sábado, 13 de dezembro de 2008

193 - 01 . . . "Donde borbota, minha Saudade". . .

RAUL FERRÃO
*
COIMBRA do CHOUPAL
Ainda és capital
do amor em PORTUGAL, ainda
COIMBRA, onde uma vez
com lágrimas se fez
a história dessa Inês tão linda.
-
COIMBRA das canções tão meigas
que nos põe
os nossos corações a nu
COIMBRA dos doutores
para nós os teus cantores
a fonte dos amores és tu.
-
COIMBRA é uma lição
de sonho e tradição
o lente é uma canção
e a lua a faculdade
o livro é uma mulher
só passa quem souber
e aprende a dizer saudade.
*
RAULO FERRÃO
"Coimbra"
Fado
Raul Ferrão & José Galhardo
JOSÉ RÉGIO
- Do PENEDO DA SAUDADE
Lancei os olhos além
Meu sonho de eternidade
Com saudade rima bem . . .
-
Ai sombras da TORRE DE ANTO,
Do Convento de além-rio,
Dos muros brancos do Pio,
De Santo António a cismar,
Que é de outras sombras que à tarde
Convosco se confundiam,
E ao ar os braços erguiam,
E as mãos abriam no ar. . .?
-
(sem saber para onde iam,
Aonde iriam parar?)
-
- PENHA DA MEDITAÇÃO . . .,
Silêncio que paira em tudo!
A terra e o céu dão a mão
Num longo colóquio mudo . . .
-
Ai céus de Setembro-Outubro,
Painéis de sonho e loucura,
Rasgando a toda a lonjura
Cenários de arrepiar,
Que é de esses olhos de abismo
Que à tarde a vós se elevavam,
Por longe andavam, voltavam,
Vos devolviam no olhar . . .?
-
(Sem saber o que buscavam,
Que haviam de ir encontrar?)
-
- Chegam da BAIXA até CELAS
Os ais dos sinos na bruma.
Se o céu tem tantas estrelas,
Importa lá cair uma!
-
Ai linda triste janela,
Toda voltada ao poente,
De onde a menina doente
Sorria a um Anjo seu par,
Rainha Santa do bairro,
Que é de essa cuja mão fria
Do teu caixilho pendia
Como um lírio a desfolhar . . . ?
-
( Sem saber para onde ia,
Aonde iria parar?)
-
QUINTA DAS LÁGRIMAS, onde
Chora a fonte doce e langue!
Corre a água, e não esconde
Aquelas manchas de sangue . . .
-
Ai olivais cinza e prata,
Choupos transidos de mágoa,
Ai laranjais de ao pé de água
Com frutos de oiro a brilhar,
Que é do bando vagabundo
Cujo rir vos acordava,
Cuja tristeza só dava
Mais vontade de cantar . . .?
-
(Sem saber o que buscava,
Que havia de ir encontrar?)
-
- Fui à LAPA DOS ESTEIOS,
Grandes coisas fui saber:
Que há pedras que têm seios,
que eu bem nas ouvi gemer . . .
-
Ai pedras nuas dos becos
Despenhando-se, angustiados
Entre esses velhos telhados
E muros de ar singular,
Que é de esses passos que o medo
Vos pisavam, e tremiam,
Passos de irmão, que sofriam
Da mágoa de vos pisar . . .?
-
(Sem saber para onde iam,
Aonde iriam parar?)
-
No CHOUPAL quis fazer versos,
Olhei as folhas do chão.
Deus sabe os sonhos dispersos
Que o vento leva na mão!
-
Ai águas do meu MONDEGO
que entre choupais murmurando
Se me esquivais, nesse brando
Sempre ir andando até mar,
Que é das mãos roxas de febre
Que em vós se desalteravam,
E entre as folhas que boiavam
Se deixavam arrastar . . .?
-
(Sem saber o que buscavam,
Que haviam de ir encontrar?)
-
- A SANTA CRUZ, um por um,
Dos troncos fui despedir-me.
Não tenho amigo nenhum
Que me haja sido tão firme . . .
-
Ai choro com que o Paredes,
Vibrando os dedos em garra,
Despedaçava a guitarra,
Punha os bordões a estalar,
gritos de cristal e de oiro
Que o Bettencourt alto erguia,
Que é da roda que algum dia
Vos sabia acompanhar . . .?
-
(Sem saber para onde ia,
Aonde iria parar?)
-
- FONTE DO LARGO DA SÉ,
Que dizes tua ao cair?
- Mortos do adro, de pé!,
Que os vivos é só dormir . . .
-
Ai crepúsculos de antanho,
Limalha do Sol, que morre
Lá desde o cimo da Torre
Té SANTA-CLARA, além-ar,
que é de essa plêiade antiga
Cuja alma em vós se encantava,
Feita de cinza e de lava,
Desfeita em sombra e luar . . .?
-
(Sem saber o que buscava,
Deus sabe o que iria achar!)
-
Do PENEDO DA SAUDADE
Lancei os olhos acima.
Sonho meu de eternidade
Com saudade é que bem rima . . .
