segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

. . . A imagem, imaginária de um poeta . . .
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Batem leve, levemente
Como quem chama por mim . . .
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim . . .
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É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho . . .
-
Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente? . . .
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
-
Fui ver. A neve caia
Do azul cinzento do Céu,
Branca e leve, bramca e fria . . .
-Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
-
Olho-a através da vidraça,
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho . . .
-
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança . . .
-
E descalcinhos doridos . . .
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los . . .
-
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Por que lhes dais tanta dor?! . . .
Por que padecem assim?! . . .
-
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa,
Cai a neve na Natureza . . .
- E cai no meu coração.
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AUGUSTO GIL
"Balada da Neve"
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. . . Imagem . . .
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. . . Reflexão de um poeta . . .
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Ò Estrelinha do Norte
Espera por mim, que eu já vou;
Alumia-me o caminho,
Já que o Luar me enganou.
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" A Voz do Povo "
(Mais . . . "Tovas , Provérbios, Ditados Portugueses", pág. 199 e 200.)