria,
A Deos montes de esperança.

-
A Deos fermoso Penedo
Dequem com tantas verdades
Fiey minhas saudades,
Que me pagaste tão cedo.
-
A Deos prados, a Deos pastores,
Vassalos deste amor cego,
A Deos agoas do MONDEGO,
A Deos fonte dos amores.
-*-
FRANCISCO RODRIGUES LOBO
"Cantiga"
*
II
Mil anos há que busco a minha estrela
E os FADOS dizem que ma têm guardada;
Levantei-me de noite e madrugada,
Por mais que madruguei, não pude vê-la.
-
Já não espero haver alcance dela
Senão depois da vida rematada,
Que deve estar nos céus tão remontada
Que só lá poderei gozá-la e tê-la.
-
Pensamentos, desejos, esperança,
Não vos canseis em vão, não movais guerra,
Façamos entre os mais uma mudança:
-
Para me procurar vida segura
Deixemos tudo aquilo que há na terra,
Vamos para onde temos a ventura.
*
FRANCISCO RODRIGUES LOBO
"Soneto"
( Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Língua Portuguesa ", 013)
i - 11
ELOY DE SÁ SOTTO MAYOR
Bacharel em Cânones, pela Universidade
de Coimbra.
*
No MONDEGO manso,
Claro e fresco rio,
Lágrimas em fio
Choro sem descanso.
-
Quando mais graciosa
Se mostra Alvorada,
Que a manhã dourada
Doura e faz fermosa.
-
Então, julgo e vejo,
Vendo o bosque espesso,
Que faz grande excesso
O MONDEGO ao Tejo.
-
Quando os olhos lanço
Na prateada areia,
Corre mansa a veia
O rio mais manso.
-
Nos frescos outeiros,
Se vêem flores mil,
Quando por Abril
Tem palha os ceifeiros,
-
Festejando o dia,
Lá dos passarinhos,
Ao fazer dos ninhos,
Se ouve a melodia.
-
Tudo está sombrio,
Alegre e contente,
Quando o sol vem quente,
O bosque está frio.
-
E se a noite vem,
Que em silêncio mudo
Fica triste tudo,
Tudo graça tem.
-*-
ELOY DE SÁ SOTTO MAYOR
"endechas"
Ribeiras do Mondego
n - 12
Anônimo
*
Eu ouvi de Santa Clara
Lamentos de alguém que chora;
Era a Rainha pedindo
Por mim a Nossa Senhora.
*
ANÔNIMO
i - 13
FLORBELA ESPANCA
Nasceu a 08 de dezembro de 1890, Vila Viçosa, Portugal
*
Corre a noite, de manso num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar . . .
Soluçam ais estranhos de guitarra . . .
Oiço, ao longe, não sei que voz chorar . .
-
Há em repoiso imenso em toda a terra,
Parece a própria noite a escutar . . .
E o Canto continua mais profundo
Que uma página sentida de Mozart!
-
É o FADO. A canção das violetas:
Almas de tristes, almas de poetas,
Pra quem a vida foi uma agonia!
-
Minha doce canção dos deserdados,
Meu FADO que alivias desgraçados,
Bendito sejas tu! AVE MARIA! . . .
*
FLORBELA ESPANCA
" O Fado "
Trocando Olhares
(Mais Poemas . . . " Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Língua Portuguesa ", 035 . . .
" O CANTO . . .do encanto das . . . PALAVRAS ", 189).
u - 14
MARQUES DA CRUZ
Nasceu em 1888, perto de Leiria, Portugal.
*
Saíra de COIMBRA triste, quando
o Sol todo choroso se escondia
Além, a SANTA CLARA recontando
saudades que ele chora cada dia.
-
Levara a rôta capa por lembrança
da vida de estudante tão saudosa:
e, ao olhá-la, a sua alma carinhosa
tinha a alegria ingénua da criança.
-
E à noite, pondo a capa, comovido,
bordava-a com seu pranto reluzente,
num serão silencioso e recolhido . . .
-
Somos assim: beijamos, sempre a sós,
a capa, o lenço, ou o farrapo quente
de um sonho doce que floriu em nós.
*
MARQUES DA CRUZ
"Saudades de Coimbra
Alma Lusa
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Língua Portuguesa", págs.10 e 162;
"NEGRAS CAPAS . . . POETAS DE COIMBRA", pág. 182);
"FOLCLORE . . .CANTOePALAVRAS", pág. XIII.

m - 15
RÉGIS BONVICINO
Nasceu em 1955, São Paulo, Brasil.
Participou no "IV Encontro Internacional de Poetas"
de Coimbra, 2001.
*
COIMBRA
início de primavera
na pedra do ARCO DE ALMEDINA
carpe diem
-
é apenas
mais um grafite
ADRO DE SANTA JUSTA
um par de casas
-
o gerânio brota da parede
adunco, verde
mais do que ficto -
Acima de janelas limítrofes.
*
RÉGIS BONVICINO
"Andando na Baixa"
Remorso do Cosmos
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Língua Portuguesa", pág. 166).

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