*
JOSÉ RÉGIO
" Balada de Coimbra "
Fado
(Mais poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas
E Pensadores da Lingua Portuguesa", pág. 50)
AUGUSTO CERVEIRA BAPTISTA
Quando eu era menino
ouvi contar
uma história famosa e singular:
- trágica como o Destino,
mimosa como beijo de donzela
e bela
como raio de luar.
-
Pintura "Súplica de Inês de Castro" pintor Vieira Portuense, 1802, Portugal

Era a história de Inês,
mulher e graça
de uma graça tão viva e perturbante,
que dominou de vez
os olhos e o cuidar do nobre Infante,
exemplo de uma Raça
tão terna e veemente
que aprendeu a cantar
à luz do Sol nascente
e aprendeu a amar
eternamente.
-História comovida,
essa história de Inês
sempre cheia de vida,
até à Eternidade,
no coração de cada português
que reza enternecido a oração
que se chama saudade.
-
Pedro e Inês são símbolo de amor
que a alma lusa canta e acarinha:
- romance de paixão, de luto e dor . . .
. . . da que depois de morta foi rainha!
-
Ó COIMBRA das trovas e baladas,
coração de PORTUGAL
que vives, no chorar das guitarradas,
essa vaga de inquieta ansiedade
que vai desde o PENEDO DA SUDADE
às águas marulhentes do CHOUPAL!
-
Ó COIMBRA de lendas e doutores,
tão cheia de aventura e de beleza!
só tu podias ter,
a correr,
a FONTE DOS AMORES
que é tradição da alma portuguesa . . .
-
Ali, na antiga terra do Quissol,
entre sombras discretas do arvoredo
havia uma nascente,
fonte de água corrente
onde dizem que um rouxinol
vinha cantar,
à luz do luar,
terno segredo . . .
-
E a popular versão,
desta mimosa teia de dulçores
criou um belo sonho de ilusão
a que chamou a FONTE DOS AMORES.
-
Pois contam que as raparigas1
que pretendiam casar,
não julgavam ser erróneo
vir à fonte e lá cantar
as mais bonitas cantigas
na noite de SANTO ANTÓNIO.
-
Quando eu aqui cheguei ainda era
a FONTE DOS AMORES:
- uma rétia de Sol de Primavera,
entre sombras e flores,
que todos nós gostávamos de ver . . .
-
Os anos decorreram sem demora.
e agora,
da Fonte tão bucólica e tão bela
à romêntica luz do Sol de Outono,
ficou uma saudade ao abandono
da fonte que não pára de correr . . .
-
. . . mas só eu falo dela.
*
AUGUSTO CERVEIRA BAPTISTA
"Fonte dos Amores"
Roteiro Sentimental de Malanje
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa" pág.175).
ANÔNIMO
*
Ó noitadas de COIMBRA
Ó pálidas madrugadas
No meu peito ainda timbra.
O chôro das guitarradas.
-
COIMBRA tenho saudade
Do CHOUPAL erguido além,
Do PENEDO DA SAUDADE
Saudades tenho também.
*
ANÔNIMO
"Poemas no Penedo da Saudade"
LUCAS TEIXEIRA
*
Na paisagem Coimbrã, quando é simbólico
Lembra as feições de INÊS. Tudo a revela,
Desde o meigo cantar da filomela,
Ao plácido MONDEGO tão bucólico.
-
se no heráldico céu, a um sôpro eólico,
A lua sobe, deslumbrante e bela,
O luar que se espalha imita as tranças d'Ela,
A envolvê-la num sonho melancólico.
-
Um choupo que enfrentou muita borrasca
Ostenta, comovido, sobre a casca,
Um sinte de amor - seu coração.
-
COIMBRA é o reino eterno que convinha
A quem, depois de morta, foi Rainha;
- Reinar durante a vida ém uma ilusão.
*
LUCAS TEIXEIRA
" Coimbra "
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da lingua Portuguesa" pág.156).
SILVA GAIO
Manuel da Silva Gaio
Nasceu em 1861, Coimbra, Portugal.
Doutorou-se em Direito, na Universidade de Coimbra.
*
A terra que vos pinto, meus amigos,
é terra de cantares,
cidade medieval - bairros antigos -
sobre um rio e pomares;
-
- terra de alegres moças e estudantes,
terra de solta vida,
onde o Amor é canção que dura instantes
e que é, breve esquecida.
-
Velhos templos, d'ameias coroados,
d'arcada bizantina,
destacam nos socalcos dos telhados,
que sobem a colina.
-
Bordam as ruas, íngremes, fachadas
d'arquitetura densa,
onde abrem medalhões, finas arcadas
da pura Renascença.
-
Numa antiga janela, que recorda
cortes e cavaleiros,
uma costureirita magra borda,
agora, entre uns craveiros.
-
Em dias estivais soam cantigas
nas velhas ruas, quando
se juntam, pela tarde, as raparigas
às portas costurando.
-
Nessa hora o velho burgo, da colina,
toma um aspecto estranho
de cenário fantástico, e domina
um rio cor de estanho.
-
Azulam-se as montanhas do nascente. . .
Nas faldas dos outeiros
bocejam monacal, pesadamente,
solares e mosteiros.
