domingo, 25 de janeiro de 2009

184 - 10 " NEGRAS CAPAS . . . POETAS DE COIMBRA "


SANTA RITA DURÃO
Frei José de Santa Rita Durão
Nasceu em 1722, em Cata Preta, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Quando criança mudou-se para Portugal.
Licenciou-se em Teologia, pela Universidade de Coimbra,
onde mais tarde foi professor, reitor.
Exerceu o cargo de "Censor", na Academia Litúrgica
Pontifícia de Coimbra. Na "Ordem dos Eremitas Calçados
de Santo Agostinho ", Colégio da Graça, Lisboa, foi
professor. Envolvido em política, isto na época
do Ministro Sebastião José
de Carvalho e Melo, antes Conde de Oeiras,
e agora Marquês de Pombal. . .
Estilo Arcadismo
Faleceu a 24 de janeiro de 1784.
*
CANTOePALAVRAS
Caramuru,(poema épico), 1781; Novena de S. Gonzalo de Lagos;
 Sermões . . .
*
I
Negou às aves do ar a Natureza,
Na maior parte a Música harmonia;
Mas compensa-se a vista na beleza,
Do que pode faltar na melodia:
A pena do tucano mais se preza,
Que feita de ouro fino se diría,
Os Guarases pelo ostro tão luzidos,
Que parecem de Púrpura vestidos.
*
SANTA RITA DURÃO
" LXIII "
Caramuru
*
II
Vão pelo ar loquazes papagáios,
Como nuvens voando em cópia ingente,
Iguais na formusura aos verde Maios,
Proferindo palavras, como a gente:
Os Periquitos com iguais ensaios,
O Canindé qual Íris reluzente;
Mas falam menos da pronúncia avaras,
Gritando as formosíssimas Araras.
*
SANTA RITA DURÃO
" LXIV "
Caramuru
*
III
Como melros são negros os bicudos,
Mais destros, e agradáveis no seu canto;
Na terra os Sabiás sempre são mudos;
Mas junto d'água têm a voz, que é encanto:
Os Coleirinhos no antoar agudos,
As Patatibas, que o saudoso pranto
Imitam, requebrando com sons vários,
Os Colibres, e harmônicos Canários.
*
SANTA RITA DURÃO
" LXV "
Caramuru
*
IV
Ervilhas, feijão, favas, milho e trigo,
Tudo a Terra produz, se se transplanta;
Fruta também, o pomo, a pêra, o figo
com bífera colheita, e em cópia tanta:
Que mais que no país que o dera antigo,
No Brasil frutifica qualquer planta;
Assim nos deu a Persia, e Líbia ardente,
Os que a nós transplantamos de outra gente.
*
SANTA RITA DURÃO
" XXX "
Caramuru
*
V
Nas comestíveis ervas é louvada
O Quiabo, o Jiló, os Maxíxeres,
A Maniçoba peitoral prezada,
A Taioba agradável nos comeres:
O Palmito de folha delicada,
E outras mil ervas, que se usar quiseres,
Acharás na opulenta natureza
Sempre com mimo preparada a mesa.
*
SANTA RITA DURÃO
XXXI
Caramuru
DOMINGOS MAXIMIANO TORRES
Alfeno Cynthio(pseudônimo)
Nasceu a 06 de fevereiro de 1748, signo de aquário,
em Rio de Mouro, Sintra, Portugal.
Bacharel, em Direito pela Universidade de Coimbra, 1770.
Estilo Arcádia.
Faleceu em 1810.
*
CANTOePALAVRAS
Versos . . .
*
Vê como está sereno e deleitoso
O mar leite, gentil Marília ingrata;
Como céus cerúleos Febo radioso!
-
Porém súbito inchado e proceloso,
Em serras cava a crespa undosa prata,
E c'o fero Aquilão, bramindo, trata
A lampada apagar do Sol formoso.
-
Cópia fiel do pérfido elemento
te contemplo, meu bem, toda brandura,
Afável riso, e terno acolheimento.
-
Mas tinto de ira e de suspeita impura
Vejo o teu rosto infido num momento;
Bate as asas amor, foge a doçura!
*
DOMINGOS MAXIMIANO TORRES
" Soneto "
TEIXEIRA DE PASCOAES
João Pereira Teixeira de Vasconcelos
Nasceu a 08 de novembro de 1877, signo de escorpião,
em Gatão, perto de Amarante, Portugal.
Estudou Direito, na Universidade de Coimbra, 1897 a 1901.
Escreveu para a revista "Águia ", 1912(revista da "Renascença
Portuguesa " editada entre 1910 e 1932, no Porto. Portugal). . .
Faleceu 14 de dezembro de 1952.
Estilo Simbolismo
*
CANTOePALAVRAS
Embriões, 1895; Belo, 1896; Sempre, 1898;
Terra Proibida, 1899;
Jesus e Pã, 1903; Para a Luz, 1904; Vida Etérea, 1906;
As Sombras, 1907; Senhora da Noite, 1909;
Marános, 1911; Regresso ao Paraíso, 1912;
O Génio Português na sua Expressão Filosófica,
Poética e Religiosa, 1913;
A Arte de Ser Português(prosa), 1915;
Jesus Cristo em Lisboa(teatro), 1926 . . .
*
Eu que sou frágil, transitório e vão
Que projeto, no mundo, a sombra duma cruz . . .
Que sou a desventura, a morte, a escuridão,
Sinto brilhar, em mim, a eterna luz.
-
Eu que sou a miséria,
A lágrima que tomba desolada,
Conheço bem que existe uma ansiedade etérea
Que arde na minha noite e a deixa iluminada!
-
Eu que sou frio mêdo e trágico pavor,
Barro amassado em água de tristeza,
Alma, que é a mãe da dor.
Ouço, nos lábios meus, a voz que canta e reza.
-
Meu frágil ser que se traduz em gritos,
Meu corpo que se apaga, num momento,
Pressente, para além de espaços infinitos,
Ideal deslumbrante!
-
Eu que sou a aridez, a lívida secura;
O inverno que a chorar se desespera,
Vejo alvorar, crescer, em longes de ternura,
Divina primavera!
-
Eu que sou a poeira miserável
Que ergue o vento da Vila Dolorosa,
A doida angústia a nada assemelhável,
Vejo nascer de mim a esperança radiosa!
-
Eu que sou o derradeiro e pálido gemido,
O sangrento suor gelado da agonia
sinto meu coração, liberto e redimido,
À luz dum novo dia . . .
*
TEIXEIRA PASCOAES
" Eternidade "
Vida Etérea
(Mais Poemas . . . "Donde borbota, minha Saudade", pág. 193).
ERNESTO LARA FILHO
Ernesto Pires Barreto de Lara Filho
Nasceu a 02 de novembro de 1932, signo de escorpião,
em Benguela, Angola, África.
Estudou Agricultura em Coimbra, 1952 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Picada de Maribondo, 1961; Canto de Martridinde
e Outros Poemas Feitos no Puto, 1964 . . .
*
Eh passarada bravia
Seripipi fugiu da gaiola
-
ouve-se vibranteno mato
o canto da libertação.
-
Esperança passarada
no Seripipi vosso irmão
-
Ele vai voltar p'ra quebrar
as grades dessa prisão.
*
ERNESTO LARA FILHO
" O Canto da Liberdade "
O Canto de Martrindide
( Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Portuguesa", 177).
ANTERO ABREU
Nasceu em 1927, Luanda, Angola, África.
Estudou Direito na Universidade de Coimbra
Alguns poemas escreveu para as revistas, boletins,
"Meridiano", Via Latina" da Academia. . .
*
rio abaixo
Na toada invisível dos seixos
Vai o dongo a palha a folha.
Poliedro chispante e duro
Refracta-se oblíquo o Sol.
E num marulhar longíquo afável
Sente-se mais que se ouve
A praia a ambicionada praia
No doce e borbulhante
Abrir dos dedos das águas.
É tudo questão de tempo.
*
ANTERO ABREU
"É tudo Questão de Tempo"
Poesia Intermitente
(Mais Poemas . . . "Os Eternos Momentos de Poetas
e Pensadores da Lingua Potrtuguesa" pág. 170).
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ORLANDO MENDES
Nasceu em 1916, Ilha de Moçambique, Moçambique.
Licenciou-se em Ciências Biológicas , na Universidade de Coimbra.
Escreveu para jornais e revistas como "Vértice". . .
*
Aos que foram antes de nós
e sobrevivem da simples antepassagem
aos que vierem amanhã e depois
como símbolos perpétuos duma herança
aos que desejarem estar sós
e convenientes de mútuo serviço
se aliarem dois a dois
e sós continuarem sabendo isso
aos misturados que não reagem
contra o sono que os cansa
aos que plantarem alhos e couves
onde lhes provaram que se devia
abrir covas fundas para pomares
aos que repetem hora a hora do dia
"eu oiço a verdade e tu não ouves
mas não avançarei sem avançares"
aos que de joelhos em pedras lisas
imploram aspersões do hissope e a benção
e fustigam em nome de um deus
os que como eles não pensam
e se recusam "não andarei aí
pois arriscado é o chão que pisas"
a esses diremos "basta! basta de serem eus
julgando-se inteiros por si
basta de cobrirem de brocados corpos nus
para esconderem as cruzadas cicatrizes
de puritana flagelação que vos
permite um ideal sem raízes!"
-
Aos que largarem a ferramenta
de seu ofício porque os calos
lhes impedem a carícia mercantil
aos que atirarem a bofetada que rebenta
os lábios porque não podem calá-los
na liberdade de um lutar por cem mil
aos senhores de fortuna farta
pela exploração da força dos servos
enterrarem a soma dos seus bens
para que a justiça os não reparta
aos que ofenderem os ventres de suas mães
porque a eles se não mereçam já
na última e mais humilhada fadiga
a esses poremos nas mãos o machado que lhes dará
o privilégio de abaterem florestas
e o terror das feras que lhes torça os nervos
até que a visão responsável da realidade lhes diga
que as nossas mãos positivamente são estas
afeiçoadas na enxada e no ferro que se dobra
no gatilho no livro no amassar do pão
e na solidariedade para constuir uma obra
aceitando os que a experimentam e ainda não
conseguem fazer o que podem melhor.
-
E a todos os que atraiçoam a vida
elementos e lacaios do poder burguês
e constam da presente lista
parcelar pela urgência de outros assuntos
proclamamos em nome de cada homem
que combate com os irmãos lado a lado
que não há nenhum ardil que nos divida
nenhuma bala que nos apavore
nenhuma deserção ou suicídio que nos desista
de sermos o que somos juntos
porque se as nossas energias se consomem
outras nos vêm de termos encontrado
a universal certeza que assim nos fez.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
ORLANDO MENDES
"Na Praça Pública"
(Mais Poemas . . ."Os Eternos Momentos de Poetas e Pensadores
da Lingua Portuguesa" pág. 124).

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