-
e, ao longo dos atalhos embrenhados
entre verdes balseiras,
trazem moças cântaros ornados
d'alegra-campo e aroeiras.
-
Toda a paisagem tem, nessa plangente
hora crespuscular,
a aparência dum sonho inconsciente,
que vai a desmaiar.
-
As lavadeiras cantam; vibra e soa
o coro alegre e brando. . .
Singram barcas da Serra, em fina proa,
a branca vela inchado. . .
-
larga vela, que um lábaro parece
um barco de romeiros,
por entre a confraria - toda em prece -
dos curvados salgueiros.
-
Anoitece:
-
arvoredos esboaçados
fundem mancha sombria,
que o rio espelha ainda, aos retardados
brilhos mortos do dia.
-
No burgo tudo toma estranho corte;
ameias, coruchéus
lembram vivas gravuras d'água-forte
mordendo o azul dos céus.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Às noites, sob o frio e mudo pranto
dos espaços calados,
vai o luar vestir dum fino manto
os pórticos rendados.
-
É hora de guitarras e descantes:
nessa noites de Lua
vibram as serenatas d'estudantes
em cada velha rua.
-
E as moças vêm ouvir, alvoroçadas,
as doces guitarrilhas,
. . .que nesta terra o amor pelas veladas
foi das mães e é das filhas!
-
Lá fora, pelo vale, às noites lentas,
nos choupais e olivedos
passam visões da névoa, friorentas
por entre os arvoredos.
-
São figuras antigas da legenda
que, nessa hora divina,
efêmeras debuxa a leve renda
de luar e neblina.
-
e que assim vêm das criptas e mosteiros
- onde as detém a morte -
num cortejo de donas e guerreiros,
de lindo e nobre porte,
- ouvir o pranto doce, misterioso,
da múrmura torrente,
sobre que passa INÊS - espectro airoso -
chorando eternamente. . .
**
SILVA GAIO
"Coimbra"
fragmentos "Canções do Mondego"
DIOGO BERNARDES
Nasceu em 1530, Ponte da Barca, Portugal.
*
Onde por entre serram mais estreIto
Seu curso natural segue o MONDEGO,
Hora fazendo vão, hor'alto pégo
Hora correndo torto, hora direito:
-
Em amorosas lágrimas desfeito,
Sospiros derramando sem socego,
dizia hum pastor triste: Ai amor cego,
quãto mal com meus olhos me t~es. feito!
-
Bem entendias tu que vista humana.
não podia causar mortal ferida.
N'um coração de pedra, duro e frio:
-
E pois ser isto assi me desengana,
se choro da remedio, ou à vida,
Lagrimas fazei aqui outro Mór-Rio.
*
DIOGO BERNARDES
" Soneto LIII "
( Mais Poemas . . ." Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores
da Lingua Portuguesa ", 039).
TEIXEIRA PASCOAES
Nasceu em Amarante, Portugal.
Doutorou-se, na Universidade de Coimbra, em Direito. . .
*
Vejo os campos lendários de COIMBRA;
E sobre os olivais de SANTA CLARA eu vejo,
Ao cair da tarde, a estrela do pastor . . .
E nunca mais vi nada, em minha vida,
Que tão doce impressão de mágoa me causasse!
-
Ó campinas em flor que já não sois da Terra!
Outeiros da noitinha e da melancolia
E dos Amores de INÊS . . .
Ó vale múrmuro de versos e legendas,
Onde o MONDEGO vai desaguar no céu.
E a cidade medieva e triste que pretende
Voltar à mocidade! Esforço vão!
Que a sinistra SÉ VELHA, em derredor,
Tanta velhice espalha que a não deixa
Romper a sombra escura do Passado.
E, sempre que ouço a voz lendária de COIMBRA,
sinto o silêncio de Évora . . .
-
TRINCANAS que lembrais virgens da Galileia,
Com a ânfora de barro, ao alto da cabeça,
Cheia de água e luar,
De lágrimas e sonhos . . .
Ó figuras sagradas de retábulo!
Irmãs do "cordeirinho" de Jesus,
Das pastoras da montanha,
Das "almas" do Purgatório,
Entre as chamas do amor, erguendo as mãos aflitas!
*
TEIXEIRA PASCOAES
"Painel" (fragmento)
( Mais Poemas "NEGRAS CAPAS . . .POETAS DE
COIMBRA", pág.184).
EUCLIDES CAVACO
Nasceu em Mira, distrito de Coimbra, Portugal.
*
COIMBRA é sempre saudade
nas margens do RIO MONDEGO
COIMBRA nasceu um dia
Para ser dos estudantes
A mais nobre academia.
-
Os estudantes que passam,
Pela douta universidade,
Levam consigo o saber,
Deixam em troca a saudade,
-
Saudade que lá ficou
Duma tricana bonita,
E à capa juntou,
Por cada amor uma fita.
-
E queimou à despedida,
As fitas por tradição,
Num geito de adeus . . .mas levam
COIMBRA no coração! . . .
*
EUCLIDES CAVACO
"Coimbra é Sempre Saudade"
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas e
Pensadores da Lingua Portuguesa", págs. 15 e 157).

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